domingo, 29 de outubro de 2017

DOIDAS DEMAIS

Nota 6,0 Comédia investe em clichês e se acomoda sobre talento e carisma de protagonistas

Manter uma amizade não é nada fácil. Se já é complicado quando jovem e sem maiores complicações, pior ainda quando adultos, época em que relacionamentos amorosos, carreira e até o nível social podem revelar-se entraves para manter os amigos por perto. A comédia Doidas Demais aborda o assunto através do reencontro de duas mulheres que já foram grandes amigas, mas quis o destino que elas trilhassem caminhos bem opostos no futuro. Suzette (Goldie Hawn) é alto-astral e desencanada, mas quando perde seu emprego em uma boate cai na real de que não tem como se sustentar, assim resolve viajar centenas de milhas para procurar uma antiga amiga com quem aprontou poucas e boas nos tempos das discotecas. Bem, elas não eram adeptas dos passinhos coreografados e polainas com brilhos e sim do som pauleira e das jaquetas de couro. Elas eram tão próximas que eram chamadas como as "irmãs doidas demais" e amavam tietar bandas de rock, inclusive faziam verdadeiras loucuras para conseguirem chegar perto de seus ídolos. Contudo, Lavinia (Susan Sarandon) deixou o jeitão porra-louca para trás e agora é uma mãe de família e dona-de-casa cheia de regras e metódica e renega totalmente seu passado desregrado, inclusive não atende chamados por Vinnie, o nome que usava quando era roqueira. Obviamente o reencontro gera estranhamento. Enquanto uma insiste em viver como se estivesse nos anos setentistas, a outra se empenha para evitar que as filhas Ginger (Eva Amaurri - filha de Sarandon na vida real) e Hannah (Erika Christensen) façam tantas besteiras quanto ela e se arrependam no futuro. Detalhe, as adolescentes e o marido Raymond (Robin Thomas), este com aspirações políticas, desconhecem suas estripulias da juventude, mas tais lembranças inevitavelmente voltam à tona com a chegada da amiga. Inicialmente Lavínia tenta manter certo distanciamento, mas não demora a querer provar para si mesma que ainda pode ser feliz como antigamente dosando com a vida de responsabilidades que assumiu.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

UM TIO QUASE PERFEITO

NOTA 6,5

Com a velha premissa do sem
noção que cresce com as adversidades,
comédia agrada crianças e adultos com
fórmula comum a filmes para toda família
O título tenta um claro link com Uma Babá Quase Perfeita, a clássica comédia do saudoso Robin Williams, mas felizmente a estratégia é apenas para publicidade. Para o bem do cinema nacional e seu amadurecimento, mesmo com um ou outro momento que possam remeter a citada comédia, estruturalmente Um Tio Quase Perfeito segue seu próprio caminho e foge de tentar recriar situações vividas pelo pai que para poder conviver mais tempo com os filhos assume a identidade de uma simpática senhora. No caso, o bonachão Tony (Marcus Majella) é um aspirante a ator que sem sorte se aproveita de seu talento para ganhar alguns trocados nas ruas vivendo desde uma estátua viva em trajes de guerreiro romano até um pastor vigarista que vende uma água pretensiosamente milagrosa, mas o tipo mais difícil de interpretar é aquele que já deveria estar acostumado: o de tiozão. Sempre contanto com o apoio de Cecília (Ana Lucia Torre), sua mãe, ele vive de pequenos golpes na rua, mas sempre endividados eles acabam sendo despejados de onde moram e para não ficarem pedindo esmolas, o que para eles não seria problema algum tamanha cara-de-pau que ambos tem, eles pedem asilo para Angela (Letícia Isnard), irmã do rapaz. O convívio com a família nunca foi dos melhores e a moça sempre tentou manter certo distanciamento, assim não gosta nada da ideia de abrigar a dupla em sua casa, ainda mais para evitar que os seus maus costumes sirvam de exemplo aos filhos pequenos, Patrícia (Julia Syacinna), João (João Barreto) e Valentina (Sofia Barros). Contudo, um compromisso profissional fora da cidade a obriga a viajar de uma hora para a outra e com o sumiço da babá das crianças não lhe resta alternativa a não ser deixá-las sob a batuta do tio e da avó destrambelhados. Eles não teriam que fazer nada de outro mundo, apenas manter a rotina dos pequenos de ir à escola, fazerem a lição, manter a casa em ordem, mas como já é de se esperar, uma série de situações vão revelar o quanto Tony é imaturo ao mesmo tempo que aos poucos os sobrinhos vão conquistando seu carinho e atenção.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

