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NOTA 6,0 Com alguns diálogos e situações divertidas e críticas e estética e narrativa de seriado, longa faz um ligeiro retrato da classe média |
Um grupo de amigas reunidas em
torno de uma mesa de jantar e às gargalhadas. Elas não são mais adolescentes em
busca de seus príncipes encantados. Já estão entre os 30 e 40 e poucos anos de
idade, são bem resolvidas em suas vidas amorosas e realizadas na profissão.
Bem, essa é a impressão que nos passa uma das cenas principais de Amigas
com Dinheiro, porém, por trás da aparente felicidade todas elas têm
seus problemas pessoais, mas suas finanças estão perfeitamente saudáveis. Todavia,
uma delas em especial é a patinha feia da turma, ou melhor, a patinha sem
dinheiro, já que beleza tem de sobra em Jennifer Aniston, apresentada como o
nome principal do elenco, mas que divide a cena com coadjuvantes de peso e no
final das contas todos acabam nivelados ao mesmo nível de importância na trama.
O título seria perfeito para um enredo que mostrasse os dilemas de adolescentes
patricinhas às voltas com compras de roupas e supérfluos, mas felizmente o
caminho aqui é outro. A premissa pode vender a falsa ideia de esta ser mais uma
simplória e repetitiva comédia romântica, mas em suas entrelinhas encontram-se
críticas à classe média norte-americana (que também serve para os riquinhos de
outros países, incluindo o Brasil), um retrato que, embora estereotipado em
alguns momentos, procura desmascarar a falsa felicidade em que muitas pessoas
vivem imersas, mas não espere algo na linha do premiado Beleza Americana por exemplo. Escrito e dirigido por Nicole
Holofcener, responsável por alguns episódios de seriados com alma feminina como
“Sex and the City” e “Gilmore Girls”, é perceptível que o longa procura repetir
a estética e o estilo narrativo televisivo, incluindo um clima leve que para os
mais desatentos pode ajudar a resumir a obra como apenas uma bobagem na qual um
bando de mulheres sem ter o que fazer procuram nos pequenos detalhes do
cotidiano alguma razão para se ocuparem, seja brigando com seus parceiros ou
metendo o bedelho na vida das amigas. O roteiro segue o dia-a-dia de quatro
amigas de infância que hoje estão numa fase mais madura e vivem em um bairro
nobre de Los Angeles. Frannie (Joan Cusack) é uma boa dona de casa e organiza
eventos beneficentes, Jane (Frances McDormand) é uma estilista respeitável e
Christine (Catherine Keener) é um promissora roteirista. A quarta mulher do grupo é Olivia (Anniston)
que mesmo sendo uma professora formada não consegue ter um emprego fixo e ganha
a vida como diarista. Todas elas se encontram com certa frequência, mas temas
ligados a finanças ou ostentação procuram ser evitados, porém, sempre rola
alguma saia justa que Olivia acaba levando na esportiva.
Contudo, será que Olivia deve ser
mesmo rotulada como a infeliz do quarteto? A narrativa prova que isso é um
erro. Ser refinado significa fazer piadinhas e fofocas às escondidas e na
presença do alvo dos comentários trocar beijos e afagos? Felicidade é ter uma
casa ampla aos olhares da vizinhança, mas pequena demais para um casal que vive
trocando farpas e não se suporta? Se tiramos alguma lição deste filme é que o
ideal de felicidade para muitos que tem dinheiro anda um tanto distorcido.
Enquanto isso, Olivia vai levando sua vida conforme pode, fazendo bicos como
diarista, reduzindo inclusive o valor de seu pagamento se for preciso, mantendo
a pele rejuvenescida a base de amostras grátis de renomados produtos de beleza,
mas sempre parecendo mais bem humorada e disposta que suas amigas, tanto que
ela faz planos para abandonar as faxinas e passar a ganhar a vida se dedicando
a aulas de educação física. Entre o elenco feminino, repleto de estrelas
reconhecidas principalmente por preferirem projetos alternativos a filmes
banais e comerciais, destoa o nome de Aniston, visto por muitos como um dos
grandes problemas da produção. Por ser o nome mais famoso e sua trama a que
talvez mais cause identificação com o espectador de classe média a baixa, é
natural considerarmos sua personagem a protagonista, mas ainda alguns tendem a
rejeitá-la no papel por acharem que sua beleza não combina com o perfil de uma
faxineira, uma visão que pode ser compreendida também como um preconceito de
quem assiste e até mesmo alienação. Hoje em dia muitas pessoas belas e com
estudo, como é o caso de Olivia, precisam se sujeitar a profissões menos
reconhecidas para sobreviverem. Não é porque sua função inclui tarefas como
recolher o lixo ou limpar o vaso sanitário que você deve ser julgado ou visto
de forma rebaixada, mas aparentemente a cineasta quer justamente reforçar
preconceitos. Parece em vários momentos que a diarista na trama serve para
lembrar suas amigas que por pior que suas vidas estejam certamente estarão
muito distantes de sua realidade. Aliás, a última cena da personagem, inclusive
o diálogo que trava com um ex-contratante de seus serviços, mostra o seu
conformismo e sua felicidade diante de uma realidade que poucos almejam. Todavia,
ela pelo menos teve seu final feliz garantido. Com cara de filme de baixo orçamento,
mas ambição de se tornar aquela pequena produção que desponta como um grande
sucesso, tanto que foi apresentado na abertura do Festival de Sundance de 2006,
o berço dos independentes, Amigas com Dinheiro até que consegue
ter seus bons momentos, isso se você curtir o estilo dos seriados já citados e
similares que de certa forma marcaram uma geração e fizeram um registro do
perfil feminino bem-sucedido dos anos 2000. Procurando aliar entretenimento e
conteúdo, é uma pena que Holofcener não teve a ousadia de levar além do
convencional à crítica ao vazio emocional da classe média norte-americana que
ainda cultiva o sonho de viver em uma bela e grande casa com um jardim florido
na entrada, cenário ideal para uma foto em família que transmita toda a sua plasticidade.
Como saldo positivo, o longa pelo menos serviu para Aniston acrescentar uma
interpretação diferenciada ao seu currículo, uma personagem que apresenta a
realidade de milhares de outras pessoas sem ser caricata.
Comédia romântica - 87 min - 2006
Comédia romântica - 87 min - 2006
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