sexta-feira, 30 de setembro de 2016

PINÓQUIO (1940)

NOTA 9,0

Clássico animado conquista
com história simples, mas
repleta de boas mensagens e
animação primorosa
Para alguns filmes quanto mais o tempo passa melhores eles ficam e as animações da Disney se beneficiam muito disso. Muitos trabalhos orientados de perto ou apenas idealizados por Walt Disney entre as décadas de 1930 e 1960 hoje em dia são verdadeiros clássicos, mas quando lançados foram considerados verdadeiras loucuras e não fizeram sucesso. Depois da boa recepção e repercussão de Branca de Neve e os Sete Anões, projeto desacreditado por muitos que surpreendeu a todos por sua qualidade, avanços em termos de técnicas cinematográficas e rendimento nas bilheterias, o estúdio recebeu carta branca do chefão para investir ainda mais na próxima animação. Em 1940 a equipe de desenhistas do estúdio deu mais um grande salto no campo da criação investindo em cenários e personagens bem detalhados e tomando maiores liberdades para contar a história de Pinóquio, baseado no livro clássico “As Aventuras de Pinocchio” de Carlo Collodi. A trama é bem popular em todo o mundo, mas não custa relembrar. O velho artesão Geppetto consegue adquirir um pedaço de madeira que considera muito especial e decide fazer algo inesquecível: um boneco que fosse o mais próximo possível de um ser humano, como se fosse a idealização do filho que ele nunca teve. Sua criação foi tão perfeita que nem ele próprio podia acreditava no que fez. O senhor que vivia sozinho nem desconfiava que assim ganharia um companheiro de verdade, mas as estrelas atenderam seu pedido. Graças a Fada Azul, Pinóquio, como o boneco foi batizado por seu criador, poderia se tornar um menino de verdade, desde que provasse sua lealdade e coragem, virtudes que ele deveria compreender por conta própria. Todavia, sempre que mentisse automaticamente seu nariz cresceria denunciando sua desobediência e diminuindo as chances de se tornar uma pessoa de carne e osso. Nessa jornada de aprendizados, o garoto conta com a ajuda do esperto Grilo Falante, mas nem assim ele deixa de arrumar confusão ou cair em armadilhas. O mascote da vez, um dos grandes estereótipos das produções Disney, é um dos grandes trunfos desde desenho, um personagem tão interessante e cativante quanto o próprio protagonista. Na realidade, o inseto-conselheiro foi uma liberdade dos criadores, visto que ele não existe no conto original, diga-se de passagem, bem mais soturno que esta sua versão animada. A ideia é que o personagem ensinasse ao garoto noções práticas do que é certo ou errado já que o boneco teria a personalidade parecida com a de um bebê que precisava ser educado passo a passo. A inserção deste mentor foi bem-vinda, dando mais credibilidade à trama, e o sucesso dele foi tão grande que lhe rendeu a participação em mais um longa-metragem futuramente, Como é Bom se Divertir, além de várias aparições em curtas e programas de TV.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

