quinta-feira, 31 de março de 2016

VATEL - UM BANQUETE PARA O REI

NOTA 9,0

Longa faz um retrato crítico e
histórico da realeza mostrando
que por trás da ostentação um jogo
de interesses ditava as regras 
A história do cinema é marcada por obras que não só enchem os olhos do espectador por apresentar belas imagens, mas algumas também podem dar água na boca e abrir o apetite, tanto é que já existem até publicações e sites dedicados a divulgar os filmes em que as comidas e as refeições não servem apenas como pano de fundo ou adorno, mas assumem posições de coadjuvantes ou até podem se tornar protagonistas do enredo. Com guloseimas e mesas fartas, algumas produções assumem o caráter gastronômico e a direção de arte capricha para criar um visual delicioso e aconchegante. A primeira vista, um cenário requintado é o que nos oferece Vatel - Um Banquete Para o Rei, mas esta superprodução francesa, porém falada em inglês, infelizmente raríssima de ser encontrada em mídia original ou vista na TV, tem muito mais a nos oferecer do que simplesmente aguçar nosso paladar. Baseando-se em fatos reais, o cineasta Roland Joffé, dos premiados Os Gritos do Silêncio e A Missão, construiu um filme que, apesar de ser de época, traz pontos relevantes e contemporâneos, como a busca pela excelência para obter aprovação e sucesso e temas como honra e caráter. Para degustar este enredo por completo, é preciso provar do recheio e não se contentar apenas com a cobertura. O roteiro de Tom Stoppard, adaptado da peça teatral homônima de Jeanne Labrune, nos remete até o século 17, mais precisamente em 1671 na França. O Príncipe de Condé (Julian Glover) está passando por problemas financeiros e planeja uma solução para fazer com que toda a província fique livre das dívidas. Ele decide convidar o rei Luís XIV (Julian Sands) e toda a corte de Versailles para passar um final de semana festivo em seu palácio repleto de entretenimento e saborosas iguarias culinárias e assim quem sabe fazer com que o monarca perdoasse as suas dívidas e evitasse uma guerra provocada por um desastre econômico, trazendo prosperidade a toda a região. Porém, apenas um homem poderá preparar um banquete a altura e também cuidar da diversão da comitiva real: François Vatel (Gérard Depardieu), o mordomo do Príncipe, este que não poderia se endividar ainda mais por conta desta ideia arriscada. Contudo, seu fiel escudeiro é de uma criatividade assombrosa para se virar com os alimentos e sabe que uma produção cenográfica é essencial para impressionar os convidados, ainda que para ele tais nobres lhe causassem repulsa, mas em nome da estima que sente por Condé aceita o desafio.

segunda-feira, 28 de março de 2016

PESADELO AMERICANO

NOTA 6,5

Com várias histórias sendo
narradas ao mesmo tempo,
drama aborda como a violência
interfere no cotidiano em geral
Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, fatídico episódio que parece que de uma vez por todas revelou ao mundo a fragilidade que os poderosos americanos tentavam esconder ao máximo para não diminuir o status e o poder de sua pátria, o cinema aparentemente passou a ter mais liberdade para abordar assuntos que antes eram jogados para debaixo do tapete para não aparecem nas fotografias e filmagens de um país que há séculos cultiva a soberania e a ilusão de que a felicidade mora lá. Bem, o cinema independente é que na realidade tem essa liberdade maior para mexer em feridas, mas cada vez mais tem sido frequente que pequenas obras sobre assuntos polêmicos tenham seu valor reconhecido e acabem furando as barreiras impostas ao cinema de arte ou de autor e passem a dividir espaço com o cinemão de Hollywood. Outro ponto interessante é que tais obras também apostam muito nas tramas interligadas, aquelas em que os conflitos de diversos personagens têm algum ponto em comum ou em alguns casos são todos dependentes, sendo alguns dos mais famosos exemplos desse casamento de temática e estilo narrativo Crash – No Limite e Babel. O problema desse tipo de filme é que geralmente ele frustra o espectador. Facilmente eles ganham prêmios, em pequenos ou grandes eventos, mas a opinião dos críticos e votantes deve levar em consideração a coragem de abordar temas controversos e as dificuldades que implicam a construção de uma narrativa picotada, mas para o público comum por vezes é um tanto tedioso ou dificultoso acompanhar narrativas assim e o incômodo é potencializado quando no final das contas o pacote não é fechado com um laço que una todas as pontas soltas. Pesadelo Americano, por exemplo, é um projeto independente e cheio de boas intenções, mas que abre mão de uma conclusão apoteótica, mesmo que infeliz. Exibido em alguns festivais menos divulgados, incluindo indicações ao Independent Spirit Awards, o Oscar dos independentes, o longa dirigido por Aric Avelino e com roteiro do próprio em parceria com Steven Bagatourian surgiu a partir de um artigo do jornal “Los Angeles Times” sobre estudantes que vão à escola armados, porém, sem a intenção de utilizá-las, apenas precaução para quando saem das instituições e precisam enfrentar os perigos das ruas. A legítima defesa é compreensível, mas o inesperado sempre pode acontecer. Um adolescente em sã consciência pode não ver problemas em andar armado, mas será que em sua cabeça passa a possibilidade de que a arma pode cair em mãos erradas e provocar uma tragédia?

sábado, 26 de março de 2016

ESPANTALHO

Nota 6,5 Terror adolescente se beneficia de ambientação claustrofóbica e narrativa enxuta

Vampiros, lobisomens e múmias fazem parte de um seleto grupo de criaturas míticas que se tornaram símbolos do cinema de horror, principalmente o produzido entre as décadas de 30 e 40 e revigorado nos anos 70, mas a eles já está mais do que na hora de se juntar a figura dos espantalhos, aqueles bizarros bonecos de pano recheados de serragem ou palha presos em estacas de madeira para espantar animais depredadores de plantações, principalmente aves. Eles já estiveram presentes em algumas produções de terror, como o óbvio A Noite do Espantalho e tiveram discretas participações em A Colheita e Olhos Famintos, por exemplo, mas Espantalho foi criado totalmente em torno da curiosidade e suspense inerentes ao boneco cuja função é justamente espantar, mas aos olhos dos humanos o efeito é contrário e a atração fala mais alto. Contudo, não espere uma obra-prima do gênero, apenas um passatempo que cumpre sua função de entreter e assustar com alguns bons momentos propiciados principalmente por causa da exploração bem feita de dois únicos cenários: um milharal e a velha casa que fica em seu centro. A trama escrita e dirigida por Brett Simmons começa apostando em clichês. Grupo de jovens está viajando e precisa atravessar uma estrada deserta quando é surpreendido por um corvo que bate violentamente no vidro do carro e provoca um acidente. Depois de se recuperarem do susto eles se dão conta que Johnny (Ben Easter) sumiu e a única saída para pedir ajuda (cadê o celular nessas horas?) é atravessar o milharal para chegar até a única residência que há pela redondeza que, para variar, está em um estado deplorável e envolta em mistérios. Ao chegarem na casa, Brian (Wes Chatham) e Scott (Devon Grave), representando respectivamente  o valente bonitão e o nerd do grupo, encontram o amigo desaparecido, porém, ele está literalmente em outro mundo. Ao tentarem voltar à estrada, a dupla é atacada por um espantalho. Não demora muito para Chris (C.J Thomason) também criar coragem e atravessar a plantação rumo a tal casa, mas acaba arranjando briga com Brian por ter deixado Natalie (Tammin Sursok), a namorada do rapaz, perdida no meio do caminho, só que ela não tarda a aparecer e de uma maneira bem diferente. É aí que o roteiro traz algumas boas sacadas e que transformam a fita em algo um pouco acima da média.

