sábado, 30 de janeiro de 2016

SHINOBI - A BATALHA

Nota 6,0 Épico japonês aborda paixão entre herdeiros de famílias rivais com pano de fundo político

O cinema oriental vira e mexe nos surpreende com produções que parecem verdadeiras obras de arte, tanto no visual quanto no texto, mas nem sempre consegue um perfeito equilíbrio entre esses dois elementos. Shinobi - A Batalha serve como exemplo para ilustrar essa desarmonia. Baseado no romance "The Kouga Ninja Scrolls", de Futaro Yamada, que também deu origem a uma série de mangá e outra de anime de grande sucesso no Japão, esta é uma obra que adota um estilo cinematográfico mesclado com o teatral com belíssimas batalhas de espadas minuciosamente coreografadas. Esse tipo de produção voltou a ganhar destaque nos últimos tempos tanto em território oriental quanto em outros continentes chegando inclusive a influenciar obras norte-americanas como Kill Bill. Roteirizada por Kenya Hirata, a história se passa em meados do século 17, quando o país do sol nascente fora pacificado, mas ainda restavam sinais de guerra principalmente entre dois grupos de ninjas, o da terra de Kouga e o que representava a comunidade de Iga. Eles são inimigos há centenas de anos, mas respeitam um acordo de não guerrear um com o outro, porém, o clima de rivalidade está sempre os cercando. Oboro (Yukie Nakama) é a neta do chefe dos Iga e sem saber se apaixona por Kouga Gennosuke (Joe Odagiri), o neto do comandante dos Koga. Eles se apaixonam à primeira vista e acabam se casando secretamente, mas o destino os castigará por levarem adiante esse sentimento proibido. Ambos são designados pelo governo a liderar um confronto, cada qual representando seu respectivo clã e escolhendo seus cinco melhores guerreiros, assim o jovem casal se encontra em uma difícil situação: a eminência da morte. A real intenção desta batalha é que os membros rivais fossem destruídos e os soldados do império aproveitassem para destruir as aldeias acabando de vez com os conflitos e trazendo a paz que esperem que dure para todo o sempre, mas será que a força do amor irá impedir tal guerrilha?

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

GIALLO - REFÉNS DO MEDO

NOTA 6,5

Procurando retomar subgênero
do suspense italiano, Dario
Argento não cumpre isso, mas não
deixa de oferecer algo diferenciado
Se engana quem pensa que os filmes sobre assassinos em série surgiram nos anos 90 como uma forma de de dar um gás ao combalido subgênero de terror que acabou virando piada devido aos indestrutíveis Michael Meyers, Freddy Krueger e Jason Voorhees, respectivamente os vilões das séries Halloween, A Hora do Pesadelo e Sexta-feira 13. Na realidade as histórias envolvendo ações dos seriais killers já são reconhecidas como um subgênero do suspense desde meados dos anos 30, mas só vieram a se tornar populares quatro décadas mais tarde. O cinema americano teve um papel importante nisso, mas curiosamente a Itália também teve participação fundamental sendo o diretor e roteirista Dario Argento um dos nomes mais importantes de tal fase, mas que acabou sendo suplantando pela ação do tempo. Após um bom tempo amargando o ostracismo, o cineasta tentou chamar a atenção com uma obra de título sugestivo: Giallo – Reféns do Medo. Sabendo da temática predileta deste profissional, seria o nome do assassino da vez uma forma de vender sem rodeios o conteúdo do filme? A resposta é não. Giallo é uma palavra de origem italiana que significa amarelo e acabou sendo empregada para catalogar um específico gênero literário e cinematográfico de suspense e romance policial do país. Tais histórias sobre detetives e bandidos com uma pegada mais forte e violenta eram publicadas em uma série de livros que tinham uma capa-padrão amarela e automaticamente foi feita a associação quando o cinema passou a investir em enredos semelhantes, uma forte corrente que certamente inspirou as produções sobre slashers, aquelas citadas no início do texto e que ganharam sobrevida com Pânico e outros produtos nos quais adolescentes são perseguidos por sádicos assassinos. Apesar de ser a raiz de produções que hoje são tão criticadas pela falta de originalidade, é certo que o resgate da fórmula giallo de assustar é bem-vinda e foge significativamente do estilo de se fazer suspense seguindo a cartilha de Hollywood. A trama é centrada na busca desesperada de Linda (Emmanuelle Seigner) pela irmã, a modelo Celine (Elsa Pataky) que é sequestrada durante um importante evento de moda em Milão. Para tanto ela conta com a ajuda do inspetor Enzo Avolfi (Adrien Brody), mais conhecido como Lobo Solitário, especialista em casos envolvendo seriais killers e que fica obcecado em encontrar Yellow (Byron Deidra), o principal suspeito e conhecido por expor suas vítima a humilhantes e tortuosas situações. 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO

NOTA 8,0

Último filme do cultuado diretor
Sidney Lumet é cruel do início ao
fim, mas presenteia o público com
boa história e interpretações fortes
Em tempos em que se discutem os absurdos caminhos que parte da humanidade está trilhando, o cinema tem seguido a tendência e cada vez mais abordando a temática das ações desesperadas. O que nos leva a realizar certos atos que mesmo calculando seus riscos no fundo sabemos que são errados e que inevitavelmente trarão consequências negativas para alguém? É esse dilema entre ética e ambição o foco central de Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto, suspense com toques dramáticos dirigido pelo cineasta Sidney Lumet na época já bastante idoso, aos 84 anos (morreu alguns anos depois sendo este seu último trabalho), mas demonstrando ainda ter talento para dar e vender. Diretor de clássicos como 12 Homens e uma Sentença, Serpico e Um Dia de Cão, ele não só se mostrava totalmente lúcido para tratar de temas polêmicos como também em sintonia com o estilo de produções que andavam fazendo sucesso em meados dos anos 2000, aquelas tramas que vão e voltam no tempo deixando para o espectador o prazer de juntar as peças do quebra-cabeça e brincar de detetive, ainda que neste caso a única dúvida seja acerca do destino dos personagens, visto que desde o início sabemos de seus atos. Embora a primeira sequência possa causar repulsa para muitos, ela já serve para nos situar a respeito do caráter do protagonista Andrew “Andy” Hanson (Philip Seymour Hoffman), um executivo de meia idade cuja vida profissional está desmoronando ao mesmo tempo em que ele próprio se afoga no vício das drogas e do sexo. A quem não se importar com este detalhe do início, uma surpresa está por vir. A narrativa desenvolvida pelo estreante Kelly Masterson já revela o ponto crucial do longa antes de 15 minutos de projeção: um assalto mal fadado. A partir de então por meio de longos flashbacks ficamos conhecendo o cotidiano dos envolvidos dias antes do plano ser executado e depois temos as consequências do ato. Andy deseja oferecer uma vida de luxos para sua esposa Gina (Marisa Tomei), mas também precisa se livrar de uma auditoria que acometerá sua área de trabalho e que revelará um grave problema financeiro, um desfalque promovido por ele. Seu irmão mais novo Hank (Ethan Hawke) também está em situação difícil e deve três meses de pensão para a filha pequena, o pagamento do colégio dela entre outros apuros. Um homem com profissão aparentemente estável e problemas fúteis. O outro que inspira insegurança, mas com problemas bem mais sérios. As necessidades de ambos os levaram à perdição.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