A GUERRA DOS WINTERS

NOTA 7,0

Drama independente aborda as
consequências de uma tragédia
sobre uma família, porém, evita
momentos de conflitos explosivos
Um dos temas prediletos do cinema americano independente é falar sobre famílias desestruturadas, mas o que era visto com olhares de novidade outrora já faz algum tempo que perdeu o espírito de novidade. Contudo, quem gosta de dramas e histórias mais realistas e humanas certamente deleita-se com produções desse tipo, embora seja uma pena que a maioria só ganhe projeção quando indicada ou vencedora de prêmios importantes, o que infelizmente não é o caso de A Guerra dos Winters, filme simples que aposta em temáticas batidas, mas que de qualquer forma mostra-se um belo trabalho de estreia do diretor e roteirista Josh Sternfeld. Lançado nos cinemas com o nome Sobre Pais e Filhos e sem grande projeção, é justificável seu esquecimento quando lançado em DVD, erro não corrigido até hoje por parte do público. Por conta de uma mudança de distribuidora para comercialização do longa em home vídeo, a troca de título foi infeliz, pois vende a ideia de uma comédia, quando na verdade é um drama leve, porém, sem a mínima dose de humor. O foco da trama é falar sobre as dificuldades de comunicação entre as pessoas e a falta de perspectivas para quem vive em cidades interioranas. Contemporâneo, o enredo faz um paradoxo interessante a vida nas grandes metrópoles, visto que nelas as opções de ascensão parecem não faltar e é propagada aos quatro ventos a ilusão de que a comunicação via meios eletrônicos aproxima as pessoas. Sternfeld, no entanto, só deixa subentendida essa diferença, o que deixa sua obra com um irresistível clima bucólico, como se a cidade em que a trama se passe tivesse parado no tempo. Tal tranquilidade só é quebrada quando nos lembramos do episódio que abalou as estruturas da família Winter. Há cinco anos a matriarca do clã faleceu em um acidente de carro quando buscava o filho caçula no treino de beisebol na região central da cidade (cujo nome não é mencionado). Tal informação só é dada na reta final, mas não configura surpresa alguma, contudo, essa revelação serve para confirmar tudo aquilo que absorvemos ao longo da projeção a respeito da família protagonista. De classe média, procuraram viver e educar os filhos longe dos agitos e vícios das metrópoles, mas a tragédia acabou provocando reações adversas nos filhos e no marido, cada um tentando superá-la de uma forma, mas todos coincidentemente procurando a introspecção como escudo.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O PREÇO A PAGAR

NOTA 7,0

Dois homens de classes sociais
distintas se aproximam por um
problema em comum: suas esposas
só querem o dinheiro deles
O que é uma mulher dondoca? Tal rótulo geralmente é dado às esposas que não trabalham e vivem de luxos conquistados às custas do marido. Em tempos em que o valor de uma pessoa é medido primeiramente pela etiqueta de sua roupa, pessoas do tipo são cada vez mais comuns e nada melhor que o cinema francês para fazer uma crítica irônica a esse respeito, afinal a França é conhecida por suas grifes famosas que vão dos sapatos ao perfume que as madames usam. Em O Preço a Pagar, a diretora e roteirista Alexandra Leclère aborda este tema por um viés sarcástico, mas no fundo ele tem potencial para despertar polêmicas. No entanto, ela mostra os dois lados da moeda, também apresentando uma personagem que busca justamente sua independência financeira através do trabalho. São dois casais protagonistas em situações financeiras opostas, mas conflitos semelhantes. Curiosamente, os personagens menos abastados não têm sobrenome enquanto os burgueses são chamados constantemente pelo sobrenome. Todavia, na hora do aperto todos são iguais e da identificação com problemas conjugais é que nasce a amizade entre Jean-Pierre Ménard (Christian Clavier) e Richard (Gérard Lanvin), respectivamente patrão e motorista. Ambos com idades próximas, em torno de 50 anos, eles estão insatisfeitos com seus casamentos. Monsieur Ménard é um empresário muito rico que está triste com o aparente desprezo da esposa Odile (Nathalie Baye), não havendo demonstrações de carinho entre o casal e nem mesmo com a filha adolescente que entra em cena apenas para figuração, assim como a empregada da família. Sem ter com o que ocupar seu tempo, Madame Ménard se dedica diariamente às compras de roupas, futilidades e idas a salões de beleza. Vez ou outra ela se lembra de comprar algo para o marido, como se fosse para se livrar de um peso que a atormentasse, mas na verdade é ele mesmo quem está pagando e, o pior, geralmente ela erra seu número de vestimenta, o que mostra o quanto ela se interessa por ele. O casal chegou ao ponto de até dormir em quartos separados com ela justificando a medida como algo necessário por conta dos hábitos noturnos diferenciados de cada um deles.

