segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

AS BICICLETAS DE BELLEVILLE

NOTA 9,5

Animação é como um sopro de
originalidade, embora use
técnicas tradicionais e por
vezes pareça um desenho mudo
Antigamente desenho animado era sinônimo de Hanna-Barbera. Animações feitas para cinema automaticamente lembravam Disney. Os estúdios e produtoras que se arriscavam no mercado infantil acabavam optando por fazer filmes live action para disputar uma brechinha para exibição nas salas de cinemas ou até poderiam fazer desenhos, mas geralmente eles eram exclusivos para abastecer o mercado de locações e vendas diretas ao consumidor. Nesse cenário restrito, achar uma animação que não fosse americana era uma tarefa muito difícil e os adultos se divertiam com os produtos destinados as crianças, alguns, diga-se de passagem, estritamente feitos para esse público, mas os tempos mudaram. Hoje muitos exploram esse nicho e as premiações têm ajudado a divulgar os trabalhos dos artistas do mundo todo, permitindo inclusive o contato de um público maior com produções animadas destinadas a adultos. Algumas pegam pesado na linguagem, no visual e nas provocações, mas outros produtos do tipo preferem usar artifícios mais clássicos e poéticos e ainda assim conseguem chamar a atenção de crianças mais crescidinhas, apesar de o enfoque ser agradar na realidade a seus pais. Esse é o caso de As Bicicletas de Belleville, uma coprodução entre a França, o Canadá e a Bélgica que no mínimo podemos considerar atípica no cenário cinematográfico do século 21. Curiosa, criativa, brilhante, única, original, bizarra ou chata. São várias as interpretações que podem ser feitas desta obra dependendo do ponto de vista do espectador. Para os mais jovens e os apreciadores de filmes-pipoca a produção deve receber as críticas negativas, mas para os cinéfilos e público mais maduro ou intelectual os elogios são rasgados e provavelmente predominantes e merecidos ao trabalho do cineasta francês Sylvain Chomet. Estreando em longas-metragens quando chegava aos quarenta anos de idade, o animador já tinha vasta experiência na área de desenho e quadrinhos e colocou todos os seus conhecimentos em prática neste seu primeiro trabalho como diretor e o resultado é impressionante e talvez inédito até então. Os traços estranhos dos cenários e personagens que lembram a rascunhos criam um visual muito interessante e propositalmente caricatural, mas que infelizmente deve incomodar aos mais convencionais.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

A FRAUDE (2005)

Nota 6,0 Suspense tem boas reviravoltas expostas em diálogos inteligentes em trama intrigante

Estamos tão acostumados com a cultura do imediatismo que facilmente podemos deixar de assistir a bons filmes simplesmente por eles não entregarem o ouro logo de cara e exigirem um pouco mais de atenção e paciência. Se prestarmos atenção, existem várias produções que já na introdução dizem a que vieram ou já deixam dicas para sabermos de antemão seus desfechos. Quando o enredo é mais inteligente e estruturado infelizmente são poucos que optam por assistir até o fim, principalmente se o início não é empolgante. A Fraude pode ser classificado como uma fita desse tipo. A narrativa é lenta e os primeiros minutos não têm diretamente algo a ver com o assunto principal do enredo, apresenta apenas a temática superficialmente. O diretor e roteirista Baltasar Kormakur preferiu conduzir seu trabalho sem pressa, delineando bem os personagens e procurando não deixar arestas em suas trajetórias, visto que nos minutos finais reviravoltas acontecem e é nesse ponto que muitos projetos ao menos razoáveis acabam naufragando. Não é o caso do filme em questão. O enredo nos apresenta à Abe Holt (Forest Whitaker), um experiente investigador de uma companhia de seguros que é enviado para a pequena cidade de North Hastings para averiguar o caso de um homem que morreu carbonizado após um acidente de carro. A única beneficiária do seguro de vida da vítima seria sua irmã Isold (Julia Stiles) que teria direito a uma apólice de um milhão de dólares. Apesar de tudo apontar ser verídico neste caso, alguma coisa inquieta Holt que está praticamente convicto de que está lidando com um episódio de falcatrua. Mesmo querendo desvendar a verdade, ele fica com receio em prejudicar Isold que tem um filho pequeno para criar, Thor (Alfred Harmsworth), e que aparentemente sofre violência doméstica do marido Fred (Jeremy Renner).

