quarta-feira, 30 de novembro de 2016

AMERICAN PIE - A PRIMEIRA VEZ É INESQUECÍVEL

NOTA 8,0

Com argumento simples e piadas
inteligentes aliadas à escatologia leve,
comédia é um registro dos teens pré-virada
do milênio revelando seus anseios e dúvidas
No início da década de 1980 a comédia Porky's causou frisson por ser uma fita voltada ao público adolescente e que com muito humor e descaradamente falava sobre sexo, mais especificamente sobre a descoberta dele por um grupo de jovens. Expectativas e frustrações em meio a muita confusão marcaram toda uma geração, tanto que gerou mais duas continuações e influenciou várias outras comédias teens como O Último Americano Virgem e A Primeira Transa de Jonathan. De sacanagem literalmente, em menor ou maior intensidade, é que tais fitas se sustentavam. Para alguns puritanos certamente era o apocalipse ver em cena jovens discutindo sem pudor sobre a necessidade de perder a virgindade e a colocando em jogo como um prêmio de aposta. Com o tempo a temática caiu em desuso, mas eis que as vésperas do novo milênio ela ressurgiu com American Pie - A Primeira Vez é Inesquecível, virando uma febre imediata entre os adolescentes, afinal entre dúvidas quanto a profissão a escolher, arranjar um emprego ou convencer os pais a lhe dar um carro, sem dúvidas a questão de até quando permanecer intacto é o que mais os perturba. É esse o grande dilema vivido por Jim (Jason Biggs) que está naquela fase em que só pensa naquilo. Ele tenta aliviar seu problema com constantes sessões de masturbação, mas vive metendo os pés pelas mãos. Melhor dizendo, no caso ele mete o pênis em meias, travesseiros e até dentro de uma suculenta e macia torta de maçã, daí a justificativa do título, e quase sempre é flagrado por alguém. O mesmo dilema vem tirando o sono de seus amigos Oz (Chris Klein), Kevin (Thomas Ian Nicholas) e Finch (Eddie Kaye Thomas). Prestes a se formarem no segundo grau (para nós o ensino médio) eles estão pouco se lixando para as provas finais e firmam um pacto de que todos vão perder a virgindade, ou alcançar o Santo Graal como gostam de dizer para dar um sentido mais nobre a missão, até a noite do baile de formatura. Detalhe, tem que transar com o consentimento das garotas, não podem ser prostitutas.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O PÂNTANO (2001)

NOTA 4,0

Usando a decadência de uma
família como metáfora a crise
generalizada da Argentina, obra
é uma opção de difícil digestão
O cinema argentino desde o ano 2000 tem sido reconhecido mundialmente e suas produções consideradas o que há de melhor na área nas regiões latino-americanas. Muito premiado e com o ator Ricardo Darín automaticamente eleito como um grande símbolo do desenvolvimento da arte cinematográfica no país, é certo que suas comédias e dramas familiares fazem sucesso por geralmente narrarem histórias de apelo universal, o que explica a ausência de barulho entre os populares quanto ao festejado entre os críticos O Pântano, trabalho de estreia da roteirista e diretora Lucrecia Martel. É muito difícil se sentir envolvido por um filme cuja estética é literalmente suja, embora a opção seja justificada pela trama ácida, crítica, melancólica e porque não desinteressante. Sim, a percepção de um filme varia de pessoa para pessoa e implica vários fatores, como cultura e experiência de vida, ainda que muitos certamente prefiram omitir suas verdadeiras opiniões ameaçados pelo peso de menções honrosas como dos festivais de Berlim e Sundance, por exemplo. Bater de frente com a opinião de críticos especializados que vêem beleza na lama pode ser a assinatura de seu atestado de burrice ou surpreendentemente provar sua coragem de ser diferente. As divergências de ideias é benéfico, só não vale não assistir e passar adiante falsos elogios rasgados a fim de parecer intelectual, o que realmente não é o objetivo deste texto. A quem interessar participar desta estranha experiência, lá vai a sinopse. Mecha (Graciela Borges) é uma mulher em torno dos 50 anos, mãe de quatro filhos jovens, mas que não se entende mais com o marido Gregorio (Martín Adjemian), entregando-se a bebida para a embriaguez a ajudar a ignorá-lo. Ele, por sua vez, se preocupa com a aparência procurando recuperar o frescor da juventude, mas também é adepto do álcool para esquecer problemas. Já Tali (Mercedes Morán), prima de Mecha, também tem quatro filhos, só que ainda crianças, e ama e se dedica ao máximo para o bem estar da família, inclusive do marido Rafael (Daniel Valenzuela) que ocupa seu tempo caçando. Para escapar do clima quente da cidade, todo o verão estas duas famílias combinam de passar uma temporada no povoado de Rey Muerto que abriga o sítio La Mandrágora, reduto de cultivo de pimentões vermelhos.               

