segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

MOULIN ROUGE - AMOR EM VERMELHO

NOTA 10,0

Longa ressuscita o gênero
musical em grande estilo,
apostando em história de amor
contada de maneira vibrante
Durante muitos anos os musicais foram sinônimos de cinema de primeira e marcaram uma fase de ouro de Hollywood. Em meados dos anos 60 o gênero começou a sua decadência sendo sucumbido por produções mais ousadas e realistas. Em tempos de guerras, ganância e luta pela liberdade e direitos, já não havia mais espaço para a magia do casamento da sétima arte com o mundo da música. Um ou outro musical como Cabaret ou Grease – Nos Tempos da Brilhantina conseguiu fazer sucesso e atravessar décadas sendo lembrado de forma ativa e indicado às novas gerações, mas definitivamente as produções do tipo pareciam fadadas ao ostracismo. Eis que em pleno início do novo século o mundo foi surpreendido com o lançamento de Moulin Rouge – Amor em Vermelho, um ousado e criativo projeto do diretor e roteirista Baz Luhrmann, antes responsável por uma versão mais moderninha de um conto clássico, Romeu + Julieta. Sua especialidade parece ser oferecer verdadeiros espetáculos visuais e sem medo de reinventar fórmulas. No caso ele reinventou os musicais e entregou ao público uma obra ímpar utilizando ao máximo os recursos sonoros e visuais a favor de sua narrativa, optando por toques sutis de computação gráfica e exaltando o lado artesanal de se fazer cinema. Tudo isso sem abrir mão de imprimir sua marca: o exagero, no bom sentido. A história começa na virada do século 19 para o 20 nos apresentando ao jovem Christian (Ewan McGregor), um escritor que está passando por um bloqueio criativo por perceber que nunca se apaixonou de verdade e assim não poderia jamais escrever sobre o amor de forma clara e sincera. Em Paris, no bairro boêmio de Montmartre, ele recebe o apoio do artista plástico Henri de Toulouse-Lautrec (John Leguizano) e de uma trupe de artistas que o ajudam a participar da vida social e cultural do local que giram em torno do famoso cabaré Moulin Rouge. Ao visitar o local, Christian se apaixona a primeira vista por Satine (Nicole Kidman), a grande estrela da casa de espetáculos, que na realidade é um bordel. Graças a um mal-entendido, os dois têm a chance de ficarem a sós por alguns minutos, tempo suficiente para que a moça correspondesse ao amor do rapaz, porém, ela já está prometida ao Duque de Monroth (Richard Roxburgh), que em troca do casamento promete transformá-la em uma grande atriz e o Moulin Rouge em um elegante teatro. Mesmo pressionada por Harold Zidler (Jim Broadbent), o ganancioso dono do cabaré, em comum acordo Satine e Christian decidem viver seu romance às escondidas, mas uma hora ela deverá escolher entre viver um amor verdadeiro ou realizar-se profissionalmente.

domingo, 30 de dezembro de 2018

UM PORTO SEGURO

Nota 5,0 Mais uma obra do romancista Nicholas Sparks apenas recicla sua velha fórmula

Assim como o nome do escritor Stephen King se tornou um chamariz para a indústria de cinema em menor proporção podemos dizer que a alcunha Nicholas Sparks também tem o seu valor. Autor de best sellers românticos com boa dose de drama, suas obras passaram a ser cobiçadas por produtores desde que Diário de Uma Paixão tornou-se instantaneamente um clássico do gênero. Não a toa é seu trabalho mais bem acabado estruturalmente e o que mais difere na lista do que já fora adaptado. Um Amor Para Recordar, Noites de Tormenta e Um Homem de Sorte, por exemplo, em comum possuem um casal bonitinho e carismático que se une contra todas as adversidades que possam surgir a fim de impedir que vivam esse amor, mas cuja trajetória culmina em algum final impactante ou traumático. Todas são obras tipicamente "sparkinianas", produções que contam histórias alienantes, mas inegavelmente com graça e beleza. Adaptado por Leslie Bohem e Dana Stevens, Um Porto Seguro engrossa tal lista apresentando mais um romance água-com-açúcar marcado por reviravoltas previsíveis. Após uma briga doméstica, Katie (Julianne Hough) foge de casa toda coberta de sangue e passa a ser perseguida pela polícia, mas consegue escapar e busca por acaso refúgio em uma bucólica cidadezinha no litoral dos EUA. No local, além de arranjar uma bela casa e um descontraído trabalho em um estalar de dedos, ela acaba fazendo amizade com Jo (Cobie Smulders), uma vizinha confidente, e após relutar um pouco inicia um romance com Alex (Josh Duhamel), o dono da mercearia local, viúvo boa-praça e pai de duas crianças. Como manda a cartilha de Sparks, o namoro é contemplado com dias ensolarados, bela paisagem natural, torcida dos amigos e muitas juras de amor. Tudo vai bem na vida da moça até que o passado volta para reencontrá-la através do obstinado detetive Tierney (David Lyons). É através de suas investigações e flashbacks que pouco a pouco vamos descobrindo o que Katie tanto luta para manter em segredo.