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

AEON FLUX

NOTA 2,5

Baseado em série de animação
de pouca projeção, longa sobre
futuro realmente está há anos-luz
de empolgar o espectador
O gênero de ficção científica já gozou de muito prestígio décadas atrás quando as produções não só procuravam impactar o público com efeitos especiais gerados com o que havia de mais moderno em termos de tecnologia, mas também com enredos que serviam como alegoria ou faziam alusões ou críticas a temas contemporâneos à época. O tempo passou e a overdose de produções que vislumbravam como seria o futuro da humanidade acabou chegando a um nível de saturação muito grande, até porque se tornaram muito mais reféns dos efeitos visuais, e o gênero acabou se resumindo a algumas poucas produções capengas lançadas diretamente para abastecer locadoras, raramente sendo exibidas nos cinemas. Com a popularização dos jogos de vídeos games e dos seriados que se tornaram populares ao exibir visões apocalípticas do mundo futurista, a ficção científica renovou seu fôlego timidamente, o que não significa necessariamente algo bom. Se por um lado realimentou a esperança de um gênero fadado a extinção, as produções do tipo lançadas nos primeiros anos do século 21 são totalmente desnecessárias, salvo raras exceções. Um bom exemplo de tempo e dinheiro desperdiçado é Aeon Flux. Quem? Se você se fez essa indagação este é mais um motivo para afirmar que a diretora Karyn Kusama se dedicou a um trabalho insípido. O título desta aventura futurista é o mesmo nome de sua protagonista, uma heroína de pouca projeção de um modo geral, mas que de certa forma marcou a adolescência ou sua fase inicial de muito marmanjo. Exibida em meados dos anos 90 pela MTV (inclusive no Brasil), emissora que então começava a viver o ápice de sua popularidade, a série de animação feita para adultos criada por Peter Chung mostrava como estaria o Planeta Terra daqui a quatro séculos. A trama roteirizada por Phil Hay e Matt Manfredi para o filme segue a mesma premissa, porém, sua história é tão frágil e desinteressante que acaba perdendo espaço inquestionavelmente ao visual do longa, isso porque em termos técnicos a cineasta, em sua segunda experiência atrás das câmeras, só oferece o básico que se espera de uma produção de tal porte. Com tal comparação você já tem uma ideia do que te espera. Por ter dirigido um obscuro filme chamado Boa de Briga é que Karyn deve ter conseguido o passe livre para assumir a direção desta aventura que passou por inúmeros percalços em sua pré-produção. Se forem pancadarias milimetricamente coreografadas que a geração MTV quer é o que ela teria, pensaram certamente os produtores do canal que abraçaram o projeto em seu núcleo cinematográfico. O difícil é entender como Charlize Theron embarcou nessa, ainda mais sendo este o seu primeiro longa lançado após o Oscar por Monster – Desejo Assassino.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

ZOHAN - O AGENTE BOM DE CORTE

NOTA 2,0

Adam Sandler se supera no
quesito mau gosto e é o
protagonista de comédia
apelativa e de pouca graça
Adam Sandler construiu sua carreira tendo como alicerce os projetos humorísticos. Já se arriscou no drama com o subestimado Reine Sobre Mim, mas foi com comédias simpáticas do tipo Como se Fosse a Primeira Vez e Click que ele projetou seu nome de vez. Infelizmente a cada bom projeto que aceita participar em contrapartida ele assume também um papel em uma produção de gosto duvidoso em seguida. Ele já estava em um bom patamar da carreira em 2008 e certamente não deviam lhe faltar convites para bons trabalhos, mas então o que o motivou a protagonizar o besteirol Zohan – O Agente Bom de Corte? A resposta só pode ser uma proposta milionária ou agenda vazia de compromissos na época. Só assim para explicar tamanha decadência. O ator faz o papel-título, um agente do alto comando militar israelense que teve suas férias na praia interrompidas pelo chamado de uma nova missão. Ele fica sabendo que Fantasma (John Turturro), um terrorista palestino que havia capturado há pouco tempo, conseguiu escapar mais uma vez e precisa ser encontrado o mais rápido possível. Porém, esse serviço tão importante não é o trabalho dos sonhos de Zohan. Na realidade ele deseja ser cabeleireiro e este novo confronto veio em boa hora para ele colocar um plano em prática: fingir sua própria morte e partir para Nova York, o local onde tudo acontece. Apesar de querer deixar para trás sua vida de guerras e batalhas, rapidamente ele descobre que não é tão fácil escapar das suas raízes. Até aí a história caminha de maneira aceitável e com as piadas grotescas já esperadas, mas as coisas mudam quando ele consegue um emprego em um salão de beleza. Algumas poucas piadas inteligentes e realmente engraçadas são diluídas no meio de uma avalanche de situações vexatórias que vem a seguir que exploram ao máximo o apelo sexual inserido forçosamente ao enredo.   