HOPE SPRINGS - UM LUGAR PARA SONHAR

NOTA 2,5

Premissa renderia ao menos
uma comédia romântica clichê,
mas a a falta de química dos atores
e certas situações decepcionam
Comédia romântica é igual a restaurante de comida por quilo. Todo mundo sabe que o cardápio é composto por elementos básicos e repetitivos, mas ainda assim tem sempre alguém a fim de repetir o prato. O problema é quando o menu servido é um tanto requentado e, pior, com ingredientes que não combinam. Essa é a sensação que temos ao assistir Hope Springs – Um Lugar Para Sonhar, produção “solar” que visualmente pode trazer algo de bom ao espectador, mas se prestar atenção no conteúdo narrativo a decepção é quase certa. A trama gira em torno de Colin Ware (Colin Firth), um artista plástico que ficou muito decepcionado quando recebeu o convite de casamento de sua noiva, a sofisticada Vera (Minnie Driver). Sim, isso mesmo. A mulher com quem ele se relacionava já a algum tempo estava prestes a se casar com outro. Para esquecer tal problema e se inspirar para continuar se dedicando a arte, ele decide sair da Inglaterra e partir rumo aos EUA, mais precisamente para a pequena cidade de Hope Springs, ou em bom português Fonte da Esperança, bem sugestivo não? Foi justamente a palavra positiva no nome da cidade que o atraiu e após muitas horas de viagem ele se hospeda no melhor hotel do local que é mantido pelo casal Fisher (Frank Collison) e Joanie (Mary Steenburger), esta que percebendo o estado arrasado do hóspede decide pedir o auxílio de Mandy (Heather Graham), terapeuta corporal que trabalha no lar de velhinhos da cidade. Mais que aliviar as tensões do rapaz na base de massagens, a espirituosa jovem também tem ótimos conselhos a dar e o convence que não adianta nada ficar preso em um quarto de hotel. É preciso passear, ver paisagens bonitas, conhecer gente nova e respirar ar puro. Até aí tudo bem, nada de anormal, mas não tarda para que comecem os tropeços da trama. Mandy apenas parecia uma moça ajuizada, mas na verdade é beberrona, impulsiva e logo está dando em cima do artista. É constrangedor ver a personagem se despindo sem pudor algum diante de um desconhecido e dizendo que sua felicidade só é plena quando está nua, assim incentivando Ware a fazer o mesmo, obviamente uma tentativa de levá-lo para cama. Já dá para imaginar que o filme não é lá grande coisa, mas aos que quiserem se aventurar...

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

LUZES, CÂMERA, AÇÃO!

NOTA 5,0

Ironizando a obsessão pela fama
e brincando com o gênero policial,
longa tem boa premissa, mas é apenas
pontuado por momentos divertidos
A metalinguagem é um grande aliado da sétima arte e existem vários exemplos de obras que se utilizam desse recurso para homenagear, criticar ou ironizar o cinema, mas é uma pena que algumas boas ideias não vinguem totalmente como é o caso da comédia Luzes, Câmera, Ação! que brinca com o gênero suspense. Os créditos iniciais dispostos sobre imagens que fazem alusão ao mundo cinematográfico e o policial, como letreiros, sacos de pipoca e manchetes de jornais, são tão bem bolados que instigam a curiosidade do espectador, mas no final das contas o que temos é um filme pontuado por momentos de humor, porém, que não chegam a arrancar gargalhadas. A trama começa apresentando Joe Diamond (Alec Baldwin – cujo personagem revela ter vários sobrenomes, tudo para evitar que sua verdadeira identidade seja revelada) que está devendo dinheiro para criminosos e implorando um tempo extra para pagar. Na realidade ele preparou uma emboscada em um cinema para a polícia pegá-los em flagrante e serem condenados, estando disposto inclusive a perder um dedo para não correr riscos de que alegassem que não existem provas contra eles. Planos mirabolantes como esse fazem parte da rotina deste agente do FBI que após seu último caso resolvido com sucesso é selecionado para investigar um esquema de propina envolvendo um sindicato que negocia motoristas e caminhões para equipes de cinema. Para chegar ao chefão desse tipo de crime, Tommy Sanz (Tony Shalhoub), Diamond decide se passar por produtor de cinema e planeja fazer um filme que na verdade jamais seria realizado, apenas um plano para dar mais veracidade e não levantar suspeitas. Para tanto ele precisa contratar equipe técnica, atores, diretor e principalmente ter um roteiro em mãos. Steven Schats (Matthew Broderick) é um roteirista fracassado que está tentando desesperadamente vender o script de “Arizona”, história baseada em fatos reais sobre uma mulher que sofre de câncer de mama e segue em uma jornada espiritual em busca de uma lendária caverna habitada por espíritos indígenas que supostamente poderiam curá-la. Profundo não? Sem sucesso na profissão, o escritor se dedica a cuidar de um canil nos fundos de sua casa e é assim que ele conhece Diamond que o procura para conseguir um cachorrinho que substitua a sua cadelinha que cometeu suicídio na banheira de hidromassagem por não receber quase atenção do policial.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

TUDO POR DINHEIRO (2005)

NOTA 6,0

Longa mostra o começo, a
ascensão e a decadência de
um profissional do ramo das
apostas, um mundo vicioso
Todos sabem que o cinema de Hollywood tem um caso de amor com o mundo dos esportes e praticamente todas as modalidades já serviram como temática para algum tipo de filme seja drama, ação, suspense, comédia e até romance. Algumas atividades já serviram tantas vezes como pano de fundo para histórias clichês que qualquer nova produção do tipo acaba sendo automaticamente rotulada como desinteressante e as coisas tendem a piorar quando o esporte em questão é intimamente ligado a cultura ianque, como é o caso do futebol americano. É praticamente impossível não fazer pré-julgamentos negativos de obras que geralmente não passam de um amontoado de imagens de jogos cujas regras desconhecemos acompanhadas de diálogos boa parte incompreensíveis e que no fundo servem de adorno para um conflito tolo ou previsível. Já estamos acostumados a ver histórias de superação e até de tramóias que acontecem nos bastidores das competições, mas Tudo por Dinheiro procura um viés diferente: o submundo das apostas. Sim, não é apenas nos jogos de azar que uma pessoa pode ir do céu ao inferno e vice-versa. De uma hora para a outra, ou apenas o tempo de duração de uma partida de jogo, a vida de uma pessoa pode mudar completamente de acordo com suas apostas. Vejam a contradição. Nos EUA, apostar em resultados esportivos é ilegal, mas oferecer consultoria aos interessados em prever resultados das partidas é permitido. O roteiro de Dan Gilroy parte de uma história real para contar a história de Brandon Lang (Matthew McConaughey), rapaz que desde a infância foi incentivado a se dedicar ao futebol americano, mas um problema no joelho fez com que ele abandonasse o esporte temporariamente, acreditando que ainda teria chance de futuramente ser convocado para atuar em algum time profissional, embora todas as suas tentativas para chegar a isso tenham sido frustradas. Enquanto alimenta este sonho, ele trabalha em um pequeno serviço de orientação a apostadores. Com sua experiência de campo, sua função é avaliar as chances de vitória dos times de futebol americano em determinados confrontos, assim direcionando os apostadores a fazerem investimentos mais seguros. Sua habilidade para tal atividade e sua simpatia para lidar com as pessoas chamam a atenção de Walter Abrams (Al Pacino), responsável pelo maior serviço de esportes dos EUA. Oferecendo um salário bem alto, o executivo deseja que Lang vá para Nova York para trabalhar em um programa de TV voltado ao público amante das apostas esportivas. É óbvio que o rapaz aceita e o que vemos a seguir é um filme previsível que segue uma fórmula conhecida e muito eficiente: busca pela felicidade, conquista, decadência e a redenção.

domingo, 24 de janeiro de 2016

PLANO B

Nota 6,0 Para variar, Jennifer Lopez sonha com grande amor pela enésima vez no cinema

Existem atrizes que irremediavelmente se tornaram sinônimos de comédias românticas e Jennifer Lopez é uma delas. Seu perfil dócil combina com o estilo, mas ao mesmo tempo ela tem algo de mulher determinada dentro de si que se encaixa muito bem para viver personagens destemidas. Em Plano B ela encontrou um papel que une as duas características, embora envolta em situações previsíveis e um tanto açucaradas propostas pelo ligeiro roteiro de Kate Angelo. Ela interpreta Zoe, uma mulher que está cansada de aguardar pelo seu príncipe encantado e realizar seu sonho de ser mãe afinal de contas já está beirando a idade limite para ter uma gravidez normal e sem riscos. A falta de companhia masculina é um problema que realmente ela não tem como resolver, mas a vontade de se tornar mãe sim. Ela resolve recorrer a um médico especializado em fazer inseminação artificial, no entanto, no dia em que realiza o procedimento, o destino lhe coloca finalmente um homem que vale a pena em seu caminho. Stan (Alex O’Loughlin) também se apaixona por ela e eles começam a se relacionar seriamente, mas Zoe acaba descobrindo que a inseminação deu certo e ela está grávida de verdade de um completo desconhecido. A notícia surpreende o namorado, porém, ele topa criar a criança como se fosse o pai biológico, mas até ela nascer muita coisa pode acontecer. Logo vem a descoberta de que eles serão pais de gêmeos e a convivência começa a ficar difícil para ambos, principalmente por causa das particularidades que envolvem a chegada de um bebê. Neste caso tudo em dobro necessitando sempre literalmente de um plano b.

