Nota 5,0 Com ambientação claustrofóbica e escura, longa peca ao revelar segredos cedo demais
Parece que a temporada de Natal está se tornando cada vez mais uma data macabra, ao menos para o cinema. Se antigamente a época era sinônimo de comédias e dramas leves para toda a família e com mensagens positivas e que reforçam valores, nos últimos anos têm chamado a atenção a grande quantidade de produções que usam os festejos natalinos como pano de fundo para contar histórias de suspense e horror, sempre colocando suas vítimas diante de situações extremas que as forçam a acionar seus instintos de sobrevivência. Estrada Maldita segue bem essa linha. O roteiro de Joe Gangemi e Steven Katz, este responsável pelo texto do ótimo A Sombra do Vampiro, começa em uma sala de aula quando uma estudante (Emily Blunt) está trocando mensagens de celular com uma amiga a respeito da viagem que fará para passar o Natal com a família. Pela primeira vez ela iria fazer o trajeto de ônibus, mas um mural de recados da faculdade lhe chama a atenção e ela resolve aceitar a carona oferecida por um outro aluno (Ashton Holmes), uma prática comum nos EUA.
Aparentemente o rapaz só estava fazendo uma gentileza, mas aos poucos a garota começa a desconfiar que ele não é um completo desconhecido e que sabe coisas demais sobre sua vida, sendo a oferta da carona algo premeditado. O pé atrás aumenta quando o jovem decide pegar um atalho que os leva a uma rota alternativa em meio a uma densa floresta. Estaria ele tramando um sequestro ou estupro? O fato é que a viagem que deveria durar cerca de seis horas acaba entrando madrugada a dentro por conta de um acidente que atrapalha os reais planos do rapaz, tempo suficiente para a dupla tentar ajustar suas diferenças, mas fatores externos interrompem constantemente a conversa. Sem comida, com o celular fora de área, presos dentro do carro por conta de uma forte nevasca e tentando se proteger de um frio literalmente de matar, eles aguardam ansiosos por ajuda, mas as chances de alguém passar por aquele lugar isolado são mínimas. Será mesmo?
Não demora muito e os jovens percebem que não estão sozinhos em meio a floresta escura e coberta por neve. Vultos, barulhos estranhos e até o contato próximo ou visões de pessoas ou coisas estranhas passam a assombrar a dupla. Seria a floresta amaldiçoada? Que criaturas estranhas a habitariam? Haveria algum psicopata rondando o local? Ou tudo não passaria de alucinação por conta da situação limite propícia ao medo? O roteiro começa então a brincar com essas possibilidades, mas peca ao revelar cedo demais as intenções do motorista. Um detalhe interessante e que passa despercebido é que os personagens não ganham nomes afinal de contas as intenções do diretor Gregory Jacobs não é se aprofundar em perfis e sim investir nos sustos. Permanecer dentro do carro parece uma ideia cada vez menos segura ao passo que encarar uma caminhada no escuro e enfrentar os obstáculos das camadas de neve é tão perigoso quanto. Resta ao público acompanhar com apreensão qual será a ideia brilhante da dupla para fugir e suar frio de medo junto com os personagens a cada sinal de alerta que os surpreende.
Até então tendo no currículo apenas o suspense policial 171, refilmagem do cultuado argentino Nove Rainhas, Jacobs mostra inicialmente traquejo para criar um ambiente claustrofóbico e uma atmosfera que sugere que a qualquer momento algo de ruim pode acontecer, mas quando começa a dar formas concretas ao que ameaça os protagonistas parece não saber mais que caminho trilhar. De antemão já é de se esperar que a conclusão do longa não será grande coisa, mas vários filmes que frustram no desfecho conseguem agradar porque a maneira como a história é contada faz toda diferença. Vendo por esse prisma, Estrada Maldita acaba se tornando um passatempo esquecível. Além de esclarecer rapidamente a estranha relação dos dos estudantes, o mistério que envolve a tal estrada do título logo vem à tona com riqueza de detalhes, assim jogando por terra as expectativas de quem assiste.
Apesar dos tropeços, Jacobs tem o mérito de conseguir manter a qualidade estética de seu filme até o fim explorando a fotografia escura, o clima gélido e a forma econômica e eficiente que lança mão dos vultos e sombras que cercam o automóvel, certamente lições de câmera que aprendeu com o diretor Steven Soderbergh, vencedor do Oscar por Traffic, que aqui assina como produtor ao lado do ator e cineasta George Clooney. Todavia, na direção de atores ele ainda demonstra ter muito o que aprender, ainda que o roteiro limitado e falho não lhe permita ir muito longe na condução de Blunt e Holmes que fazem o que podem para mostrarem-se assustados sem cair na caricatura.
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