segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

AS IDADES DO AMOR

NOTA 3,0

Comédia romântica italiana oferece
três histórias que pouco refletem
a essência do título nacional, além de
usar Robert De Niro como chamariz
Dizem que o amor não tem idade, mas é fato que ele jamais se manifesta da mesma forma em todas as faixas etárias. A juventude é marcada por tropeços, a meia-idade tem a obsessão de encontrar o equilíbrio entre a loucura e a razão de amar e a maturidade carrega toda uma bagagem emocional transformada em serenidade para iniciar ou dar continuidade a uma grande história de amor. Explorar essas fases seria basicamente o intuito da comédia romântica italiana As Idades do Amor e poderia render um bom filme, mas o diretor Giovanni Veronesi perdeu totalmente a mão nesta segunda sequência de Manual do Amor, lançado discretamente no Brasil em 2006. O original está longe de ser uma obra-prima, mas cumpre o que promete. É uma comédia leve, descompromissada e com uma narrativa estruturada em quatro segmentos que versam sobre o amor desde a inocência de um jovem casal até a melancolia da solidão de um homem maduro. Cada subtrama é trabalhada em um bloco independente e protagonizada por um elenco diferente e a mesma fórmula é repetida aqui, mas nem de longe alcançando o resultado agradável do filme-matriz. Apesar de ostentar no material publicitário o nome de Robert De Niro, é bom frisar que ele é apenas mais um no numeroso elenco e mesmo só aparecendo na terceira e última trama não podemos dizer que ele fecha o longa com chave de ouro. Já estamos tão desanimados a essa altura que pouco importa o que seu personagem tem a dizer, mas vamos ao enredo completo escrito pelo próprio cineasta em parceria com Ugo Chiti e Andrea Agnello. O advogado Roberto (Riccardo Scamarcio) é responsável pelo capítulo que aborda a juventude. Prestes a se casara com Sara (Valeria Solarino), ele é convocado para fazer uma viagem de negócios na inspiradora cidade de Toscana e acaba se apaixonando por Micol (Laura Chiatti), uma bela e sensual cantora que encanta a todos os homens da região. Eles vivem um rápido, porém, ardente caso de amor, mas quando descobre que a moça já é casada e interessada em permanecer assim para manter seus luxos, o rapaz fica com um dilema moral a resolver consigo mesmo.

sábado, 13 de janeiro de 2018

CICATRIZES DA GUERRA

Nota 5,5 Mais um drama sobre traumas da guerra do Vietnã,  mais um filme razoável e esquecível

Morrer em combate numa guerra ou sobrevivê-la e carregar o fardo das memórias tristes do período, o que é pior? Muitos filmes abordam a temática sobre como as imagens torturantes de conflitos influenciam negativa e decisivamente na vida daqueles que escapam da morte nos campos de batalha. Cicatrizes da Guerra é mais um drama a somar nesta lista e assim como tantos outros é apenas mais uma produção repleta de boas intenções, mas cujo resultado é no máximo regular. Com direção de Gabrielle Savage Dockterman, que também assina o roteiro em parceria com Ken Miller, o filme tem como protagonista Jake Neeley (Danny Glover) um veterano da Guerra do Vietnã que vive atormentado pelas lembranças de um passado nada honroso quando comandava uma equipe de soldados que eram obrigados a exterminar famílias inteiras, inclusive crianças inocentes pelo simples fato de serem vietnamitas. Abandonado pela esposa que provavelmente não aguentou seus dilemas morais, o ex-tenente vive recluso em uma casa no meio do mato tendo como companhia apenas os animais que cria. Avesso ao contato com pessoas, somente com Kate (Linda Hamilton), a dona de um mercadinho na cidade mais próxima, ele parece gostar de conversar, até porque aparentemente tem uma quedinha por ela, mas seu jeito turrão de ser impede que o relacionamento avance. Contudo, ele será obrigado a olhar a vida com um olhar mais brando quando recebe a inesperada visita de Henry Hocknell (David Strathairn), um dos soldados que ele comandou no Vietnã e que apesar dos horrores que vivenciou acabou voltando tempos depois ao país para reatar os laços com uma paixão dos tempos da juventude. Da união nasceu a esperta e carismática Ling Ing ou simplesmente Lenny (Zoë Welzenbaum) que já é órfã de mãe, mas corre o risco de em pouco tempo também perder seu pai por conta de um câncer. Na manhã seguinte a visita, simplesmente o ex-soldado some sem deixar vestígios e sua filha fica aos cuidados de Neeley que com razão se irrita com a responsabilidade que caiu em suas mãos de uma hora para a outra.

domingo, 7 de janeiro de 2018

O PEQUENO VAMPIRO

Nota 7,0 Longa conquista crianças e adultos com trama divertida, ligeira e nostálgica