domingo, 21 de fevereiro de 2016

QUANDO EM ROMA

Nota 4,5 Diretor de filmes de ação experimenta o campo do romance, mas comete muitos erros

As comédias românticas cujo casal protagonista não é lá muito conhecido ou a introdução da história não é satisfatória fatalmente não empolgam o espectador que acredita estar assistindo a mais um daqueles filmes que causam risos não por seu conteúdo, mas sim por serem mal feitos. Bem, Quando em Roma não é maravilhoso, mas também não é o pior filme já feito. Ele está no mesmo patamar da maioria de seus colegas de gênero: regular, apenas um passatempo que não irá mudar sua vida e tampouco piorá-la. A história criada por David Diamond e David Weissman é protagonizada por Beth (Kristen Bell), uma jovem que trabalha no ramo das artes organizando exposições e é muito bem sucedida no que faz, porém, no amor ela é uma fracassada. Todos seus relacionamentos não dão certo e parece que sempre é ela o problema do casal. Sua sorte muda literalmente quando viaja para Roma para o casamento de sua irmã. Na festa ela conhece o jornalista Nick (Josh Duhamel), por quem se interessa e a recíproca parece verdadeira, mas em poucas horas seu encanto acaba ao flagrá-lo com outra mulher em atitudes suspeitas. Meio perturbada, ela entra em uma fonte de água em uma praça e começa a caçar as moedas que as pessoas jogam acreditando no folclore da fonte dos desejos. Voltando a Nova York, como num passe de mágica, ela começa a ser perseguida por vários homens que se declaram apaixonados, inclusive pelo próprio rapaz por quem se encantou no casamento. Esse repentino interesse de Nick era tudo o que ela mais queria, mas será que o jornalista estaria realmente apaixonado por Beth ou seria apenas o efeito da magia da fonte? Se for o caso, quanto tempo o feitiço duraria?

sábado, 20 de fevereiro de 2016

PRESENÇA DE ELLENA

Nota 6,0 Baseado em fatos reais, suspense feito para a TV perde fôlego pelo excesso de pistas

A mente humana é uma caixinha de surpresas e por isso não devemos nos surpreender com os mais estapafúrdios casos policiais envolvendo pessoas com distúrbios psicológicos. Dependendo dos motivos que levam uma pessoa a ter um comportamento criminoso podemos julgar uma bizarrice, mas por incrível que pareça casos semelhantes podem ser mais comuns do que imaginamos. Erotomaníacos é o nome dado as pessoas que passam a se comportar de forma diferenciada e erotizada após sofrerem alguma grande decepção ou trauma em relação ao sexo e então começam a perseguir algum objeto de desejo podendo chegar a atos extremos e perigosos, sendo um distúrbio mais comum em mulheres. Esse pode ser o problema da protagonista de Presença de Ellena, roteirizado por Matthew Tabak que se baseou em um artigo redigido por Marie Brenner inspirado em fatos reais. Ellena Roberts (Jenna Elfman) certo dia se encontrou por um acaso com o famoso médico David Stillman (Sam Robards) na porta de um aeroporto e aceitou uma carona. Após um jantar, eles passam a noite juntos. Os encontros começam a ficar cada vez mais constantes, mas o problema é que ele é um homem casado e não aceita abandonar sua esposa e família. Assim, Ellena começa a enviar cartas e a telefonar para a residência do amante e até mesmo passa a assumir a identidade de sua rival, Claire (Jane Wheeler), em algumas ocasiões para ter acesso ao médico. O caso vai parar nos tribunais sob a alegação de assédio e ameaças à integridade física e moral da família Stillman e a moça é defendida pela advogada Sara (Kate Burton), esta que se surpreende conforme vai se aprofundando no caso. Defendendo o médico está Sam (Mark Camacho), este que afirma que a história do romance entre Ellena e David não passa de uma fantasia psicótica da acusada. De que lado a verdade está?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

