![]() |
NOTA 1,0 Mais uma bomba cinematográfica acerca de catástrofes peca em vários aspectos, além de testar a paciência com sua longa duração |
Durante os anos 50 e 60 o cinema temia a
concorrência e a popularidade da televisão e começou a ousar mais para atrair
público. Dessa forma, milhares de pessoas do mundo inteiro experimentaram a até
então inédita sensação de terror e impotência diante do desconhecido com
produções como O Dia em que a Terra Parou
e Guerra dos Mundos. Filmes do
tipo traziam como publicidade extra o uso de efeitos especiais revolucionários,
além de narrativas que faziam alusões a problemas da época usando elementos
alegóricos, como a invasão de extraterrestres, e que já diziam que os próprios
seres humanos seriam os responsáveis pela degradação da Terra. Anos mais tarde,
tornaram-se populares os filmes-catástrofes, produtos que também colocavam as
pessoas em situações de risco, perigos ocasionados pela revolta da natureza ou
por falhas técnicas de meios de transportes ou construções que prometiam
modernidade e segurança. Com o tempo, produções dos tipos citados acabaram se
tornando raros lançamentos, pois todas as possibilidades de destruição do mundo
já haviam sido exploradas, contudo, sempre tem um desocupado de plantão e assim
o diretor Jon Amiel resolveu cometer um insulto chamado O Núcleo – Missão ao Centro da
Terra. Realmente, o longa é um dos piores lançados na década de 2000,
quiçá da História do cinema. Foi mal, isso é exagero. Se tivesse sido lançado
no mínimo trinta anos antes (ele é de 2003) talvez este imbróglio poderia ter
sido um sucesso, pois se encaixa razoavelmente ao estilo das produções
populares da época, todavia, não há motivos para um filme desse tipo ter sido
produzido em pleno século 21 e nem adianta dizer que foi preciso esperar
tecnologia avançada para tornar o projeto realidade, pois os efeitos especiais
são para lá de toscos. Às vésperas do lançamento, um ônibus espacial sofreu um
desastre e obrigou o diretor a cortar uma importante cena em que
coincidentemente os fatos fictícios faziam alusões aos reais, mas nem isso
ajudou o longa que não conseguiu recuperar nem metade de seu orçamento nas
bilheterias. Antes de continuar com as críticas negativas rasgadas, vamos ao
mirabolante enredo escrito por John Rogers e Cooper Layne. Estranhos fenômenos
começam a chamar a atenção dos cientistas, desde o comportamento estranhos de
animais, passando por mudanças climáticas bruscas até as mortes simultâneas e
inexplicáveis de pessoas com problemas cardíacos, problemas que parecem atingir
o mundo inteiro. Para analisar o caso, é chamado o geólogo Josh Keyes (Aaron Eckhart)
que chega a conclusão de que o núcleo da Terra parou de girar inexplicavelmente
e isso afetou o campo eletromagnético que envolve e protege o planeta.
O argumento, explicado cheio de termos técnicos e
científicos só pra chatear o espectador, poderia ser resumido em termos ao
velho problema da camada de ozônio visto que a principal consequência seria a
incapacidade dos raios de sol serem filtrados, assim a Terra ficaria
superaquecida e levaria ao extermínio de todas as espécies de seres vivos em
decorrência de outros efeitos negativos. Todavia, seguindo esse caminho mais
lógico iria por água abaixo a ideia principal: a exploração do núcleo do
planeta, área que provavelmente 99,9% dos habitantes não tem sequer ideia de
que existe. A prova é que Keyes usa uma maçã para exemplificar sua teoria a
militares e cientistas desatualizados partindo-a ao meio para demonstrar onde
fica o núcleo e chega a atear fogo nela para demonstrar o que pode acontecer
com a Terra caso algo não seja feito o mais rápido possível. Se pessoas
teoricamente entendidas precisaram de uma explicação tão didática, imagina para
os pobres e leigos espectadores. Keyes então organiza uma expedição para tentar
reiniciar o movimento do centro a bordo de uma supernave capaz de resistir a
altíssimas temperaturas. Em sua companhia estão a Major Rebecca Childs (Hilary
Swank), o Comandante Robert Iverson (Bruce Greenwood), o inventor da nave Dr.
