Os
primeiros anos do século 21 mostraram que as comédias românticas continuam
sendo um dos gêneros prediletos do público, principalmente o feminino. De olho
na companhia masculina que geralmente é obrigada a ver produções do tipo
(embora muitos homens adoram e tenham vergonha de assumir), produtores
começaram a dar prioridade a enredos que misturam além do romance e o humor
também uma boa dose de ação, assim os mocinhos passaram a ter funções mais
consistentes nas tramas, não meros objeto de desejo de mulheres desesperadas
para casar. Não a toa filmes do tipo costumam ter um casal de peso encabeçando
o elenco. Foi assim com Jennifer Aniston e Matthew McCounaughey em Caçador
de Recompensas, Cameron Diaz e Tom Cruise em Encontro
Explosivo e Katherine Heighl e Ashton Kutcher em Par
Perfeito. Esta última dupla costuma despertar desconfianças
quanto ao talento, mas não se pode negar que tem carisma junto ao público.
Jen
Kornfeldt (Heighl) é uma jovem que se acostumou a viver sob a proteção e
cuidados dos pais, mas durante uma viagem à França acaba se encantando por
Spencer Aimes (Kutcher). Numa comédia romântica tradicional eles viveriam
várias confusões para apenas no final trocarem alianças, mas o diretor Robert
Luletic, de A Verdade Nua e Crua, inverte a ordem das coisas para
que os problemas surjam após a vida de casados que será repleta de perseguições
e tiroteios. A moça descobre tardiamente que a cabeça do marido está à prêmio
por ele ser um assassino profissional, mas mostra-se razoavelmente preparada
para estar ao seu lado para combater criminosos, mesmo que sua destreza com
armas de fogo possa ser tão ou mais perigosa que seus algozes. E o filme se
resume a uma sucessão de cenas de muito corre-corre com os pombinhos fugindo de
supostos amigos e até vizinhos disfarçados.
A
proposta é oferecer pura e simples diversão, portanto, não dá para esperar mais
que umas boas gargalhadas enquanto se assiste e depois encarar sua própria
indagação do porquê da existência de um filme do tipo. Já os fãs de filmes de
ação certamente não farão tal questionamento, pois o que gostam está em cena em
doses cavalares: muita pancadaria, troca de tiros, vidros estilhaçados aos
montes, perseguição entre carros e closes generosos das curvas do corpo de
Heighl. O roteiro de Bob DeRosa e Ted Griffin passa a sensação de uma história
que gira em círculos, uma caçada de apenas uma dia, mas que parece se
desenrolar por várias diárias e não sair do lugar, mesmo contando com poucos
personagens e muita adrenalina. Percebe-se uma preocupação muito grande em
explicar a origem de Aimes e sua relação com seu chefe, contudo, não é
apresentado o fato que leva a todos ao seu redor resolverem de uma hora para
outra caçá-lo.
A vizinhança gentil que depois mostra-se ameaçadora também poderia ser melhor explorada demonstrando maior intimidade com sua vítima e até jogando pequenas pistas de seu real propósito, mas sutilezas não são o forte de Luletic. Cada tentativa de diálogo inteligente converte-se em uma cena babaca muito também pelos exageros do elenco que provavelmente se divertiu mais que o público. Kutcher tem sérias limitações artísticas e parece fadado a viver personagens tapados e que parecem viver com um pé preso na adolescência. Todos tem noção de sua beleza e porte físico, mas irrita tais atributos sempre serem destacados em seus papeis, ainda que no caso de Par Perfeito eles sejam essenciais, afinal a mocinha se apaixonou à primeira vista pela imagem do rapaz e não por seu caráter, assim pagou um preço alto pelo deslumbre. Heighl também não tem por onde tentar apresentar uma interpretação diferente da qual está habituada. Mais uma vez encarna a mulher neurótica e que fala pelos colarinhos e geralmente nos momentos errados, mas aqui com o adicional de ser assumidamente uma pessoa ansiosa, tanto que tem a palavra crise tatuada nos trêmulos dedos de uma das mãos.
De qualquer forma, felizmente existe química entre os protagonistas, assim fazendo piadas funcionarem, mas não conseguindo escamotear o viés machista da trama elevando o mocinho torto à potência de herói e sua garota como dependente de sua coragem e, no caso, também lábia. Isso fica explícito logo nos primeiros minutos. Com pose de bem sucedido, Aimes logo na primeira noite diz à Jen que a ama e na segunda já a está pedindo em casamento, tudo que uma dondoca como ela deseja, se livrar da proteção dos pais, mas garantir conforto com o marido. Falando neles, Tom Selleck e Catherine O'Hara se encarregam de interpretarem os sogros do jovem assassino, mas são desperdiçados numa produção que privilegia a beleza dos jovens e faz pouco caso do talento dos veteranos.
Comédia - 100 min - 2010
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