UM NOME NA LISTA

NOTA 6,0

Suspense se torna cansativo ao
enveredar pelo caminho da
conspiração política, mas ainda
assim 
entretém com qualidade
O cinema desde os seus primórdios apresenta histórias fascinantes ao público, todavia algumas de suas melhores tramas podem não estar na tela e sim em seus bastidores, ironicamente as vezes bem mais interessantes que os filmes em si. A metalinguagem é um recurso que costuma agradar os espectadores. O cinema falando sobre cinema é instigante, mas no caso de Um Nome na Lista a receita não deu certo. Fracasso nos EUA, o longa infelizmente chegou na surdina ao Brasil e certamente em tantos outros países, ainda que supostamente trate de um caso real envolvendo o famoso Orson Welles, o diretor do clássico Cidadão Kane. Quem? Pois é, talvez a monossilábica pergunta seja a resposta para o fracasso do longa do cineasta Oliver Parker, de O Marido Ideal. Embora se exalte que vivemos na era dos conectados, o que fica cada vez mais claro é que em meio a tanta informação o público quase não absorve conteúdo algum e tem muita gente que se diz cinéfila que sequer ouviu falar em Welles que aqui é personificado com vigor por Danny Huston, não por acaso um ator que cresceu entre os sets de filmagens (ele é filho do saudoso cineasta John Huston, pai da também atriz Anjelica Huston). A trama roteirizada pelo próprio Parker, baseada no romance de Davide Ferrario, se passa em 1948, época ruim na vida de Welles que sofria com baixa popularidade, havia se separado recentemente da atriz Rita Hayworth, outra figura lendária de Hollywood, e para sobreviver estava aceitando qualquer convite ligado ao meio cinematográfico, inclusive atuar em um filme B rodado em Roma, na Itália. “Memórias de um Mágico” era uma produção um tanto obscura, com roteiro e direção duvidosos, o que irritava Lea Padovani (Paz Vega), a estrela feminina do elenco, atriz um tanto temperamental que se estranha com Welles logo no primeiro encontro. Este por sua vez não se sentia muito a vontade protagonizando um projeto que não confiava nem um pouco e ainda sentia a pressão da imprensa local que só queria saber das fofocas a respeito de seu mal fadado casamento. Contudo, ele não podia imaginar o que iria acontecer durante as filmagens. Alessandro Dellere (Frano Lasic), um dos atores, acabou falecendo misteriosamente enquanto atuava e sua última palavra ele sussurrou ao pé do ouvido de Welles, mas o rapaz acabou omitindo esse detalhe da polícia que acredita que a morte foi ocasionada por overdose de drogas.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

MELANCOLIA

NOTA 8,0

Polêmico cienasta acerta
ao abordar a extinção da
humanidade de forma
intimista e sem firulas
Pode ser intencional ou não, mas é um fato comprovado que o cineasta Lars Von Trier se beneficia da aura que sua filmografia carrega: reflexiva, polêmica e original. Ele tem seu público e consegue a cada novo lançamento se manter em evidência de alguma forma, sempre gerando certo burburinho que colabora para a campanha do filme. As vezes ele exagera com materiais excessivamente fortes e em outras derrapa com histórias que basicamente se apóiam em olhares e gestos que tomam o lugar dos diálogos. Seja como for, um projeto com a assinatura deste profissional, embora destinada a platéias seletas, certamente consegue com mais facilidade sair do papel e até chegar ao circuito de exibição simplesmente porque falam por si só. Não precisam de um título, elenco e tampouco sinopse definidos para que ganhem o aval de algum estúdio, basta o nome do cineasta atrelado. Ele é como um Midas do cinema alternativo. Tudo que toca vira ouro. Pode não reluzir seu brilho imediatamente, mas com o passar dos anos suas obras tornam-se cultuadas e chamam a atenção de cinéfilos, inclusive de jovens. Foi assim com Ondas do Destino, Dançando no Escuro e Dogville. O mesmo efeito deve se repetir com Melancolia, produção que chegou com muita expectativa aos cinemas graças ao marketing extra gerado pelas polêmicas que o diretor instaurou com algumas infelizes declarações sobre o nazismo que disparou durante o Festival de Cannes, evento que deu o prêmio de Melhor Atriz para Kirsten Dunst, atriz mais conhecida por papéis insossos em produções hollywoodianas ou, na melhor das hipóteses, lembrada como a namorada do Homem-Aranha. Ela é uma das protagonistas. A outra é Charlotte Gainsbourg, que já havia trabalhado com Trier no impactante Anticristo. Elas vivem irmãs, respectivamente Justine e Claire, e o filme se divide em dois atos, cada um enfocando uma delas e levando seus nomes. Apesar disso, a personagem de Kirsten tem uma participação ativa em ambas as sequências. Como de costume, o enredo é um tanto excêntrico e provocativo, porém, no conjunto a obra é irregular apesar de um fato ligar os dois episódios. Pode ser incômoda numa visão geral ou quando vista separadamente, mas a produção ao mesmo tempo possui elementos que seduzem os adeptos do cinema reflexivo, sendo possível até enxergar de forma linear tal narrativa. A interpretação do conteúdo de um filme, seja ele alternativo ou extremamente comercial, varia e dificilmente se chega a um parecer unânime, ainda mais quando se trata de um produto de um diretor que gosta de provocar e não mastigar as coisas. 

