sexta-feira, 22 de outubro de 2021

GRANDE MENINA, PEQUENA MULHER


Nota 7 Audiência é conquistada por protagonistas cativantes e de perfis totalmente opostos


O mais natural é que um adulto eduque uma criança e não o contrário, porém, o cinema está aí para provar que tem muito baixinho dando verdadeiras lições de vida aos altinhos e a ex-estrela mirim Dakota Fanning foi extremamente requisitada nos primeiros anos da década de 2000 para protagonizar produções do tipo. A fórmula clichê obviamente desestimula muitas pessoas a assistirem obras água-com-açúcar como Grande Menina, Pequena Mulher, mas é bom lembrar que sempre tem gente nova nascendo e desprovida dos vícios cinematográficos. Seria muito egoísmo dos adultos tirar o prazer de novas gerações experimentarem o que já conhecemos de traz para frente e principalmente privá-los de terem seus próprios clássicos estilo sessão da tarde para guardarem como memória afetiva da infância. Vendo por esse prisma, o longa dirigido por Boaz Yakin, do muito superior Duelo de Titãs, pode ser apreciado com um pouquinho mais de boa vontade, mas de qualquer forma não libera o filme do verniz de feito para menininhas sonhadoras.

A previsibilidade e o iminente final feliz é o que seu público-alvo quer e suas expectativas são correspondidas a contento. Mesmo simplório, o roteiro foi escrito por três pessoas, Julia Dahl, Mo Ogrodnik e Lisa Davidowitz, o que explica a farta união de clichês do enredo. Com três mentes trabalhando em um mesmo projeto, parece que nenhum chavão que pudesse se encaixar na proposta foi deixado de fora. Basicamente sustentando-se nos conflitos de duas pessoas completamente diferentes que são obrigadas a conviver diariamente, o humor passa ligeiro pela película, sendo que o drama leve domina boa parte do tempo. A trama começa nos apresentando à Molly Gunn (Brittany Murphy), uma moça muito mimada que vive da fortuna deixada pelo seu pai, um ex-astro do rock. Avoada que só ela, a riquinha não se dou conta que o empresário do falecido estava de olho em sua grana e quando a ficha caiu já era tarde demais. 


Obrigada a deixar as regalias de lado e trabalhar, Molly consegue emprego como babá de Ray (Fanning), uma precoce e neurótica garota de apenas oito anos de idade, mas que parece ter quarenta. Seu perfeccionismo e seriedade constantes acabaram afastando todas as outras candidatas a vaga, mas Molly decide fazer pé firme e domar a garota. Muitos podem torcer o nariz com tal premissa, mas o fato é que o carisma da dupla principal é contagiante e logo estamos envolvidos com a situação, torcendo para que ambas aprendam a achar o equilíbrio entre a sisudez de uma e a espontaneidade da outra. Podem parecer personagens rasos, mas na realidade seus perfis são bem interessantes. Molly nunca precisou ter responsabilidades e com um pai artista certamente teve uma criação mais liberal e que não atende as exigências padronizadas da sociedade. Já Ray não convive muito com sua mãe, que está sempre muito ocupada, e foi criada por babás, mas o troca-troca de empregadas acabou criando instabilidade emocional para ela e consequentemente a necessidade de controlar tudo o que pode. 

Logo no primeiro encontro de Molly e Ray fica claro que a relação não será nada fácil, pois a criança não aceita ser cuidada por alguém tão imatura e desregrada. Em contrapartida, a babá pensa duas vezes se aceitará o emprego ao ver que o cotidiano da garota é um tanto metódico e chato. Contudo, conforme o tempo passa, uma relação benéfica se estabelece, uma troca de experiências válida para as duas. A sensação de rejeição é que as une. Enquanto Ray se sente menosprezada pela mãe, Molly sofre por ter sido rejeitada por Neal Fox (Jesse Spencer), cantor por quem era apaixonada faz tempo, mas que quando começou a fazer sucesso passou evitá-la, mesmo ela sendo a inspiração para o seu primeiro hit. É tentando ajudar a nova amiga a superar isso que a menininha aprende a ser criança de verdade e a babá amadurece. Obviamente, um momento de ápice no estranhamento não faltará para depois ser trabalhado o tema do perdão. 


Grande Menina, Pequena Mulher pode ter um enredo repetitivo, mas garante um bom programa em família por sua leveza e opção de equilibrar o humor e o drama. A temática era um prato cheio para comédia pastelão, mas Yakin foi esperto ao enveredar por um caminho mais sério e não jogar todas as expectativas sobre o entrecho romântico, sendo que os suspiros ficam para o ato final com uma apresentação de dança adornada por uma canção que pode causar arrepios de emoção nos mais sensíveis e arremata de forma ostentosa o sacramento da amizade da dupla improvável do título. Contudo, ver Fanning dominando as atenções durante a coreografia não deixa de ser contraditório, afinal de contas ela literalmente continua sendo o centro de tudo mesmo com as lições de vida que teve. De qualquer forma, uma opção que diverte de forma saudável e ingênua.

Comédia - 92 min - 2003

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