domingo, 27 de novembro de 2016

AS LOUCURAS DO REI GEORGE

Nota 9,0 Cinebiografia ganha vigor com atuação que desmistifica figura histórica aborrecida

É impressionante investigar a História do cinema e ver a quantidade enorme de filmes que foram super elogiados e premiados, mas que a ação do tempo em conjunto com a modernidade acabaram empurrando-os para o limbo. São inúmeros títulos que se perderam na transição das fitas VHS para o DVD e hoje, com os serviços de streaming alimentando a ânsia do público por novidades, infelizmente se tornam cada vez mais ínfimas as chances de grandes produções voltarem ao mercado. Uma pena para os verdadeiros cinéfilos que prezam por conteúdo e qualidade e são privados de ver ou rever obras como As Loucuras do Rei George, uma luxuosa e cuidadosa produção que deixou sua passagem registrada pelos principais festivais e premiações em meados da década de 1990, chegando obviamente ao Oscar conquistando duas estatuetas. A trama escrita por Alan Bennett se baseia em fatos verídicos ocorridos em um período conturbado da vida do monarca da Grã-Bretanha George III (Nigel Hawthorne) no final do século 18. Ele era um homem que mantinha um bom relacionamento com seus súditos e levava uma vida pessoal irretocável, sendo muito feliz no casamento com Charlotte (Helen Mirren). O casal teve nada mais nada menos que quinze herdeiros, entre eles o Príncipe de Gales (Rupert Everett), o primeiro representante na linha de sucessão ao trono e aquele que viria a trair seu próprio pai em nome do poder, um mal que parecia fazer parte do histórico do clã visto que traições semelhantes já haviam ocorrido em outras gerações, nada muito diferente do que ocorria entre tantas outras famílias nobres da época. Seu filho mais velho defendia que o comportamento da família real deveria ser um exemplo à população, apesar de ele próprio levar uma vida desgarrada e cheia de pecados. O grande ponto de conflito é que o rapaz criticava abertamente o comportamento do pai conhecido por suas excentricidades. Conforme o tempo passa essas atitudes diferentes do monarca começam a gerar inquietações, constrangimentos e a levantar suspeitas de que o rei de fato enlouqueceu e eis o momento em que a disputa pela sucessão do trono se acirra.  Uma facção da nobreza se empenhou para tentar minimizar os efeitos da senilidade do rei e diante da incapacidade de seu médico pessoal em identificar as causas para seu problema recorrem ao apoio do doutor Francis Willis (Ian Jolm), um psiquiatra adepto de métodos poucos convencionais.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A FAMÍLIA SAVAGE