sábado, 13 de fevereiro de 2016

O ZODÍACO

Nota 5,0 Bons ganchos são desperdiçados por narrativa limitada e que carece de tensão e clímax

Suspenses baseados em fatos reais costumam ter uma platéia cativa, ainda mais quando as histórias que os inspiraram são recentes ou tornaram-se célebres casos que desafiaram a inteligência da polícia e causaram pânico por anos. O Zodíaco é apenas uma das diversas produções que procuraram desvendar os mistérios que envolviam a mente sádica e o espírito corajoso de um famoso serial killer que assombrou a Califórnia por cerca de dez anos. A trama começa exatamente no dia 20 de dezembro de 1968 quando a pequena cidade de Vallejo foi surpreendida com um crime bárbaro que resultou na morte um jovem casal de namorados que para a polícia foram vítimas de um assaltante, mas para o detetive Matt Parish (Justin Chambers) o episódio não poderia ser explicado dessa maneira, afinal não havia indícios de que algo havia sido roubado ou ao menos tocado por mãos diferentes. A partir disso, este homem começa a ofercer todo o seu tempo para solucionar o caso, mas sua dedicação extrema acaba lhe trazendo problemas em casa, já que passa a dedicar pouca atenção para a esposa Laura (Robin Tunney) e ao filho Johnny (Rory Culkin), este que pouco a pouco também parece se interessar em decifrar o enigma do serial killer que se autodenomina Zodíaco que não por acaso só ataca nas datas que coincidem com a realização de uma teoria astronômica. Eis que seis meses depois do primeiro crime, um novo casal torna-se alvo, só que desta vez o criminoso foi ousado e logo após o ataque ele próprio ligou para a polícia dando a localização das vítimas e assumindo a autoria do crime, assim como sua responsabilidade nas mortes ocorridas no último mês de dezembro. O sadismo do Zodíaco não está apenas em matar jovens, mas também em desafiar a polícia, os jornais e até mesmo o FBI com cartas enigmáticas com mensagens cifradas e códigos que poderiam revelar pistas de seus próximos crimes e quem sabe até mesmo sua própria identidade. O que causa mais impacto é que as perícias dos crimes revelam que suas táticas de ataque e para fuzilamento seguem regras típicas de treinamentos para policiais, o que indica que ele poderia ter feito parte ou ainda estar infiltrado no grupo que o quer ver atrás das grades.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

GEORGE, O REI DA FLORESTA 2

Nota 4,5 Mesmo com mudança do ator principal, comédia consegue alcançar seus rasos objetivos

É natural que qualquer sequência gerada mesmo que de um sucesso desperte desconfianças quanto as qualidades e o nível de diversão oferecidos por ela em relação ao original. O pé atrás é ainda maior caso essa segunda parte seja lançada diretamente em home vídeo e seu protagonista seja trocado. George, O Rei da Floresta 2 sofre com todos os preconceitos possíveis que acabam por rotular automaticamente uma continuação como um autêntico caça-níquel, mas há exceções. Este trabalho do diretor David Grossman consegue fugir deste estigma e ser tão bom quanto o original, guardadas as devidas proporções e obviamente levando em consideração o público-alvo a quem a fita se destina. A trama acontece após cinco anos que Ursula (Julie Benz) se uniu a George (Christopher Showerman). Eles já têm um filho, o pequeno George Jr. (Angus T. Jones), e isso obriga o Rei da Floresta a dividir o seu tempo entre as obrigações com a família e os problemas dos animais que habitam sua vizinhança, mas mesmo assim o herói paspalhão vive feliz. Quer dizer, isso até que sua sogra, a maldosa Beatrice Stanphoe (Christina Pickles), aparece para fazer a cabeça de sua filha para que ela e o neto passem a morar em São Francisco rodeados do bom e do melhor (e também do pior) que a civilização pode oferecer.  Ela também quer tomar conta das terras de George e para tanto precisa roubar um documento que está com o rapaz. Na cidade grande, seus planos maquiavélicos ganham um importante aliado: Lyle (Thomas Haden Church), o ex-noivo de Ursula que está disposto a tudo para recuperar sua amada, também fazendo a cabeça dela para ela abandonar o marido e a selva.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