sábado, 17 de setembro de 2016

YES

Nota 8,0 Premissa convencional ganha fôlego com enredo reflexivo sobre rejeição

Embora o cinema independente tenha conquistado público e espaço consideráveis nos últimos anos, ainda existem centenas ou talvez milhares de títulos espalhados por todo o mundo que ainda são desconhecidos e nem mesmo o público cativo desse tipo de produção as vezes toma conhecimento de certas obras. É raro, por exemplo, alguém conseguir encontrar o filme Yes, inédito nos cinemas brasileiros e lançado em DVD sem publicidades, mas se você tiver a sorte de achá-lo e for apreciador de obras reflexivas não pense duas vezes. Dirigido e escrito pela inglesa Sally Potter, que ficou conhecida na década de 1990 por Orlando, este longa aparentemente pode ser apenas mais uma variação do tema triângulo amoroso, mas a trama segue caminhos bem mais profundos. She (Joan Allen) e Anthony (Sam Neil) são duas pessoas muito bem sucedidas na vida profissional, mas na pessoal são fracassados. Há anos eles vivem uma relação desgastante e estão vivendo um casamento de fachada. O que antes era a união de duas pessoas em busca de um relacionamento aberto e sem segredos, acabou se tornando uma relação metódica, melancólica e extremamente fria. Ambos escondem alguns atos e vontades e a comunicação entre eles basicamente é feita através de recados escritos em papel e o contato pessoal é o mínimo possível. Sentindo-se rejeitada, She acaba traindo o marido ao aceitar os galanteios de He (Simon Abkarian), um libanês exilado em Londres. Esta relação extraconjugal acaba se tornando cada vez mais sólida, mas não forte o suficiente para vencer barreiras ideológicas e preconceituosas. O roteiro não coloca em xeque apenas a insatisfação de um casal com o rumo que suas vidas tomaram, mas também é questionada a soberania da cultura americana e o receio quanto a outros povos, principalmente os de origem árabe, embora a cineasta fuja do clichê de tocar na questão do fatídico episódio de 11 de setembro de 2001 para apresentar o pulo do gato de sua história.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

PUTZ! A COISA TÁ FEIA

NOTA 5,0

Falta humor, criatividade, apuro
visual e personagens carismáticos
à releitura de conto clássico, mas ao
menos a lição de moral é preservada
Um desenho animado destinado ao público infantil não pode ser apenas divertido, também precisa necessariamente de uma mensagem edificante para o programa ter algum valor, algo que possa auxiliar na educação dos pequenos. Com o tema bullying em evidência nos primeiros anos do novo milênio, cada vez mais os temas a respeito de beleza e aparência física tem sido inseridos no universo infantil e consequentemente o cinema segue tal tendência, mas não para idolatrá-la, mas sim para provar que imagem não é tudo, o que importa é o seu conteúdo, ou seja, os valores morais e o caráter dos indivíduos. Shrek é um dos exemplares mais evidentes desta corrente. Podemos voltar no tempo e relembrar o caso de A Bela e Fera. E por que não citar Putz! A Coisa Tá Feia? O quê? Realmente, esse título é doer, mas esta é uma produção dinamarquesa que faz uma releitura do conto clássico “O Patinho Feio”, de Hans Christian Andersen. Com direção de Karsten Kiilerich e Michael Hegner, o longa não fez sucesso, pelo contrário, angariou uma quantidade surpreendentes de críticas negativas. É certo que não é um trabalho excepcional e conta com vários equívocos, a começar por sua terrível nomeação no Brasil, mas é triste ver como vários comentários insistem em compará-lo com produções da Pixar ou Dreamworks. Isso é uma covardia e tanto, afinal basta observar sua curta duração e país de origem para perceber que o projeto é de porte pequeno, porém, os recursos escassos não justificam a falta de criatividade, principalmente quanto ao texto redigido pelos próprios cineastas em parceria com Mark Hodkinson. Ratso é um rato da cidade grande obcecado pela ideia de ganhar dinheiro como artista e seu grande sonho é realizar um show em um parque de diversões, porém, ele vai parar em uma região mais campestre e a forma que encontra para sobreviver é explorando o trabalho da minhoca Wesley, a quem apresenta como sendo o maior de sua espécie graças a trucagens ordinárias. Raramente alguém os aplaude, mas depois que já pagaram o ingresso nada mais importa. Certa vez, a apresentação é interrompida por Phyllis, uma ratinha literalmente topetuda e acompanhada de dois capangas que começam a persegui-los. A dupla acaba conseguindo escapar, mas a rata parece ter razões para sua raiva e promete caçar Ratso onde quer que ele esteja.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

