sexta-feira, 30 de abril de 2021

O PADRASTO (2009)


Nota 3 Com jeitão de telefilme, refilmagem atenua a violência e se apoia em trama rasa


Pode não parecer, mas nos EUA a classificação indicativa para filmes ainda é levada a sério. Só assim para explicar a violência praticamente ausente em O Padrasto, remake de um pesado terror psicológico homônimo lançado em 1987. Visando atingir um público maior, o diretor Nelson McCormick, que já havia flertado com a psicopatia em A Morte Convida Para Dançar, transformou a adaptação em um terror teen com estética de telefilme deixando apenas o argumento como lembrança do original. Baseado em fatos reais, o filme não fez sucesso junto ao público e a crítica o recebeu com rispidez. O que se vê na tela é um ótimo argumento desperdiçado por uma produção correta em termos técnicos, mas sem força narrativa, contada por personagens frouxos e, sobretudo, que não oferece a carga de tensão esperada.  Histórias sobre filhos reticentes quanto aos novos parceiros de seus pais existem aos montes, mas quando desde o início as suspeitas tem fundamentos e provas concretas quanto ao mal caráter do novo membro da família, o mínimo que se espera é o que o enredo surpreenda o espectador com reviravoltas. Não é o caso.

Susan Harding (Sela Ward) é uma mulher divorciada com três filhos, incluindo o arredio adolescente Michael (Penn Badgley). Certo dia, enquanto fazia compras, ela conhece o simpático e gentil David Harris (Dylan Walsh) e bastaram trocar algumas poucas palavras e ela não pensa duas vezes para convidá-lo para um encontro. Poucos meses se passam e eles já estão vivendo juntos compondo uma família aparentemente muito feliz, mas o regresso do filho mais velho, após uma temporada em um colégio militar, acaba por arruinar a falsa imagem de felicidade que ronda o clã. Logo de cara ele se estranha com o padrasto, o que o faz de imediato levantar suspeitas quanto a seu suposto bom caráter. Com a ajuda de sua namorada Kelly (Amber Heard) e de seu pai Jay (Jon Tenney), o rapaz começa lentamente a juntar indícios de que Harris é na verdade um perigoso criminoso, alguém tão ardiloso que, em paralelo à imagem de bom chefe de família, faz de tudo para apagar qualquer prova que o denuncie. Até as amigas da companheira, Jackie (Paige Turco) e Leah (Sherry Stringfield), entram na sua mira quando percebe que elas estão tentando alertá-la que está dormindo com o inimigo. Spoilers? Absolutamente não! Os passos do personagem-título são absolutamente previsíveis.


Logo na introdução já tomamos conhecimento do modo de agir do vilão. Ele se faz passar por viúvo gentil e educado para encantar mulheres na mesma situação ou divorciadas, sempre com filhos, e logo é agregado às suas famílias. Como mentira tem perna curta, quando a casa cai e é descoberto ele simplesmente chacina as pessoas que foram enganadas e parte para outra conquista assumindo uma nova identidade. O grande problema do longa é que David é um personagem tão sem alma (e não no bom sentido para um vilão) que não desperta no espectador medo, desprezo e tampouco ódio, culpa não só da falta de direção de McCormick como também da decepcionante atuação de Walsh que trabalha no piloto automático fazendo o tipo sarcástico e escorregadio que tem sempre uma piadinha ou desculpa para fugir de assuntos que não lhe agradam. Sempre com o mesmo semblante, suas vilanices são colocadas em prática como se o personagem debochasse de quem assiste, menosprezando sua inteligência. Curiosamente, o filme da década de 1980 tinha como ponto alto justamente o psicopata, uma interpretação vigorosa e intensa do ator Terry O’Quinn tanto como o pai dedicado quanto como o serial killer de famílias.

As vítimas do calhorda também sofrem com parcas construções de personalidades. Ward encarna uma marionete desde a primeira cena demonstrando uma inocência que não condiz com as atitudes que se espera de uma mãe zelosa. Em que mundo ela vive para cruzar com um estranho na rua e de imediato o convidar para ir à sua casa? Para uma pessoa aparentemente de boas condições sociais revela-se uma mulher bastante ignorante, embora exista a desculpa da ingenuidade guiada pela carência afetiva. Também pesa contra a personagem o fato de que os filhos caçulas praticamente não aparecem, o que reduz a força do papel materno. A jovem Heard, como de costume para o perfil que assume, está em cena literalmente como enfeite. Não aparece nua, mas a certa altura surge de biquíni para a alegria dos marmanjos. Sobra para Badgley carregar o filme nas costas. Mesmo com uma atuação mediana, é convincente com seus ideais de justiça e é possível se identificar com seu conflito. No longa original, quem investigava o padrasto era uma garota.


Por se tratar de um remake, já era de se esperar que o filme ficaria no mínimo a dever no quesito originalidade, mas o roteiro de J. S. Cardone e Donald E. Westlake desaponta do início ao fim. Uma trama que deveria ser repleta de reviravoltas e sustos é resumida a um apanhado de clichês que o espectador consegue adivinhar cada passa do jovem detetive e de seu algoz sem a necessidade do aumento da trilha sonora ou de um salto de câmera para denunciar o próximo evento. O Padrasto revela-se uma refilmagem totalmente desnecessária que nem mesmo surpreende nas cenas de assassinatos, a tal manobra para abrandar o roteiro e assim conquistar mais público. O tiro saiu pela culatra. Em tempos de Jogos Mortais, o pudor de McCormick soa ultrapassado até mesmo em comparação com o estilo de obras oitentistas como Sexta-Feira 13. O final foi mantido tal qual o original que ainda gerou duas sequências. Felizmente fomos poupados de suas refilmagens.

Suspense - 101 min - 2009

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Um comentário:

GustavoPeres99 disse...

Assisti ele hoje, achei que tinha tudo pra ser um filme bom mais não foi tanto assim, o final não me agradou, e as cenas de ninguém perceber nada achei super fora da realidade pena, pq a história poderia ser bem melhor