GEORGE, O REI DA FLORESTA

Nota 6,0 Variação do personagem Tarzan consegue prender atenção em comédia previsível

O lendário personagem Tarzan, criação original de Edgar Burroughs, já foi protagonista de muitas aventuras no cinema e na televisão, mas também serviu de inspiração a outros tantos tipos de humanos que acabaram sendo criados em meio a selva por animais considerados selvagens. George, O Rei da Floresta é um deles. O longa é baseado nas aventuras dos personagens criados por Jay Ward para um seriado de animação para a TV datado dos anos 60. O tom de homenagem começa logo pela introdução que explica as origens do protagonista através de um desenho animado, além da narração em off que pontua a narrativa colaborar para a sensação de nostalgia. No coração da selva africana, um bebê é criado por um grupo de gorilas, tornando-se um rapaz forte e valente, porém, muito desastrado e inocente.  Ele é George (Brendan Fraser), conhecido também como o Rei da Floresta. Um dia, aparece em seu território Ursula Stanhope (Leslie Mann), uma jovem que vai explorar a selva africana. Logo seu noivo Lyle Van de Groot (Thomas Haden Church) decide ir à África para encontrá-la e conta a todos da expedição a lenda do "macaco branco", o que alimenta a cobiça dos caçadores Max (Greg Crutwell) e Thor (Abraham Benrubi). Eis que num momento de perigo, o tal macaco surge para salvar Ursula e a leva para sua casa e se apaixona na hora. Enquanto os dois começam a se aproximar, o medroso Lyle planeja resgatar sua noiva e capturar George para levá-lo à São Francisco com má intenções. Pela cartilha das sessões da tarde, um rapaz totalmente selvagem e sem cultura em uma cidade grande e moderna só pode significar uma coisa: confusão à vista!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE (2005)

NOTA 9,0

Refilmagem de clássico infantil
respeita a premissa original, mas
adiciona cores, ritmo e espertas
críticas aos perfis das crianças
Um mundo a parte muito colorido, onde há bastante diversão, novidades a cada canto que se olhe e o melhor é que praticamente tudo é comestível e bem docinho. Para completar, o anfitrião é uma figura excêntrica que usa roupas extravagantes e parece não querer crescer. Se fosse algumas décadas atrás essa descrição caberia perfeitamente para a propaganda de um programa da Xuxa. Também não estamos falando do mundo encantado em que o clássico personagem Peter Pan vive. Esse é o cenário com o qual o ator Gene Wilder conquistou milhões de crianças no mundo todo na década de 1970 sob a batuta de Mel Stuart. Como infelizmente a memória do público é curta, mas seu preconceito com filmes antigos é grande, o jeito para apresentar este citado mundo paralelo a novas gerações seria uma refilmagem, motivo que geralmente causa arrepios a cinéfilos mais tradicionalistas, mas atiça a curiosidade de platéias mais jovens, principalmente quando existem efeitos especiais em jogo. A ideia ganhou cores mais fortes e chamativas, além de trucagens visuais benéficas para a história e uma trama com mais elementos bizarros saídos diretamente da mente insana do diretor Tim Burton comandando novamente Johnny Depp, o seu ator predileto. A refilmagem de A Fantástica Fábrica de Chocolate, baseado no livro homônimo do britânico Road Dahl, é uma deliciosa aventura com boas doses de humor que uniu mais uma vez dois dos maiores nomes do cinema dos últimos tempos, aliás, podem chiar a vontade os mais tradicionalistas, mas é inegável que a produção cai como uma luva ao estilo cinematográfico cultuado pela dupla. Curiosamente, mesmo com uma legião de fãs do original e muitos outros fanáticos pelos trabalhos do cineasta e do protagonista, a readaptação de um clássico setentista para a era moderna não agradou completamente. Fez muito dinheiro, mas em contrapartida somou uma grande quantidade críticas negativas e provavelmente não esperadas e tal proporção. Todavia, a premissa da obra original foi respeitada. A história readaptada pelo escritor John August, que já assinou os roteiros de outros trabalhos do cineasta, nos apresenta à Willy Wonka (Depp), o estranho dono de uma fábrica de doces que há anos decidiu se esconder do mundo devido a problemas de seu passado, mas, principalmente, porque percebeu que suas receitas secretas e mágicas estavam sendo roubadas e produzidas por empresas concorrentes. De repente, de uma hora para a outra, ele decide realizar um concurso para levar cinco crianças com um acompanhante cada para conhecer o interior de seu mundo doce e de sonhos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