sexta-feira, 25 de março de 2016

BELEZA AMERICANA

NOTA 9,0

Drama explora a intimidade
de típica família americana
feliz e seus vizinhos, mas nem
tudo é tão belo quanto parece
Muitas vezes ficamos encantados quando vemos em filmes americanos aquelas casas bonitas, com jardins vistosos e localizadas em ruas tranquilas longe dos caóticos centros das metrópoles e sonhamos em levar uma vida igual a das personagens que ali vivem. Porém, o que parece tão perfeito da porta de casa para dentro pode ser bem diferente. Tais moradores parecem ricos, ter sucesso e qualidade de vida em todos os sentidos, mas seriam plenamente satisfeitos? Arruinar ou revelar a real imagem da família modelo americana tornou-se um tema comum no cinema nos últimos anos, de forma branda ou agressiva, muito por conta do sucesso que os longas independentes têm obtido. Embora tal temática já fosse explorada por vários filmes premiados em festivais menores ou alternativos, talvez o precursor dessa fase em termos de sucesso comercial tenha sido Beleza Americana, o trabalho de estreia do cineasta Sam Mendes que logo de cara abocanhou a tão sonhada estatueta do Oscar que muitos diretores veteranos faleceram desejando. Para tanto, ele não teve medo e optou por um roteiro forte e polêmico que destrói a imagem da família feliz ianque. Na época de seu lançamento parecia que o modismo da vez em Hollywood era retratar a realidade de forma nua e crua e sem direito a verniz. Temas espinhosos foram levados as telas pelos principais concorrentes a prêmios da temporada 1999/2000. Mendes teve a sorte de estar trabalhando sob a batuta da empresa de Steven Spileberg, a Dreamworks, e conseguiu uma campanha publicitária pesada para que seu longa figurasse nas principias listas dos melhores do ano. E não foram só os especialistas em cinema que aprovaram a crítica ácida feita ao povo norte-americano. Os próprios espectadores deram seu aval para esta produção que mostra de forma metafórica como a sociedade se torna frágil e sem objetivos conforme o tempo passa e o progresso chega. Ou seria o retrocesso? Bem, a segunda opção se adéqua melhor. Mesmo em tempos em que tudo parece permitido e existe movimentação para que o excêntrico e as vontades individuais sejam aceitas, a tradição e os costumes ainda falam mais altos e manter uma imagem perfeita e intacta ainda é necessário, mesmo quando na realidade se está infeliz. Para quem nunca assistiu ou leu algo a respeito deste filme, pode até parecer que a obra seja do início ao fim um achincalhe aos americanos, curiosamente bancada e festejada por pessoas do próprio país, mas certamente o conteúdo da obra reflete situações existentes em outras partes do mundo, inclusive o Brasil. Quantas famílias não existem atualmente em ruínas, mas ainda unidas em nome de interesses financeiros ou puro orgulho?

quinta-feira, 24 de março de 2016

A DAMA NA ÁGUA

NOTA 7,0

Suspense com um pé na fantasia
marca virada na carreira do
cineasta M. Night Shyamalan,
mas obra é aquém do esperado
É muito bom praticamente começar uma carreira atingindo o sucesso instantâneo, mas manter-se no topo é complicado. Após o estrondoso sucesso de O Sexto Sentido o diretor M. Night Shyamalan viu seu prestígio pouco a pouco declinar a cada novo trabalho. A crítica especializada, salvo algumas exceções, e o público em geral foram severos nas avaliações, embora fique mais latente que as pessoas não compreenderam as intenções do cineasta em seus projetos seguintes. Após a avalanche de críticas negativas ao infelizmente mal interpretado A Vila, o cineasta voltou a causar barulho com A Dama na Água, projeto que trazia uma ruptura significativa em sua trajetória profissional. Além de mudar seu estilo narrativo drasticamente, tal trabalho também foi o primeiro a não ser lançado pela Disney, empresa que projetou o indiano para o mundo e lhe bancou quatro longas (antes ele já trabalhava, mas em produções menores em seu país natal). A separação aconteceu por divergências de ideias. A produtora queria lucros e o diretor arte, uma equação que dificilmente traz resultados positivos para ambos os lados. Shyamalan optou por seguir seus princípios e acabou acertando e errando. A mudança de ares foi positiva para que ele não se enrolasse ainda mais na própria armadilha que criou, a de criar filmes que obrigatoriamente se sustentam sob a expectativa de uma revelação surpresa. Por outro lado, a decisão reforçou o conceito da sorte de principiante, de que dificilmente ele chegaria a realizar uma obra de nível ao menos similar a da história do garotinho que podia ver e falar com os mortos. Em seu primeiro longa com narrativa totalmente linear, então bancado pela Warner, Shyamalan, além de dirigir, produzir e até atuar, também se encarregou de roteirizar uma trama baseando-se em um conto de ninar que contava aos seus filhos envolvendo o mundo aquático. Apesar desse detalhe, o longa está longe de ser uma fábula infantil, assumindo um lado sombrio e dramático que dialoga melhor com os adultos. Bem, isso para aqueles que deixarem o preconceito de lado e se permitirem literalmente mergulhar nesta obra. A história gira em torno de Cleveland Heep (Paul Giamatti), um ex-médico que perdeu a mulher e a filha há alguns anos e amargurado jogou tudo para o alto e decidiu viver recluso em um prédio residencial onde trabalha como zelador. Seu pacato cotidiano sofre uma transformação drástica quando passa a desconfiar que alguém está constantemente usando a piscina fora do horário permitido e certa noite ele flagra uma garota desconhecida nadando. Com pele, olhos e cabelos claríssimos e fala mansa, ela é Story (Bryce Dallas Howard), uma narf, espécie de ninfa aquática dos contos infantis que está sendo perseguida pelos scrunts, criaturas do mal parecidas com lobos que desejam impedi-la de retornar ao Mundo Azul, seu habitat natural.

quarta-feira, 23 de março de 2016

TERAPIA DO AMOR

NOTA 7,0

Longa se revela uma agradável
surpresa apresentando trama
madura sobre o amor e as suas
dificuldades, como o peso da idade
É incrível que ainda hoje os casais com diferenças de idades mais visíveis sofram preconceito. Ou será que é o próprio casal que acaba impondo a si mesmo limites? A segunda opção não corresponde a casos raros, mas é certo que os olhares curiosos ou acachapantes dos outros continuam sendo os principais obstáculos para que romances do tipo sejam levados adiante. Portanto, é sempre bom que filmes como Terapia do Amor tenham suas mensagens revistas. Protagonizado por Uma Thurman e Meryl Streep, é curioso que a produção sobreviva de indicações boca-a-boca, não tendo feito carreira de sucesso nos cinemas e tampouco quando lançado em locadoras. Bem a resposta pode ser definida pela expressão comprar gato por lebre. O título vende a ideia de que o filme em questão é uma comédia romântica bem açucarada, por isso deve causar espanto quando algumas pessoas se deparam com uma história realista, de certa forma polêmica, contudo, temperada com um humor irresistível e de bom gosto. Mãe possessiva faz de tudo para afastar seu querido filhinho (na verdade um cavalão já) de uma namorada com idade para ser sua mãe (que exagero!). Essa breve sinopse também poderia aguçar aos adeptos de humor pastelão, pois lembra muito a premissa de A Sogra, mas decepções também seriam inevitáveis. Se você é do tipo que desiste de assistir algo quando logo nos primeiros minutos não tem suas expectativas atendidas, azar o seu. Estará perdendo uma excelente comédia romântica e porque não dizer uma pequena aula particular de psicologia para tentar melhorar sua compreensão dos seres humanos no tocante aos relacionamentos afetivos. Com roteiro e direção de Bem Younger, o enredo nos apresenta à Rafi Gardet (Thurman), uma mulher de 37 anos recém-divorciada adepta da terapia para esclarecer seus problemas e dúvidas, entre eles se deve ou não manter um relacionamento com um rapaz bem mais jovem que conheceu. A terapeuta, a judia Lisa Metzger (Streep), sempre solícita e incentivando seus pacientes a serem felizes, a aconselha a levar o namoro adiante. O tempo passa e a relação médica e paciente vai muito bem, até que juntando os detalhes das conversas Lisa descobre que seu próprio filho Dave (Bryan Greenberg), com 23 anos de idade, é o namorado de quem Rafi fala com tanto entusiasmo.