NOTA 7,0

Irmãos que não se falavam há
anos se reencontram em drama
com toques de humor que aborda a
imperfeição do ser humanao
Todos os anos na época do auge das premiações surgem alguns títulos independentes que podem surpreender e conquistar a crítica e o público. Geralmente com o respaldo de passagens por festivais cults, eles chegam como as zebras de festas como o Globo de Ouro e o Oscar, porém, não há espaço para todos eles nessas disputas. Foi o que aconteceu com A Família Savage que acabou diminuído com a presença de Juno em seu caminho, uma febre que conquistou com sua trama leve e temática jovem, dois itens que o longa protagonizado pelos talentosos Laura Linney e Philip Seymour Hoffman não podem contar. Eles vivem Wendy e Jon Savage, irmãos que se aproximam depois de muitos anos devido ao estado de saúde delicado do pai, Lenny (Philip Bosco). O problema é como dedicar atenção ao idoso sem abdicar de suas próprias vidas. Apesar de alguns momentos cômicos, a roteirista Tamara Jenkins, estreando aqui também no cargo de diretora, optou por abordar um tema que revela o que há de pior no ser humano, o egoísmo, seja na vida profissional ou na particular. A grande surpresa é que ela não tem medo de expor a velhice sob uma ótica diferenciada. Dramas com idosos tendem a reforçar a mensagem de que é uma obrigação dos mais novos cuidar dos mais velhos, porém, aqui é mostrado sem pudor que tal situação é um entrave e tanto para os filhos e o próprio ancião toma consciência de que é um fardo para os outros e que ele próprio não vê mais razão para viver se não pode ter sua independência preservada. Ao começar a escrever com fezes nas paredes, os filhos são imediatamente chamados para ser discutido o que será feito com Lenny diante dos sinais de demência. Para piorar, ele não tem mais um teto já que vivia há cerca de vinte anos com uma companheira que acabara de falecer, aliás, eles já estavam separados por algum tempo devido a problemas de saúde de ambos. Mesmo guardando mágoas dos tempos de infância pela atenção que o pai negou, os irmãos decidem ampará-lo mostrando que um resquício de civilidade ainda há dentro deles. Todavia, isso implica em mudança de estilo de vida para os dois. Wendy é uma quarentona que a essa altura do campeonato ainda não sabe bem o que quer da vida. Vivendo em East Village, ela é amante de um homem casado, se dedica a trabalhos temporários e sonha que ainda terá seu talento como dramaturga reconhecido, mas parece não confiar no que escreve. Jon, por sua vez, vive em Buffalo e trabalha como professor universitário sem grande reconhecimento, além de ter escrito alguns livros esquecíveis. No momento sofre com a separação da namorada polonesa que precisa deixar os EUA por não ter conseguido renovar seu visto de permanência.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

AS AVENTURAS DE AGAMENON - O REPÓRTER

NOTA 1,5

Longa é um vexame para
o cinema nacional do início
ao fim apoiando-se em
piadas sem pé nem cabeça
Quantas pessoas você já viu na fila do cinema ou em uma locadora apontando um ou mais títulos e dizendo que eles devem ser bons porque suas propagandas passam toda hora na TV ou em praticamente todos os sites existem banners divulgando-os? É se aproveitando dessa inocência do público que muitas empresas tentam lucrar. O artifício da publicidade é usado a exaustão desde os primórdios da televisão para vender margarina, sabonetes e coisas do tipo. Na realidade querem te iludir com a idéia de que o produto que estão oferecendo é ótimo e essencial. Da mesma forma que um bebê aprende a falar e certos gestos na base da repetição, o mesmo impulso as empresas querem despertar em pessoas com a mentalidade já desenvolvida reforçando cada vez mais uma marca ou produto. A Globo Filmes faz praticamente a divulgação de oito a cada dez lançamentos nacionais e desde a campanha de sucesso de Se Eu Fosse Você no final de 2005 adotou a estratégia de inserir anúncios dos filmes em seus intervalos comerciais cerca de dois meses antes da data de estréia, assim conseguindo criar o efeito desejado: cativar o seu espectador para ir ao cinema. Por um bom tempo isso funcionou e os lançamentos de verão brazucas fizeram fortuna, mas quando uma produção é ruim não há santo que ajude. Por alguns dias até pode ser que o público se sinta instigado a assisti-las, mas logo o boca-a-boca negativo mostra seus efeitos. Pior ainda quando um elenco capenga é a bola da vez. Com um enredo sofrível e interpretações de doer de atores misturados a modelos, peças de museu e profissionais do tipo topo tudo, Muita Calma Nessa Hora até fez seu pé de meia, por exemplo, mas os espectadores não caíram na mesma armadilha com As Aventuras de Agamenon – O Repórter e deram às costas à produção. Embora a campanha publicitária fosse muito eficiente, também colocada no ar com antecedência e com direito a um funk tipo chiclete, o elenco reunido já trazia desconfianças. O que dizer de um personagem que é dividido por Hubert,um membro do grupo Casseta e Planeta, diga-se de passagem, em franca decadência, e o onipresente Marcelo Adnet? Besteirol na certa. Idolatrados por destilarem um humor ácido e crítico, os atores falharam ao tentar fazer no cinema o que fazem há anos na TV.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O CASAMENTO DO MEU EX