sábado, 29 de dezembro de 2018

SEGREDO DE SANGUE

Nota 4,0 Intrigas manjadas tentam segurar trama que não se aprofunda no tema possessividade

Jessica Lange já viveu seus tempos de glória, sendo uma das atrizes mais requisitadas na década de 1980, mas após conquistar seu segundo Oscar por Céu Azul em 1995 parece que o cinema a esqueceu. Ou seria o contrário? Ao aceitar co-estrelar o suspense Segredo de Sangue, genérico desde o título, parece que a estrela já não fazia mais questão alguma de ver seu nome emparelhado ao lado de outras grandes intérpretes em premiações renomadas. Só assim para explicar a sua até então inédita indicação ao Framboesa de Ouro, um mimo para os piores do cinema. Ela dá vida à Martha Baring, uma milionária de meia-idade acostumada a controlar a vida de Jackson (Jonnathon Schaech), seu único filho, um rapagão que mesmo morando em Nova York, longe dos olhos da mamãe, não foge de sua vigilância. Ela sabe que ele tem suas aventuras sexuais, mas jamais se preparou para o momento em que o rapaz decidisse lhe apresentar sua futura nora de fato. Eis que ele decide voltar à fazenda onde cresceu e visitá-la para os festejos de fim de ano levando a tiracolo não apenas a noiva Helen (Gwyneth Paltrow), mas sim a mãe de seu herdeiro que já cresce em seu ventre. O casal buscava refúgio após uma traumática situação de violência, porém, mal sabiam o que os esperava no campo. Lembram-se da reação de Jane Fonda em A Sogra ao ser apresentada à namorada do filho? Sua personagem no exato momento que conhece a futura nora começa a imaginar que está torturando a moça. Lange tem reação parecida, mas na cabeça de sua possessiva criação não paira uma cena besteirol com direito a enfiar a cara em um bolo e sim uma sequência de episódios para perturbar psicologicamente a jovem que acreditava estar sendo recebida naquela casa com total cordialidade. Contudo, não demora muito para ela se sentir desconfortável sob o mesmo teto que a sogra, principalmente quando descobre que ela rejeita e maltrata Alice (Nina Foch), a avó de seu marido.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?

NOTA 9,0

Drama mostra lado pouco
esplendoroso da Índia através da
história de rapaz de origem humilde
que literalmente vence na vida
Entra ano e sai ano e muita gente continua com suas simpatias e rituais em busca de ajuda para conseguir uma vida financeira confortável. Bem, já que a maioria tem esse desejo, a dica é fechar o ano assistindo Quem Quer Ser Um Milionário?, elogiada e premiada produção americana que mostrou ao mundo uma Índia realista, pobre, repleta de problemas, mas ainda assim com uma população esperançosa. A sugestão não é só pelo fato de ter dinheiro envolvido na história, mas principalmente pela mensagem de otimismo e reflexiva que o filme nos deixa. A câmera do eclético diretor Danny Boyle apresenta o cotidiano do povão que por coincidência não difere muito da realidade das áreas menos favorecidas brasileiras. Até mais interessante que o próprio filme em si é a sua trajetória desde a concepção até o clímax, a festa do Oscar. Um diretor que já trabalhou com a juventude rebelde, lidou com zumbis, frequentou uma ilha aparentemente deserta e se aventurou pela ficção científica em uma época em que o gênero estava praticamente sepultado, só prova que ele não tem medo de experimentar, testar novos temas e ambientações. Por isso não é para se estranhar a sua audácia de voltar suas atenções para um país pouco conhecido e procurar o que havia de mais comum e pobre por lá. O que é espantoso mesmo é a recepção acalorada do público e crítica americana a uma obra com diversos diálogos em língua estrangeira, o hindu, o idioma oficial da índia, o que exige o uso de legendas, coisa que os ianques detestam. E o fenômeno não foi só por lá. Com uma mensagem universal, o longa fez uma carreira brilhante por onde passou e conquistou quase todos os prêmios disponíveis da temporada. O único senão é que o elenco foi esnobado nessas festas, algo já esperado por serem desconhecidos até então e pela origem indiana (foram selecionados entre os populares e aprenderam a atuar “pegando no batente”). Curiosamente, na própria Índia houve rejeição a este trabalho, muito porque condenaram a opção de explorar o universo de favela, mas se a história exige tal cenário não se pode fazer nada. Se a ambientação causa incômodo por expor mazelas sociais, o cinema nada mais fez que mostrar a realidade. Queixas devem ser direcionadas a governantes e afins para mudar esse quadro. O realismo da obra se deve muito ao auxílio do dramaturgo e cineasta indiano Loveleen Tandan, contratado para ceder uma minuciosa pesquisa sobre seu país, mas cuja importância foi tanta que acabou recebendo o crédito de co-diretor.

