domingo, 12 de janeiro de 2020

JOGO SINISTRO

Nota 3,5 Apesar de bem feito, terror peruano faz coletânea enfadonha de clichês hollywoodianos

Assim como o cinema oriental já teve sua fase de ser considerado o reduto das produções de horror, entrando em decadência com o excesso de produções repetitivas e refilmagens americanas, não demorou muito para a indústria espanhola e latina sentir os efeitos negativos do sucesso. O frescor e criatividade trazidos por produções como O Orfanato e Rec pouco a pouco foram cedendo espaço para a repetição de ideias e os mais manjados clichês do gênero, culminando em produções esquecíveis e que na ausência das videolocadoras acabam servindo para rechear os serviços de streaming , tapar buraco em canais fechados ou na pior das hipóteses figurar entre as exclusividades de sites de pirataria devido a falta de distribuidores. Jogo Sinistro conseguiu abrigo no catálogo da Netflix, mas seu título genérico já é uma baita contrapropaganda. De fato, trata-se de uma produção bastante comum, sem nenhum grande atrativo. Talvez o imbróglio envolvendo seu lançamento seja mais interessante que seu próprio enredo. Fernanda (Milene Vásquez) é psicóloga em uma instituição no México que cuida de pacientes com transtornos mentais severos e fica bastante abalada com o aparente suicídio de um deles. Ela ganha o direito de se ausentar por alguns dias para descansar e aproveitar para cuidar de Úrsula (Claudia Dammert), que também sofre de distúrbios psiquiátricos e está internada em uma clínica no Peru. Ela e o filho pequeno Julio (Matías Raygada) foram indicados a se hospedar em um prédio em específico e são recebidos de forma muito hospitaleira pela simpática Rosa (Attilia Boschetti), uma senhora que até se prontifica a cuidar quando necessário do garoto que logo na primeira noite percebe que não terá paz no novo endereço. Da janela de seu quarto ele vê o vulto de uma garota de idade semelhante a sua e a mesma começa a aparecer para ele com frequência cada vez maior, mas não tem como avisar ninguém sobre o que está acontecendo por ser mudo. Claro que chega um momento em que a mãe se dará conta de que algo ou alguém está perseguindo seu filho e passará a investigar, culminando em informações que podem ligar as estranhas aparições à sua própria mãe. Úrsula estaria envolvida com as mortes de crianças que teriam a ver com rituais usando a famosa tábua ouija, artefato utilizado para fazer comunicação com os mortos. Assim, as aparições do tal espírito podiam ser um aviso de que Julio poderia ser a próxima vítima.

sábado, 11 de janeiro de 2020

CEMITÉRIO GERAL

Nota 5,5 Primeiro filme de terror peruano vale pelo empenho, mas não traz novidade alguma

Depois da febre das fitas de horror oriundas de países asiáticos, os países latinos viraram o berço do gênero com produções de destaque inclusive em festivais. Nosso país-vizinho Peru também não ficou de fora e em 2013 lançava sua primeira obra de terror, Cemitério Geral, uma trama genérica que não apresenta absolutamente nada de novo, mas que acaba revelando-se acima da média se comparada a outros produtos semelhantes produzidos em Hollywood. O enredo nos apresenta à Pablo (Jürgen Gómez), um jovem que tem como hobby gravar tudo o que julga ser interessante, assim ele decide registrar uma tentativa de seus amigos fazerem comunicação com os mortos. O pai de Andrea (Airam Galliani) sofreu um acidente de carro, mas se manteve vivo durante certo tempo na tentativa de conseguir se despedir da filha, contudo, a moça acabou chegando tarde demais e o arrependimento a afetou profundamente a ponto de a fazer perder o interesse pelos estudos e pelo contato social. Sua amiga Mayra (Diva Rivera) então a convence a experimentar uma comunicação com o outro mundo usando letras e uma moeda, uma tentativa caseira de reproduzir a famosa tábua ouija, um instrumento que, surpreendentemente, tem suas origens creditadas em solo americano, embora as razões para sua criação sejam diversas. Em uma primeira tentativa nada acontece, então elas decidem usar o tabuleiro em uma espécie de ritual dentro de um cemitério (de mesmo nome que intitula o longa) para facilitar o contato com o além. Junto com as garotas e o rapaz também participam da sessão a pequena Evita (Flavia Trujillo), o desengonçado Julio (César Menéndez) e o metido a engraçadinho Gabriel (Nikko Ponce). Desta vez o grupo utiliza uma verdadeira tábua ouija fornecida pela tia de Mayra que é médium. Como manda a cartilha do gênero, obviamente o experimento dá errado mais uma vez, ou melhor, em termos. Andrea não consegue fazer contato com o espírito do pai, mas o ritual acaba trazendo para o mundo dos vivos uma entidade maléfica que possui o corpo de Evita.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