ERNEST E CELESTINE

NOTA 9,0

Com traços delicados e narrativa,
singela, animação francesa aborda
o preconceito através de uma relação
de amizade que desperta ira e medo 
Disney, Pixar, Dreamworks e alguns esforços intensificados nos últimos anos por empresas como Fox e Paramount. Com os avanços das animações digitais o mercado cinematográfico ganhou muito e a concorrência acirrada fez com que os enredos cada vez se tornassem mais inteligentes, até para também poderem fisgar o público adulto que agora não usa mais a desculpa de levar o filho ou sobrinho ao cinema. Tranquilamente os marmanjos podem assistir a produções animadas com a certeza de que estão vendo uma obra tão boa quanto um elaborado filme com atores de carne e osso. Hollywood abriu os olhos para essa possibilidade dos anos 2000 para cá e ao passo que cada vez mais busca modernidades no campo também volta-se à simplicidade jogando certa luz sobre produções estrangeiras ou do próprio circuito alternativo ianque que se não fossem indicadas ao Oscar da categoria certamente não chegariam a ser conhecidas nem mesmo pelos cinéfilos de carteirinha. A delicada animação Ernest e Celestine é um bom exemplo. Coprodução da França e Bélgica, o longa é baseado nos contos infantis da escritora e ilustradora Gabrielle Vicent que através da fábula aborda a valorização da amizade acima de qualquer obstáculo, principalmente tabus sociais como o preconceito entre raças. A trama conta a história da ratinha Celestine, uma aspirante a pintora que cresceu em um orfanato e nunca compreendeu o medo que outros roedores habitantes do subterrâneo tinham dos ursos, os moradores do chamado mundo de cima. Fascinada pelo desconhecido, pois é justamente desbravando esse outro universo que ela conhece Ernest, um grande urso que em nada lembra a imagem da fera que fora forçada a imaginar com as histórias sobre como os grandalhões peludos eram malvados e forçavam as ratazanas a se refugiarem nos esgotos. Divertido, simpático e prestativo, ele ganha alguns poucos trocados tocando música nas praças, mas garante o sustento da família com pequenos furtos. Ernest encontra a roedora em uma lata de lixo e rapidamente conquista a sua confiança, porém, precisam viver essa amizade escondido, pois as sociedades de ambos não aceitam que animais tão distintos, tanto no físico quanto na personalidade, se relacionem.

domingo, 22 de outubro de 2017

COISAS DE FAMÍLIA (2005)

Nota 6,5 Química dos protagonistas, ou talvez sua ausência, eleva comédia previsível e batida

Relações familiares. Está aí uma temática que não sai de moda e que rende muitos argumentos interessantes, mas ao mesmo tempo em que é bom ter várias produções do tipo também é prejudicial para elas mesmas. A repetição de assuntos prejudica suas avaliações e acirra as comparações. Quantos filmes você já não viu a respeito do abismo existente na relação entre um pai e um filho? É nesse resultado que Coisas de Família perde muito, sendo até uma produção descartável. Agora se você assistir sem ficar se lembrando que este ou aquele outro filme era melhor pode até se divertir, mesmo com toda a previsibilidade. O que torna o projeto mais interessante é saber que ele foi criado especialmente para homenagear o saudoso Peter Falk. Quem? A turma mais vivida ou adepta de nostalgia deve se lembrar deste nome por conta do seriado “Columbo” no qual ele interpretou o personagem-título por mais de três décadas. Com uma carreira praticamente toda dedicada à televisão, suas poucas atuações no cinema não são muito famosas, mas tudo o que fez certamente inspirou o ator Paul Reiser a seguir o mesmo ofício. Conhecido pela série de TV “Mad About You”, o próprio ator assina o roteiro que felizmente pôde contar com a presença do veterano intérprete em seu derradeiro trabalho. Falk interpreta Sam Kleinman, um idoso que aparece de surpresa no apartamento do filho, o escritor Ben (Reiser), para informar que a esposa fugiu sem mais nem menos deixando um simples bilhete de despedida. O marido tenta minimizar o problema, mas o filho imediatamente começa a ligar para suas irmãs para saber se elas têm alguma notícia e até se surpreende ao perceber que para uma delas agrada se a separação realmente aconteceu. Nitidamente incomodado com a presença do pai, Ben ia desistir de uma viagem rápida que faria para encontrar uma casa no campo para comprar, mas Rachel (Elizabeth Perkins), sua mulher, o convence a levar o idoso junto para distraí-lo, no fundo torcendo para que eles voltassem a ter um bom relacionamento. No entanto, o que era para ser um dia agradável acaba se tornando uma viagem prolongada e com muito assunto a ser esclarecido.