sábado, 23 de janeiro de 2016

RUAS DE SANGUE

Nota 3,0 Boa premissa é desperdiçada em longa que alinhava clichês dos gêneros policial e ação

No passado muitos filmes do gênero policial fizeram sucessos nos cinemas e no mercado de vídeo, mas nos últimos anos percebe-se que a falta de qualidade tanto nos aspectos técnicos quanto narrativos que acomete a maior parte destas produções tem feito esta categoria cinematográfica sumir do mapa e encontrar espaço, ainda que minguado, nas prateleiras das locadoras. Geralmente produções do tipo rendem dinheiro apenas quando são lançamentos e sofrem com a ação do tempo tornando-se produtos obsoletos rapidamente e só interessando aos mais aficionados por ação e suspense. Ruas de Sangue é um típico produto dessa linha lançado diretamente em DVD sem passagem pelos cinemas. Sua premissa é até interessante, mas o longa conta com alguns detalhes que por si só trabalham contra o seu sucesso, a começar por ostentar nos créditos nomes famosos que há tempos deixaram de ser promessas de sucesso. A trama escrita por Eugene Hess se passa em Nova Orleans em meados de 2005, logo após a passagem devastadora do furacão Katrina pela região. Na época foi encontrado o corpo do parceiro do detetive Andy Devereaux (Val Kilmer), que então passa a formar dupla com Stan Green (50 Cent) com quem investiga o caso. Os dois descobrem que o assassinato foi cometido por dois policiais desonestos e então estes quatro homens passam a ser acompanhados pela psicóloga da polícia Nina Ferraro (Sharon Stone). Além desta situação, o FBI também está investigando um grande caso de corrupção que pode estar ocorrendo no pelotão liderado pelo agente Brown (Michael Biehn). Há indícios que uma gangue de bandidos fortemente armados e acobertados por alguém da polícia está agindo na região fragilizada pelo furacão.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

JOGOS MORTAIS

NOTA 7,0

Marco do terror, longa aposta em
violência gráfica, estética suja e
vilão que não mata, apenas provoca
e assiste com prazer suicídios
Toda geração merece um grande filme de terror para marcá-la. Quem não tem um exemplar do gênero como uma recordação da juventude, seja pelas noites de insônia que ele lhe causou, a terapia forçada que exigiu, a zoeira com os amigos ou a desculpa para poder dar uma namoradinha? A turminha dos anos 2000 estava fadada a não ter essa lembrança em meio a tantas produções fracas, sequências desnecessárias e muitas refilmagens, mas eis que em 2004 um diretor estreante tomou de assalto o mundo todo com Jogos Mortais, um verdadeiro fenômeno do cinema em diversos sentidos, a começar por suas raízes.  Recém-formados no curso de cinema, o diretor James Wan que assina o roteiro em parceria com seu colega de faculdade Leigh Wahnnell, também ator, rodaram uma única cena do filme e com ela buscaram o apoio de um estúdio para financiar o projeto. Recepcionados com reticências na maioria das visitas, eles conseguiram alcançar seus objetivos, mas o longa inicialmente seria lançado diretamente em DVD, porém, exibições-teste comprovaram o potencial do material. De trabalho amador desacreditado o filme acabou ganhando a honra de encerrar o Festival de Toronto e faturou muito mais que seu baixo orçamento que foi consumido em inacreditáveis 18 dias de filmagens. Essa é a prova que dinheiro não é tudo no cinema. Criatividade ainda vem em primeiro lugar e abusando de uma trilha sonora pesada, estética suja, câmera tremida e violência gráfica Wan praticamente fez um projeto amador com pompa para se tornar inspiração para outros cineastas, o que de fato aconteceu, embora projetos com repercussão bem menor. A história é das mais claustrofóbicas possíveis, coisa que a muito não se via no cinema de horror. Dois estranhos, Dr. Lawrence Gordon (Cary Elwes) e o fotógrafo Adam (Wahnnell), despertam atordoados dentro de uma banheiro imundo e cheio de sangue por todos os lados, ambos acorrentados e sem a menor ideia de onde estão e do que aconteceu. Esta cena não é o ápice do longa, pelo contrário, é só a primeira sequência torturante entre tantas outras que virão a seguir. Cada personagem está de um lado do banheiro preso a canos das paredes, o que limita bastante seus movimentos, e entre eles existe o cadáver de um homem que aparentemente atirou contra sua própria cabeça e junto do corpo existe um gravador e em seu bolso uma fita cassete na qual existem instruções para um macabro jogo de tensão psicológica. Conforme as horas passam e suas verdadeiras personalidades e segredos são revelados, a dupla descobre a automutilação como forma de tentar saírem com vida de lá, porém, apenas um restaria para contar história. Esta é uma obra que parece ter sido concebida a partir de sua conclusão. Tendo o fim já delineado em suas mentes, Wahnnell e Wan foram construindo um quebra-cabeça engenhoso capaz de fazer o espectador ter vontade de rever imediatamente o filme a fim de juntar as peças mais cautelosamente após o primeiro impacto.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

UM DIA MUITO ESPECIAL (2005)

NOTA 6,0

Produção de país pouco conhecido
surpreende com seu visual, mas
seu estilo narrativo e o próprio
enredo são irregulares
Com o sucesso de mostras de cinema, a imprensa dando destaque a premiações menores ou praticamente desconhecidas e distribuidoras especializadas em garimpar títulos raros mundo a fora, tem se tornado cada vez mais acessíveis obras de países distantes e de cultura pouco difundida como Croácia, Finlândia, Nova Zelândia entre tantos outros. Nessa onda de cinema globalizado, que tal curtir uma produção do Tadjiquistão? De onde? Pois é, este país provavelmente a maioria sequer sabe que existe, que dirá que lá também são feitos filmes? Localizado na Ásia Central e fazendo fronteira com o Afeganistão, o país até compartilha diversas características com o seu vizinho cuja imagem nos acostumamos afiliar ao sentido da palavra devastação, mas o que vemos em Um Dia Muito Especial é uma paisagem bem diferente, uma região com belas paisagens outonais, talvez o verdadeiro trunfo do projeto que é um tanto irregular. Falado no idioma local, o tadjique, este filme na realidade também é uma co-produção com a França e o Irã, um drama romântico leve, porém, por vezes estranho e que coloca em discussão a paixão e a possessão em uma sociedade onde homens e mulheres não dividem as mesmas regras. Contudo, esqueça a imagem da mulher asiática submissa para conhecer perfis femininos bem mais próximos do comportamento das ocidentais. A trama começa nos apresentando o protagonista Jân (Daler Nazarov) que no dia de seu aniversário de quarenta anos resolve fazer, em suas palavras, uma revolução contra si mesmo. Ele quer revelar um grande segredo que mudará sua vida para sempre e então marca um encontro com quatro mulheres em sua escola de dança. Mariam (Mariam Gaibova), Farzaneh (Farzona Beknazarova), Tahmineh (Tahmineh Ebrahimova) e Malahat (Malohat Abdulloev) comparecem no horário marcado, mas nunca se viram e nem esperavam se encontrar. Certamente estavam esperando um encontro romântico com o namorado. Sim, todas elas estavam se relacionando com Jân, este que finalmente decidiu abrir o jogo e tentar explicar seus sentimentos. Ele ama a todas elas, cada uma de uma forma, mas só agora ele se deu conta que seu tempo é limitado para se dedicar o suficiente e corresponder a esses amores, embora seus encontros sempre fossem cronometrados com um antigo relógio.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