MAMMA MIA! LÁ VAMOS NÓS DE NOVO

NOTA 7,0

Continuação tardia procura explanar
o passado de personagens carismáticos,
mas peca ao praticamente oferecer mais do
mesmo e desperdiçar Meryl Streep e Cher
Quando um filme faz sucesso, os próprios fãs pedem por continuações, mas os responsáveis pelas produções deveriam ser mais cautelosos. Existem obras que deveriam ser únicas e assim permanecerem como uma agradável lembrança do imaginário coletivo. O tiro no pé pode ser ainda mais dolorido quando se resolve oferecer um passado aos personagens que caíram no gosto popular, as chamadas prequels. É por esse caminho que envereda Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo, continuação tardia do musical de 2008 cuja ação se situa seis anos após os acontecimentos originais que focava no casamento de Sophie (Amanda Seyfried) e seus vários conflitos com Donna (Meryl Streep), sua mãe cuja identidade do pai da garota manteve em segredo até ela subir ao altar. Todavia, o segundo longa volta no tempo para mostrar a juventude da mãe coruja e explicar alguns desdobramentos para o futuro da filha que agora se encontra sem o carinho materno. Isso mesmo. Donna, o coração e a alma de Mamma Mia! agora já é falecida. Streep surge quase nos últimos minutos para um número musical em flashback ao lado de Seyfried e ainda no clipe final que reúne todo o elenco em uma cantoria apoteótica. Por aí já temos ideia de que o filme em hipótese alguma chega aos pés do original, mas ainda assim diverte com novas canções, diga-se de passagem, menos conhecidas do grupo Abba, e repetindo outras marcantes. Obviamente a clássica “Dancing Queen” não poderia faltar. Lily James assume a personagem da veterana atriz trazendo certo frescor a um universo já enraizado na memória afetiva de boa parte dos interessados na fita. O longa traz estopo ao passado das personagens tão evocado no primeiro filme explicando como Donna foi parar na Grécia e seu envolvimento quase simultâneo com Harry (Hugh Skinner), Bill (Josh Dylan) e Sam (Jeremy Irvine), motivo da dúvida quanto a paternidade da filha que permeava toda a outra narrativa. Também em pauta a amizade de longa data da protagonista com Rosie (Alexa Davies) e Tanya (Jessica Keenan Wynn).

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

MAMMA MIA!