Grandes ideias podem surgir inesperadamente e geralmente impulsionadas por algum tipo de necessidade. Foi isso que aconteceu com Angela Sommer-Bodenburg que de uma simples professora passou a ser uma escritora de sucesso. Ao perceber a carência do setor literário europeu para atender as expectativas do público infanto-juvenil local (certamente bem antes de Harry Potter, as aventuras nas terras de Nárnia e companhia bela caírem no gosto universal), ela mesma decidiu escrever histórias que incentivassem seus alunos ao hábito da leitura. O filme O Pequeno Vampiro é inspirado em seu livro homônimo, um sucesso editorial que gerou pelo menos mais quinze outras obras literárias narrando as aventuras do protagonista de dentinhos afiados e traduzida para mais de vinte idiomas. Um sucesso desse porte não seria ignorado pelos ianques e logo profissionais de Hollywood se aliaram a produtores alemães e holandeses para adaptar a obra para as telas. Com roteiro de Larry Wilson e Karey Kirkpatrick, este também responsável pelo argumento de A Fuga das Galinhas lançado pouco tempo antes, o longa nos apresenta ao pequeno Tony (Jonathan Lipnicki), um garoto que todas as noites tem estranhos sonhos com um clã de vampiros, nada mais natural já que ele vive em um gigantesco e antigo casarão na Escócia onde circulam lendas de que no passado a região era berço das criaturas sanguinárias. Recém-chegado da Califórnia, ele está tendo dificuldades para se adaptar à nova vida e constantemente é humilhado na escola, mas ganhará um improvável amigo. Brincando em seu quarto, certa noite ele chama a atenção do jovem vampiro Rudolph (Rollo Weeks) que o confunde com um de sua espécie. Desfeito o mal entendido, eles acabam fazendo amizade e não demora muito para Tony conhecer a família do amigo e o drama que vivem. Contrariando expectativas, as temidas criaturas da noite revelam-se não ser cruéis como nas histórias de terror. Frederick (Richard E. Grant) e Freda (Alice Krige), os pais de Rudolph, são evoluídos e querem deixar de lado a imagem ruim que os vampiros têm. A dieta a base de sangue humano é trocada por mordidas nos pescoços de bovinos, mas isso ainda é muito pouco para eles viverem com liberdade entre os humanos.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

OS BOXTROLLS

NOTA 7,0

Visualmente belo e criativo, com
ótima mistura de técnicas de animação
contemporâneas e antigas, longa peca
por roteiro maçante e adulto demais
Quem disse que animação infantil precisa ser super colorida? Bem, se é a gurizada que a produtora Laika Entertainment pretende realmente conquistar é melhor ela rever os seus conceitos. Estúdio responsável por Coraline e o Mundo Secreto e Paranorman, apesar do currículo enxuto, já tem suas características bem definidas. Opção por histórias mais sombrias, cores escuras, personagens bizarros e animação em stop motion já são marcas registradas da empresa que as reforça no longa Os Boxtrolls, mais uma tentativa dela se firmar entre os gigantes do segmento em Hollywood. Com o estilo peculiar de suas obras o estúdio tem conseguido chamar a atenção da crítica visto que seus três primeiros lançamentos, incluindo o filme em questão, foram todos indicados ao Oscar da categoria, mas ainda tem dificuldades para encontrar seu público patinando nas bilheterias e agradando mais aos adultos que as crianças. Há justificativas. As temáticas abordadas fogem um pouco dos assuntos comuns ao universo infantil, ou melhor, eles até fazem parte, mas preferimos preservar os menores de certas discussões infelizmente necessárias. A falta de colorido e ritmo lento também não ajudam a atrair a atenção de quem se acostumou às altas doses de adrenalina e explosão de cores das criações da Pixar ou Dreamworks. Os roteiristas Irena Brignull e Adam Pava transpõe para a tela parte do universo imaginado pelo escritor Alan Snow para as mais de 500 páginas que compõe sua obra intitulada "A Gente é Montro!" que começa relatando o sumiço do bebê Trubshaw, fato que muda para sempre os rumos da cidade de Pontequeijo. Nos esgotos vivem os tais boxtrolls, simpáticos monstrinhos que vivem de revirar o lixo dos humanos somente a noite e se vestem com caixotes de mercados, assim adotando como seus nomes próprios as palavras escritas em suas respectivas embalagens. Assim não é para se estranhar que a tal criança desaparecida receba a alcunha de Ovo dada por Peixe, o boxtroll que o encontra em meio a sucata e o adota como filho. O garoto cresceu orgulhoso de ser um membro da espécie e nunca questionou ser diferente fisicamente dos demais.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO (1999)