SONHANDO ALTO

NOTA 7,0

Através da história de um
homem que sonhava ir à Lua,
longa traz importantes lições.
realçando que sonhar é preciso
Qual criança nunca imaginou poder viajar para outro planeta ou até a Lua? O problema é quando o pequeno sonhador cresce e leva consigo tal desejo sem perceber que ele é praticamente impossível de ser realizado, mas para Charlie Farmer (Billy Bob Thornton) o impossível não existe. Ele é o protagonista de Sonhando Alto, drama leve e com mensagem edificante, não a toa se tornando famoso entre grupos religiosos. A grande mensagem deste trabalho escrito pelos irmãos Mark e Michael Polish, este último também diretor da fita, é de jamais desistir de um sonho, pois mais cedo ou mais tarde ele irá se realizar. A ideia de um pode acabar contagiando outras pessoas e a partir da mobilização de um grupo se tornar realidade como é o caso de Farmer que contou com o apoio incondicional da família boa parte do tempo. Logo no início temos a típica cena da apresentação escolar onde os pais devem falar sobre suas profissões e assim inspirarem as crianças a sonharem com o que desejam ser no futuro. Vestido de astronauta, Farmer acabou sendo alvo de chacota entre os alunos, mas a professora elogiou sua atitude e seu espírito esportivo, porém, ela não captou bem as intenções deste homem considerando sua apresentação lúdica. Ele realmente é obcecado pelo espaço e se dedica diariamente à construção de um foguete, mas lhe falta dinheiro e nem empréstimos no banco consegue mais já que sua própria fazenda está a perigo por conta de débitos atrasados. Seu crédito é péssimo, mas seu caráter é ótimo dizem os mais chegados a este pai de família que já teve a oportunidade de trabalhar na NASA, no entanto, precisou deixar o emprego para cuidar das terras do pai que faleceu a pouco tempo, o único patrimônio que ele dispõe realmente. Mesmo com problemas, este homem não perde a alegria e adora se divertir inventando histórias de viagens à Lua com os filhos, o adolescente Shepard (Max Thieriot) e as pequenas Stanley (Jasper Polish) e Sunshine (Logan Polish), e a esposa, Audrey (Virginia Madsen). Quando informado que sua fazenda será executada pela justiça, Farmer perde a cabeça e decide que é hora de lançar seu foguete rapidamente.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A DAMA DE FERRO

NOTA 7,5

Atuação de Meryl Streep
acaba sendo muito maior
que o próprio filme em si
acusado de manipular fatos
Poderia uma interpretação excepcional salvar um filme ou simplesmente ela se mostrar muito maior que a produção em si? É um equívoco uma grande atuação em um longa irregular? Tais indagações certamente devem surgir para aqueles que não assistiram, mas leram os inúmeros comentários negativos sobre A Dama de Ferro, um polêmico trabalho que enfoca a trajetória política e pessoal da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher, uma das mulheres mais importantes da História política mundial. Críticos do mundo todo se demonstraram pouco receptivos ao longa chamando-o de medíocre, fraco, tolo, mentiroso, manipulador, entre outras tantas coisas nada amistosas. Unanimidade mesmo somente foi o consenso de que mais uma vez a atriz Meryl Streep deu um banho de talento e competência interpretando a ilustre personalidade e merecidamente foi laureada na maioria das premiações da temporada. Ela bateu seu próprio recorde de indicações ao Oscar chegando a nomeação de numero 17 e surpreendeu conquistando sua terceira estatueta dourada quando todos, inclusive a própria atriz, acreditavam que só era questão de tempo para a Academia de Cinema lhe oferecer um troféu pelo conjunto da obra. Felizmente, os membros votantes ainda têm um ou outro momento de lucidez e premia quem realmente merece sem pensar na matemática absurda das vezes que um candidato foi indicado ou sagrou-se vencedor. O grande ponto que desagrada muita gente é que o roteiro de Abi Morgan não se propõe a ser uma muleta para uma aula de história ou de política esmiuçando com clareza e imparcialidade o porquê da Inglaterra ter se tornado uma nação tão próspera e a participação da ex-premiê no conflito da Guerra Fria. Governante do Reino Unido entre 1979 e 1990, Margareth tinha pulso firme e decisões próprias, dificilmente alguém a persuadia. No filme, os fatos da vida pública são contados em paralelo aos acontecimentos de sua vida privada, mas jamais a protagonista é julgada ou condenada por seus atos. Simplesmente os episódios são contados pela ótica da protagonista, assim não temos a versão franca daqueles que eram contra as suas propostas. Embora os casos políticos expostos sejam vários e ocupem boa parte da trama, infelizmente muitos se apegaram a idéia de que a diretora Phyllida Lloyd, que já havia trabalhado com Meryl em Mamma Mia!, quis mostrar um retrato melancólico e triste apostando em um leve choque. Lembrada pelo seu governo levado a mãos de ferro, o longa já começa nos mostrando a protagonista idosa e em uma situação que em nada nos remete as imagens da mulher firme, corajosa e inteligente que recheava os noticiários do passado. Ligeiramente corcunda, com vestes simplórias e se espantando com o preço de meio litro de leite, tal imagem é bastante eficiente para fisgar a atenção, mas curiosamente causou efeito contrário. 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

50%

NOTA 8,0

Embora trate de um assunto
delicado, longa adota um tom
descontraído e revitaliza
premissa batida e depressiva
Veja o título diferenciado (no original 50/50) e que não deixa explícita pista alguma do enredo. A imagem publicitária do longa é um rapaz aparentemente começando a raspar os cabelos, mas ao fundo está o ator Seth Rogen, um dos símbolos da renovação do humor americano. Agora saiba que este é um drama baseado em fatos reais que aborda o tema de um jovem que descobre repentinamente estar com câncer. Quem se animaria a assistir a algo do tipo? A probabilidade indicada para intitular este filme serve para três coisas. Primeiramente deixar claro que o protagonista tem 50% de chance de tentar conviver da melhor forma possível com seu problema e se cuidando ou na mesma proporção se entregar a inerente depressão abreviando assim seu tempo de vida, as mesmas estatísticas que ouviu de seu médico quanto ao sucesso do tratamento disponível. Também serve para instigar o expectador. Você tem 50% de chance de se surpreender com esta obra ou a mesma porcentagem para constatar que o fatídico e previsível final baterá seu cartão aqui. Para quem já se acostumou que produções protagonizadas por pacientes cancerígenos praticamente sempre terminam de forma triste, 50% é uma opção bem-vinda e que traz algum alento aos espectadores, principalmente para aqueles que podem estar vivendo situações parecidas a de Adam Lerner (Joseph Gordon-Levitt), um rapaz de bem com a vida que aos 27 anos recebe o diagnóstico de que está com um tipo raro de câncer na coluna vertebral. Ele então vê seu futuro promissor na estação de rádio em que trabalha e sua vida tranquila ao lado da namorada Rachel (Bryce Dallas Howard) tornarem-se projetos obsoletos. Sempre levando uma vida regrada e sem excessos, livre de drogas e bebidas inclusive, além de sempre ter praticado o bem, Adam não encontra razões para justificar o aparecimento do tumor e passa a ter a necessidade de rever seu passado e repensar as suas prioridades de agora em diante. Baseado em fatos reais da vida do próprio roteirista, Will Reiser, a premissa é um tanto batida, mas não devemos julgar um filme por sua sinopse. Muitas vezes uma simples ideia torna-se uma grande obra graças a maneira escolhida para se desenvolver o enredo e neste caso o resultado é bastante satisfatório e traz certo frescor a um tema comumente trabalhado de forma extremamente dramática. A luta contra a doença é mostrada aqui de uma maneira um tanto descontraída. Entre um pensamento e outro mais triste, somos brindados com diálogos e situações com teor humorístico, assim cativando e emocionando o público livre de impactos negativos.

domingo, 17 de janeiro de 2016

OPERAÇÃO LIMPEZA

Nota 4,0 Nonsense e clichê, comédia se perde em sua própria ânsia de querer ser mais do que pode