Ed Brazzleton (Delroy Lindo) e seu pretensioso rival, o Dr. Conrad Zimsky
(Stanley Tucci). Com o consenso do governo norte-americano, reforçando a ideia
de que o destino da humanidade está nas mãos deles, embora até o presidente
seja acusado a certa altura de ter ajudado a provocar o problema por aprovar
experiências perigosas sem levar em consideração possíveis implicações, só para
não dizer que a expedição é patriota ao extremo temos um único estrangeiro na
tripulação, Serge (Tchéky Karyo), apenas para fazer número. Boa parte da
primeira hora de filme é dedicada as apresentações destes personagens afinal temos
que estar íntimos para sofrer quando eles estiverem vivenciando os iminentes
perigos desta missão que tem por finalidade detonar uma bomba nuclear no miolo
do mundo para ele voltar a pegar no tranco. Como somente os cientistas podem
ter alguma noção de como é o tal núcleo, Amiel quer nos fazer acreditar que
essa região é como um vulcão em erupção, com lava incandescente e de cores
vivas que derrete tudo o que vê pela frente. Para exemplificar isso, um dos
tripulantes é comicamente sugado pelo efeito fake dessa massa nuclear. De
qualquer forma, talvez se focasse a atenção neste sexteto responsável (ou
deveria ser) pela parte de adrenalina do enredo e desenvolvesse melhor as
situações de tensão que se envolvem, o longa poderia ser diferente, mais
tolerável, porém, a trama ainda tem que dar conta de mais uma meia dúzia de
personagens que estão comandando a exploração de dentro de uma sala equipada
com ar condicionado, modernos computadores e lanchinho grátis em solo seguro.
Bem, quase seguro.
Na turminha do bem bom está o jovem hacker Theodore
Donald Finch (DJ Qualls), ou simplesmente Rat, um cara estranho e com uma
porção de processos nas costas por conta de crimes cibernéticos. Devido a sua
experiência em invadir sites, ele é procurado por autoridades para colaborar impedindo
que notícias sobre a missão dos cientistas e a respeito de catástrofes cheguem
ao público, um tremendo furo do roteiro. A ponte Golden Gate em San Francisco
vai abaixo atingida por um super-raio enquanto em Roma as ruínas do Coliseu acabaram
mesmo virando pó graças a uma tempestade elétrica e nessas um monte de gente
morre. Como seria possível esconder tragédias de tamanhas proporções?
Extremamente chato e arrogante, Rat além de dar aulas de geologia para os que o
cerca acaba de bandido virtual se tornando herói quando descobre a lógica capaz
de destravar os computadores para enfim descobrir onde está a nave perdida ou
ao menos o que restou dela. Sim, tal qual um suspense dentro de um avião ou
submarino, aqui também a tripulação e o próprio equipamento sofrem o diabo até
que alguns poucos gatos pingados sobrevivam para contar história. Adivinhe quem
são eles. Obviamente os nomes mais famosos do elenco. Eckhart estava em alta na
época participando de várias produções, mas que não chegavam a ser sucesso,
enquanto Swank trazia o respaldo da publicidade de uma recente avalanche de
prêmios por Meninos não Choram. É
tentado um gancho romântico com seus personagens em meio ao caos, o que não
convence e chega a ser estapafúrdio. Aliás, persuadir o espectador parece ser o
de menos para Amiel, que tinha feito o razoável A Armadilha com Catherine Zeta-Jones e Sean Connery alguns anos
antes. O elenco esforça-se para dar credibilidade ao engodo, pelo menos não
gargalham enquanto travam diálogos ridículos ou soltam frases de efeito que são
verdadeiras pérolas do absurdo, mas são tantas as situações tolas, mal
resolvidas e clichês que chega a um ponto que o próprio espectador se
envergonha de ter escolhido assistir a isso. Com pontos discutíveis a respeito
de similaridades com Armageddon, este
sim campeão de bilheteria, é de se perguntar o que levou produtores a
investirem em O Núcleo – Missão ao Centro da Terra, um repeteco mal feito de
uma temática que já não assombrava mais afinal o medo do fim do mundo fez as
bilheterias de muitos filmes catástrofes antes da virada do milênio, mas
passado o susto o efeito é nulo. É ainda mais difícil acreditar que deixaram a
obra final ter mais de duas horas de duração. Mesmo com uma reviravolta pouco
depois da metade, o clichê que sempre alguém do grupo tem um segredo bombástico
capaz de desvirtuar os planos, é muito tempo para contar uma história tola que
poderia ser resumida a uns 80 ou 90 minutos no máximo.
Aventura - 134 min - 2003
Nenhum comentário:
Postar um comentário