O SILÊNCIO DE MELINDA

NOTA 6,0

Voltado para os adolescentes,
drama reafirma a importância do
diálogo, mas mesmo com tema polêmico
em pauta longa não se aprofunda
O processo de extinção das videolocadoras físicas infelizmente já vem acontecendo há alguns anos, mas aquelas que conseguiram se manter ativas entre 2008 e 2013 certamente se beneficiaram do fenômeno Crepúsculo. Além da renda gerada pela série, também deve ter sido verificado o interesse dos fãs pela filmografia dos protagonistas, sendo que Kristen Stewart levava ligeira vantagem nesse quesito na comparação com seus pretendentes no romance sobrenatural mesmo com uma carreira curta até então. Para as lojas que não tinham o costume de vender o acervo inativo, provavelmente deve ter gerado algum lucro certos títulos desconhecidos, mas que só por ostentar o nome da estrelinha teen já despertariam o interesse de muitos. O Silêncio de Melinda é um bom exemplo.  Lançado em 2004, este drama juvenil é uma adaptação do romance “Speak”, de Laurie Halse Anderson. O roteiro de Annie Young Frisbie e Jessica Sharzer, esta que também assina como diretora, conta a história da adolescente Melinda Sordino (Stewart) a partir do primeiro dia de aula de um novo ano letivo. Embora já estudasse no colégio, ela aparenta ser uma completa estranha no ambiente e seu estado de espírito em nada se assemelha a euforia dos demais estudantes. Sentindo-se deslocada e considerando seus professores completamente excêntricos, ela só relaxava quando estava na companhia do Sr. Freeman (Steve Zahn), o novo professor de artes que por ser também jovem parecia compreender melhor os alunos e dava a liberdade para que todos se expressassem através de desenhos livres. Ela também admirava o jeito contestador de Dave Petrakis (Michael Angarano), aluno com coragem para expor opiniões e contrariar professores, não raramente dizendo as coisas que estavam engasgadas na garganta dela. A narração em off da protagonista procura deixar claras suas sensações, expectativas e angustias, mas chama a atenção quando ela comenta sobre Rachelle Bruin (Hallee Hirsh), aquela que viria a ser a sua ex-melhor amiga. Hã? Sim, isso mesmo. O início do filme é um pouco confuso por aparentemente narrar a adaptação da garota a um novo colégio, o que não deixa de ser verdade de certa forma visto que para ela tal ambiente está completamente mudado.

domingo, 11 de setembro de 2016

JOVENS BRUXAS

Nota 3,0 Sucesso juvenil dos anos 90, suspense envelheceu e hoje deixa claro suas fragilidades