terça-feira, 22 de março de 2016

MIAMI VICE

NOTA 6,5

Adaptação de seriado de TV
investe em trama adulta, tem
produção caprichada, mas perde
pontos pelo excesso de material
Na falta de boas ideias para novos filmes, Hollywood nos últimos tempos tem revirado seu baú em busca de material para ser refilmado, mas para escamotear a falta de criatividade tem investido bastante no universo dos seriados de TV. Levar aos cinemas uma história baseada em alguma série de sucesso do passado é uma faca de dois gumes: pode apostar na nostalgia e na forte marca do produto e ser sucesso ou fracassar devido o desconhecimento das novas gerações quanto ao material original e as inevitáveis comparações que podem surgir entre o filme e os episódios do programa. Em geral produções do tipo acabam fracassando e rapidamente após o lançamento caem no ostracismo, mas é curioso como ainda há investidores que as bancam, na realidade, pode-se dizer que tais ideias só saem do papel motivadas pela emoção e não tanto pela razão. Por exemplo, o diretor Michael Mann, famoso por filmes de ação e suspense policial como Fogo Contra Fogo e Colateral, também foi o produtor de uma telessérie de muito sucesso nos anos 80 e precisou esperar mais de duas décadas para realizar um de seus grandes sonhos: a versão cinematográfica de Miami Vice, programa que durou cinco anos e marcou uma geração. Profundo conhecedor da série, ele simplesmente produziu, roteirizou e dirigiu esta reinvenção das aventuras e casos da dupla de detetives que no passado foram interpretados por Philip Michael Thomas e Don Johnson, homens que se apresentavam no melhor estilo metrossexual muito antes do termo surgir. Bem, engomadinhos levando-se em consideração o que era moda na época, característica preservada na modernização proposta pelo cineasta que optou por equilibrar o visual brega e o chique para narrar as novas aventuras de Ricardo Tubbs (Jamie Foxx) e Sonny Crockett (Colin Farrell). Ao contrário de outras séries que foram resgatadas pelo cinema em tom satírico, neste caso o trabalho é levado muito a sério (embora a série usasse os ganchos policiais apenas como pretexto para desfilar na tela gente bonita, bens materiais luxuosos e paisagens ensolaradas) e para dialogar com novas plateias não economiza na violência e no erotismo. A dupla de detetives trabalha investigando o tráfico de drogas em solo norte-americano, mais precisamente na famosa cidade que intitula o filme. Para não “chamarem a atenção”, eles estão sempre com um look bem apresentável, roupas de marca e circulam com carros invejáveis, uma forma encontrada para serem confundidos com os ricaços da região. Quando um de seus informantes morre, além do assassinato de dois agentes federais, eles são convocados pelo FBI para uma operação secreta a fim de capturar assassinos que estão agindo sob proteção do primeiro escalão do crime organizado. E assim começa uma trama de espionagem que irá se desenrolar por outros países como Paraguai, Uruguai, Haiti e até no Brasil, visto que por trás de tudo está Arcángel de Jesús Montoya (Luis Tosar), um poderoso traficante colombiano que tem contato com pólos estratégicos em países latinos. Tubbs e Crockett se disfarçam como transportadores de cargas e assumem as identidades de Burnett e Cooper para conseguirem se infiltrar no meio do tráfico e cortarem o mal pela raiz. Durante as investigações, os parceiros conhecem uma bela mulher e braço direito de Montoya, a cubana Isabella (Gong Li), uma pessoa manipuladora que trata dos investimentos pagos com o dinheiro sujo do negócio ilícito. Para conhecer melhor o esquema organizado por ela, Crockett resolve seduzi-la, mas a relação acaba extrapolando os limites dos interesses profissionais. Enquanto isso, Tubbs vai infiltrando-se cada vez mais diretamente na empresa dos narcotraficantes, mas a situação para ambos acaba fugindo do controle quando eles se veem tão envolvidos com o submundo a ponto de não distinguirem mais de que lado a lei deve exercer seu poder.

segunda-feira, 21 de março de 2016

O APANHADOR DE SONHOS

NOTA 2,0

Baseado em obra de Stephen King,
longa engana com seu título, é
confuso, uma mistura de gêneros
e abusa de violência e escatologia
Quem é realmente aficionado por cinema certamente já não cai mais na armadilha da frase “baseado na obra de Stephen King” ou algo do gênero. Agora quem não é muito aprofundado no assunto as chances de se arrepender ao acreditar em tal golpe de publicidade são bem grandes. O famoso autor de livros de suspense, horror e alguns poucos dramas já teve boa parte de suas publicações adaptadas para o cinema, mas nem sempre os resultados em película foram satisfatórios. O Apanhador de Sonhos é um exemplo que se encaixa na lista dos equívocos. A proposta inicial era realizar um suspense cujo estopim seria a presença de criaturas alienígenas entre os humanos, algo já bastante explorado pela sétima arte, mas o problema é que além de enfadonho este trabalho ainda conta com cenas grotescas, efeitos visuais duvidosos e na reta final aposta no que há de pior dos clichês dos filmes de terror. Se a obra literária é semelhante a sua versão cinematográfica certamente King não estava em seus melhores dias. Aliás, ele escreveu o livro em 1999 enquanto se recuperava de um atropelamento, não era um momento favorável. O roteirista William Goldman já havia explorado o universo do escritor um ano antes ao adaptar seu livro Lembranças de um Verão, mas nesta nova empreitada se deu mal. A introdução promete algo interessante. Jonesy (Damian Lewis), Henry (Thomas Jane), Beaver (Jason Lee) e Pete (Timothy Olyphant) são amigos há muitos anos e parecem ter uma espécie de ligação telepática. Em flashbacks os conhecemos na fase da pré-adolescência quando eles acabam realizando um ato heróico ao salvarem o deficiente mental Douglas (Donnie Wahlberg na fase adulta do personagem) de uma situação humilhante provocada por alguns adolescentes valentões. Duddits, como se autodenomina, acaba sendo acolhido pelo grupo e em troca oferta a cada garoto algum tipo de poder paranormal. Os minutos iniciais mostram como o quarteto já adulto lida com esses dons, o que poderia indicar que um bom suspense psicológico está começando a ser construído. Logo em seguida um atropelamento que não acrescenta nada à trama já nos faz repensar as expectativas, mas vamos em frente. O grupo de amigos, com exceção de Duddits que nunca mais foi visto, tem o costume de se reunir anualmente para caçar nas florestas geladas do Maine, nos EUA, mas desta vez a viagem será muito diferente. Uma enorme nevasca atinge a região e coincidentemente um estranho caçador aparece na cabana dos rapazes pedindo ajuda, mas sem desconfiar da doença que carrega consigo, algo literalmente de outro mundo.

domingo, 20 de março de 2016

DE CORAÇÃO PARTIDO

Nota 6,5 Drama sobre disputa de casais pelo amor de uma criança poderia render muito mais

Nada melhor para levar o público as lágrimas do que uma história que tenha no centro das atenções uma criança em meio a um drama familiar. São inúmeros os exemplos de filmes que se valeram deste artifício, sempre com uma ou outra novidade, mas em geral são produções comumente chamadas de piegas pelos críticos, trabalhos realizados sem grandes ambições, abusando dos clichês e da previsibilidade e que dependem da propaganda boca-a-boca para terem alguma projeção. Curiosamente, a maioria destas obras pode ser massacrada pelos cinéfilos, porém, costumam agradar ao público-alvo, pessoas principalmente do sexo feminino e já com certa maturidade e que não ligam para ver o blockbuster do momento, mas sim assistir bons filmes, independente da época que foi lançado ou se tem elenco famoso. De Coração Partido é uma produção americana modesta que teve dificuldades para ser lançada, talvez justamente pelo ar simplista exalado por seu enredo. No passado, Wendy (Mira Sorvino) viveu um romance conturbado com o marido Rip Porter (Barry Pepper), um alcoólatra que constantemente a agredia. Certo dia ela levou o caso para as autoridades policiais e o rapaz acabou sendo preso e condenado a participar de um programa de reabilitação em regime fechado. Sete anos se passaram e Rip agora está em liberdade, regenerado e procura a ex-mulher afirmando que se transformou em uma pessoa melhor e que está decidido a construir uma família com ela, porém, a moça revela que estava grávida quando ele foi preso, mas que acabou entregando a criança para adoção. Joey (Maxwell Perry Cotton) foi criado por um casal com uma vida financeira e emocional muito mais estável e promissora. Jack (Cole Hauser) e Molly Campbell (Kate Levering) ficam desesperados quando recebem a visita de uma assistente social dizendo que os pais verdadeiros entraram com pedido de guarda do menino, algo possível já que Rip não deu seu consentimento na época para adoção. Começa assim uma batalha judicial e emocional que abalará as duas famílias.

sábado, 19 de março de 2016

TEMPO ESGOTADO (1995)

Nota 7,0 Suspense em "tempo real" é eficiente e ligeiro, mas poderia render muito mais