NOTA 3,0

Premissa interessante é
desperdiçada por roteiro
pobre e interpretações
pouco inspiradas
Este é mais um filme cujo título engana o espectador, embora ele se aplique muito bem a proposta do roteiro. Já tivemos tantas comédias românticas batizadas com frases e expressões que utilizavam as palavras ex e casamento, além do tradicional meu ou minha indicando possessão, que é óbvio que quem escolhe assistir O Casamento do Meu Ex espera ver aquela historinha manjada, com final anunciado logo na primeira cena e com aquelas piadinhas bobinhas ou de duplo sentido. Se você é esse tipo de espectador, provavelmente se decepcionará com a escolha. Esta produção é totalmente diferente do que 99 a cada 100 pessoas podem esperar de um produto a julgar pelo seu título, um caso que se assemelha a Namorados Para Sempre, outro filme que ao surgirem os créditos finais deve deixar muita gente com cara de que comeu e não gostou. Ambas são produções aparentemente do tipo comédias açucaradas, mas se revelam histórias dramáticas e nas quais os personagens estão em cena para lavar a roupa suja ou desfazer mal entendidos. É complicado, mas o que fazer quando um título aponta para dois caminhos opostos? Bem, neste caso a diretora estreante Galt Niederhoffer optou pelo viés dramático e não foi muito feliz. O longa é baseado no livro homônimo da própria cineasta, mas fica a dúvida se o conteúdo contido na publicação é tão insosso quanto o visto na versão cinematográfica. Apostando em um enredo em que as vidas de diversas pessoas são entrelaçadas por acaso ou partilhadas intencionalmente, um estilo que já está se tornando corriqueiro no cinema, o longa tem um eixo principal: o casamento de Lila (Anna Paquin) com Tom (Josh Duhamel).  Eles estão a apenas um dia de trocarem alianças a beira-mar, mas até esse momento chegar muita coisa pode acontecer a partir da chegada de Laura (Katie Holmes). Ela é a dama de honra da noiva, mas já teve um relacionamento no passado com o noivo. Esse fato não é guardado a sete chaves. Lila sabe e se mostra incomodada com a possibilidade de Tom ter uma recaída poucas horas antes do casamento, mas não fica claro os motivos que levaram a noiva a querer estreitar laços com a ex do futuro marido. Política de boa vizinhança? Não é o que parece. Talvez ela buscasse justamente essa aproximação entre eles para submeter o noivo a uma espécie de teste de fidelidade. 

sábado, 19 de novembro de 2016

END GAME

Nota 1,0 Presidente dos EUA é vitimado mais uma vez em suspense repetitivo e desenecessário

Ganhar um Oscar pode ser positivo e também negativo. Alguns artistas após um elogiado e premiado trabalho acabam caindo em uma espiral de fracassos e outros em contrapartida só ganham ou acumulam ainda mais prestígio. E tem aqueles atores que mesmo atuando em verdadeiras bombas acabam alimentando a fama de que “é o cara”. Esse é o caso de Cuba Gooding Jr. que ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Jerry Maguire – A Grande Virada, mas depois disso fez pouquíssimos filmes que escaparam de serem duramente criticados ou até mesmo caindo no ostracismo de imediato ao lançamento. Todavia, não é difícil encontrar aqueles que ao verem seu nome estampado em um cartaz de cinema ou na capa de um DVD logo dispararem algo do tipo “esse filme deve ser bom, ele só faz coisa boa”. Coisa boa? Só peneirando duas ou três vezes sua filmografia para ver o que ela tem de bom. O fato é que seu jeito de cara malandro acaba criando empatia com o público e talvez por isso o ator não funcione em papéis mais sérios como o que ele encarna no chato suspense policial End Game. Aqui ela dá vida a Alex Thomas, um agente do Serviço Secreto responsável pela segurança do Presidente dos EUA (Jack Scalia). Certo dia, logo que chega a um evento público em uma universidade o político é atingido por um tiro certeiro e morre. Thomas passa a se sentir culpado pelo ocorrido, já que ele tentou desviar a bala de seu percurso original (super-herói com visão biônica?) e talvez esse pequeno detalhe possa ter provocado a tragédia. Agora o rapaz está obcecado pela ideia de resolver o crime e ganha uma importante aliada, a repórter Kate Crawford (Angie Harmon), mas cada novo suspeito ou pessoa ligada ao presidente que conseguem ter contato logo em seguida acaba morrendo em condições violentas. Logo os dois também passam a ser alvos de criminosos. Resumidinho dessa forma, até que o filme roteirizado e dirigido por Andy Cheng, ator de A Hora do Rush experimentando novos caminhos profissionais, daria para ser encarado afinal a premissa comum é perfeita para matar o tempo sem precisar usar o cérebro, mas infelizmente o longa tenta ser mais inteligente que suas reais possibilidades adicionando a suspeita de uma empresa ilegal estar ligada ao assassinato e até que o político poderia ser dependente de uma droga. O problema é que a maioria dos tiros do roteiro não estilhaça alvo algum, simplesmente somem no ar sem contribuir em nada para a história, apenas ajudam a torná-la pior.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA

