Nota 3,5 Enfadonho e desperdiçando talentos, mescla de drama e suspense é um bom sonífero

Quais critérios você
utiliza para avaliar se um filme é ruim, regular ou excelente? Teoricamente, um
filme minimamente bom deveria deixar alguma lembrança positiva em sua memória
ao seu término, podendo a mesma perdurar ativamente por tempo indeterminado.
Porém, o que não faltam são filmes que prometem muito, mas no final das contas
nos deixam com uma sensação estranha, de desagrado, ainda que um ou outro ponto
relevante positivamente possa ser identificado. No caso de
Matadores de Aluguel o
destaque estaria na premissa, mas é uma pena que o enredo aos poucos vai
ficando desinteressante, perde o foco e quando percebemos estamos contando
ansiosamente os minutos para que o filme termine logo. O roteiro de William
Lipz começa de uma forma clichê. Vemos um pouco da difícil infância de um
garoto negro que mais a frente saberemos que sofreu um grande trauma, um
problema que certamente o influenciou a entrar para a vida criminosa. Ele é
Mickey (Cuba Gooding Jr.), ou simplesmente Mike, um matador de aluguel que conta
com a parceria de Rose (Helen Mirren), uma mulher mais velha e que está
enfrentando um período difícil por conta de um câncer. Certo dia a dupla recebe
uma nova tarefa: matar Vicky (Vanessa Ferlito), esposa do inescrupuloso Clayton
(Stephen Dorff) que acredita ter sido traído. Na emboscada, Rose não pensa duas
vezes antes de atirar friamente na moça, mas se arrepende ao perceber que ela
estava grávida. Com o coração amolecido por conta de seu estado de saúde, ela
acaba fazendo o parto e abrigando o bebê e a mãe em sua casa, aliás, residência
comprada exclusivamente para se tornar realmente um lar feliz e saudável para
uma criança crescer. O tempo passa, Mike e Vicky acabam se apaixonando, mas
fatalmente chegará a hora em que Clayton descobrirá que o serviço que contratou
não foi bem feito e vai querer cobrar. A trama é tipicamente de produções
menores e super previsível, mas o trabalho do diretor Lee Daniels, estreando no
cargo, acaba ganhando certo status por trazer dois nomes de atores consagrados
encabeçando o elenco (Dorff poderia ser o terceiro, mas acabou sendo apenas um
projeto de sucesso esquecido). Todavia, Gooding e Mirren ganharam papéis sem
brilho, assim como a história no conjunto deixa muito a desejar. Talvez seja
por isso que foi tão difícil fechar o elenco após muitas especulações de
possíveis nomes como Anjelica Houston e Ryan Phillipe para os papéis
principais.

A primeira vista apenas
parceiros de crime. Depois se entende que são madrasta e enteado ou que vivem
alguma relação de proteção, mas não tarda para que Rose e Mike troquem beijos e
carícias íntimas. Afinal o que eles são? Eles se conheceram quando ela já era
uma mulher adulta e ele apenas uma criança assustada com as atitudes violentas
do pai, porém, fica nas entrelinhas a ideia de que o caso amoroso deles já vem
de longa data, talvez envolvendo até pedofilia. O envolvimento entre eles é a
deixa para Gooding desnecessariamente exibir seu corpo seminu em várias cenas,
mas não chega ao ponto extremo de mostrar o órgão genital como fez Dorff em
mais uma sequência do tipo “enche linguiça”. É entre palavrões, tiros e cenas
com apelo erótico que Daniels conduz seu filme de forma frouxa e sem envolver o
espectador, mesmo com a virada de caráter do protagonista, mas a essa altura
fica difícil torcer por um personagem tão vazio em termos de sentimentos,
literalmente só músculos. Vicky também não é a típica mocinha indefesa, não
desperta reação alguma no espectador, e o longa perde muito com a saída precoce
de Mirren de cena. Seu personagem aparentemente tinha muito mais a ser
explorado, principalmente o contraste entre a mulher sem piedade que era e a
sentimental que se tornou por motivos de força maior, mas acaba sumindo para
abrir caminho a uma narrativa rasteira e que não cumpre o que promete,
culminando em um final rápido e com Mike encarnando o herói indestrutível que
com alguns poucos golpes consegue detonar Clayton e seus capangas. Aliás, fora
ser um compulsivo sexual e matar qualquer pessoa que atrapalhe o seu caminho, que tipo
de criminoso ele é? Resposta fica por conta da imaginação de cada um. Além da
má exploração da ideia principal, os personagens secundários também são
inseridos apenas para rechear de vento o filme. Nem mesmo o médico Don (Joseph
Gordon-Levitt), homem de confiança dos criminosos em casos de emergência,
consegue injetar algum ânimo nas coisas, pois sabe muita coisa que a polícia
adoraria saber, mas aí o roteiro poderia ficar muito intricado e Daniels
preferiu subestimar a inteligência do espectador.
Matadores de Aluguel é o
típico filme a la “Super Cine”, começa fisgando sua atenção, mas da metade para
o final parece fazer questão de erros, furos, excessos e clichês afinal de
contas a essa altura os espectadores já estão sonolentos e pouco importa o que
estão vendo.
Drama - 93 min - 2006
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