ESCOLA DE IDIOTAS

NOTA 5,5

Apesar do título, longa tem um
bom argumento e narrativa
crítica até certo ponto,  mas na
reta final entrega-se aos clichês
Um título deveria teoricamente deixar claro qual a proposta de um filme, mas existem casos em que ele pode expressar mais de uma ideia, podendo colaborar ou atrapalhar a venda de um produto. Um bom exemplo é Escola de Idiotas que logo de cara deve passar a impressão de ser uma comédia típica para adolescentes, ou seja, recheada de baixarias, palavrões e escatologia, conceito reforçado quando tomamos conhecimento do elenco com um enganoso destaque para o nome de Ben Stiller que faz uma rápida participação no longa. Bem, quem espera realmente uma diversão que aposte em trash comedy (o que há de pior em termos de humor), deve se decepcionar, mas para quem não espera muito desta produção pode se surpreender levemente ao perceber que por trás do verniz de bobagens gratuitas existe uma mensagem bacana a ser levada ao público, interessando principalmente àqueles que se sentem um zero à esquerda. A sequência inicial é exagerada, mas certamente fisga a atenção dos espectadores, pois acerta em um ponto-chave: quem nunca se sentiu um completo idiota ao menos uma vez na vida? O problema é que para o jovem Roger (Jon Heder) tal sensação é contínua e já dura muitos anos. Ansioso e com baixa autoestima, ele não só é um fracassado na vida pessoal, morrendo de medo de dar um primeiro passo para começar um relacionamento amoroso com a vizinha Amanda (Jacinda Barrett), como também não se dá bem no campo profissional, chegando a perder até seu uniforme de guarda de trânsito para uma dupla de criminosos gaiatos. Sua chance de mudar de vida pode ser um curso diferente de tudo o que ele já ouviu falar. Ele e uma penca de outros fracassados numa tentativa desesperada se submetem aos ensinamentos nada didáticos do grosseirão e sarcástico Dr. P (Billy Bob Thornton) que promete transformá-los em verdadeiros vencedores, porém, ele é um tremendo picareta que na verdade provoca seus alunos até a última gota de paciência. Contudo, esse tratamento de choque ministrado com a ajuda do fiel ajudante do professor, o grandalhão Lesher (Michael Clarke Duncan), tem fundamentos e o objetivo de mostrar que uma pessoa só pode ser feliz se sair do lugar e lutar pelo que deseja, mas é óbvio que nem todos se saem bem no curso. Um detalhe é que somente homens existem matriculados, talvez uma constatação da máxima que diz que as mulheres são o sexo forte.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