NOTA 10,0

Clássico da literatura
americana reúne elementos
perfeitos para o estilo Tim
Burton de fazer cinema
Quando pensamos em filmes de terror é quase impossível não se lembrar dos sanguinários assassinos mascarados que caçam adolescentes ou qualquer um que esteja de bobeira na rua em horários inoportunos, das figuras assustadoras que incorporam espíritos malignos ou ainda recordarmos dos monstros clássicos do cinema, como vampiros e lobisomens, que até hoje rendem histórias. Longe do estilo trash ou do lema sangue é a alma do negócio, Tim Burton construiu sua carreira basicamente pautado pelo gênero de horror e suspense, mas conseguiu imprimir um estilo único de assustar. Quer dizer único não é mais, pois já existem diversos cineastas copiando seu estilo gótico ou surreal de contar histórias que flertam com o medo, o humor e o drama. Todavia, ainda falta para muitos a criatividade e a sutileza de Burton para tocar projetos semelhantes aos seus. Talvez sejam as suas particularidades que nos encantem, por exemplo, em A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, longa rotulado como terror, mas que na comparação com muita coisa que é lançada atualmente mais parece um conto de fadas. Todos os elementos que fizeram e ainda fazem a fama do diretor estão presentes nesta produção que pode ser considerada uma obra-prima do gênero. Personagens bem trabalhados, ambientação minuciosamente escolhida, humor negro, bizarrices e o tom gótico já são marcas registradas do diretor e aqui todas elas são imprescindíveis para a condução da narrativa que faz com que por alguns momentos o espectador esqueça que é um filme de terror que está vendo tamanho o lirismo e o aspecto onírico de algumas cenas. Mas claro que também há sangue para agradar aos fãs do gênero. A história é baseada em um popular conto de horror do americano Washington Irving, que por sua vez baseou-se possivelmente em uma lenda germânica. Na virada do século 18, o pequeno vilarejo rural de Sleepy Hollow está sofrendo com o pânico gerado pelos boatos de que todas as noites o fantasma de um homem sem cabeça vaga pelas ruas a procura de seu crânio. O estranho é que parece que ele surge predestinado a decepar corpos escolhidos previamente, e nem as mulheres ou crianças são poupadas. O excêntrico detetive nova-iorquino Ichabod Crane (Johnny Depp), famoso por solucionar casos baseando-se em conceitos racionais e científicos, é chamado com urgência para dar seu parecer da situação e acalmar os ânimos. Inicialmente, ele tenta apresentar soluções lógicas para o problema investigando as possíveis ligações entre as vítimas para assim chegar a um assassino de carne e osso, mas não demora muito para seu ceticismo ir por água abaixo.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O ANO DA FÚRIA

