![]() |
NOTA 2,0 Mais um filme pretende abordar o já surrado tema das possessões demoníacas, mas apenas repete clichês e erros de outras produções semelhantes |
É preciso reconhecer a ousadia de
quem ainda se atreve a fazer um filme sobre exorcismo, afinal qualquer produção
que aborde o tema já nasce com uma assombração em sua cola chamada O Exorcista. Os anos passam e o longa
continua imbatível e assustador, a obra máxima sobre o assunto. Centenas de
outros filmes tentaram repetir tal êxito, inclusive tentaram em vão transformar
o clássico de William Friedkin em uma franquia, mas todos se perdem em teorias
tentando explicar o inexplicável ou se entregam a efeitos especiais (ou as
vezes defeitos visuais) achando que eles podem sustentar roteiros vazios. Exorcistas do Vaticano é mais um filme
genérico para engrossar a lista deste subgênero do terror. O roteiro de Michael
C. Martin e Christopher Borelli não consegue trazer absolutamente nada de novo
para diferenciar a produção. Em Los Angeles, a jovem Angela (Olivia Taylor
Dudley) vive uma vida pacata ao lado do namorado Pete (John Patrick Amedori),
mas sem a aprovação de seu pai, o coronel Roger Holmes (Dougray Scott). Tudo
muda quando durante uma festa de aniversário ela se fere acidentalmente com uma
faca e vai parar na emergência de um hospital. Conforme o tempo passa o
ferimento em seu dedo não cicatriza e infecciona cada vez mais ao passo que a
moça começa a agir de forma estranha ao mesmo tempo que passa a ser acompanhada
e observada por corvos. Em uma de suas várias idas e vindas ao hospital, Angela
provoca um acidente de táxi que a deixa em coma por dezenas de dias e a equipe
hospitalar começara a cogitar a possibilidade de realizar a eutanásia uma vez
que a paciente não manifestava nenhuma atividade cerebral e vivia com a ajuda
de aparelhos. Neste momento difícil, seu companheiro e seu pai recebem o
conforto do padre Lozano (Michael Peña) que colocará sua própria fé em cheque
ao presenciar eventos incomuns. Prestes a confirmação do óbito a moça
milagrosamente volta à vida, é quando o demônio começa a manifestar que tomou
conta do corpo dela. Depois de causar uma verdadeira carnificina no hospital, o
religioso entra em contato com um grupo secreto do Vaticano liderado pelo
cardeal Brunn (Peter Andersson) e o vigário Imani (Djimon Hounsou), mas quando
eles vão ao encontro da jovem já é tarde demais e o exorcismo talvez não seja a
melhor solução.
O cardeal, que obviamente afirma
já ter se confrontado com o demônio antes, afirma que a moça é o Anticristo em
pessoa e que Lúcifer habita seu corpo, tudo baseando-se em curiosas pistas
bíblicas. Angela ficou 40 dias em coma enquanto Jesus Cristo ficou o mesmo
período em jejum. Os corvos que sempre estão ao seu lado tomam o lugar de
angelicais pombas brancas e ela é filha de uma garota de programa, o oposto da
virgem escolhida para dar a luz ao filho de Deus. Para completar, a garota
passa a ter seu corpo marcado por ferimentos idênticos aos da crucificação de
Cristo, assim como a personagem de Patricia Arquette em Stigmata. Coincidência ou não, Dudley fisicamente lembra muito a
citada atriz. Angela, que por vezes fala com voz masculina, pode levitar e
consegue mover objetos com a força do pensamento, é forçosamente liberada pelo
hospital após ser acusada de que com seu comportamento imprevisível e malicioso
tenha provocado acessos de fúrias aos demais pacientes que iam desde mutilações
até violentas mortes. Todos os incidentes foram flagrados pelas câmeras da
instituição e enviadas ao Vaticano como provas da possessão. O título original,
algo como "Os Vídeos do Vaticano", então se mostra enganoso vendendo
a ideia de que a trama abordaria os supostos vídeos reais guardados a sete
chaves pela Igreja Católica desde meados do século 20 (no início eram
documentos em forma de relatos e fotografias) atestando a presença física de
demônios espalhados pelo mundo. O crescimento das forças malignas vão em
direção às profecias do livro do Apocalipse que aborda a chegada do Anticristo
de forma a arrebatar multidões para estarem ao seu lado, algo que a cena final
do longa deixa bastante explícito, embora não choque e seja passível de provocar
risos. Contudo, os vídeos destacados pelo roteiro estão mais para o estilo de Atividade Paranormal, com cenas
farsescas protagonizadas por um espírito maligno um tanto exibicionista. O
estilo "found footage" (uso de vídeos supostamente reais e de estilo caseiro),
já então desgastado, é utilizado apenas no inicio e a ideia logo é descartada,
invalidando ainda mais o título original e curiosamente exaltando a escolha
nacional, algo raro de acontecer quando não se opta pela tradução literal,
ainda que os tais exorcistas pouco façam para movimentar a trama. Por outro
lado, não se pode deixar de salientar que a alcunha ganha no Brasil também
comete o ato falho de ser muito próxima a escolhida para o longa italiano Exorcismo no Vaticano, o que pode gerar
confusões entre as produções.
O diretor Mark Neveldine é mais
acostumado ao universo de ação, tem um estilo mais frenético como prova seus
trabalhos anteriores como Adrenalina e Gamer, porém, o fracasso de Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança
talvez o tenha levado a repensar os rumos de sua carreira, daí a escolha em se
aventurar pelo universo do suspense e do sobrenatural. Contudo, não traz nada
de inovador, apenas reproduz artifícios já vistos em outras produções da mesma
seara, repetindo inclusive erros principalmente quanto ao desenvolvimento dos
personagens. O pai da protagonista não faz mais nada além de lamentar pelo
sofrimento da filha enquanto o namorado dela é esquecido pelo roteiro por um
bom tempo. O padre Lozano está sempre zanzando pelo hospital e convenientemente
presente nos momentos em que algo acontece à jovem ao passo que o cardeal Brunn
se contradiz ao sustentar ideias avessas a preceitos básicos da doutrina
cristã. E o tal vigário Imani tem uma participação tão pequena que qualquer
ator em busca de uma primeira chance poderia ter assumido o papel. A própria
protagonista não tem carisma algum, assim seu drama não convence o espectador
que pouco se importa com seu aparente trágico destino. Isso sem falar no Vaticano
do título que serve apenas para despertar curiosidade, visto que os roteiristas
não demonstram ter competência para explorar a importância e influência da
cidade histórica em relação ao argumento. Os cenários locais tampouco são
utilizados por evidentes dificuldades da produção quanto ao orçamento. Ainda
assim a trama se preocupa mais em desenvolver a ideia da chegada do Anticristo
e sua ascensão como líder global do que em trabalhar o terror que sua sinopse pretensiosamente
vende. Exorcistas do Vaticano não chega
a oferecer nem o básico que seu subgênero exige. A tortura física e psicológica
vivenciada por Angela não chega a amedrontar o espectador, assim como a
atmosfera não o impacta. As longas cenas em que os personagens filosofam sobre
o poder da fé bem como o aumento de sua descrença quebram o ritmo e quando as
sequências de horror surgem não assustam como deveriam. A equipe deveria ter
visto e revisto bastante vezes O
Exorcismo de Emily Rose para aprender a equilibrar o discurso filosófico com
as imagens de possessão.
-->
Nenhum comentário:
Postar um comentário