Tem muitos filmes juvenis que viraram ícones dos anos de 1980, mas se pararmos para analisar bem eles não tem nada de muito especial em suas histórias e acabaram se tornando uma forçosa lembrança para aqueles que foram obrigados a ver e rever tais produções a tarde na TV. Contudo, a batida das canções da época, o estilo de se vestir extravagante ou largadão, os cortes de cabelos exóticos e até o som abafado e as imagens ligeiramente desbotadas dão um charme irresistível a tais produções. É natural que pessoas na casa dos 30 ou 40 anos lembrem com saudades de um tempo em que suas maiores preocupações eram fazer a lição de casa o mais rápido possível para poder curtir uma sessão da tarde, melhor ainda se com os amigos a tiracolo. Agora também já podemos ter esse gostinho nostálgico revendo fitas lançadas na década de 1990 como Jovens Bruxas. Lançando luz sobre os adeptos da moda gótica e apresentando o tema paganismo à chamada geração MTV (como ficaram conhecidas as turmas que foram influenciadas pelo conteúdo liberal do canal), o suspense resgatava uma temática em desuso e já preparava terreno para a atriz Neve Campbell virar queridinha dos adolescentes, sendo que no mesmo ano viria a estrelar Pânico. Contudo, ela não é a protagonista. A trama gira em torno da personagem Sarah defendida inicialmente sem muito vigor por Robin Tunney. Desde sempre carregando o fardo de ter perdido a mãe em seu parto, ela tenta suicídio na adolescência e seu pai e a madrasta decidem levá-la para morar em Los Angeles, onde poderia viver sem tristes lembranças. No novo colégio ela já sente o peso de ser retraída virando alvo de comentários maldosos alimentados por Chris (Skeet Ulrich), o típico pegador e esportista por quem as meninas seriam capazes de tudo para passarem uma noite junto. No entanto, Sarah se recusa a transar e o rapaz espalha que eles de fato ficaram, mas ele se arrependeu porque ela é péssima de cama. Parece um boato tolo, mas na juventude uma intriga do tipo soa como o apocalipse, coisas dos tempos da puberdade.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

GAROTA DA VITRINE

NOTA 7,0

De forma muito delicada, longa
aborda a busca pelo amor apostando
em triângulo amoroso diferenciado e
Steve Martin com interpretação contida
Steve Martin é um nome que irremediavelmente está sacramentado como sinônimo de comédia rasgada. Desde o início de sua carreira ele se dedica ao gênero alternando ótimos momentos com outros vergonhosos, mas o fato é que é difícil imaginá-lo em outro tipo de filme, mas quem sabe em um romance com pitadas sutis de humor? Pois é, em Garota da Vitrine ele surpreende como um homem de meia-idade sedutor e livre de expressões faciais e corporais talhadas minuciosamente para causar risos. Tal papel poderia cair como uma luva à Richard Gere ou Dustin Hoffman, por exemplo, mas o longa é inspirado no livro “Shopgirl”, de autoria do próprio Martin. Seria muita sacanagem colocar outro ator para viver um papel que certamente foi escrito já pensando em uma possível adaptação cinematográfica. Este trabalho era a chance do comediante provar que pode diversificar seus trabalhos, apresentando talento para a escrita e dar vida a personagens mais sérios. Realmente, ele convence em cena e seu texto flui suavemente, mas é uma pena que o longa tenha tido pouca projeção. Em meio a tantos romances tolos, esta obra é como um sopro de frescor, ainda que não seja inovador, pelo contrário, é até bem previsível, mas a forma como o diretor Anand Tucker, de Hilary e Jackie, conduz a narrativa faz toda a diferença, a começar pelo visual clean e realista adotado para o visual, o que traz certo charme de produção independente à obra.  A protagonista é vivida por Claire Danes, cerca de trinta anos mais jovem que Martin, e a diferença de idade poderia indicar que o filme seguiria o caminho do escracho investindo pesado no conflito entre a liberdade da juventude e a rotina metódica inerente a uma pessoa mais velha, ainda mais a um homem. Vendo por essa ótica, temos aqui uma inversão de papéis e, felizmente, o cineasta optou por fazer um retrato mais realista desta relação amorosa, não deixando de lado uma opção de amor mais jovem para a moça se ver em um dilema. Apesar de bem trabalho, o conceito do triângulo amoroso neste caso não difere muito de tantos outros que o cinema já apresentou, somente há um refinamento maior no tratamento, uma variação do perfil do cara perdedor e do vencedor que exala confiança. No fundo, mais uma vez temos uma mocinha romântica sendo obrigada a decidir por uma dessas opções completamente opostas, ambas com seus benefícios e pontos negativos. Um pode oferecer amor incondicional e um padrão de vida razoável. O outro está acostumado a “comprar” o amor, mas não garante planos para o futuro. Contudo, não há vilão ou mocinho aqui, apenas pessoas normais com qualidades e defeitos em busca da felicidade.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