Então já famoso por encarnar tipos estranhos em filmes como Edward – Mãos de Tesoura e Ed Wood, muita gente deve ter estranhado lá no distante ano de 1995 ver Johnny Depp protagonizando o suspense Tempo Esgotado vivendo um dos papéis mais convencionais de sua carreira até hoje. Na trama escrita por Patrick Sheane Duncan, que no mesmo ano acumulava o sucesso Mr. Holland – Adorável Professor, o ator dá vida à Gene Watson, um jovem viúvo que poderia perfeitamente ser só mais um em meio a uma multidão, mas seus cuidados e carinhos com Lynn (Courtney Chase), sua filha de seis anos, chamam a atenção dos criminosos Mr. Smith (Christopher Walken) e Srta. Jones (Roma Maffia) que precisam de alguém com algo muito valioso a perder para assim se sujeitar a fazer um servicinho sujo para eles. A dupla sequestra a garota e entrega ao pai uma arma junto com a fotografia de quem ele teria que matar, ninguém menos que a governadora Eleanor Grant (Marsha Mason) que está em Los Angeles para a realização de um evento em prol da sua reeleição. Ele terá pouco mais de uma hora para cumprir a tarefa caso contrário Lynn será assassinada. Mesmo com a maior parte de suas tentativas de pedir ajuda ser frustrada, ele conseguirá apoio de Krista (Gloria Reuben), a assessora da candidata, e de Huey (Charles S. Dutton), um bondoso e esperto engraxate, mas descobrirá que existe um grande número de pessoas envolvidas nesta conspiração. O interessante é que o filme é feito imitando o tempo real, ou seja, os quase 90 minutos de arte correspondem a mesma quantidade da realidade como se uma câmera ligada ininterruptamente gravasse os passos do protagonista, recurso muito antes já utilizado pelo mestre Alfred Hitchcock em Festim Diabólico. O diretor John Badham, do sucesso Os Embalos de Sábado a Noite, trabalha o artifício com bastante destreza e consegue manter a tensão em altos níveis, mas ainda assim fica a sensação de que o filme rende apenas o razoável, não almeja ir além disso.

sexta-feira, 18 de março de 2016

CARROS 2

NOTA 6,5

Continuação de animação de
sucesso é agradável apesar de
alguns problemas, mas espera-se
mais de um produto Pixar 
A Pixar tem o poder do toque de Midas. Tudo que coloca a mão vira ouro afinal já virou sinônimo de qualidade e criatividade, assim seu público e lucros altos estarão sempre garantidos a cada novo lançamento. Bem, rendimentos consideráveis certamente ela consegue tanto nos cinemas quanto com a venda de DVDs e outras mídias, além é claro do faturamento oriundo de produtos licenciados para explorarem seus personagens, mas é bom não descuidar para não sofrer uma colisão com as críticas. Demorou bastante, mas a produtora não escapou de viver seu inferno astral. Após mais de dez filmes bem sucedidos junto ao público e colhendo elogios e prêmios, foi justamente com um produto que teoricamente já teria vencido todos os desafios possíveis ainda com o trabalho em pré-produção que a empresa derrapou. Com Carros 2, continuação do sucesso de 2006, pela primeira vez o estúdio levou uns puxões de orelha por parte da crítica especializada e até mesmo do próprio público. Claro que é impossível nunca haver um escorregão na vida de uma produtora e a vez do aclamado estúdio de animação computadorizada chegou. Na época a Disney e a Pixar se uniram de forma definitiva tanto para distribuição quanto para a produção de animações, portanto, esperava-se mais desta continuação do grande sucesso que conquistou crianças e adultos. Obviamente não é um filme péssimo, longe disso, mas em comparação aos outros títulos da companhia, inclusive o próprio original deste, deixa muito a desejar. Essa é a opinião que praticamente domina os comentários de sites, blogs, jornais e revistas, mas estes textos com enfoques comparativos acabaram prejudicando uma obra que não merecia tanto achincalhe. O problema principal é que o roteiro não parece tão atrativo e de fácil assimilação quanto o da primeira aventura de Relâmpago Mc Queen e seu amigo atrapalhado Mate. A história criada pelos diretores John Lesseter e Brad Lewis em parceria com o roteirista Dan Fogelman e finalizada por Ben Queen procurou seguir a tendência do mercado de animações e atingir dois públicos distintos ao mesmo tempo, crianças e adultos, mas o resultado final pode não ser plenamente satisfatória a ambas as faixas de público. O roteiro envereda pelo caminho das referências cinematográficas em exagero misturando elementos de filmes sobre espionagem, como das franquias dos agentes Bourne e 007, por exemplo. Além disso, tenta passar o clima acirrado que está por trás dos bastidores das corridas automobilísticas com direito a barracos televisivos e investe em uma trama sobre a guerra existente entre os combustíveis fósseis e os alternativos. Em meio a esses ganchos estranhos ao universo infantil, ironicamente, a trama adota uma postura debochada, forçando a barra com piadas que nem sempre funcionam, principalmente quando são calcadas em referências de planos de espionagem ou calcadas no universo automobilístico, sempre tendo o sotaque caipira de Mate para fazer as vezes do cara sem noção, mas metido a esperto, para quebrar o clima sisudo. Para compensar o enredo estranho, que também volta a tocar de forma tímida no assunto do progresso suplantando o antigo, o humor volta a se fazer presente na transposição de situações do cotidiano dos humanos para o universo automobilístico e, obviamente, no design dos veículos estilizados reproduzindo expressões faciais que ajudam a definir os perfis dos personagens.

quinta-feira, 17 de março de 2016

CARROS

NOTA 8,5

Pixar consegue humanizar os
carros em trama que escamoteia
crítica ao progresso acelerado, em
 sua essência implacável e egoísta
No mundo do cinema tudo é possível e quando se trata do campo das animações o céu é o limite, tanto que qualquer objeto pode ganhar vida e ser dotado de personalidade e sentimentos tal qual um ser humano comum. É justamente a humanização dos automóveis o grande trunfo de Carros, longa animado que literalmente dá vida a uma das maiores paixões do homem. A Pixar já cultivava a tradição de ter suas produções protagonizadas por objetos, animais e até monstrinhos, sendo Os Incríveis até a única animação do estúdio em que os humanos não ficavam em segundo plano, porém, no longa em destaque a empresa radicalizou e venceu o desafio de criar um universo exclusivamente habitado por seres de quatro rodas, automóveis das mais diversas marcas e estilos. Mais de 40 mil modelos de possantes foram testados até encontrar os ideais para compor o elenco do filme, exemplares que pudessem remeter a veículos reais e famosos, mais um chamariz para o público se divertir procurando referências, além das tradicionais citações a filmes de sucesso que podem ser compreendidas melhor pelos adultos, mas nada que atrapalhe a diversão da garotada. A trama gira em torno de Relâmpago McQueen, um veículo de corridas muito ambicioso e que deseja se tornar o primeiro estreante a vencer a Copa Pistão, mas a fama lhe sobe no motor e ele acredita que pode fazer tudo sozinho sem a necessidade de uma equipe de apoio. A arrogância acaba lhe custando o seu sonho. Na última disputa da temporada os seus dois pneus traseiros estouram e assim os principais adversários, o ídolo conhecido como O Rei e o traiçoeiro Chick Hicks, cruzam a linha de chegada juntos, o que leva a uma corrida extra na Califórnia para que aconteça o desempate. McQueen deseja ir até o local ainda com esperanças de que o jogo ficasse favorável para o seu lado e pede ajuda ao caminhão Mack. Ele deseja chegar antes dos outros competidores e insiste para que a viagem não tenha interrupções. O problema é que Mack acaba dormindo durante o trajeto, o que faz com que a caçamba se abra e seu amigo que também estava dormindo seja largado em plena estrada. Ao acordar, o corredor se vê sozinho e chega à pequena Radiator Springs, uma cidade do interior pouco movimentada onde ninguém nunca ouviu falar nada de sua fama ou no tal campeonato do qual ele participa. Por ter cometido uma grave infração de trânsito e destruído a principal rua da local, o esnobe carro é obrigado a asfaltá-la novamente. Sem poder ir embora, aos poucos ele faz amizade com os habitantes, como o divertido Mate e a inteligente Sally, e aprende importantes lições de vida, como o fato de que ninguém pode viver sem companhia e o dever de respeitar os mais velhos.