DRIVE

NOTA 8,0

Longa dá uma reciclada no
gênero thriller com novas
dinâmica e narrativa, incluindo
um protagonista enigmático
Infelizmente hoje em dia muita gente leva em consideração os efeitos especiais e sonoros na hora de escolher um filme, o que dá certa vantagem para as produções de ação e a possibilidade de retornar aos holofotes brucutus característicos dos anos 80 como Sylvester Stallone, e não é mais nem preciso ir ao cinema para curtir imagens e sons inacreditáveis. Para os amantes de produtos desse tipo certamente um enredo que fala sobre um sujeito esquisitão que leva uma vida dupla se dividindo entre o trabalho como dublê em filmes e uns bicos para o mundo da máfia deve soar como adrenalina pura ainda mais quando nos deparamos com o titulo, Drive, assim mesmo sem traduções literais ou estapafúrdias para o português. Porém, basta acompanhar a introdução para que muitos comecem a chiar. Ryan Gosling vive o protagonista cujo nome nunca é revelado, simplesmente ele é o motorista. Logo no início ele está prestando serviços para uma dupla de ladrões que está em fuga após um assalto. A perseguição clássica de mocinhos aos bandidos está em cena, mas esqueça de qualquer barulho ensurdecedor, capotagens e frases idiotas ou manjadas trocadas entre as partes envolvidas. O recado está dado. Apesar do estilo ação hollywoodiana se fazer presente, aqui o conteúdo prevalece sobre o tiroteio e o corre-corre e deve causar estranheza a longa apresentação dos créditos iniciais ao som de uma música melosa e nostálgica em substituição as tão tradicionais batidas do rock, hip hop ou som eletrônico pesado. Quem vencer nos primeiros minutos a resistência quanto a esta estética visual e sonora diferenciada, parabéns! Certamente estará pronto para acompanhar uma trama que dá certa reciclada no gênero ação, mas que infelizmente em seus últimos atos volta a investir em velhos clichês, mas sem deixar a narrativa ficar tediosa. Baseado no livro homônimo de James Sallis, o roteiro de Hossein Amini, do drama de época Asas do Amor, acompanha o cotidiano de um motorista que trabalha como mecânico e dublê em produções de ação de Hollywood, mas nas horas vagas faz alguns servicinhos sujos. Sempre muito calado e sem esboçar sorrisos, o rapaz estranhamente acaba desenvolvendo uma amizade com Irene (Carey Mulligan), sua vizinha que tem um filho pequeno. Eles passam a conviver cada vez mais próximos como se formassem uma família, mas não demora para que Standard (Oscar Isaac), o marido da moça, saia da prisão e queira retomar seu lugar de chefe do clã, todavia ele ainda tem dívidas a serem acertadas com outros prisioneiros. Vendo a situação difícil dos vizinhos, o motorista convence Standard a realizar um último assalto, mas o golpe dá errado e agora todos eles correm risco de vida.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

CIDADE DO SILÊNCIO

NOTA 8,0

Drama denuncia a exploração do
trabalho e os perigos que rondam
cidade que prefere abafar polêmicas
em nome de interesses financeiros
Embora hoje muitos tenham acesso a tecnologia de ponta, o que indicaria bons níveis econômicos e culturais, e a mídia venda a ideia que o mundo tecnológico abrange as pessoas em níveis semelhantes em todos os países, é extremamente necessário vez ou outra pararmos para pensar que enquanto você e seus amigos se divertem com tablets, iphones e tantas outras bugigangas moderninhas ainda existem milhares de pessoas espalhadas por aí que vivem em condições precárias e nem mesmo podem ter um aparelho de TV. O pior de tudo é constatar que são justamente estas pessoas a margem da sociedade ideal que trabalham na fabricação dos bens de consumo que a elite consome. É fato que poucos hoje em dia acreditam em contos da carochinha, mas ainda assim há muitos poderosos querendo fazer fortunas jogando para debaixo do tapete as sujeiras que envolvem o mundo dos negócios e explorando a mão-de-obra de grupos menos favorecidos intelectualmente e em termos financeiros. É em torno desse jogo de interesses desprovido de direitos básicos aos seres humanos que gira a trama de Cidade do Silêncio, um providencial filme-denúncia que embora tenha tido como primeira vitrine o Festival de Berlim e seja protagonizado por Jennifer Lopez e Antonio Banderas, chegou ao Brasil diretamente para locação e não causou barulho, o que é até curioso visto que, guardadas as devidas proporções, o tema principal bate de frente com situações contraditórias e vexatórias que encontramos no nosso país, escândalos que envolvem até mesmo marcas renomadas que exploram trabalhadores brasileiros e também de outros países que tentam a sorte por aqui. O filme roteirizado e dirigido por Gregory Nava escancara alguns dos podres que existem por trás do chamado Tratado de Livre Comércio. Baseado em fatos reais, ou melhor, sintetizando em uma mesma história centenas de casos semelhantes, o longa revela que o famoso acordo que permite que empresas do mundo inteiro montem fábricas na região de fronteira entre o México e os EUA não é tão próspero quanto parece ser. A cidade de Juarez tem sua economia praticamente toda baseada nos lucros obtidos de empresas fabricantes de equipamentos eletrônicos para exportação. Além da isenção de impostos, os empresários têm como chamariz o fato da mão-de-obra- ser muito barata, basicamente composta por mulheres latinas, muitas delas adolescentes que chegam a deixar suas famílias em outros países para conseguirem um emprego que lhes ofereça algum tipo de estabilidade financeira.