domingo, 8 de outubro de 2017

UM VIRGEM DE 41 ANOS LIGEIRAMENTE EM APUROS

Nota 1,5 Mais uma paródia de sucessos de momento não vai além de escatologia e vexames

Tirar um sarro dos filmes de terror, dos de ação, de suspenses... As paródias, que na verdade em sua maioria se resumem a uma desconjuntada reunião de esquetes humorísticos que pinçam das fitas homenageadas sequências ou referências de fácil identificação, acabaram se tornando um rentável subgênero. Se não rendem nos cinemas, certamente garantem algum lucro aos serviços de streaming e são certeza para ocupar horários na TV paga, por isso ainda são feitos aos montes. Fora a franquia Todo Mundo em Pânico que gerou cinco longas e pode a qualquer momento ser ressuscitada, outras fitas não passaram do capítulo de estreia, mas de tempos em tempos produtos do tipo são lançados para tirar onda de sucessos de determinado período ou até mesmo de estilos em evidência, mas no caldeirão de loucuras sempre há espaço para reverenciar o passado, rir de celebridades, alfinetar políticos e tripudiar em cima de micos e escândalos.  Apesar de serem lembradas como grandes e descartáveis bobagens, de certa forma são produções que servem como um registro às avessas de sua época. Não é muito comum uma comédia parodiar seu próprio gênero, mas a forte corrente de humor feito sob medida para agradar marmanjos com síndrome de Peter Pan não poderia passar despercebida. O longo título Um Virgem de 41 Anos Ligeiramente em Apuros vende seu peixe sem pudores e até exagera na autoexplicação. O Virgem de 40 Anos, Ligeiramente Grávidos e até Colegiais em Apuros servem como inspiração para a história de Andy (Bryan Callen), um sujeito pacato que por vergonha e falta de traquejo nunca conseguiu levar uma mulher para a cama. Seus amigos então resolvem ajudá-lo a desencantar melhorando seu visual e arranjando encontros, mas acabam o metendo em grandes confusões.

sábado, 7 de outubro de 2017

LOBO DO MAR

Nota 7,0 Aventura destaca-se pelo texto, ressaltando que o ser humano é produto do seu meio

O sucesso da franquia Piratas do Caribe poderia ter renovado o interesse nas aventuras em alto-mar, mas não foi o que aconteceu e Jack Sparrow reinou e ainda reina absoluto no imaginário popular como a grande lenda dos oceanos dos anos 2000. No entanto, há sim pelo menos uma produção do tipo que merece uma atenção maior e certamente agradaria ao público que preza a imagem do capitão sisudo e inescrupuloso tão propagada ao longo dos anos através do cinema e da literatura. Baseado no romance de Jack London, Lobo do Mar já teve outras adaptações cinematográficas, mas esta do diretor Mike Barker veio a calhar para apresentar as novas gerações o que é uma verdadeira aventura dentro de um navio. Ou seria drama? Sim, sem apelar para piratas fantasmas ou qualquer outra coisa do além, o roteiro de Nigel Williams propõe uma angustiante experiência a bordo da embarcação Ghost que é comandada com punhos de ferro por Wolf Larsen (Sebastian Koch), mais conhecido pelo apelido que também dá título ao filme. No momento ele está em uma missão rumo aos mares orientais para fazer fortuna com a caça de focas, mas desta vez terá que disputar o domínio das águas com o barco Macedônia comandado por ninguém menos que seu próprio irmão, Death (Tim Roth), com quem há anos trava uma guerra particular. Larsen terá em meio a tripulação um novato, o crítico literário Humphrey Van Weyden (Andrew Jackson), que estava viajando em outro navio, acabou caindo no mar por um descuido tolo e foi salvo pelo capitão. Com seu jeito engomadinho, imediatamente o Lobo do Mar começa a abusar do rapaz e testar seus limites de resistência obrigando-o a trabalhar, mas para sua surpresa ele acaba se adaptando rapidamente a dura rotina e até demonstra uma valentia que talvez o próprio desconhecesse ter. Paralelo a isso, Death está com uma dama a bordo, a jovem Maud Clark (Neve Campbell) que implorou que ele a levasse até um lugar distante para ajudá-la a evitar a ira do seu pai após ela fugir de um casamento arranjado. Tratando-a educadamente no início, certo dia o capitão pede a um dos seus subordinados para matá-la quando descobre que ela é filha do dono de seu barco, a quem ele julga estar lhe roubando nos lucros com as focas.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A ESPINHA DO DIABO