Fábio Porchat, Paulo Gustavo e Marcelo Adnet são alguns nomes fortes da comédia brasileira e seus filmes costumam fazer sucesso nos cinemas e depois repetidos a exaustão na TV, mas certamente se exportadas suas produções seriam fracassos. Eles trabalham com um tipo de humor muito próprio e tiveram a ajuda da mídia para se destacarem. A grosso modo podemos dizer que eles são equivalentes a Xuxa ou os Trapalhões anos atrás. As pessoas não ligam muito para os roteiros, mas assistem seus filmes por causa dos artistas em questão. Nos EUA também há muitos casos semelhantes de humoristas que bombam na TV e em shows stand up e que também tentam fazer carreira no cinema, mas fora do solo ianque seus nomes não dizem nada. Cedric the Entertainer é um exemplo. No Brasil ele é um ilustre desconhecido. É aquele cara engraçado que sabe que já viu em outras produções, mas não conhece o nome e nem se lembra de algum papel marcante. Suas escolhas também não ajudam para ter popularidade. Em Operação Limpeza ele interpreta Jake Rodgers, um homem comum que certo dia acorda em uma linda suíte de hotel com uma terrível dor de cabeça, mas perto de uma maleta contendo milhões de dólares. Porém, do outro lado da cama, se encontra o corpo de um agente do FBI. Ele não se lembra de absolutamente nada que aconteceu, não se recorda nem mesmo de Diane (Nicollette Sheridan), sua esposa que o resgata dali e o leva para uma gigantesca mansão que afirma ser dele. Na verdade ela pretende drogá-lo para conseguir informações sigilosas que podem estar perdidas em sua mente. Rodgers descobre o plano a tempo de fugir e eis que conhece a garçonete Gina (Lucy Liu) que também diz ter um relacionamento amoroso com o desmemoriado e afirma que ele trabalha como faxineiro em uma companhia de videogames, embora ele bata o pé que é um agente secreto da CIA cujo codinome é "The Cleaner". Agora ele quer provar sua versão dos fatos ao descobrir que poderia incriminar o presidente da tal empresa de games, o poderoso Eric Hauck (Mark Dacascos), e também terá que enfrentar Riley (Will Patton), também envolvido com falcatruas.

sábado, 16 de janeiro de 2016

OPIUM - DIÁRIOS DE UMA MULHER ENLOUQUECIDA

Nota 6,0 Longa enfoca relação doentia entre médico e paciente em um hospital psiquiátrico

A mente humana ainda é um grande mistério e conforme o tempo passa e os estudos psicológicos e clínicos avançam mais complexo este assunto parece ser e ainda nos deparamos com atitudes inexplicáveis de alguns seres humanos. É um tema infinito. Os problemas mentais podem ser de nascença ou adquiridos ao longo da vida devido a traumas, doenças ou até mesmo por uma má educação. Se hoje muitos pacientes que sofrem com doenças do tipo já não recebem tratamentos adequados imagine como as coisas eram no início do século 20. É essa triste realidade que a produção húngaro-alemã Opium – Diários de Uma Mulher Enlouquecida procura nos trazer descrevendo detalhadamente como eram os tratamentos oferecidos na época através da história de uma jovem que sem saber foi usada como cobaia de experimentos clandestinos. Na Hungria, em meados da década de 1900, o escritor e médico Josef Brenner (Ulrich Thomsen) está prestes a começar a trabalhar em uma clínica psiquiátrica. Durante meses ele vem sofrendo com um bloqueio mental que o impossibilita de redigir até mesmo uma única linha e tal problema o levou ao vício do ópio, substância que causa um estado de certa dormência, uma forma de aplacar seu sofrimento. Certo dia chega ao local uma nova paciente, Gizella (Kristi Stubo), uma moça que ao contrário de Brenner está sempre com vontade de escrever, redige com frequência em seu diário, mas também está com um grave problema. Ela está obcecada pela ideia de que um poder cruel e estranho a possui. O médico acaba desenvolvendo um interesse particular por esta paciente que claramente sofre de esquizofrenia, mas sua compulsão pela escrita é o que mais lhe chama a atenção e tentará tirar o máximo de proveito possível deste dom da jovem.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

A PROMETIDA

NOTA 7,0

Longa apresenta uma imagem
de Frankenstein diferente,
apostando em drama e romance,
hoje acrescidos de nostalgia
A década de 1980 deixou muitas saudades para os cinéfilos, mas é curioso como algumas produções do período atualmente são desconhecidas talvez por não fazerem a linha sessão da tarde, porém, vistas hoje em dia elas podem despertar sentimentos diferenciados em relação a época de seu lançamento. Naquele tempo em que os efeitos especiais passaram a ser mais explorados e os gêneros de terror e suspense viram seu público aumentar consideravelmente graças aos surgimentos das fitas VHS e das locadoras, a ideia de trazer o clássico monstro Frankenstein de volta as telas certamente fazia muita gente sentir calafrios, mas o cineasta britânico Frank Roddam promoveu esse retorno de maneira mais fidedigna e com um bônus: uma versão feminina da sinistra criatura. Cinquenta anos depois do lançamento de A Noiva de Frankenstein, o diretor retomou a premissa de uma criação para ser a companheira do tal monstro em A Prometida, mas injetou uma veia mais dramática ao enredo deixando a violência inerente ao terror de lado, porém, não se esquecendo de criar uma interessante atmosfera que lança o espectador para dentro de uma trama que transpira mistério e ao mesmo tempo nos passa a ideia de ser uma agradável aventura épica. Um produto desinteressante para a atualidade que exige que uma fita de terror transborde sangue, uma ação seja dotada de altas cargas de adrenalina ou um romance seja meloso e adocicado a níveis extremos? Está na hora de rever seus conceitos, principalmente se você se intitula um cinéfilo de carteirinha, mas só aceita produções novas e dotadas efeitos especiais de ponta. Com referências óbvias ao romance da escritora Mary Shelley que leva a alcunha do famoso monstro, o roteiro de Lloyd Fonvielle tem como ponto de partida a inquietação do Barão Von Frankenstein (Sting) que estaria insatisfeito com o resultado de sua última criação que foi batizada com seu próprio nome. Ele então resolveu trabalhar na concepção de uma criatura semelhante ao monstro, porém, o resultado final extrapolou suas expectativas e assim que viu Eva (Jennifer Beals), a primeira representante feminina da espécie, o cientista se apaixonou provocando assim a ira do grandalhão Frankenstein (Clancy Brown) que também percebeu a repulsa de sua pretendente. Em um momento de ira ele acaba colocando fogo na torre que era usada como laboratório e foge. A partir de então as duas criações do Barão tomam rumos diferentes.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O ELO PERDIDO (2005)

NOTA 6,0

Drama procura desmistificar
a imagem dos pigmeus como
selvagens, mas acaba reforçando
ideias preconceituosas e arcaicas
O Elo Perdido. Esse já foi o título de um seriado de sucesso exibido e repetido a exaustão entre as décadas de 70 e 80 em emissoras de todo mundo e em 2009 Will Ferrell estrelou um longa-metragem baseado na mesma atração, contando inclusive com os efeitos especiais precários que se tornaram marca registrada das aventuras de uma família que acabou voltando no tempo e parando na pré-história. Porém, a expressão deste título também é popularmente usada em meio acadêmico e científico para se referir a ponte evolucionária entre os primatas e os seres humanos. É este caminho que o cineasta Régis Wargnier, do premiado Indochina, resolveu desbravar neste drama que divide muito as opiniões. Embora seja uma produção visualmente impecável, em seu conteúdo muitas falhas são apontadas. É certo que não é uma obra excepcional, perdendo o ritmo por várias vezes, mas também não merece as duras críticas que recebeu na época de seu lançamento e que provavelmente ainda recebe, merecendo a lembrança de que entre os desafetos devem existir muitos que se desapontaram deixando-se levar apenas pelo título, em memória a citada série de TV, assim comprando gato por lebre. Também esta é uma obra cujo protagonista acaba não sendo o herói prometido, revelando-se um covarde, porém, uma conduta que condiz com a moral e os costumes da época, ainda que isso possa frustrar o espectador. Com roteiro do próprio diretor em parceria com William Boyd, Michel Fessler e Frederic Fougea, a trama se passa em 1879, quando o jovem médico escocês Jamie Dodd (Joseph Fiennes) aventura-se com um grupo de expedição, incluindo a aventureira Elena Van Den End (Kristin Scott Thomas), pelas inexploradas florestas equatoriais africanas em busca de novas espécies, mais especificamente a procura de pigmeus, habitantes naturais da região. A intenção é capturar alguns deles para de forma discutível serem realizados alguns estudos sobre a evolução das espécies. Dodd consegue capturar dois pigmeus, um homem e uma mulher, Toko (Lomama Boseki) e Likola (Cécile Bayiha), para apresentá-los à Academia de Ciência de Edimburgo que pretende provar que eles pertencem a uma categoria abaixo dos humanos. O médico, por outro lado, defende que o casal demonstra inteligência e sentimentos iguais a qualquer ser humano e assim ele entra em conflito com seus colegas de pesquisa colocando em risco sua própria carreira.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