sábado, 22 de dezembro de 2018

REFÉNS DO MAL

Nota 5,0 Suspense sem grandes sustos é mero produto para publicidade do protagonista

Crianças endemoniadas parecem um fetiche do cinema de horror. Símbolos de pureza e inocência, realmente até hoje não deixa de ser impactante ver guris que giram a cabeça, com olhar macabro, se automutilando ou atentando verbalmente contra a moral e a crença religiosa. Bem, o demoniozinho de Reféns do Mal vem em embalagem mais econômica, sendo a fixação de seus olhos, cara séria e dom para premonição suas principais armas para amedrontar, mas no caso ele só mete medo em quem merece. Será mesmo? Não há como falar sobre esta produção assinada pelo diretor Stewart Hendler sem revelar seu grande trunfo que na realidade não é nenhum truque para surpreender o espectador, mas sim a matéria-prima do roteiro de Christopher Borrelli. David (Blake Woodruff) é um garoto de oito anos filho único da Sra. Sandbom (Teryl Hothery), uma jovem e rica viúva que sempre o mimou com presentes e fez suas vontades, mas ainda assim ele parece sério demais. No dia de seu aniversário, em pleno período natalino, comparece a sua festa um animador vestido de Papai Noel que na verdade não é do ramo. Ele é Max (Josh Holloway), um ex-detento que aprendeu a cozinhar na prisão e agora que está livre sonha em abrir um restaurante com a noiva Roxanne (Sarah Wayne Calles), mas devido ao seu histórico criminal será difícil conseguir financiamento para o projeto, assim ele cai na tentação de fazer um último serviço sujo para um desconhecido que só consegue contatar pelo telefone: sequestrar David e em troca pedir um polpudo resgate. O rapto dá certo e com a ajuda da noiva e dos comparsas Vince (Joel Edgerton) e Sidney (Michael Hooker), Max aprisiona o garoto nas acomodações de um acampamento que está fechado provisoriamente devido ao inverno rigoroso. O futuro casal trata o menino de forma mais amigável, pois desejam que tudo acabe bem para todos, mas são alertados de que não devem se afeiçoar a ele. De qualquer forma, bastava um primeiro contato com a milionária que ela não se negaria a pagar uma fortuna para ter seu pimpolho de volta, mas as coisas saem dos trilhos.

domingo, 9 de dezembro de 2018

PALAVRAS DE AMOR

Nota 4,0 Abordando concursos de soletrar e religião, longa se arrasta e jamais atinge a emoção 

Como diz o ditado, uma imagem vale mais que mil palavras. Será mesmo? Infelizmente vivemos tempos de desvalorização do vocabulário e de tudo aquilo que ele carrega consigo. Com o passar dos anos, expressões que deveriam ser carregadas de sentimentos foram banalizadas e são ditas por aí ao acaso e a linguagem da internet cheia de gírias e abreviações causam confusão quando necessário uma escrita ou conversa oral de maneira mais formal. Palavras de Amor, abordando o tema através de concursos de soletrar, até tenta nos lembrar da importância dos significados que a junção de letras tem, mas infelizmente acaba se perdendo em uma miscelânea de assuntos que dispersam a atenção do foco principal. A pequena Eliza (Flora Cross) é a filha caçula da família Naumann, um clã aparentemente feliz. Saul (Richard Gere), seu pai, é um respeitado professor universitário de teologia que sempre encontra tempo para se dedicar em casa, ou ao menos acredita que cumpre bem seu papel no lar. Miriam (Juliette Binoche), sua mãe, é uma mulher carinhosa e ao que tudo indica confortável com sua vida pacata. Já Aaron (Max Minghella), seu irmão mais velho, não demonstra sinais de rebeldia como a maioria dos adolescentes e mantém um relacionamento amistoso com os parentes. Apaixonado pelas palavras e seus significados e afins, Saul se entusiasma ao perceber o dom da filha para soletrar e começa a treiná-la para campeonatos estudantis. No entanto, a dedicação do pai torna-se uma obsessão que acaba modificando a dinâmica de toda a família cuja base antes sólida revela-se estruturada sobre frágeis alicerces, principalmente quando vem à tona a fé de cada um dos membros. Os treinamentos para os concursos são meras desculpas para mostrar que há uma forma mundana para se conversar com Deus. Ao incentivar a filha a se aprimorar na arte de soletrar, Saul acredita que a está guiando para alcançar a sabedoria divina, não apenas falando com o criador, mas também o ouvindo.