NOTA 8,0

Misturando ficção e realidade,
suspense político prende atenção
com narrativa coesa, envolvente e
 que continua atual e chocante
Infelizmente temos a cultura de só dar atenção a filmes lançamentos e recorrer a antigos apenas por alguma indicação ou quando precisamos realizar trabalhos escolares ou empresariais e ainda assim a maioria assiste com ressalvas, apenas por obrigação. Bem, vendo por esse lado, O Ano da Fúria seria um título obrigatório para qualquer estudante ou trabalhador da área jornalística, no entanto, sua trama é razoavelmente interessante para agradar espectadores fora deste nicho mesmo sendo uma produção de 1991. O duro é alguém despretensiosamente topar ver um trabalho de Sharon Stone dos tempos em que ela ainda nem tinha dado sua famosa cruzada de pernas em Instinto Selvagem. Sim o filme é velho, mas muito bom. Um jornalista pode se envolver com o assunto de seu trabalho a ponto de interferir nos fatos? Vale a pena se arriscar para ter a matéria de sua vida? É melhor esconder a verdade para não comprar briga com gente influente? Estas são algumas questões que o roteiro de David Ambrose tenta responder com exemplos práticos e inspirados em eventos reais acontecidos a partir de janeiro de 1978, ano em que a Itália estava um verdadeiro caos devido aos intensos e violentos conflitos travados contra o governo, o que justifica o título. Baseado no romance de Michael Mewshaw, este suspense segue os passos de David Raybourne (Andrew McCarthy), jornalista norte-americano que está voltando a Roma para trabalhar no jornal de língua inglesa dirigido por Pierre Bernier (George Murcell), uma suposta conexão da CIA na cidade. Todos que trabalham na publicação são estrangeiros que atuam clandestinamente no país, mas os interesses do repórter vão além de notícias cotidianas. O rapaz deseja escrever um livro inspirado nos atentados terroristas organizados pelas Brigadas Vermelhas, grupo que se infiltrava em ambientes universitários incitando a revolta de estudantes e até de alguns professores com o objetivo de destronar os governantes da época e tomar o poder italiano. Certo do sucesso que sua obra seria, ele sonha com o dia que poderá se casar com Lia Spinelli (Valeria Golino), uma moça que ele conheceu em sua temporada anterior na Itália. Com um filho pequeno, ela não pode abandonar o país diante das ameaças do ex-marido que parece saber algum segredo seu, mas esse gancho a respeito de Lia acaba sendo esquecido quando outra personagem feminina forte entra na trama.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

ESTRANHA OBSESSÃO (2011)

NOTA 3,0

Com requisitos para atender as
expectativas de fãs de cinema mais
artístico, longa se revela enfadonho
e com situações desperdiçadas
A atriz inglesa Kristin Scott Thomas se transformou em uma espécie de marca de garantia de qualidade tal qual a francesa Juliette Binoche. Ambas com passe livre nas produções hollywoodianas, inclusive vez ou outra nas mais comerciais, e com carreira ativa em seus países natais, seus filmes geralmente são exibidos nos cinemas em circuito restrito ou lançados diretamente para consumo doméstico o que traz certa aura de intelectualidade a seus trabalhos. Não é difícil encontrar pessoas que enchem a boca para falar os nomes dessas atrizes para se passarem por intelectuais, mas no fundo não curtem suas obras ou sequer as entendem. Bem, quem decidir assistir a mescla de drama e suspense Estranha Obsessão atraído pelo nome de Kristin nos créditos não precisa fingir a frustração, o longa é realmente chato e sem pé nem cabeça. O título nacional genérico e desinteressante faz jus ao porte da produção, um trabalho menor e mal conduzido que pelo visto tentou reverter as expectativas nos minutos finais apostando no clichê da revelação bombástica, mas já tarde demais para alterar julgamentos, isso se alguém aguentar chegar até a conclusão, mesmo com a curta duração do filme. A trama acompanha Tom Ricks (Ethan Hawke), um melancólico professor de cinema e escritor americano que viaja para Paris a fim de se reconciliar com Nathalie (Delphine Chuillot), sua ex-esposa, que logo no primeiro encontro mostra-se contrária a qualquer tipo de aproximação, inclusive ameaçando chamar a polícia para denunciar o rapaz já que existe uma ordem judicial para que ele não se aproxime. Algum tempo antes ele se envolveu em um escândalo na universidade em que trabalhava e isso acabou com seu casamento e o afastou de Chloe (Julie Papillon), sua filha pequena com quem nunca teve muito contato. Após a tentativa frustrada de visitar a garota, esse homem azarado ainda é assaltado e perde sua bagagem e dinheiro. Sezer (Samir Guesmi), dono de um pequeno e decadente hotel, acaba ajudando Tom lhe oferecendo um quarto com a promessa de que tão logo ele arranje um emprego pagará a hospedagem. É conversando com este suspeito homem de origem árabe que ficamos conhecendo um pouco mais da vida do escritor.

domingo, 6 de novembro de 2016

AS MULHERES DE ADAM

Nota 7,0 Centrado nos relacionamentos de um cafajeste, quem se destaca são suas parceiras