PEQUENA MISS SUNSHINE

NOTA 8,0

Comédia independente caiu no
gosto popular e da crítica
apresentando uma galeria de
personagens problemáticos
Todos nós teoricamente temos o direito de fazer todas as escolhas possíveis para seu próprio bem, inclusive decidir entre ser um vencedor ou um perdedor na vida. Essa é a base da teoria de trabalho de um dos personagens de Pequena Miss Sunshine, mas este especialista em motivação deveria rever seus conceitos observando com mais atenção seus próprios familiares. Será que o sucesso ou o fracasso de um indivíduo pode estar atrelado à genética? Talvez após assistir a este filme cujas marcas registradas são uma família disfuncional fazendo uma longa viagem dentro de uma Kombi amarelo-ovo você comece a encontrar sentido nesta indagação. Esta agradável comédia vencedora de diversos prêmios que conta com uma ideia simples, humor afiado, elenco competente e uma cativante garotinha, foi um dos longas independentes mais aclamados por público e crítica dos últimos tempos e conquistou uma bilheteria invejável, algo raro de acontecer com produções feitas sem o respaldo financeiro de grandes estúdios. Todavia, a produção acabou tendo seus direitos adquiridos por uma grande distribuidora que apostou suas fichas nas indicações boca-a-boca após ela ter agitado o Festival de Sundance, assim o filme conseguiu atingir uma quantidade muito maior de espectadores. Mas será que esta comédia merece tantos louros e elogios? Essa avaliação depende do bom humor e da percepção de cada um. A história nos apresenta a família Hoover, pessoas que extrapolam no quesito excentricidade. Não que todas as famílias não tenham suas esquisitices, mas neste clã todos têm alguma característica peculiar, seja na personalidade ou no comportamento. Richard (Greg Kinnear) está tentando desesperadamente vender seu programa motivacional para atingir o sucesso, coisa que o próprio não tem como palestrante. Sua esposa Sheryl (Toni Collette) é otimista e tenta apoiar o marido e entrosar os demais familiares, incluindo seu deprimido irmão Frank (Steve Carell), um homossexual que acaba de tentar suicídio após uma desilusão amorosa. Os filhos do casal também estão longe de serem normais. Dwayne (Paul Dano) é um adolescente revoltado que fez voto de silêncio e Olive é uma garotinha bem fofinha que nem imagina que fisicamente está longe do modelo ideal para ser uma miss, mas mesmo assim deseja a todo custo participar de um concurso de beleza e talento infanto-juvenil, o que obriga a família toda a pegar estrada para uma viagem de alguns dias até o local do evento. Completando a turma de farofeiros, o avô paterno da garota, Edwin (Alan Arkin), vai junto a tira-colo após ser expulso de uma clínica onde estava internado por ser flagrado com drogas. Durante a viagem, essa família enfrentará muitos percalços e terá que deixar as diferenças de lado para realizar o sonho de Olive, de longe a mais sensata entre eles.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

CORAÇÕES EM CONFLITO

NOTA 6,5

Através de uma família, drama
aborda temas relevantes sobre o
mundo globalizado e moderno, mas
trama principal não cativa
Quando somos jovens fazemos muitos planos para o futuro, mas infelizmente a maior parte deles precisa ser abandonada para conseguirmos a realização de alguns poucos da lista. Por exemplo, quantas profissões sonhamos em seguir, mas no final das contas elegemos uma como oficial e uma ou outra atividade praticamos no máximo por entretenimento ou para ganhar alguns trocados? E quem nunca sonhou que quando finalmente tivesse independência financeira poderia fazer o que quiser sem dar satisfações a ninguém? É triste constatar, mas são poucos que concretizam totalmente suas vontades quando adultos. A vida é curta e antes mesmo de estarmos consolidados profissionalmente, paralelo a isso, a natureza humana e a própria sociedade cobram das pessoas um padrão de vida, ou seja, o interesse em formar uma nova família, o que acarreta muitos gastos e sucumbe boa parte dos sonhos individuais de qualquer chefe de família, que hoje em dia não precisa necessariamente ser representado por uma figura masculina. Dessa forma a felicidade inicial de qualquer relacionamento amoroso tende a pouco a pouco a ceder espaço para a melancolia proporcionada por uma rotina estressante de trabalho que tem como único objetivo a aquisição ou a manutenção de um padrão de vida estável, assim muitos casais acabam não conseguindo mais se entender e os reflexos são sentidos diretamente pelos filhos. São justamente as consequências dentro do universo familiar desse tipo de comportamento o foco de Corações em Conflito, uma tímida produção independente que chegou a ser indicada ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, mas que teve uma recepção fria por parte da platéia e no Brasil aportou na surdina.  O repúdio por parte do público e cautela dos distribuidores tem justificativa. A estrutura narrativa criada pelo diretor e roteirista sueco Lukas Moodysson tenta ser algo próximo ao estilo de Crash – No Limite ou Babel, devido as ações fragmentadas e que intercalam situações, em geral dramáticas, que ocorrem com personagens que mesmo estando distantes geograficamente mantêm algum tipo de ligação entre si. O problema é que a trama que envolve o casal principal é das mais enfadonhas, porém, o dilema da empregada estrangeira compensa.

domingo, 10 de janeiro de 2016

ALMA DE CAMPEÃO

Nota 3,0 Drama sem sal nada mais é que um apanhado de clichês de filmes edificantes

Quando um ator já começa a carreira em alta deve estar preparado para o que vem pela frente. Se subir cada degrau rumo ao sucesso já é difícil, mais problemático ainda deve ser passar ileso pela fase da busca da estabilidade quando não se tem uma plena vivência das etapas comuns à profissão de ator. Figuração, elenco de apoio e coadjuvante. Talvez estas sejam as três etapas básicas pelas quais um intérprete deveria passar antes de chegar ao posto de protagonista, mas para quem já faz sua estreia no topo com uma ajudinha da sorte precisa depois provar que merece continuar ocupando tal vaga de destaque. É esta fase que Zac Efron vivenciou após despontar facilmente como ídolo teen em High School Musical. Ele tentou se manter em evidência e com seu nome encabeçando elencos, porém, suas escolhas profissionais não lhe favoreceram. Nas comédias 17 Outra Vez Hairspray – Em Busca da Fama ele repetiu o perfil de bom moço e em ambos os trabalhos seus personagens agregavam certas características que os tornavam um repeteco do que já havíamos visto em sua estreia. No leve drama Alma de Campeão as coisas não são diferentes. Aqui ele dá vida à Patrick McCardle, um adolescente que se dedica ao beisebol apenas para satisfazer o pai, um ex-jogador. Sem saber o que quer da vida, o garoto acaba encontrando inspiração nas conversas que tem com Houston Jones (Bill Cobbs), um ex-treinador de cavalos de corrida cuja reputação não é das melhores devido aos seus problemas com bebidas. Procurando ajudar a si mesmo e também ao amigo, Patrick convence Houston a treiná-lo para uma famosa competição, o que não é sua especialidade, e também enfrenta sua família que inicialmente não aprova esta amizade. Em meio aos treinamentos, o rapaz não só viverá os desafios de conquistar a confiança de um cavalo, mas também receberá valiosas lições de vida envolvendo o primeiro amor, quebra de preconceitos, humildade e superação.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A CHAVE MESTRA