UM DIVÃ PARA DOIS

NOTA 8,0

Comédia romântica para maduros
diverte a todas as idades e ainda
traz reflexões pertinentes, questões
que podem atingir certos espectadores
As comédias românticas tendem a privilegiar os amores adolescentes ou as neuroses de jovens adultos que teimam em não crescer ou lutam o quanto podem para se adequar ao perfil das pessoas de sua faixa etária, o que implica muitas vezes em busca desesperadas por um parceiro só para dizer que tem alguém para amar e ser amado. Quando o foco é voltado a conflitos envolvendo casais maduros, automaticamente sentimos um diferencial, mesmo que no fundo as situações clichês se façam presentes e o final feliz esteja garantido. Um Divã Para Dois é um ótimo e raro exemplo de filme que aposta em humor de bom gosto para agradar um público que geralmente sente não ter opção para rir, a não ser que deixe seu espírito teen aflorar e embarque em baboseiras que são lançadas as baciadas mensalmente nos cinemas e locadoras. É certo que a turma de meia ou terceira idade hoje em dia está bem mais animadinha e aceitando certos modernismos, mas ainda privilegiam certas tradições como a manutenção da instituição que é o matrimônio. Isso não significa apenas manter respeito mútuo ou aparentar perante a sociedade que o casal está feliz mesmo após tantos anos de união. Sexo é vital, mas anda em falta em muita união e em alguns casos mais graves nem o amor dá mais sinais de vida, faltando até aquela palavra de carinho diária tão necessária. O diretor David Frankel, de O Diabo Veste Prada, conseguiu realizar uma obra extremamente divertida, sem um pingo de vulgaridade e ainda por cima incômoda. Sim, isso mesmo. Muitos espectadores podem se identificar com o conflito do casal protagonista, até mesmo jovens, e podem se aborrecer ou optar por assistir o longa até o fim e tirar algum proveito dele em benefício próprio. Mirando mais especificamente no público americano mais maduro e de classe média, o roteiro de Vanessa Taylor consegue a proeza de se comunicar com diferentes faixas etárias e nacionalidades, afinal em praticamente todo o mundo quem tem mais idade se sente rejeitado e privado de fazer certas coisas. Qual filho já crescidinho nunca teve a curiosidade de saber se seus pais ainda mantêm uma vida sexual ativa? O problema é descobrir que eles podem gastar suas energias fora de casa e com outros parceiros, o que não é o caso de kay (Meryl Streep) e Arnold Soames (Tommy Lee Jones), casados há pouco mais de trinta anos e cujo inimigo é a rotina que os fez se acostumar com a monotonia.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

A MINHA VERSÃO DO AMOR

NOTA 6,0

Longa acompanha os tropeços da
vida de um homem comum por três
décadas em busca do amor pleno,
 mas trama por vezes é tediosa
Todos fazem planos para o futuro, sejam eles de qualquer espécie, e é ótimo alimentá-los diariamente, mas é duro reconhecer quando eles não se concretizam na época em que deveriam, porém, isso não quer dizer que seja preciso os abandonar, tampouco fechar os olhos para o presente. Esse é o grande foco de Minha Versão do Amor, drama com toques de humor adaptado do romance “Barney’s Version”, do canadense Mordechai Richler que se baseou em suas próprias memórias de vida para escrever uma de suas últimas obras antes vir a falecer em 2001. O projeto de adaptação para o cinema demorou doze anos para se tornar realidade, talvez pela dificuldade em encontrar o tom certo para equilibrar comédia e drama, afinal de contas o essencial deveria ser preservado: a lição de vida de um homem apaixonado e sonhador. O roteiro de Michael Konyves acompanha três décadas da vida de Barney Panofsky (Paul Giamatti), empresário judeu do ramo televisivo no Canadá, mais especificamente ele é produtor de novelas. Aliás, sua vida renderia um belo folhetim. Aos 65 anos de idade ele se vê sozinho, doente e obrigado a relembrar seu passado cheio de tropeços, característica que acaba aproximando o espectador de seu universo, afinal ele é um homem comum com qualidades e defeitos que tentou sempre buscar a plena felicidade, mas descobriu que a vida perfeita é um sonho impossível. Suas memórias são relatadas sob seu próprio ponto de vista, assim o personagem fica livre de julgamentos dos demais, o que também justifica o título nacional. Ele se casou três vezes e em cada relacionamento teve uma versão diferenciada a respeito do amor. A viagem no tempo começa quanto ele tinha seus 30 e poucos anos e vivia na Itália sonhando em fazer sucesso no meio cultural, mas ele acabou indo parar no ramo do comércio. O trabalho em si não era ruim, pelo contrário, uma ocupação digna e que lhe dava um rendimento financeiro razoável, mas a inquietação em ver o seu sonho ficar cada vez mais distante o deixava tristonho as vezes. Se acostumar com tal situação tornou-se ainda mais essencial quando descobriu que sua namorada Clara (Rachelle Lefevre) estava grávida. Muito íntegro, ele não pensou duas vezes antes de pedi-la em casamento e assumir suas responsabilidades, ainda que seus amigos o tivessem alertado que a noiva não era nenhuma santa, aliás, seu comportamento esfuziante já dava dicas de seu real caráter, mas na época seguir convenções da sociedade era primordial para um homem de verdade.