sábado, 8 de dezembro de 2018

ARRUME UM EMPREGO

Nota 1,0 Pretendendo abordar temas relativos ao mercado de trabalho, comédia só fica na intenção

Se a geração que cresceu jogando videogames naquelas gigantescas televisões de tudo conseguiu gerar vários exemplos de fracassados, imagine as novas levas de jovens que estão por aí e ainda estão por vir. Computadores, celulares, internet de alta velocidade e games super interativos. Apesar de todas estas opções também servirem de fonte de informação, a juventude as quer com o intuito de se divertir, mas chega um momento em que é preciso encontrar um equilíbrio entre o prazer e o dever. É certo que hoje há muito marmanjo que nem chegou na casa dos vinte anos e já fatura alto criando softwares, jogos virtuais e aperfeiçoando o trabalho de empresas consolidadas com o apoio de tecnologia de ponta. Todavia, há muitos jovens que não encontram o ponto de amadurecimento e preferem viver a vida como eternas crianças, só caindo a ficha que pararam no tempo quando decidem se casar ou procurar um emprego. A dinâmica dos novos tempos também obriga os mais responsáveis e até mesmo aqueles com currículos experientes a abrirem os olhos para não perderem suas vagas de trabalho, seja por crises econômicas ou por serem substituídos por sangue novo. Esses são os problemas que a comédia Arrume Um Emprego pretendia discutir de forma bem humorada, mas o resultado é catastrófico. Risadas aqui são escassas (as poucas em cima de piadas de mal gosto) e para o espectador perder o fio da meada não custa muito, afinal os próprios personagens parecem perdidos dentro da trama em estilo mosaico, várias histórias entrelaçadas por um motivo em comum. No caso, quatro amigos são obrigados a abandonar seus sonhos para entrarem no competitivo mercado de trabalho norte-americano em meio a uma crise das bravas. O personagem principal é Will Davis (Miles Teller) que após um ano de estágio não remunerado é demitido repentinamente e começa refletir sobre o que é mais importante, um emprego que ofereça estabilidade financeira ou aquele que realize com prazer mesmo ganhando pouco? A julgar pelo seu currículo, em que faz questão de destacar que faz vídeos para o YouTube, a segunda opção é a mais acertada.

domingo, 2 de dezembro de 2018

LOUCO POR VOCÊ

Nota 4,0 Concentrando-se no romance, longa desperdiça assuntos pertinentes ao universo juvenil

Universitário bonito, inteligente e boa praça conhece a garota dos seus sonhos, mas para viver essa amor terá que vencer obstáculos, principalmente os que ele próprio se impõe. Esse pequeno resumo serviria como sinopse para a maioria dos filmes estrelados por Freddie Prinze Jr. Quem? Ele foi um ator de relativo sucesso entre o público adolescente entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000. Sua carreira foi catapultada pelo terror teen Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado e sua continuação, mas imediatamente o alçaram ao posto de galã em comédias românticas. Antes de ter feito a má escolha de aceitar ingressar no elenco do live action de Scooby-Doo e sua turma, o jovem estrelou pelo menos cinco comédias românticas onde praticamente repetiu o mesmo perfil, sendo a mais lembrada Ela é Demais que acabou ganhando certa aura cult com o passar dos anos. O mesmo não aconteceu com Louco Por Você em que vive Al Connelly, um jovem que pretende seguir os mesmos passos de seu pai e se tornar um grande chef de cozinha. Solitário e por vezes se sentindo como um peixe fora d'água por não ser igual a seus amigos que só pensam em sexo e curtição, o rapaz sente-se atraído de imediato ao conhecer Imogen (Julia Stiles), uma aspirante a artista plástica que até então não estava disposta a assumir as responsabilidades de um namoro sério. Eles se conheceram casualmente em um barzinho, mas depois descobriram estudar na mesma universidade e voltaram a se cruzar por acaso várias vezes. Logo estavam namorando e não queriam se separar mais. Inteligentes e criativos, assunto não faltava ao casal que parecia perfeito. Tudo ia de vento em popa, mas pela pouca idade e experiência de vida que acumulavam, as muitas dúvidas que surgem sobre como estão conduzindo o relacionamento vão minando aos poucos a relação que dura poucos meses, mas o suficiente para deixar marcas na vida de ambos.