NOTA 7,5

Visualmente belo e com elenco
afiado, adaptação de obra clássica
derrapa ao ser fiel demais ao texto
original, mantendo o tom rebuscado
William Shakespeare escreveu suas obras para o teatro visando um entretenimento de aura única. Cada vez que alguém assistisse uma peça sua viveria uma emoção diferente dependendo de seu estado de espírito, quem estivesse na plateia e até mesmo o envolvimento do elenco com o trabalho no dia. Já o cinema tratou de massificar suas obras, ou seja, levá-las a uma quantidade de público muito maior e que teoricamente dividiria as mesmas percepções inúmeras vezes, afinal o conteúdo estaria registrado em uma versão única. Bobagem! Embora estudiosos de artes e filosofias afirmem que a massificação da cultura padroniza emoções e tira o brilho dos trabalhos, a verdade é que um filme pode sim gerar diversas interpretações e sensações mesmo sendo para todos os efeitos um registro intocável. Por exemplo, como teria sido a adaptação de Sonho de Uma Noite de Verão lançada em 1999 caso o projeto estivesse nas mãos do cineasta Kenneth Branagh, especialista no universo shakespeariano? A julgar por suas elogiadas versões de Hamlet e Muito Barulho Por Nada talvez o projeto tivesse conquistado seus objetivos de encantar crítica e público, mas o diretor e roteirista Michael Hoffman infelizmente não obteve sucesso talvez pelo medo de desrespeitar o legado do mestre literário e se ater a simplesmente fazer um teatro filmado, mas com apuro técnico e visual invejáveis. O roteiro traz três histórias diferentes que se cruzam. A primeira é protagonizada por Hermia (Anna Friel), filha de nobres que foi prometida para Demetrius (Christian Bale), mas ela está apaixonada por Lisandro (Dominic West), rapaz reprovado pelo pai dela, Teseu (David Strathairn). Para viverem o amor proibido, os jovens planejam fugir com a ajuda de Helena (Calista Flockhart), a melhor amiga da jovem. A moça é justamente apaixonada pelo pretendente rejeitado, porém, o rapaz não dá a menor bola para as suas insistentes declarações de amor. Por uma confusão, o quarteto vai parar na floresta onde a segunda trama se desenvolve mostrando um grupo de trabalhadores que está em meio aos ensaios de uma peça teatral liderados pelo tecelão Nick Bottom (Kevin Kline).

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

SHAKESPEARE APAIXONADO

NOTA 9,0

Mesclando ficção e fatos reais,
longa preenche todos os requisitos
de um grande clássico e surpreende
com uma bem humorada homenagem
William Shakespeare é sem dúvidas o autor mais analisado e discutido de toda a História, assim como também suas obras são recordistas em adaptações ou como inspiração para filmes, peças de teatro, novelas, livros e uma infinidade de outros produtos culturais. Todo seu histórico profissional já foi exaustivamente dissecado, mas curiosamente sua vida pessoal continua envolta a especulações. Historiadores há muito tempo desistiram de procurar pistas para montar o quebra-cabeças da intimidade do escritor, assim o que sabemos não passam de suposições que alimentam a aura de mistério em torno de seu nome. Há quem chegue a afirmar que ele não teria escrito nenhum livro, apenas assumia a autoria de manuscritos de um nobre que preferia ficar incógnito. De todas as fases de sua vida, a que é mais intrigante compreende o período de 1585, quando deixou sua residência em Stratford-upon-avon, e 1592 quando ressurgiu em Londres escrevendo peças para companhias teatrais. Durante esses anos que sumiu do mapa ninguém sabe ao certo o que lhe aconteceu, afinal na época ele ainda não era famoso. Como figura célebre que se tornou, era questão de tempo para que o dramaturgo ocupasse a posição de personagem, contudo o primeiro filme a tentar tal ousadia surpreendentemente não é uma cinebiografia, muito menos um projeto lacrimoso. Shakespeare Apaixonado é uma divertida e criativa imersão na fantasia de preencher as citadas lacunas de sua trajetória que precederam sua consagração. À primeira vista, é a parte técnica que chama a atenção com uma caprichada reconstituição de época, figurinos deslumbrantes, trilha sonora deliciosa, fotografia que faz cada take parecer uma bela pintura entre tantos outros predicados, porém, a obra tem muito mais a oferecer com seu refinado texto repleto de referências às obras do autor, mas nada que impeça um leigo no assunto de se emocionar e se divertir. O roteiro de Marc Norman e Tom Stoppard apresenta o homenageado como um jovem escritor desprovido de recursos financeiros, mas dotado de muitas ambições e espírito inventivo. Com seu charme e beleza (embora os estudos indiquem que o autor espantava por sua feiúra), o papel caiu nas mãos de Joseph Fiennes, que adota um estilo a la Don Juan para humanizar o personagem que passa noitadas enfornado em tavernas bebendo todas e cortejando mulheres. Há justificativas. Com poucas virtudes e muitos desvios de caráter, o rapaz também está passando por um período de bloqueio criativo.