quarta-feira, 16 de março de 2016

MEIA-NOITE EM PARIS

NOTA 9,0

Woody Allen faz uma bela
homenagem a cultura e a Paris
celebrando o passado, mas sem
menosprezar o presente
O cultuado ator, roteirista e cineasta Woody Allen parece uma máquina de fazer filmes e praticamente lança um por ano, embora a maioria de seus títulos acabe chamando a atenção apenas de seus fiéis fãs. Todavia, com uma extensa filmografia, é curioso, mas parece que conforme suas produções envelhecem suas visibilidades tendem a aumentar, um efeito contrário as regras do próprio mercado cinematográfico que cada vez mais procura enterrar o mais rápido possível os filmes “velhinhos”, mesmo os pertencentes a um passado recente. Aliás, a exaltação da nostalgia quanto ao cenário cultural e seus bens e representantes é o que serve de alicerce para um marco na carreira do diretor. Meia-Noite em Paris surpreendeu com a polpuda massa de espectadores que conseguiu arrebatar e ainda atinge. O projeto já vinha sendo comentado meses antes de seu lançamento, o que é comum acontecer em torno de novos trabalhos de Allen que tem como uma de suas marcas registradas reunir sempre um excelente elenco para interpretar as histórias que o próprio escreve e que geralmente circundam assuntos semelhantes, como no caso em que uma crise existencial e o medo do fracasso rondam a vida protagonista. O enredo nos apresenta a Gil Pender, interpretado por um surpreendente Owen Wilson fazendo às vezes de alterego do cineasta. O rapaz admira os grandes escritores e sempre sonhou em ser reconhecido de forma semelhante, mas mesmo trabalhando como roteirista de cinema em Hollywood e sendo bem remunerado ele ainda se sente frustrado e longe de seus reais objetivos visto que é muito crítico com seus próprios escritos. Prestes a viajar para Paris com sua noiva, Inez (Rachel McAdams), e seus futuros sogros, John (Kurt Fuller) e Helen (Mimi Kennedy), ele nem imagina que o passeio será renovador. O pai da garota irá à famosa Cidade Luz para fechar um grande negócio, mas durante toda a viagem não se preocupa nem um pouco em esconder que não gosta do genro, contudo, problemas familiares à parte, estar desfrutando de uns dias em uma cidade também conhecida como um berço cultural e fonte de inspiração para muitos artistas acaba fazendo com que Gil volte a se questionar sobre os rumos que deu a sua vida, voltando a sonhar em um dia se tornar um escritor renomado. Visto por essa breve sinopse, o longa pode parecer um tanto simplório e com uma dramaticidade de baixo impacto, mas o segredo desta produção está justamente no desenvolvimento do argumento que guarda algumas interessantes surpresas, alguns toques especiais que certamente são mais facilmente identificáveis para os espectadores apreciadores da arte e cultura em suas diversas manifestações, porém, tudo apresentado de forma com que o público leigo também possa desfrutar da experiência.

terça-feira, 15 de março de 2016

NÃO SEI COMO ELA CONSEGUE

NOTA 4,0

Premissa carregada de bons
argumentos sobre a vida da
mulher moderna é desperdiçada
em um desfile de cenas vazias
O título nacional não poderia ser melhor para mais uma trabalho água-com-açúcar estrelado por Sarah Jessica Parker, afinal cai como uma luva para traduzir a trajetória profissional da atriz. Sem ser reconhecida genuinamente por seus dotes de intérprete, é incrível como ela consegue manter seu nome em evidência, mas talvez o fato de sempre assumir o mesmo perfil de personagem a ajude, pois não precisa fazer o mínimo de pesquisa para embrenhar no universo das mulheres que interpreta e seus fãs já sabem o que esperar de seus lançamentos. Por outro lado, fora Sex and the City – O Filme e sua continuação, seus projetos costumam fracassar nas bilheterias ou serem lançados de forma discreta diretamente em DVD. Em Não Sei Como Ela Consegue ao menos ela tenta dar um passo a frente na carreira procurando dialogar com o público feminino de faixa etária próxima a sua traduzindo em imagens a piada da mulher mil e uma utilidades. Claramente adepta a esmiuçar os pormenores do mundo feminino em seus trabalhos, a roteirista Aline Brosh McKenna, de O Diabo Veste Prada e Vestida Para Casar, baseou-se neste caso no best-seller da escocesa Allison Pearson para narrar o cotidiano atribulado de Kate Reddy, o modelo da mulher moderna que tem que fazer o que pode para dividir o seu tempo entre as tarefas profissionais e os cuidados com a família, além é claro de procurar manter ao menos alguns minutinhos do dia para cuidar de si mesma. Todavia, mesmo tentando se desdobrar o máximo possível para cumprir com todas as suas obrigações, ela ainda sente que não se dedica o suficiente ao marido Richard (Greg Kinnear) e para os filhos Emily (Emma Rayne Lilly) e Ben (papel em que se revezam os gêmeos Julius e Theodore Goldberg). Contudo, seu companheiro leva a situação numa boa e também ajuda para manter a ordem em casa para que a mulher possa ir trabalhar esbanjando sorrisos e montada no salto alto provando que é uma privilegiada por ser realizada tanto na vida pessoal quanto na profissional. Contudo, a imagem segura que ela exibe esconde sua fragilidade, pois ela ainda sente no dia-a-dia o preconceito, seja dos homens em seu trabalho atrelado ao ramo financeiro ou até mesmo de outras mulheres que abdicaram de suas carreiras para se dedicarem integralmente ao papel de dona-de-casa ou assumirem a identidade da mãe e/ou esposa exemplar. Sim, o longa tenta restabelecer os valores morais quanto a estruturação das famílias, mas as mensagens acabam chegando de forma deturpada aos espectadores dependendo do ponto de vista.  

segunda-feira, 14 de março de 2016

APRENDENDO A MENTIR

NOTA 7,0

Comédia romântica alemã visa
fisgar público jovem, mas não
abandona a tradição de inserir
a trama em contexto histórico
Quando pensamos nos primórdios da História do cinema é comum nos lembrarmos da ingenuidade e da genialidade dos filmes mudos o que nos remete imediatamente ao cinema americano, mas muitos outros países tiveram contribuições significativas na evolução cinematográfica compreendida entre o final do século 19 até meados da década de 1930, quando com o advento do som e das cores aconteceu uma seleção natural de quem seguiria em frente e quem infelizmente acabaria suplantado pelas novas tecnologias. O tão comentado expressionismo alemão é uma das correntes mais fortes deste período inicial da sétima arte e até hoje faz escola inspirando cineastas contemporâneos, todavia, o cinema alemão durante muitos anos viveu no ostracismo, com raros lampejos de obras relevantes, mas a partir de meados de 1998 demonstrou intenções de querer voltar a disputar mercado, ainda que de forma tímida. Esqueça aquela visão quadrada de que cinema europeu necessariamente tem que ser representado por longas épicos, com figurinos e cenários luxuosos, intérpretes com rostos perfeitos e paisagens de encher os olhos. A nova (bem nem tão recente assim) safra de filmes oriundos da Alemanha tem o objetivo de cativar plateias mais jovens, busca aliar entretenimento, cultura e algum retorno comercial, coloca em cena pessoas com feições mais populares e tenta dialogar com o cotidiano e a contemporaneidade. Timidamente Corra, Lola, Corra deu o pontapé inicial nessa estratégia e talvez seu ápice tenha sido atingido com a boa repercussão de Adeus, Lênin!, mas em geral a filmografia recente alemã ainda fica restrita a mostras e festivais o que torna um achado e tanto quando nos deparamos com uma obra do tipo sendo exibida nos cinemas ou sendo lançada em DVD. Pena que piscou perdeu. Aprendendo a Mentir está longe de ser um grande filme germânico, mas é um produto que mostra que fora do circuito Hollywood pode sim existir cinema comercial, contudo, é quase uma raridade encontrá-lo hoje após anos de um lançamento praticamente invisível e tardio. Adaptado do romance “Liegen Lernen”, de Frank Goosen, a trama gira em torno de um rapaz que vê sua vida amorosa se tornar um caos graças as lembranças mal resolvidas de sua primeira paixão. Helmut (Fabian Busch) é um jovem tímido e não muito descolado, mas mesmo assim ele consegue chamar a atenção de Britta (Susanne Bormann), a garota mais popular de seu colégio. Eles começam a ficar cada vez mais próximos até que começam a namorar escondido, uma exigência dela, porém, a felicidade do casal é interrompida justamente na noite de Natal após a primeira relação deles quando a moça o avisa que decidiu deixar Berlim para ir aos EUA estudar e morar com o pai por um ano.