NOTA 7,5

Com um roteiro bem amarrado
e uma excepcional parte
técnica, longa assusta por
adotar tom mais realista
O cinema do início dos anos 2000 foi marcado por uma grande safra de filmes de terror baseados em produções de origem oriental ou então por refilmagens de sucessos arrepiantes da própria fábrica de Hollywood, além das inevitáveis continuações. Ao contrário de outros modismos que chegaram a durar quase uma década, o gênero de horror não conseguiu se segurar em pé com tais armas, ou melhor, as usou com tanta intensidade e rapidez que logo o público se cansou. Bem, pelo menos os fantasminhas de olhinhos puxados ou com longos cabelos cobrindo o rosto tiveram uma vida relativamente curta, obviamente sempre sobrando um ou outro remanescente. Em meio ao marasmo que se anunciava em meados de 2005, eis que surge um lampejo de esperança para o campo de terror, um daqueles títulos que aparentemente são apenas mais um no meio da multidão, mas que surpreendem positivamente. A Chave Mestra representou um importante passo de Kate Hudson em sua carreira. Mesmo com poucos títulos até então no currículo, já era possível enxergar nela o semblante de típica mocinha romântica, porém, ela quis fazer diferente da mamãe Goldie Hawn e não desejava virar sinônimo de um gênero específico. Bem, o tempo passou e ela acabou virando mesmo um nome super requisitado para produções água-com-açúcar, mas não se pode negar que ela tentou trilhar outros caminhos. Neste suspense ela dá vida a Caroline Ellis, uma jovem enfermeira que acompanha pacientes terminais e não se conforma com o péssimo tratamento oferecido aos idosos. Abalada com a recente morte do pai, o qual não pôde ajudar por estar ausente, a garota decide mudar um pouco de ares e passa a se dedicar a apenas um único paciente de forma a lhe oferecer o máximo de cuidado, talvez uma forma de se penitenciar pela culpa que sente. Agora ela está de mudança para New Orleans, onde irá cuidar de um senhor inválido, Ben Devereaux (John Hurt), que vive em um isolado e decadente casarão com a esposa Violet (Gena Rowlands), esta que inicialmente não concorda com a presença da moça na casa. Contudo, ela aceita os conselhos do advogado Luke Marshall (Peter Sarsgaard), o responsável por cuidar dos problemas legais do casal idoso e que também ajudará Caroline a se adaptar a nova rotina. Ela inclusive ganha uma chave mestra para que possa ter livre acesso a todos os cômodos da casa, exceto um que aparentemente está estrategicamente escondido.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

ASSOMBRAÇÃO (2004)

NOTA 6,0

Longa aposta na paranoia para
envolver espectador, apresentando
um universo paralelo e fantástico
onde ficção e realidade se misturam
O gênero de terror no início da década de 2000 ficou marcado pela coqueluche das refilmagens americanas baseadas em originais orientais, produções que em sua maioria trocavam o sangue e a violência explícitos por uma experiência muito mais calcada na construção de um clima sombrio e sustos provocados por trucagens de câmera, sonoras e de edição. Bastaram alguns poucos sucessos hollywoodianos do tipo para que o interesse pelos produtos oriundos do Japão, China, Coréia e companhia bela conseguissem uma brecha no acirrado mercado de exibição e nas prateleiras das locadoras. Além dos filmes que inspiraram as versões americanas, chegaram ao grande público também obras inéditas péssimas, outras medianas e algumas que mesmo sendo boas sofriam com a carência ou má publicidade. Diretamente de Hong Kong, Assombração se encaixa na opção do descaso das distribuidoras, embora tenha tido como primeira grande vitrine o Festival de Cannes. Com direção dos irmãos chineses Danny e Oxide Pang, que causaram certo barulho pouco antes com Visões, o filme virou automaticamente uma febre após sua pomposa estreia na França que mexeu com os ânimos dos empresários do setor cinematográfico, porém, em vários países o longa foi mal lançado como no caso do Brasil. Como deixa explícito o próprio título original, Re-cycle, a obra recicla uma série de referências a outras produções representantes do terror oriental, ainda que em uma época em que tais fórmulas já davam sinais de desgaste. Todavia, este exemplar do cinema de horror chegava com uma pegada diferenciada, mas o genérico título nacional tratou de vender uma ideia ligeiramente diferente sobre o produto. Climão de suspense existe aqui, mas os sustos são na base do conta-gotas e com pouco impacto. O que impressiona neste caso é o misto de sonho e pesadelo atrelados a um roteiro complexo e com até certo toque poético em seus momentos finais. Escrito por Pak Sing Pang, Cub Chien, Sam Lung e pelos Pang Brothers, como os cineastas gostam de ser chamados, o enredo nos apresenta à escritora Tsui Ting-Yin (Angelica Lee Sinje) que usa o codinome de Chu Xun e que afirma que só consegue escrever sobre experiências que teve a chance de viver. Após seu primeiro romance tornar-se um best-seller e até ser adaptado para o cinema, o público estava ansioso pelo seu próximo trabalho, o problema é a pressão que ela passou a sentir. Durante uma noite de autógrafos, Lawrence (Lawrence Chou), seu agente, aproveitando-se de um modismo e para segurar público, anuncia que o próximo projeto da jovem abordará um tema sobrenatural e já teria sido intitulado como “Assombração”. O público fica empolgado com a ideia, pois acredita que a nova obra também contará com elementos autobiográficos narrando experiências da autora com o mundo sobrenatural, contudo, ela não tem a mínima intimidade com o assunto. Ou melhor, não tinha até então.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

PODER PARANORMAL

NOTA 6,5

Abordando o charlatanismo,
longa tem boa premissa, mas
perde a mão com pistas falsas e
abrindo mão de um personagem
Truques de ilusionismo, dom da vidência ou a manipulação pela fé? Qual realmente é o foco de Poder Paranormal? Bem, todos esses temas estão neste suspense dirigido, roteirizado, produzido e ainda editado pelo espanhol Rodrigo Cortés, nome que ganhou certa fama com Enterrado Vivo que lhe rendeu algumas indicações a prêmios. Da claustrofobia de seu trabalho anterior este multiprofissional deu um salto para uma trama bem mais arejada, mas que deixa no ar um clima de mistério explorando um tema que costuma chamar a atenção e gerar polêmicas. O longa começa bem apresentando a estudiosa Margaret Matheson (Sigourney Weaver) e seu assistente Tom Buckley (Cillian Murphy) visitando um casarão onde os habitantes se dizem amedrontados por espíritos malignos. Eles participam de uma sessão espírita, mas não demora muito para descobrirem que tudo não passa de uma farsa, uma brincadeira infantil. A profissão da dupla é essa: estudar supostos casos de paranormalidade em busca de pequenos detalhes que comprovam que tais fenômenos não existem e em geral abastecem a conta bancária daqueles que se dizem detentores de poderes especiais e que se aproveitam da boa fé das pessoas. Um pouco mais adiante, por exemplo, os investigadores acompanham as escondidas uma apresentação de um vidente em um auditório e descobrem que tudo o que ele sabe sobre as intimidades de algumas seletas pessoas da platéia são ditadas em um ponto eletrônico por uma jovem que provavelmente tem uma ficha de inscrição dos espectadores das mais completas ou até mesmo tais participantes já teriam sido contratados previamente para brincarem de atuar. Qualquer semelhança com cenas protagonizadas por certos missionários de Deus da vida real que fazem verdadeiros espetáculos não devem ser encaradas como coincidência. Margaret e Buckley agem rapidamente e o charlatão é desmascarado em público e com a polícia já a postos. Cada um deles tem um motivo para terem escolhido esse trabalho. O rapaz em uma conversa informal deixa a entender que sua mãe estava com câncer e abriu mão do tratamento quando um vidente a fez acreditar que ela não tinha absolutamente nada de errado no organismo, uma mentira que a levou a morte. Já sua mestra, mais que sua profissão, encara essas desmistificações como uma questão pessoal já que seu filho está em coma há anos e ela não aceita desligar os aparelhos sem ter alguma prova concreta de que existe uma outra vida.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

ASSALTO EM DOSE DUPLA

NOTA 1,5

Tentando fazer humor em cima
dos filmes de roubo a banco,
comédia é sem graça e não
não envolve o espectador
Filmes cujo tema principal são golpes e assaltos já tiveram seu auge, mas aos poucos a repetição de clichês cansou o espectador e este subgênero que mescla ação e suspense passou a ser visto com ressalvas. Onze Homens e Um Segredo deu um gás a esse tipo de produção injetando uma generosa dose de humor e reunindo um time de peso. Assim uma nova leva de filmes protagonizados por quadrilhas de assaltantes passou a invadir cinemas e locadoras, a maioria trazendo um tom de ironia implícito. Fazer uma comédia legítima já é um tanto difícil, imagine então extrair risos de uma situação que teoricamente era para deixar qualquer um com os nervos a flor da pele ou ao menos sob o efeito delirante das descargas de adrenalina. Bem, Assalto em Dose Dupla é um híbrido de ação, policial e comédia e realmente faz rir. Sim, provavelmente o espectador irá rir de si mesmo por estar perdendo tempo com algo tão descartável e por vezes excessivamente ignorante. Todavia, a premissa não é das piores. Por uma infeliz coincidência duas gangues de criminosos, uma composta por profissionais e outra formada por amadores, têm a ideia de assaltar um mesmo banco e na mesma hora. Para não perderem a viagem, os bandos decidem se unir para realizarem o assalto, mas tudo sai do controle, principalmente quando os próprios criminosos começam a se equivocar para cumprirem suas metas e os reféns tentam descobrir o que há por trás destes misteriosos e pontuais ataques. Tripp (Patrick Dempsey), cliente do banco, tenta proteger a todo custo Kaitlin (Ashley Judd), uma das caixas do local, por quem ele parece ter uma quedinha, porém, ele se mostra muito astuto do que o esperado para lidar com uma situação do tipo, o que tira um pouco do brilho do único motivo capaz de fazer o público se envolver com este longa. Sim, fora esse fiapo de história que une estes dois personagens, há pouca coisa para se entreter com esta trama desenvolvida em um ambiente de certa forma claustrofóbico, afinal toda a ação se passa dentro uma instituição financeira cuja noção completa de espaço jamais é passada com eficiência, parecendo que os personagens transitam sem rumo por ambientes aleatórios até que a polícia chegasse, diga-se de passagem, uma espera que parece uma eternidade devido a arrastada narrativa que tem poucos momentos divertidos ou de tensão.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A CASA CAIU

