Nota 4 Com duas tramas paralelas, longa perde fio da meada e é desenvolvido de forma enfadonha
Tentando construir um suspense intrigante e que segurasse a atenção do espectador até o fim, David Ontaatje acabou se enrolando até o pescoço. Produtor, roteirista e diretor de O Inquilino, ele ousou ao ter a ideia de refilmar o primeiro thriller assinado pelo mestre do suspense Alfred Hitchcock, um de seus primeiros trabalhos ainda nos tempos do cinema mudo. Com várias linhas narrativas a serem trabalhadas usando apenas imagens para construir um enredo conciso, esse trabalho não é um dos mais lembrados na filmografia do famoso cineasta, todavia, tem o seu valor, principalmente pela época que representa dentro da História da sétima arte. Ondaatje procurou reinventar o mesmo enredo adicionando diálogos e reunindo todos os clichês possíveis dos filmes da seara dos suspenses policiais. A premissa é até interessante, mas na intenção de jogar pistas falsas para o espectador brincar de detetive, o diretor acabou se atrapalhando e deixou diversas pontas a serem aparadas.
A trama gira em torno de um assassino serial que está assombrando as ruas de West Hollywood vitimando as prostitutas da região. Coincidentemente, seus atos buscam recriar com o máximo de detalhes os crimes cometidos em meados do século 19 pelo lendário Jack, o Estripador. O agente Chandler Manning (Alfred Molina) está em seu encalço, mas precisa lidar com o fato de que provavelmente capturou e condenou à morte um inocente sete anos antes, um homem que estava sendo investigado por duas mortes que guardavam características semelhantes com a onda atual de assassinatos, assim tudo indica que o verdadeiro criminoso está de volta. Quanto mais o detetive se envolve com as novas investigações, mais as coisas ficam enroladas para o seu lado, inclusive passando a ser apontado também como um provável suspeito. Paralelamente a esses eventos, Helen Bunting (Hope Davis) aluga o quarto dos fundos de sua casa para Malcolm (Simon Baker), um misterioso escritor que chega à cidade na mesma época em que a onda de assassinatos é retomada. De imediato, o rapaz consegue seduzir a mulher que aceita o negócio sem nem mesmo checar referências.
A ideia de ligar os assassinatos em série contemporâneos aos crimes cometidos no passado pelo famoso estripador é uma boa sacada, mas por que só agora essa ficha caiu na cabeça do agente policial? Sete anos antes tais evidências já poderiam ter sido utilizadas nas investigações e assim quem sabe salvar um inocente. Sabendo que cometeu um erro, Manning já vinha pesquisando o lendário Jack poucos meses antes da nova onda de crimes o atormentar, porém, sua fixação acaba o colocando como um suspeito potencial. Conforme avança nas investigações, ele próprio produz provas contra si mesmo sem se dar conta. Paralelamente a essa entediante investigação, acompanhamos a história do tal inquilino do título, um braço do roteiro um pouquinho só mais interessante. O casal Bunting, (Davis e Donal Logue), ganha uma renda extra alugando um quarto em uma edícula aos fundos da casa onde vivem. Desta vez a mulher fecha o acordo com um rapaz misterioso sem pedir a opinião do marido, este que aos poucos desconfia que o novo residente não existe, é apenas uma invenção da mente perturbada da esposa que ainda sofre com a perda do único filho, fato ocorrido justamente sete anos antes.
Revelar mais sobre o enredo é estragar a experiência de acompanhar este suspense, embora seja uma produção que desperdiça um excelente argumento. Talvez em uma primeira exibição não fique muito clara as resoluções, valendo uma revisão para prestar mais atenção a certos detalhes. Todavia, assista quantas vezes julgar necessário, provável que jamais a satisfação seja plena. Ao subirem os créditos finais ficamos com a estranha sensação de que achamos O Inquilino um passatempo razoável, mas ainda temos a consciência de que muitas peças não se encaixam no final da história. Até mesmo o misterioso Malcolm parece uma peça estranha no conjunto, mas alguém dúvida que a última cena é toda dele? Seria um truque para deixar o espectador com uma interrogação após um falso final ou realmente a inserção de tal sequencia é só para justificar o título? Com um personagem sedutor e que pouco ou nada sabemos, Baker tinha a chance de finalmente viver um papel de peso e marcante, mas a direção fraca de Ontaatje não lhe permite um bom desenvolvimento.
Quem se destaca mesmo é Davis com uma personagem que esconde a carta na manga do roteiro até o final. Ao mesmo tempo que ela interage com seu inquilino, inclusive o enxergando como uma possibilidade de um relacionamento extraconjugal para suprir as amarguras de seu casamento falido, o roteiro vai enxertando a ideia de que ela não está em seu juízo perfeito. Malcolm seria de fato uma invenção de sua cabeça ou existe realmente e mexe tanto com os hormônios e sentimentos dessa mulher a ponto dela fazer de tudo para esconder sua presença quando julga necessário? Talvez o roteiro fosse mais interessante focando nesse possível amor platônico, mas quer ir além de suas possibilidades e fazer a qualquer custo o gancho dos assassinatos ter relevância e, para tanto, o cineasta prefere se cercar de clichês como tentar reeditar o estereótipo da dupla improvável colocando em cena Street Wilkenson (Shane West), um jovem investigador com quem Manning sempre bate de frente querendo provar sua experiência e competência.
Suspense - 95 min - 2009
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