domingo, 13 de março de 2016

PROCURANDO AMANDA

Nota 3,0 Matthew Broderick faz o que pode salvar comédia com protagonista nada cativante

O que o amor não motiva as pessoas a fazerem pelo bem estar de outras? É esse simples argumento que sustenta a comédia pouco conhecida Procurando Amanda, embora seja estrelada por Matthew Broderick que, desculpe o trocadilho, continua curtindo a vida adoidado nesta fita. Ele interpreta Taylor Peters, um escritor que está passando por uma má fase profissional, mas escrever programas humorísticos medíocres foi a única maneira que encontrou para sobreviver após um longo período viciado em álcool, drogas e jogatinas. Lorraine (Maura Tierney), sua esposa, nunca o deixou, porém, quando passa a desconfiar que o marido esteja gastando o pouco que tem com apostas em corridas de cavalos ela chega ao limite de sua paciência. Com o casamento em perigo, Peters encontra uma maneira de se redimir com a mulher. Ao descobrir que a sobrinha da companheira, Amanda (Brittany Snow), uma inconsequente adolescente, está trabalhando como prostituta em Las Vegas e se afundando no mundo dos vícios  (a quem será que puxou?), o escritor decide ir encontrá-la e a convencer a abandonar esta vida desregrada. Todavia, a cidade onde tudo parece possível e todas as noites são repletas de agitação é uma tremenda tentação para Peters que cai em contradição e piriga voltar à vida boêmia.  O roteirista Peter Tolan, que entre alguns deslizes escreveu os bons Máfia no Divã, A Família da Noiva e E Se Fosse Verdade, aqui além de roteirizar também fez sua estreia atrás das câmeras. Ele não inova na função de diretor e traça uma narrativa tradicional ao gênero comédia romântica, todavia acumular duas atividades o levou a fazer um filme extremamente mediano e que nem ao menos tem pinta de virar figurinha fácil das sessões da tarde na TV, principalmente por causa do teor de alguns diálogos que abusam de citações de duplo sentido e abordam comportamentos reprováveis.

quinta-feira, 10 de março de 2016

SHAME

NOTA 8,5

O vício do prazer do sexo é o fio
condutor de drama ousado que
desnuda a libertinagem para
mostrar seu lado doentio e triste
Esse filme é sobre como a liberdade de alguém pode aprisioná-lo. Essas palavras ditas pelo diretor Steve McQueen em algumas das várias entrevistas na época do lançamento de Shame é a que melhor define este seu trabalho. Boa parte das pessoas que desejam viver sozinhas almeja apenas ter a liberdade de ir e vir para onde quiser, estabelecer os horários de suas refeições, decidir se arruma ou não a cama antes de ir para o trabalho entre outras atividades cotidianas inofensivas que não raramente tornam-se pontos conflitantes na vida em família. Porém, verifica-se que a liberdade sexual já é um ponto considerável na decisão de sair da casa dos pais e assumir responsabilidades. Conhecer alguém na rua, levá-la para sua casa, desfrutar de momentos prazerosos e depois que ela se despedir poder fechar a porta e esquecer que a conheceu ainda é visto por muitos como um comportamento marginal, todavia, verifica-se um número cada vez maior de pessoas adeptas do sexo casual e que não fazem questão de esconder suas preferências, um assunto inflamável que coloca em xeque a situação das sociedades, o poder de influência dos meios de comunicação, o tipo de criação de cada indivíduo e sobra até mesmo para o campo da saúde afinal o que era para ser uma diversão pode se tornar uma dependência. O ator Michael Fassbender (injustamente esquecido pelo Oscar por este trabalho) vive Brandon Sullivan, um rapaz bem apessoado e com um bom nível de vida que sofre de um distúrbio psicológico que gera compulsão pelo ato sexual. Nos minutos iniciais, ele está em um vagão de metrô com olhar fixo em uma bela mulher que lhe retribui com um sorriso, mas se espanta ao perceber que o rapaz não esboça nenhuma outra reação. A sedução não foi estabelecida simplesmente porque este homem não flerta em busca de sentimentos, ele só quer o prazer sexual. E olha que Brandon não precisa necessariamente estar com uma mulher (aparentemente homens não fazem parte de seus fetiches) para sentir prazer, podendo se satisfazer com pornografia na internet ou acariciando a si mesmo no banho ou até mesmo em banheiros públicos. Todavia ele não chega a ser um tarado ou sofrer socialmente com seu vício, sabendo se controlar e vivendo bem com sua solidão a maior parte do tempo. Será mesmo? Antes da cena citada do metrô, a introdução mostra o personagem após uma sessão de sexo. Mesmo com a câmera revelando rapidamente sua nudez explícita, o personagem espanta com seu aspecto cansado e melancólico, quase como um drogado. E é essa a imagem que Fassbender carrega por todo o longa. Aos interessados nas cenas de sexo e nudez serve o aviso de que o erotismo ou a perversão são nulos nesta obra. A impressão que fica é que o ato sexual para o protagonista é um martírio com o qual ele tenta lidar diariamente.

quarta-feira, 9 de março de 2016

MARGOT E O CASAMENTO

NOTA 7,5

Longa disseca a intimidade de
família problemática abordando
temas cotidianos, mas encontra
dificuldades de atingir o público
Nomes famosos em uma produção adornada por um semblante de obra alternativa ou com ares de filme para intelectuais não ajudam nas bilheterias, isso é fato, e em sua maioria ainda precisam lidar com as críticas implacáveis e negativas daquelas pessoas “fora do meio”, ou seja, o público que se sente atraído pelos atores e não pelas histórias em si. Geralmente quem acaba pagando o pato são os próprios atores que se tornam vítimas de achincalhes e repulsas, afinal para todos os efeitos são eles que colocam literalmente a cara para bater na publicidade destes trabalhos. Talvez justamente para não impactar de forma negativa os fãs de Nicole Kidman e Jack Black é que o drama Margot e o Casamento foi lançado discreta e diretamente em DVD no Brasil, ainda mais levando em consideração a ínfima bilheteria arrecadada nos EUA. Bem, podemos considerar tal atitude por parte da distribuidora responsável como um ato de respeito ao público em geral para não fazê-lo comprar gato por lebre. Os artistas mencionados somados ao romântico título podem vender erroneamente a ideia que este projeto é uma comédia açucarada, mas basta dizer que este é um drama familiar escrito e dirigido por Noah Baumbach, nome que ficou famoso no circuito alternativo com o elogiado A Lula e a Baleia, para percebermos que de comercial a obra não tem nada, pelo contrário. Parece que produções do tipo acabam por se beneficiar de ostentar um pequeno público, o que inerentemente lhe confere o status de filme-cabeça algo que, curiosamente, pode tanto afastar quanto atrair a atenção de populares. No caso do título em questão, que preserva certas semelhanças ao citado trabalho de estreia do conceituado roteirista atrás das câmeras, a rotulagem, ao que tudo indica, trouxe a indiferença, embora existam na internet comentários relativamente positivos à obra que realmente não é ruim, mas peca ao não dar brecha para que o espectador se sinta fazendo parte da trama, ou melhor, tem uma trama aparentemente sem atrativos para grande parte do público que, infelizmente, está acostumado a assistir filmes de modo passivo, as imagens devem falar por si só, assim o excesso de diálogos acaba dispersando atenção facilmente. Logo nas primeiras cenas temos a escritora Margot (Kidman) viajando de trem com o filho, o pré-adolescente Claude (Zane Pais). Eles estão a caminho do encontro com o passado desta mulher, hoje uma pessoa que demonstra ter opiniões firmes, um padrão de vida confortável e dedicada ao filho, este que no fundo sente a falta de uma figura paterna. De volta a cidade onde foi criada, ela reencontrará sua irmã Pauline (Jennifer Jason Leigh) após muitos anos devido a desavenças e diferenças de temperamentos e personalidades, embora quando jovens o relacionamento entre elas tenha sido de cumplicidade. Mesmo com o ruído estabelecido e persistente na comunicação das irmãs, Pauline convida Margot para seu casamento, talvez embriagada pelo espírito familiar inerente à ocasião. A outra, por sua vez, aceita o convite provavelmente por esconder que sente falta de laços afetivos concretos em sua vida, mas sua língua afiada pode piorar o que já estava ruim. O casamento é o motivo de um reencontro, mas de certa forma também a razão para novas desavenças entre as irmãs que hoje não são mais as mesmas de outrora, mas ainda carregam problemas que precisam ser superados.