NOTA 6,0

Steve Martin forma uma boa
dupla com Queen Latifah em
comédia que, embora divertida,
levanta alguns preconceitos
Steve Martin até que já tentou atuar em outros tipos de filmes, mas a comédia é realmente seu território sagrado. Vez ou outra ele faz algo com um humor mais inteligente, porém, não tem jeito, ele sempre regressa às produções a la “Sessão da Tarde”. E o pior de tudo é constatar que no futuro quando assistirmos produtos como A Casa Caiu sentiremos sua falta e do tipo de filme ao qual ele tanto se dedicou. Bem, isso se você for um espectador não muito crítico obviamente. Nesta comédia dirigida por Adam Shankman, que futuramente realizaria os ótimos Hairspray – Em Busca da Fama e Um Faz de Conta que Acontece, mais uma vez o tema do homem moderno que é mais preocupado com o trabalho do que com a própria família está em evidência. Peter Sanderson (Martin) é um representante da nova terceira idade. Ok, pelo seu ritmo e características de sua vida digamos que ele ainda não é legitimamente um idoso, mas está quase lá. Embora exibindo uma cabeleira branca e esteja divorciado de Kate (Jean Smart) aparentemente a contragosto, ele não perdeu a vontade de viver e continua trabalhando em um escritório de advocacia, tenta fazer o melhor que pode para cuidar dos filhos e vez ou outra procura uma nova paquera através de chats de internet. Certo dia ele marca um encontro com uma advogada que pela descrição física parece muito atraente. Ansioso, ele escolhe sua melhor roupa, se perfuma, arruma a casa e para sua surpresa recebe a visita de Charlene Morton (Queen Latifah), uma mulher que fisicamente não lembra em nada a descrição do chat e que para piorar é uma fugitiva presidiária desbocada e com atitudes rudimentares. Ela se passou por outra propositalmente para se aproximar de Sanderson para que ele aceite defendê-la e a ajude a limpar seu nome. O advogado recusa várias vezes, mas sua “pretendente” é incansável e faz qualquer negócio para convencê-lo nem que precise literalmente acabar com a sua paciência. A experiência desagradável inicialmente acaba fazendo muito bem a este homem sério que passa a ver a vida de forma mais descontraída, ainda que problemas não lhe faltem.

domingo, 3 de janeiro de 2016

SONHANDO ACORDADO (2007)

Nota 4,0 Apesar de ter um bom argumento, a felicidade nos sonhos, comédia deixa a desejar

O fascínio e os mistérios que envolvem os sonhos sempre foram uma das matérias-primas preferidas dos cineastas afinal de contas um dos principais objetivos da sétima arte é transportar o espectador por algumas horas para outra realidade para viverem emoções que talvez nunca viveriam na vida real. Nos últimos anos muitas produções adotaram a temática como elemento-chave para contar histórias que nem sempre são bem compreendidas, mas ainda assim Hollywood investe neste universo. O sonho substituindo a realidade ou o real invadindo o imaginário não são temas aplicados exclusivamente em produções infantis ou ficções, mas também encontram espaço em dramas, como Máscara da Ilusão, e nas comédias românticas como De Repente 30. Optando pelo viés da crise da meia-idade e dos delírios libidinosos, Sonhando Acordado é uma obra que procura abordar a temática por um ângulo diferente e conquistar um público mais maduro, entretanto, não costuma agradar com facilidade. A trama gira em torno de Gary Shaller (Martin Freeman), um compositor talentoso, porém, frustrado por ganhar dinheiro criando melodias para campanhas publicitárias. Ele não gosta de seu trabalho principalmente por não ter seus esforços reconhecidos a ponto de ser comparado a Paul (Simon Pegg), seu parceiro no passado em uma banda de rock e que hoje é um publicitário respeitado. Sua melancolia e depressão são crescentes também porque não recebe apoio de sua esposa, Dora (Gwyneth Paltrow), que lhe tece apenas críticas negativas. Sua vida só ganha um novo sentido quando ele conhece a bela e sedutora Anna (Penélope Cruz), uma mulher que reúne todas as características com as quais um homem pode sonhar. O problema é que literalmente ela é um sonho, assim Gary passa a procurar algum meio que o ajude a prolongar ao máximo este amor platônico e recebe a ajuda de Mel (Danny DeVito), uma espécie de guru.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A VIDA É BELA

NOTA 10,0

Escondendo os horrores da
guerra através de uma
criativa desculpa, o filme já
nasceu para ser um clássico
A Itália tem seu cinema reconhecido tanto por parte do público quanto pela crítica e vem conquistando diversos prêmios e legiões de fãs mundo afora há várias décadas. Além de títulos de sucesso, o país também gerou ídolos mundiais das artes dramáticas como Sophia Loren, Marcello Mastroiani e... Roberto Benigni. Bem, ele alcançou a fama na década de 1990 através de comédias simpáticas, mas teve seu ápice quando armou o maior estardalhaço na cerimônia do Oscar para comemorar seu merecido prêmio de Melhor Ator por A Vida é Bela. Podem passar anos e mais anos, mas o nome desse ator certamente ainda será lembrado pelo público brasileiro com ressalvas ou até mesmo raiva. Justamente no ano em que parecia que finalmente ganharíamos o nosso tão sonhado Oscar levamos uma rasteira. É praticamente impossível falar deste marco do cinema sem lembrar do brasileiro Central do Brasil, duas grandes produções que disputaram praticamente todos os principais prêmios de cinema da época, mas a Academia de Cinema decidiu agraciar o épico italiano, fato que deixou o pessoal aqui na terrinha com um sabor amargo de tristeza e decepção. Muita gente até hoje se nega a assistir o concorrente, mas não há como negar que ele tem um visual de encher os olhos e uma trama muito emocionante, o que certamente seduziu os votantes que avaliam as produções estrangeiras, geralmente profissionais de mais idade e defensores de um cinema tradicional e romanceado. Os dois longas, apesar de possuírem diferentes estruturas e narrativas, têm em comum a idéia de envolver em suas histórias um garoto cativante e sonhador e a personagem principal feminina ter o mesmo nome, mas as coincidências terminam por aí. É preciso deixar o espírito patriota de lado para poder esmiuçar ambas as obras e descobrir o que há de tão especial em um que o outro não tenha. Não é fácil fazer análise de produções que praticamente empatam no quesito emoção e enredo, mas a resposta pode estar mesmo no orçamento refletido nas telas. O filme de Walter Salles é bem realizado, mas apresenta um cenário muito comum, quase sem vida, um cotidiano pobre estampado a cada nova cena. Já Benigni investiu pesado em ambientações, figurinos e objetos cenográficos para conferir uma aura de conto de fadas a um trabalho que começa realmente com um jeitinho encantador, mas depois abre espaço para uma dura realidade onde as cores tristes e acinzentadas predominam, porém, os diálogos e situações tratam de manter o lúdico em evidência até o último take que, diga-se de passagem, é bem tocante, mas um tanto apressado. No final das contas, digamos que o nosso representante, visualmente falando, era um produto desnudo perante o outro vestido em trajes finos para festa.