NOTA 8,0

Comédia romântica musical
conquista com enredo simples,
músicas contagiantes e a
alegria e simpatia do elenco
O verão é uma das melhores épocas do ano. Dias mais longos, temperaturas altas, uma incrível sensação de liberdade, muita gente curtindo férias e nada melhor que um filme alto astral e com o clima ensolarado da estação para fazer companhia. Mamma Mia! pode ser considerado a tradução cinematográfica do que um período de descanso significa. Do início ao fim, o espectador é convidado a participar de uma verdadeira festa que parece não ter hora para acabar e de quebra se deliciar com um agradável passeio por belas paisagens gregas, embora a maioria tenha sido inserida através da computação gráfica, mas isso é só um detalhe. Em meio a tanta diversão e descontração quem vai ficar procurando defeitos? Bem, infelizmente não é todo mundo que deixa seu espírito alegre aflorar com esta produção, ou melhor, o gênero musical por si só sofre preconceito, mas neste caso temos um agravante para a repulsa: a trilha sonora do grupo ABBA com hits dos tempos da discoteca. Sucesso no passado, o quarteto sueco hoje é sinônimo de brega e automaticamente tal rótulo foi aplicado ao longa de estreia da diretora Phyllida Lloyd. Fale bem ou fale mal, mas falem de mim. O fato é que esta comédia romântica logo que foi lançada gerou burburinhos e como a maioria dos filmes agradou e desagradou em proporções similares, mas o passar dos anos mostra que a turma de fãs é bem grande, ainda mais com o respaldo do espetáculo teatral que rodou o mundo e ajudou a propagar a fama do longa-metragem. Realmente foi para os palcos que primeiramente o projeto foi pensado ainda na década de 1980, uma forma de aproveitar os últimos resquícios da era da disco music, mas a ideia só foi concretizada em 1999 pelas mãos da própria Phyllida que fez sucesso com o espetáculo em Londres. Apostando na nostalgia do público, logo a peça-show estava em cartaz na Broadway e se tornou um dos produtos do tipo que mais tempo ficou em cartaz. Versões locais também passaram a existir em diversos países, inclusive no Brasil, porém, o espetáculo só foi parar nos palcos de algumas poucas cidades brasileiras graças ao enorme sucesso que o filme fez por aqui. Dirigido pela mesma diretora do espetáculo teatral e mantendo praticamente todo o roteiro original dificilmente as coisas poderiam desandar, pelo menos para aqueles que procuram diversão sem ter que gastar o mínimo de cérebro, contudo, falar que esta produção é acéfala ou destinada a público idem não é correto. A diretora nunca teve a intenção de fazer algo revolucionário ou que colocasse as plateias para pensarem, pelo contrário, o objetivo é simplesmente entreter e ser uma opção escapista. A quem interessar bom proveito.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

A FORMA DA ÁGUA

NOTA 9,0

Em tom de fábula, acrescido de
temas atuais e relevantes, longa
conta uma história de amor atípica
ao mesmo que exalta os diferentes
O clássico conto de "A Bela e a Fera" apresenta uma história de amor entre uma jovem comum e um monstro, mas ao final, descobrindo o sentimento do amor, ele se transforma em um belo rapaz. Na vida real tal mágica não acontece, mas por que não amar o feio ou esquisito? Uma ode aos desajustados, aos incompreendidos, esta é a grande proposta da fantasia com toques de drama e romance A Forma da Água, mais um imaginativo filme assinado pelo espanhol Guillermo del Toro. Lançado no Festival de Veneza, no qual sagrou-se campeão, o longa seguiu uma vitoriosa carreira arrebatando diversos prêmios até culminar no merecido Oscar. Pode-se dizer que o diretor fez uma adaptação do clássico "O Monstro da Lagoa Negra" para contar uma história de amor nascida em meio a época da Guerra Fria. Em meados da década de 1960, Eliza Esposito (Sally Hawkins) é uma solitária mulher e sem o dom da fala desde a infância por conta de um ferimento que destruiu suas cordas vocais, mas nem por isso é uma pessoa infeliz. Faxineira noturna em uma base secreta do governo norte-americano, ela tem bastante serviço diariamente, incluindo os cuidados com o laboratório, local que recebe em segredo uma estranha criatura aquática, com característica humanas e simultaneamente anfíbias, capturada nos confins da América do Sul. Ela foi trazida pelo sádico e moralista agente policial Richard Strickland (Michael Shannon), a própria personificação do racismo, sexismo e complexo de superioridade. Curiosa, a auxiliar de limpeza acaba descobrindo o que os cientistas tanto prezam em esconder e se afeiçoa ao tal ser e é correspondida, fazendo jus ao ditado popular que diz que quem ama o feio bonito lhe parece. Nas madrugadas, eles escutam música, comem ovos cozidos e acabam se apaixonando, muito pelo fator da identificação já que ambos demonstram extrema generosidade e não conseguem se comunicar por falas, apenas por gestos e olhares. Quando os agentes do governo decidem usar a descoberta como cobaia nos processos da corrida espacial, Eliza decide protegê-lo e conta a com a ajuda de Giles (Richard Jenkins), seu vizinho,  Zelda (Octavia Spencer), sua colega de trabalho, e do Dr. Robert Hoffstetler (Michael Stuhlbarg), um cientista que se encontra em um dilema moral em meio a um mundo político.