quarta-feira, 25 de agosto de 2021

ANIVERSÁRIO SANGRENTO


Nota 5 Mais convincente como suspense psicológico, longa tinha liberdade na época para ir além


Embora produções do tipo slasher já vinham sendo realizadas, popularmente costumamos dizer que foi com Halloween - A Noite do Terror que o subgênero ganhou notoriedade, até mesmo porque pouco tempo depois foi lançado Sexta-Feira 13, um exemplar genérico, mais barato e, porque não dizer, menos elegante de oferecer o mesmo conteúdo: tensão, mortes e vilões com potencial para segurarem franquias de sucesso. Quando suas respectivas primeiras continuações estavam a ancorar nos cinemas, Michael Myers e Jason Voorhees se viram diante de uma baita concorrência. O ano de 1981 ficou conhecido pelos fãs de terror como o ano do slasher, período em que muitos tentaram dar o pontapé em novas franquias apostando nos mais variados temas como pano de fundo para carnificinas. Dezenas de obras do tipo foram lançadas nos cinemas (lembrando que na época ainda não havia o suporte das videolocadoras para absorver tantos filmes), a maioria apresentando grupos de adolescentes vítimas de psicopatas mascarados ou com vestimentas características para marcarem seus territórios, mas Aniversário Sangrento apostou em uma fórmula diferenciada. Ao invés de um assassino são três que agem de cara limpa e sem carregarem traumas do passado. Simplesmente são três crianças de má índole que se unem para cometer assassinatos por motivos banais ou a fim de manterem suas reputações intactas.

Em meados do ano de 1970, três bebês de famílias diferentes nasceram simultaneamente em um mesmo hospital e no exato momento em que ocorria um eclipse solar. Quem é ligado em astrologia divaga sobre as diversas influências que podem determinar o futuro de um recém-nascido dependendo das circunstâncias do parto e, neste caso, o fenômeno astronômico é determinante para ditar o caráter e personalidade. O filme então dá um salto de uma década mostrando as crianças coincidentemente agora amigas, estudando no mesmo colégio e sala de aula e morando muito próximas. Talvez seus pais nunca tenham percebido nada de anormal, mas por trás das carinhas de anjos se escondem almas maquiavélicas capazes não só de mentir para esconder travessuras, até porque suas peripécias custam vidas. A pacata região é assolada pelo homicídio de um jovem casal, mas não demora para que outras mortes ocorram e para o espectador não fica dúvida sobre a autoria dos crimes. Curtis (Billy Jane) é o nerd sádico que orquestra boa parte das armadilhas do grupo; Steven (Andrew Freeman) é o introspectivo e com o perfil mais próximo de um psicopata, aquele que não levanta suspeitas e sabe ser frio e cruel quando julga necessário; e, por fim, Debbie (Elizabeth Hoy) não pensa suas vezes antes de atentar contra membros da própria família para manter o segredo do trio.


Fora a crendice envolvendo o nascimento das três crianças coincidindo com o eclipse solar, nada sabemos sobre elas até as vésperas do décimo aniversário delas. Aparentemente o assassinato do casal de namorados seria o primeiro crime do trio e foi planejado ao acaso, mas a partir do momento que as mortes passam a ser investigadas eles passam a matar para esconderem o que fizerem. Impulsivos, o trio não perde oportunidades para tentar tirar do caminho quem os atrapalha e a falta de sutileza em certas ações acabam chamando a atenção dos vizinhos Timmy (K. C. Martel) e de sua irmã mais velha Joyce (Lori Lethin) que passam a ser vítimas de atentados. Apesar do título, a festa de aniversário do perverso trio (comemoração unificada aproveitando a amizade deles) não é o massacre esperado. Muito pelo contrário. O que deveria ser o ponto ápice da trama revela-se uma sequência morna que só serve para reiterar que perante a pacata comunidade os aniversariantes são crianças exemplares e qualquer um que os acuse de algo é por pura maldade. O anticlímax pode ser justificado pelo baixo orçamento da produção que não teria como bancar uma sangrenta chacina. No máximo há uma tentativa de envenenamento coletivo, mais uma prova que os criminosos não pensam nas consequências e agem por impulso.

A trama escrita por Barry Pearson em parceria com Edward Hunt, este também diretor da obra, se resume a narrar as travessuras fatais das crianças diabólicas. Hoje tem o bônus de contar com um clima nostálgico e mesmo economizando sangue prende a atenção para sabermos até onde vai a ousadia da produção, o que nos faz pensar que regredimos drasticamente em termos de censura. É possível sim crianças cometerem atos cruéis, seja pelo tipo de educação, influências do ambiente e companhias ou por pura maldade, mas em tempos tão politicamente corretos parece extremamente ofensivo e chocante colocar em cena menores de idade manuseando facas, armas de fogo ou planejando armadilhas com qualquer outra coisa que possa matar. Na época do filme isso era algo normal, assim como colocar crianças em contato direto com nudez. Debbie cobra alguns centavos de seus amigos para entrarem em seu armário e espionarem por um buraco o quarto da irmã Beverly (Julie Brown) que troca de roupas dançando e sensualizando, o que garante a cota de nudez gratuita, algo típico dos slashers oitentistas, afinal como manda a cartilha da seara os libidinosos são vítimas em potencial. Só pra constar, o elenco infantil não estava livre da vigília de autoridades. Os jovens podiam trabalhar até determinado horário, o que gerava certa tensão nos bastidores devido as várias cenas noturnas e pelo menos uma vez houve intervenção e as crianças proibidas de filmarem.


Deixando um final em aberto, Aniversário Sangrento não foi um sucesso e uma continuação foi descartada. Acabou como um dos vários slashers dos anos 1980 que não vingaram, talvez por ter modificado a fórmula. Não temos vilões mascarados e tampouco indestrutíveis capazes de segurar o mistério ou sustentar uma mitologia a fim de manter uma franquia. Temos em cena crianças que vieram ao mundo sem qualquer senso de moral e desprovidas de sentimentos positivos, embora ao que tudo indica foram criadas dentro de princípios. Apenas sobre a família de Debbie conhecemos um mínimo possível enquanto dos garotos conhecemos os pais como figuração ao final. Valeria a pena uma segunda parte explicando a criação dos delinquentes, mas nem mesmo o diretor parecia ter apreço pelo projeto. Hunt nunca gostou de falar sobre o filme e mesmo assinando como co-roteirista sempre deixou claro que não criou nada, apenas desenvolveu um projeto sob encomenda por produtores sedentos por lucrar com um filão em alta na época. O fato de lidar com uma temática um tanto quanto polêmica fez com que várias cenas de violência explícita fossem cortadas na edição final, o que também reduziu as chances de competição com outros títulos que investiam pesado em sequências de ousados assassinatos. O embate final entre os heróis e os bandidos hoje é até constrangedor devido a falta de ritmo e atuações canastronas, mas ainda assim é um filme que deve agradar aos fãs do gênero e a nostálgicos. 

Terror - 85 min - 1981

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