sexta-feira, 27 de novembro de 2015

AS LOUCURAS DE DICK E JANE

NOTA 8,0

Jim Carrey e Téa Leoni
esbanjam sintonia e simpatia
vivendo um casal que entra de
gaiato no mundo dos crimes
Não importa o quanto o tempo passa ou o quanto se esforce, mas parece que Jim Carrey está fadado a ser amado e odiado em proporções semelhantes. Se para alguns ela provoca riso fácil com suas caras e bocas, para outros elas não passam de características de um bocó irritante. Quem aprecia comédias rasgadas certamente aprova as atuações do ator que vira e mexe tenta (e consegue) expor seu talento dramático, mas inevitavelmente está sempre com um projeto cômico engatilhado. Em As Loucuras de Dick e Jane mais uma vez ele não decepciona a quem curte seu jeito elétrico e despachado de atuar. Este filme é quase uma refilmagem de um trabalho da década de 1970 chamado Adivinha Quem Vem Para Roubar, mas só a premissa foi mantida. A história foi reformulada e adaptada para os novos tempos, sobrando até rápidas piadas críticas a respeito da imagem do imigrante latino nos EUA. Porém, o foco mesmo é fazer graça com piadas acerca de escândalos administrativos, algo muito em evidência na época do lançamento, usando o astro da comédia como o laranja de uma operação fraudulenta. A ideia principal poderia render uma comédia mais adulta, uma sátira mais refinada, mas foi feita a opção pelo humor rasgado e popularesco, porém, tal definição não deve ser confundida com grotesco. Dick (Carrey) e Jane Harper (Téa Leoni) formam um casal feliz com um filho pequeno e que levam uma vida confortável, mas eles querem mais e a grande chance parece bater à porta deles quando o patriarca do clã é promovido repentinamente a vice-diretor de relações públicas de uma grande corporação a qual se dedica há vários anos. Achando que vai ganhar horrores, o casal passa a comprar todos os bens de consumo que tanto desejavam, porém, a farra dura pouco. Logo vem a tona a notícia da falência da empresa devido a um desvio de dinheiro gigantesco feito pelo desonesto presidente da mesma, Jack McCallister (Alec Baldwin), e a bomba estoura nas mãos de Dick. A partir daí vemos uma série de esquetes cômicos nos quais os mais novos falidos da praça tentam reconquistar o padrão de vida que tinham ou ao menos não morrer de fome praticando roubos. Essa é a deixa para Carrey usar seu potencial físico e vocal para provocar humor seguido de forma tímida por sua parceira que parece transparecer preocupação ou ser mais sensata.

Não se pode condená-los totalmente pela decisão de enveredarem por um caminho desonesto. Eles tentaram ganhar a vida de forma digna antes da vida de crimes. Dick literalmente suou a camisa para trabalhar como recepcionista de um supermercado e Jane se meteu até em servir de cobaia para experimentar remédios e cosméticos em fase de testes. Como nada deu certo, fazer o que? O diretor Dean Parisot, o mesmo da comédia pouco vista Heróis Fora de Órbita, foi esperto ao mudar o enfoque da ação da sua trama. O filme original, que em inglês levava o mesmo nome da produção de 2005, mostrava as desventuras de um casal que se meteu a cometer crimes porque a mulher gastava mais do que a soma do dinheiro dela e do marido podia pagar. A versão modernizada ganhou mais ritmo e afinidade com os espectadores ao lidar com o tema de golpes de empresas em que os inocentes é que acabam pagando o pato. Dick e Jane ganham a simpatia imediata de quem os assistem por serem pessoas que encaram a situação de dificuldade de forma bem humorada acrescida de uma revolta desconcertante que os leva até mesmo a roubar a grama dos vizinhos e ameaçar balconistas de lanchonetes com uma arma de brinquedo para poderem tomar um capuccino. Porém, algumas cenas de ação criminosas são descabidas como as que Carrey aparece como um travesti ou trajando uma roupa de mergulho. Ainda assim, ele está mais contido do que de costume no papel. Deve ser porque ele tem consciência que o nome de seu personagem divide espaço com o de sua companheira no título e ambos têm que aparecer. É bem interessante acompanhar seus personagens acostumados a um padrão de vida de classe média alta terem que progressivamente ir reduzindo seus gastos e luxos, chegando ao ponto de iluminarem a casa a base de velas por não pagarem a conta de luz. É o sonho americano se transformando em pesadelo. Outro ponto que gera boas piadas, mas que infelizmente é pouco explorado, é como a cultura hispânica está inserida neste núcleo familiar graças a influência da empregada que passa muito mais tempo que os patrões com o pequeno ..., tanto que ele chega ao ponto de colocar sem querer o pai em maus lençóis simplesmente pelo fato de atender um telefonema com um sonoro “hola”.

Escrito por Judd Apatow, o homem que aparentemente de um novo fôlego ao gênero comédia com O Virgem de 40 Anos, em parceria com Nicholas Stoller, esta obra obviamente não é inovadora, mas pode ser que essa sensação de déja vu seja proposital. A trama é recheada com diversos clichês, sequências previsíveis, uma trama final enrolada e uma conclusão que todos sabem qual vai ser sem nem mesmo precisar assistir uma única cena. Ainda assim, o humor impregnado na narrativa é cativante e as diversas críticas contemporâneas ajudam a manter o interesse, chegando a colocar os dois candidatos a criminosos a praticar crimes com as máscaras de Bill e Hillary Clinton (poderosos e criticados na época) e ironias envolvendo o governo de George W. Bush (talvez um dos presidentes mais odiados e ironizados da história americana ou até mesmo mundial). Outra grande sacada da obra para não ser descartável e até ser lembrada por anos e anos é fazer referências e anedotas a respeito do caso Enron, a sétima maior companhia do mundo na década de 1990 e que foi envolvida em um escândalo financeiro culminando com seu declínio. Mesmo querendo ter características para se tornar um trabalho considerável anos depois de seu lançamento, o mais provável é que este filme hoje em dia seja apenas uma boa comédia para passar o tempo cujas citações a fatos verídicos de sua época sejam dissolvidos ano após ano até não significarem absolutamente nada para quem veja no futuro. Ainda que este trabalho tenha um melhor resultado até pouco mais da metade, no conjunto ele funciona bem porque faz valer a força do título. É quase impossível imaginar Dick e Jane interpretados por outros atores. Carrey e Téa formam um casal crível e que comove o espectador com a relação de amor e cumplicidade entre eles, o que já é o bastante para atrair o público-alvo. Vale ressaltar que o longa não traz a tona a mensagem piegas de que o dinheiro não traz felicidade, mas reforça que o amor da família e ter o nome limpo e digno, por exemplo, valem muito mais, além é claro do final fazer claramente jus ao ditado de que o crime não compensa. Mais cedo ou mais tarde se paga pelo erro. As Loucuras de Dick e Jane é sem dúvidas uma boa opção para todas as idades, seja pela primeira vez ou para um repeteco.

Comédia - 90 min - 2004 

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