quinta-feira, 21 de outubro de 2021

COM AMOR... DA IDADE DA RAZÃO


Nota 7 Protagonista tem a chance de mudar sua vida graças a um presente vindo do passado


Quando somos crianças sonhamos em ter mil e uma profissões e formar uma família bem sucedida e unida. Com uma infância feliz, a tendência é que o indivíduo venha a ser um adulto de bem com a vida, salvo raras exceções. Mas como será o futuro de um menor que viveu fatos marcantes e tristes? Teria chances dessa pessoa recobrar a esperança e a felicidade? Esse é o tema de Com Amor... Da Idade da Razão, draminha francês bem leve e com pitadas de humor que nos apresenta à Margareth Flore (Sophie Marceau), uma executiva muito atarefada e destemida que está envolvida em um grande negócio com investidores da China. Enquanto tenta ver qual a melhor margem de lucro que pode tirar desta negociação, ela namora as escondidas Malcolm (Marton Csokas), um colega de trabalho. 

No dia de seu aniversário de 40 anos, duas coisas inesperadas lhe acontecessem. Ela é pedida em casamento e também recebe a visita de um velhinho que pelo pouco que conversaram dá a entender que conhece muito sobre esta mulher, porém, a chama incessantemente de Margarida. Apesar de renegar, mais tarde ela acaba confessando que este é realmente seu nome de batismo, mas adotou Margareth na vida adulta por achar que impõe mais respeito e confiança no mundo dos negócios. Por esse motivo somado a sua compulsão pelo trabalho já dá para perceber que ela é uma mulher ambiciosa que não se importa em deixar sua vida pessoal de lado, porém, ela não era assim, ficou dessa forma. O tal idoso, o Sr. Mérignac (Michel Duchaussoy), a procurou para lhe entregar um presente providencial para seu quadragésimo aniversário. Ele lhe oferece um embrulho contendo alguns objetos e imagens que remetem a sua infância juntamente com quatro cartas escritas por ela mesma quando tinha apenas sete anos de idade, a idade da razão como a própria dizia. 


Margareth nem se lembrava desses escritos, mas curiosamente, entre coisas absurdas e outras inocentes, ela encontrou palavras que necessitava nesse momento da vida, frases que a fizeram relembrar a criança sonhadora que era e o que a levou a se tornar uma adulta durona e gananciosa. As cartas seriam registros da outrora sábia garotinha já prevendo que um dia esqueceria sua essência e precisaria ser resgatada, mas só a mulher que ela seria um dia poderia fazer isso. Um fato a traumatizou aos sete anos de idade e desde então ela prometeu a si mesma a esquecer bobagens de sonhos e encarar que a realidade é movida a base de mentiras, objetivos concretos e não há espaço para sentimentalismo e erros, mesmo que seguindo tais regras ela pudesse se ferir. Daquela época, as únicas lembranças que guardou foi uma pilha de pratos velhos que jurou quebrar um por um no dia em que se sentisse plenamente realizada. 

Pensando somente em dinheiro, ela se afastou do irmão mais novo Mathieu (Thierry Hancisse), não chegando nem a conhecer o sobrinho que já está com cinco anos, e do grande amigo Philibert (Jonathan Zaccaï), com quem chegou a trocar juras de amor e a esconder um tesouro, um embrulho com quinquilharias que eram muito importantes a eles no período de infância. Malcolm também parece ser viciado em trabalho, no entanto, não chega ao nível da namorada, sendo que deseja ter muitos filhos e se surpreende ao saber até mesmo que ela tinha um irmão que há anos não tem contato. Graças as cartas da infância, Margarida decide passar a ver a vida com outros olhos e viaja para a cidade onde passou sua infância para acertar as contas com seu passado. O reencontro com o irmão e o amigo passa longe dos clichês de comédias românticas, embora o final feliz esteja garantido para a protagonista. É perceptível amargura nestes diálogos, mas é preciso que ela enfrente as críticas e comentários negativos para amadurecer e ficar em paz consigo mesma finalmente. 


Com roteiro e direção de Yann Samuell, Com Amor... Da Idade da Razão é relativamente bem curto para desenvolver uma temática muito interessante e que deve mexer com os brios de muita gente. O cineasta conduz seu trabalho de forma muito delicada, investindo em uma premissa que lembra levemente a trama de Duas Vidas, na qual o personagem de Bruce Willis conseguia se encontrar com ele próprio criança para compreender e corrigir os motivos que o levaram a se tornar um homem solitário e ambicioso. Margarida até se reencontra com sua versão mirim a certa altura, mas é o conteúdo das cartas que trata de divertir e emocionar o espectador que embarca sem grandes esforços nesta viagem com desdobramentos previsíveis, porém, com um pé na fantasia. Uma frase de Mérignac para anotar na agenda: "é típico do presente esquecer do passado e desconfiar do futuro", o que explica um pouco do jeito de ser da protagonista. O bem-estar imediato é o mais importante para ela.

Drama - 89 min - 2010 
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