terça-feira, 8 de março de 2016

A CONDESSA BRANCA

NOTA 8,0

A Xangai da década de 1930,
efervescente e conflituosa, é o
cenário de uma história de amor
que une dois desiludidos
Estamos acostumados a atribuir somente ao diretor geral os créditos dos filmes. Raramente os nomes dos roteiristas são ostentados, salvo quando também comandam as ações nos sets de filmagens. Produtores até que nos últimos anos têm sido lembrados, principalmente para ajudar na venda de filmes lançados diretamente em DVD fazendo referências a sucessos do cinema destes profissionais, o que geralmente engana o espectador que acaba por fazer associações positivas entre as citações e os produtos que nem sempre podem corresponder as expectativas. Nos últimos anos, entre os produtores de cinema destacaram-se os nomes de Bob e Harvey Weinstein, dupla que em pouco mais de uma década conseguiu transformar o cinema independente e fora de Hollywood no biscoito fino das principais premiações, tanto que antes da produtora Miramax ser adquirida pela gigante Disney eles conseguiram somar mais de  uma centena de indicações e dezenas de estatuetas do Oscar. Curiosamente, pouco tempo antes da dupla sacudir o cenário cinematográfico um outro produtor era sinônimo de cinema de qualidade e digno de prêmios, mas seu nome sempre estava atrelado ao de um diretor específico. Grandes trabalhos que marcaram os anos 80 e o início dos anos 90, como Uma Janela Para o Amor e Retorno a Howards End, levavam nos créditos a grife Merchant-Ivory, ou seja, a assinatura do indiano Ismail Merchant como produtor e a do californiano James Ivory como diretor. A dobradinha foi repetida diversas vezes e sempre que um novo produto com a marca dava sinais de vida já começavam as especulações sobre possíveis prêmios, afinal suas obras ficaram conhecidas por sem dotadas de bons enredos, elencos competentes e plasticidades impecáveis. O problema é que após o ano de 1993, quando emplacaram Vestígios do Dia, a grife começou a dar sinais de desgaste e suas produções já não chamavam tanto a atenção como antes, coincidindo com a entrada maciça dos Weinsteins no mercado. A Condessa Branca é a derradeira obra de Ivory em parceria com Merchant, este que veio a falecer pouco tempo depois da conclusão das filmagens. Lançado diretamente em DVD no Brasil e sem repercussão ou publicidade, este competente e envolvente drama de época não merece tal desprezo, mesmo com a duração acima da média e o estilo convencional e acadêmico já tradicional da dupla. Não por acaso a obra nos remete a clássicos como Casablanca.

segunda-feira, 7 de março de 2016

SEXY BEAST

NOTA 4,0

Ben Kingsley é a alma de
produção que brinca com os
esterótipos dos gângsteres,
mas uma obra esquecível
Ben Kingsley é um dos atores mais renomados do cinema, carrega um título de nobreza, tornou-se famoso mundialmente após o Oscar pelo papel-título de Gandhi e é conhecido por escolher com cautela os seus projetos (há controvérsias), mas será que apenas sua presença pode salvar um filme ou ao menos torná-lo razoavelmente tolerável? A resposta é sim, basta tomarmos como exemplo a mescla de suspense e ação Sexy Beast, longa-metragem de estreia do cineasta britânico Jonathan Glazer que futuramente dirigiria Nicole Kidman no drama Reencarnação. Com um tempo de arte enxuto e usando a ironia como muleta, o diretor preparou uma história de gângster sem se preocupar em renovar o subgênero, apenas apostando na simplicidade. O roteiro de Louis Mellis e David Scinto começa de uma forma inusitada, que pode tanto aguçar a curiosidade quanto também fazer o espectador desistir de seguir adiante logo pelos cinco primeiros minutos de projeção. Durante os créditos iniciais conhecemos o ex-criminoso Gal (Ray Winstone), um homem que está longe de ter um belo corpo, mas mesmo assim ele está usando uma pequena sunga amarela, literalmente tostando sob o sol escaldante e em seus pensamentos narrados em off ele próprio se cobre de elogios e faz algumas piadas toscas como dizer que seu barrigão está tão quente que poderia fritar um ovo em cima dela. Parece brincadeira, mas a parada começa assim mesmo. Nessa introdução ainda fica no ar a impressão de que ele explora o trabalho de um menor de idade que realiza as tarefas domésticas, conhecemos sua esposa Deedee (Amanda Redman) no melhor estilo perua, imagem posteriormente revertida, e uma imensa pedra cai de um barranco e faz um super buraco na piscina do bon-vivant. Sabendo de antemão que é um filme protagonizado por um antigo fora-da-lei podemos deduzir que tal situação estapafúrdia seria a vingança de algum desafeto dele. Errado. O lance do rochedo não agrega nada a trama ou apenas serve literalmente para tapar um buraco lá no final. Bem, se você não achar ridículo tal início pode até ser que ache alguma graça no restante do enredo. Após anos dedicados aos crimes, Gal juntou uma boa quantia de dinheiro e trocou a fria Inglaterra pela ensolarada Espanha, onde agora curte a vida numa boa e não pensa mais voltar a sua antiga “profissão”. Contudo, uma vez bandido sempre bandido.

domingo, 6 de março de 2016

MAX E COMPANHIA

Nota 6,0 Animação tem trama madura e com elementos diferentes, mas peca pelo ritmo irregular

Já faz tempo que desenho animado não é mais coisa só para crianças, mas é curioso ver como algumas técnicas antigas de animação hoje em dia só sobrevivem mirando no público adulto. Max e Companhia é um bom exemplo disso. Seus personagens do bem são simpáticos e fofinhos e seus vilões medonhos, mas não se engane pelo aspecto simplório desta produção feita em stop-motion (animação com massinhas). Embora o público infantil, tendo boa vontade, possa se encantar com seu visual, seu conteúdo na realidade é repleto de ironias e críticas e deve ser mais bem compreendido por platéias com mais idade e esclarecidas. Produzido entre Estados Unidos, Bélgica, Suíça e a França, a trama gira em torno de Max, um adolescente que está em busca de seu pai que jamais conheceu, o outrora famoso músico Johnny Bigoude. A caminho da cidade de Saint-Hilare, o garoto pega carona com Sam, um artista decadente que parece levar uma vida sem preocupações com o futuro, importando apenas o presente. Quando chega ao seu destino, Max é acolhido pela Madame Doudou, uma simpática professora aposentada que lhe consegue um emprego na fábrica de um de seus ex-alunos, o bon-vivant Rodolfo. Esse cara adora aproveitar tudo o que a vida tem de melhor a lhe oferecer e não soube cuidar do patrimônio que recebeu de herança de um finado tio e agora a fábrica de mata-moscas Bzzz&Co está correndo o risco de encerrar suas atividades. Os acionistas então decidem nomear um ambicioso e intratável novo administrador, o excêntrico Martin, um cientista que acredita que as poucas moscas que restaram na região aprenderam a se esquivar dos efeitos nocivos dos inseticidas da empresa e assim decide fazer experimentos para criar novas subespécies resistentes ao veneno e assim impulsionar novamente as vendas dos produtos. O problema é que sua ganância o cega e ele não pensa nos efeitos negativos de tal ação.

sábado, 5 de março de 2016

LABIRINTO DO TEMPO

Nota 3,0 A exaltação de ter o poder de brincar com o tempo pode levar à caminhos perigosos

Em tempos em que as sociedades estão criando indivíduos cada vez mais individualistas, ter educação parece coisa do passado e todos fazem o que bem entendem e falam o que querem sem pensar nas consequências. Não é difícil nos pegarmos em alguns momentos pensando como seria bom voltar no tempo e consertar os erros. O problema seria ter este dom e não saber usá-lo. É esse o foco de Labirinto do Tempo, um modesto suspense dirigido por Carl Bessai que tem uma premissa interessante e até consegue prender a atenção a maior parte do tempo, mas quando chegamos à conclusão, para variar, o caldo entorna e nem o próprio roteirista Arne Olsen sabe como concluir sua história que acaba se tornando um círculo vicioso sem fim. O longa começa com a forte e reflexiva frase "não espere pelo último julgamento, ele acontece todos os dias" e a trama gira em torno de três jovens que se conhecem e fazem amizade em uma clínica de reabilitação para ex-drogados. Eles têm direito de vez em quando a saírem do confinamento por um dia para visitarem suas famílias e tentarem restabelecer os laços perdidos, contudo, a reinserção na sociedade não é nada fácil.  Kyle (Dustin Milligan) tenta se redimir com sua irmã enquanto Sonia (Amanda Crew) deseja visitar seu pai doente. Já Weeks (Richard de Klerk) vai encontrar seu violento pai na prisão que aparentemente está recluso por algum motivo que envolve seu filho. Esse dia não é perfeito para nenhum deles, mas todos têm a chance de transformá-lo. Durante essa mesma noite eles acabam tomando um choque e a partir de então o tempo literalmente não passa. Eles vivem esse mesmo dia repetidamente, mas a cada novo despertar podem fazer algo diferente, o que quiserem, e no dia seguinte tudo voltará como estava. No começo encaram isso como diversão, mas quando Weeks surta e abusa dessa liberdade a brincadeira com o túnel do tempo ganha contornos perturbadores.