NOTA 8,0

Um dos primeiros filmes do mexicano
Guillermo Del Toro já deixava suas
marcas abordando suspense, drama e
fantasia com pano de fundo histórico
Os melhores filmes de horror não são aqueles escorados em efeitos especiais ou em violência gráfica. Ok, O Exorcista está aí como uma exceção à regra, mas temos os clássicos O Bebê de Rosemary, O Iluminado e até da safra mais recente Os Outros para comprovar que acima de tudo é preciso ter uma boa história para contar sustentada por personagens críveis e motivações essencialmente humanas. O título A Espinha do Diabo sugere uma obra de literalmente gelar a espinha, mas levando a assinatura do cineasta mexicano Guillermo Del Toro sabemos que não se trata de um terror convencional. Bem, hoje conhecemos muito bem seu estilo de unir drama, fantasia e suspense, porém, na época ainda era um ilustre desconhecido. Ele já tinha engatilhado projetos em Hollywood, como Blade 2 e Hellboy, ambos já carregados de vícios da indústria para faturar alto até por serem baseados em personagens existentes no universo dos quadrinhos. Sendo assim, seu drama com pitadas de sobrenatural tendo como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola servia praticamente como seu cartão de visitas. Em meados da década de 1930, um orfanato estrategicamente instalado no meio do nada abriga os já órfãos e os filhos de pais recrutados para o combate. A diretora Carmem (Marisa Paredes) é uma senhora bastante rígida, mas bondosa, e que esconde uma fortuna em barras de ouro que são a obsessão de Jacinto (Eduardo Noriega), um ex-interno que agora trabalha para a idosa com quem também divide a cama eventualmente. Na verdade ele quer o tesouro para fugir com a jovem Conchita (Irene Viseto), cozinheira da casa que também é administrada pelo Dr. Casares (Federico Luppi), poeta, professor e que guarda uma paixão platônica por Carmem por se sentir impedindo pela impotência. Parece um novelão mexicano, mas a mente de Del Toro é muito mais fértil. A relação amorosa mal resolvida destas pessoas vai interferir drasticamente no futuro dos internos, entre eles Carlos (Fernando Tielve) que perdeu o pai vítima de um ataque de bombas e é deixado lá por seu tutor. Logo que chega o menino sente que a vida não será nada fácil e faz alguns amigos graças a curiosidade que desperta por trazer alguns gibis na bagagem, um tesouro para um grupo que necessitava de distração. Assim, de imediato, ele causa ciumeira em Jaime (Iñigo Garcés), até então o centro das atenções e líder natural da turminha.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

INSTITUTO DE BELEZA VÊNUS

NOTA 8,5

Misturando romance, drama
e comédia, longa francês causa
identificação imediata com público
feminino e agrada plateias cults
O cinema francês infelizmente não goza de um grande prestígio no Brasil. Até mesmo entre os que gostam de produções do circuito alternativo existem aqueles que teimam na ideia de que os filmes oriundos da França são chatos, arrastados e na maioria das vezes não chegam a lugar algum, apenas um blá-blá-blá descartável. Porém, graças a Deus, existem exceções. Além de suas histórias dramáticas nos últimos tempos tornarem-se palatáveis a um público mais amplo, as comédias francesas também estão ganhando tramas de cunho universal, mas por outro lado é uma pena que elas recebam títulos que para muitos se tornam piada. Os estrangeiros tem a tradição de batizar suas obras cinematográficas com uma única palavra enigmática ou então capricham na escolha de elementos que aparentemente não refletem claramente a ideia do enredo, assim aguçando a curiosidade dos espectadores. E o que dizer de um título que realmente tem a ver com o conteúdo, mas que pode soar como piada? É o que acontece com Instituto de Beleza Vênus, uma elogiada produção feita sob medida para agradar as mulheres, entretanto, que já nasceu fadada a ser apreciada por um público restrito. Para os habituados a filmes mais cults o título é excepcional, mas para os espectadores de cinemas de shopping, ou melhor, para os fregueses de baldes de pipoca e copões de refrigerante nem é preciso dizer que eles caem na gargalhada logo comparando o nome do filme com o do salão de cabeleireiro da esquina. Para quem frequenta este tipo de estabelecimento provavelmente se identificará com algum ponto da trama que é centralizada na personagem de Angèle (Nathalie Baye), uma esteticista que prefere encontros casuais a manter um relacionamento sólido. Vivendo os dilemas e alegrias típicos de uma quarentona, ela já foi muito machucada e iludida no amor e não está mais na idade de acreditar em príncipes encantados. Cada novo homem que conquista é como se fosse um tratamento de beleza que lhe retira as marcas de expressões de uma vida relativamente triste, no entanto, concentrando a maior parte de seu tempo encerrada dentro do ambiente de trabalho é como se usasse as grandes janelas de vidro como escudo protetor de seus sentimentos, mas ainda assim usufruindo de certa forma do cotidiano do lado de fora.