Pode um personagem cafajeste conquistar a simpatia do espectador? A julgar pela comédia romântica As Mulheres de Adam a resposta é sim, muito pelo modo sutil e descontraído que o diretor e roteirista Gerard Stembridge conduz uma história que tinha tudo para causar repúdio nos espectadores mais conservadores, contudo, mostra-se  habilidoso e ousado ao deixar seu enredo ser conduzido por um protagonista de caráter duvidoso, porém, abandonando falsos moralismos e deixando-o a vontade em cena. A trama começa como tantas outras comédias românticas. Lucy Owens (Kate Hudson) é garçonete e cantora em um pequeno bar na cidade de Dublin, na Irlanda, e apesar de muito namoradeira nunca se sentiu apaixonada e correspondida verdadeiramente. Certa noite ela se a apaixona a primeira vista por um de seus clientes, o misterioso e aparentemente perfeito Adam (Stuart Townsend), que como todo jovem que quer vender uma imagem de sucesso e independência ostenta um chamativo e valoroso carro. Após alguns encontros,  nem ela mesma sabe o porquê desse amor instantâneo afirmando que o rapaz não é muito inteligente e tampouco simpático, todavia o charme e lábia dele parecem ser suas armas de conquista, tanto que Laura (Frances O´Connor) e Alice (Charlotte Bradley), as irmãs de Lucy, também se apaixonam logo que o conhecem. Assim, o conquistador barato passa a se relacionar com essas três mulheres na surdina e até o caçula da família, David (Alan Maher), escapa por pouco de ser seduzido, ficando com a pulga atrás da orelha quanto a sua sexualidade ao se sentir atraído pelo futuro cunhado. É uma pena que Stembridge não desenvolva tal gancho e prefira se ater aos envolvimentos héteros do pegador que é um cara-de-pau de marca maior que mesmo após aceitar o pedido de noivado de Lucy não sossega, pelo contrário, seu instinto de caça só aumenta. Dessa atração fatal parece só escapar a mãe da noiva, Peggy (Rosaleen Linehan), que pode não ir para a cama com o jovem, mas não esconde seu apreço por ele e torcida pelo casamento. As aventuras sexuais do rapaz são contadas por pontos de vistas diferentes e não raramente contraditórios, abrindo espaço para o elenco feminino brilhar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

SEMPRE AO SEU LADO

NOTA 9,0

Baseado em um conto
oriental, longa é cercado
de diversos cuidados e
clichês para emocionar
O ditado popular “o cão é o melhor amigo do homem” já foi a fonte de inspiração de dezenas de comédias e dramas ao longo da história do cinema, mas nos últimos anos a participação dos cachorrinhos se restringiu a produções menores e que geralmente eram destinadas ao público infantil e lançadas diretamente no mercado de locação e vendas ao consumidor, muitas delas inclusive eram telefilmes e hoje recheiam as sessões da tarde da TV. Porém, após o extrondoso sucesso de Marley e Eu que lotou as salas de exibição com crianças, adultos e idosos que riram e se emocionaram com a relação de amor e confiança entre um humano e um bichinho de estimação muito sapeca, parece que os produtores acharam um novo filão para explorar. Um animal não precisa necessariamente falar ou ser emperequetado com roupas e acessórios para fazer graça e assim conseguir sucesso, pelo contrário, tal esterótipo só serve para entreter as crianças bem pequenas. Tratar os cachorros em cena com dignidade e naturalidade é o bastante para chamar a atenção dos espectadores infantis e consequentemente de seus pais, irmãos e avós. Seguindo essa linha de pensamento o diretor Lasse Hallström, especialista em lidar com emoções, investiu seu talento em Sempre ao Seu Lado, mais uma singela história de amor e lealdade entre um cão e seu dono. Lançado pouco tempo depois que o simpático Marley ganhou as telonas, este trabalho que segue a mesma cartilha não obteve o mesmo sucesso, embora para muitos já tenha se tornado um novo clássico para de tempos em tempos ser revisto com toda a família. É até fácil identificar o porquê da recepção morna. Faltou um pouco de humor à narrativa, o que fatalmente afasta as crianças e logo seus familiares que as acompanham. O boca-a-boca de “é chato” ou “é  muito triste” pode ter colaborado para as fracas bilheterias em quase todo o mundo.