sexta-feira, 4 de março de 2016

PROFESSORA SEM CLASSE

NOTA 3,0

Cameron Diaz interpreta
professora de caráter
duvidoso em comédia com
piadas previsíveis e tolas
Todos os dias é muito comum verificarmos que os alunos não respeitam mais os professores, estes que cada vez mais se sentem diminuídos e pressionados. Não é apenas a falta de educação verbal das crianças e adolescentes com os educadores que nos impressionam, mas a situação chegou a tal ponto que as agressões tornaram-se físicas também. Ei, melhor parar por aqui afinal de contas este texto não é sobre um filme no qual um professor vai enfrentar todos os obstáculos para tentar recuperar uma turma problemática. Pelo contrário, em Professora sem Classe é a própria educadora que é um mau exemplo. Ou ela seria o sonho de qualquer aluno? Cameron Diaz vive a protagonista desta comédia de humor negro que coloca no centro das atenções uma mulher que não é um modelo de boa profissional e também deixa muito a desejar como pessoa. Ela não é surreal apenas por sua beleza e corpo esguio, mas também por sua incrível e duvidosa habilidade em lidar com os alunos. Este é o perfil Elizabeth Halsey, uma balzaquiana que passou a vida toda correndo atrás de parceiros milionários para conseguir vida fácil e com todas as regalias possíveis. Apesar disso, profissão ela tem. É professora, mas simplesmente odeia o que faz. Assim, toda vez que encontra um parceiro do jeito que sonhou abandona seu emprego sem pensar duas vezes, mas quando seu último golpe é descoberto e o relacionamento desfeito ela precisa voltar a lecionar em um colégio tradicionalista. Desbocada, trambiqueira e preguiçosa, ela acaba empurrando com a barriga o trabalho. Seu grande objetivo é aguentar a rotina monótona até conseguir o dinheiro necessário para fazer uma cirurgia de aumento de seios acreditando que assim o próximo pretendente não lhe escaparia. Para sua sorte a vítima do próximo golpe vem do lugar que ela menos esperava: o próprio colégio. O novo professor de matemática, Scott Delacorte (Justin Timberlake), além de bonito e simpático é um rico herdeiro que por incrível que pareça gosta e faz questão de trabalhar. O homem perfeito para Elisabeth, mas o rapaz não parece ser facilmente seduzível e até uma concorrente entra na jogada, a professora Amy (Lucy Punch), que é apenas um pouco mais ajuizada que a rival, mas tão pentelha quanto.

quinta-feira, 3 de março de 2016

NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO

NOTA 8,0

Duelo de grandes atrizes só
colabora para que trama
forte, envolvente e incômoda
ganhe ainda mais potencialidade
Obsessão, desilusão, curiosidade, perversidade, passividade, desejo, amor e ódio. Notas Sobre um Escândalo tem um amplo leque de opções a serem trabalhadas e o melhor é que o diretor Richard Eyre, da cinebiografia Íris e do drama de época A Bela do Palco, consegue em cerca de 90 minutos alinhavar uma história extremamente interessante e envolvente unindo todos os temas citados e sem precisar usar clichês hollywoodianos tampouco corre-corre ou barulheira para deixar o espectador vidrado no drama com toques de suspense psicológico protagonizado por Cate Blanchett e Judi Dench, ambas indicadas para o Oscar e tantos outros prêmios por suas atuações neste longa. Sempre quando surgem notícias de que uma ou outra está para lançar uma nova produção já começam as especulações sobre possíveis prêmios e neste caso não foi diferente, porém, quem disser que o filme se resume a curiosidade de acompanhar o embate de duas grandes intérpretes é porque é insensível ou em um primeiro momento não conseguiu embarcar nas emoções do roteiro de Patrick Marber, famoso pela autoria da peça que deu origem a Closer – Perto Demais, coincidentemente outro projeto que não conta com momentos arrebatadores em termos visuais, mas que também guarda em seus diálogos e narrativa todos os seus tesouros tal qual a obra assinada por Eyre. A adaptação do romance “What Was She Thinking: Notes on a Scandal”, de Zoë Heller, é uma obra que de certa forma é de difícil digestão e protagonizada por duas mulheres que cada uma a seu modo vivem mergulhadas na solidão e entre sentimentos reprimidos. O encontro delas poderia ser positivo para ambas, contudo, se transforma em um caso que envolve maldade, distúrbios psicológicos e sofrimento. A ação começa em um decadente colégio britânico onde a veterana professora de História Barbara Covett (Judi) procura controlar os alunos com pulso firme, deixando transparecer em seu semblante inerte poucas características de sua personalidade, mas seu jeito enérgico é interpretado como a postura de alguém de muito boa índole pela novata professora de artes Sheba Hart (Cate) que cheia de ideias e acreditando na evolução dos estudantes parece deslocada no grupo dos educadores do local um tanto desiludido e sem ambições. Rapidamente as duas tornam-se amigas, fazendo jus ao ditado que os opostos se atraem, mas por trás do aparente desinteresse de Barbara escondem-se desejos reprimidos que agora poderiam ter a chance de serem exteriorizados, mas a obsessão de uma acaba se tornando a desgraça das duas.

quarta-feira, 2 de março de 2016

LUGARES COMUNS

NOTA 8,0

Drama argentino aborda a
velhice com respeito e ainda
fala sobre a economia do país
e a perda de valores humanos
Já faz algum tempo que países latinos que historicamente contam com um grande contingente de população idosa e tradicionalista tem investindo em produções que focam a relação destas pessoas com a contemporaneidade. Se no cinema americano os mais vividos geralmente são retratados de forma cômica beirando o caricatural ou são apresentados enfrentando graves problemas de saúde ou ainda como conformados diante da iminência da morte, outras culturas preferem retratá-los em seus filmes deixando os estereótipos de lado e apostando em retratos mais realistas e humanos, como é o caso da Argentina que possui vários exemplares de obras desse estilo. Lugares Comuns é um ótimo exemplo, um drama envolvente sobre um casal maduro que praticamente precisa recomeçar uma vida juntos e que tem como pano de fundo a crise econômica que tomou de assalto os argentinos em meados da década de 2000 (ápice da situação, mas certamente ainda um fantasma que em menor ou maior grau assola o país). Fernando Robles (Federico Luppi) trabalha há anos como professor de literatura em uma universidade em Buenos Aires, mas diante dos problemas financeiros do país ele acaba sendo forçado a se aposentar com a justificativa do limite de idade, o que para ele significa o início do fim de sua vida afinal ele não teria mais com que se ocupar boa parte do seu tempo. Ele tem direito a trabalhar por mais algum tempo, mas sabe que não pode sonhar com uma remuneração condizente com os serviços que prestou e isso o desanima. Na realidade pesou na decisão de sua dispensa o fato de que em suas aulas ele estimula seus alunos a sentirem a dor da lucidez, ou seja, questionarem informações mesmo que a verdade não seja algo positivo, teorias que batem de frente com os ideais do reitor da instituição. Paralelo a isso, Liliana (Mercedes Sampietro), sua esposa, é uma assistente social que também está desgostosa com os rumos de seu trabalho. Sem incentivos do governo, ela não tem como manter obras de caridade e se sente frustrada. Para fugir um pouco dos problemas, o casal resolve tirar alguns dias de descanso e viajar para Espanha para visitar o filho Pedro (Carlos Santamaría) que agora vive lá com a esposa Fabiana (Yael Barnatán) e o filho pequeno. A viagem aparentemente comum acaba virando um ponto-chave para a mudança de vida do professor.