Nota 2 Refilmagem desnecessária repete erros do original e não traz qualquer inovação à trama
No Brasil é comum o ditado que diz que na TV nada se cria e tudo se copia, mas tal máxima também cai como uma luva à Hollywood. Produtores da Meca do cinema estão sempre de olho no que está sendo produzido fora dos EUA à procura de bons roteiros que possam gerar refilmagens. Muitos filmes de língua não-inglesa ganham novas versões para agradar ao público ianque que detesta dublagens ou legendas, mas a tática também serve para suprir a falta de criatividade e até fazer economia de tempo e dinheiro, afinal deve sair bem mais em conta apostar numa cópia de algo já testado e aprovado do que investir em uma ideia original que possa fracassar. Baseado em um caso verídico ocorrido na década de 1940 envolvendo misteriosos assassinatos, A Casa Silenciosa foi lançado pouco tempo depois do uruguaio A Casa ter gerado certo burburinho e chamado a atenção em festivais como Cannes e Sundance. A obra original tinha a seu favor a duvidosa publicidade de ser uma narrativa totalmente em plano sequência oferecendo quase uma hora e meia de puro terror psicológico.
Utilizando o mesmo artifício, a versão americana segue a risca a fórmula do filme latino buscando gerar sustos explorando o medo do desconhecido através das percepções da protagonista Sarah (Elizabeth Olsen – irmã mais nova e bem mais talentosa das famosas gêmeas Ashley e Mary-Kate Olsen), uma jovem que acompanha o pai John (Adam Trese) e seu tio Peter (Eric Sheffer Stevens) até a antiga casa de campo de sua família. A propriedade está abandonada há anos e até foi invadida por vândalos, assim os donos decidiram arrumá-la e colocar à venda, porém, os irmãos se desentendem e Peter resolve ir passar a noite fora. Sarah fica sozinha com seu pai em um ambiente escuro e que parece esconder em cada canto alguma desagradável surpresa. Pouco a pouco barulhos e fatos estranhos passam a apavorar a garota que gradativamente perde a noção do que pode ser real ou imaginário. Com grossos pedaços de madeira lacrando as janelas e sem energia elétrica, a casa parece o cenário perfeito para aflorar pensamentos melancólicos ou tenebrosos, ainda mais porque ela está isolada de tudo e de todos.
A ambientação escura força o espectador a ter as mesmas percepções da protagonista afinal só é possível ver o que ela ilumina com um lampião. Entretanto, em alguns momentos a fita dispensa a penumbra total que é marca registrada do longa original. Algumas sequências, ainda que minimamente, destoam por clarear demais as coisas, como as cenas em que Peter retorna ao local e momentos como esses fazem cair por terra o artifício da filmagem sem interrupções. Com cortes pontuais e escamoteados aproveitando o benefício da pouca iluminação, a produção tem lá seus truques inteligentes, contudo, também tem seus problemas. Se por um lado a limitação de espaço físico proporciona alguns pontos positivos, como as sensações de clausura e perigo, por outro compromete o desenvolvimento do enredo. A dupla de roteiristas e diretores Laura Lau e Chris Kentis já tinha experiência com orçamentos, elenco e locações limitadas. Com Mar Aberto conseguiram uma boa grana nas bilheterias narrando uma história banal, mas cheia de tensão psicológica. Ao adaptarem o filme uruguaio parece que se preocuparam mais em copiar modismos. O estilo câmera na mão nos remete a estética de produções como A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal, o que nos força a sentenciar que a refilmagem é totalmente desnecessária.
Com uma inteligente e minuciosa edição de cenas fica a impressão de que todo o filme foi rodado em uma só tomada, o que de fato não aconteceu. Na realidade foram gravadas cenas com duração acima do comum que depois foram cuidadosamente encaixadas na edição de forma a transmitir a sensação de continuidade ininterrupta. Tal percepção é fundamental para validar a proposta da obra que se sustenta em um fiapo de história, além é claro de ajudar a criar uma atmosfera claustrofóbica. O mestre Alfred Hitchcock sonhava em realizar um longa-metragem totalmente sem cortes, mas na sua época os recursos disponíveis não permitiam tal ousadia, como a necessidade de troca da bobina de negativo da câmera. Em Festim Diabólico o cineasta conseguiu chegar o mais próximo possível de seu sonho, passando a impressão de que filmou todas as cenas continuamente graças a trucagens, como a câmera se aproximando das costas de um ator até a tela ficar completamente preta e na sequência a lente recuando demarcando o início de uma nova sequência.
Além de não acrescentar nada à história original que, diga-se de passagem, já era um tanto frágil, A Casa Silenciosa ainda introduz elementos hollywoodianos que comprometem o conjunto como efeitos sonoros e trilha acidental que antecipam sustos. O suspense clássico, aquele trabalhado em cima do medo do desconhecido, logo cede espaço para elementos mais corriqueiros em produções de horror interferirem na trama, como sangue e sugestão de violência contra menores. Embora tais inserções sejam justificadas no final, fica a ideia de apelação no ar. A certa altura, quando vultos passam a perseguir Sarah, perde-se o vínculo que havia nascido entre o espectador e a garota, assim pouco nos importamos com seu desfecho. É importante ressaltar que o grande objetivo da trama é colocar a claustrofobia e o incômodo silêncio como simbolismos do estado de espírito e psicológico da protagonista, entretanto, em sua releitura tais sutilezas acabam se perdendo culminando em uma conclusão extremamente didática e carente de emoção.
Suspense - 85 min - 2012
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