domingo, 4 de setembro de 2016

NELLY

Nota 1,5 Mais uma vez a atriz Sophie Marceau mostra que tem de dedo podre para escolhas

Sophie Marceau é uma das atrizes mais famosas e requisitadas da França e até Hollywood já esteve de olho na moça, todavia, ultimamente ela está precisando parar para pensar melhor em suas decisões profissionais. Embora mais apreciadas e divulgadas nos últimos, é certo que as produções francesas ainda costumam sofrer com o preconceito, o estigma de serem chatas e cheias de simbolismos, e ao que tudo indica os últimos trabalhos de Marceau querem reforçar tal negativismo com o agravante de serem confusas como é o caso de Nelly, um estranho drama com toques de humor (prêmio para quem achar algum momento de graça) que marca a estreia da atriz Laure Duthilleul como diretora e roteirista, este último crédito que divide com Jean-Pol Fargeau e Pierre-Erwan Guillaume. Teoricamente, com mais de uma pessoa na função, seria possível ver os possíveis erros uns dos outros e acrescentar melhorias ao roteiro, mas alguém teria que fazer a revisão final, a limpeza do texto. Duthilleul, atribulada com as funções de direção, pode não ter tido tempo para tanto e o que se vê é uma reunião de cenas que parecem não ter muita conexão. Quando encontramos um eixo para nos situar, infelizmente percebemos que nada demais acontece para justificar a existência desta obra. A história começa apresentando alguns personagens desesperados a procura de Manuel (Sébastien Derlich), médico de um pequeno vilarejo e cuja secretária eletrônica está lotada de recados. Ao mesmo tempo, Nelly (Marceau) está em meio aos preparativos para levar seus filhos para passar o dia na praia. Outros personagens surgem, pessoalmente ou só ouvimos seus nomes, desestimulando o espectador tamanha a insanidade da introdução, mas é perceptível que a diretora não queria contar uma história com tudo mastigadinho e sim aguçar a curiosidade para pouco a pouco serem revelados detalhes e a trama ser completada na cabeça de quem assiste. Então, mais a frente, ficamos sabendo que Nelly, além de secretária, também era a esposa de Manuel que é descoberto morto em sua casa.

sábado, 3 de setembro de 2016

TOQUE DE RECOLHER (2006)

Nota 3,5 A partir de situação caótica, longa coloca em xeque os sentimentos de um casal

Epidemias, tsunamis, terremotos, tufões, erupções de vulcões, doenças sem precedentes e eventos inexplicáveis da natureza. O cinema já achou as mais variadas formas de exterminar a humanidade e destruir o mundo, mas sempre tem algum cineasta de plantão para voltar ao tema. Quando são superproduções, o negócio é investir em efeitos especiais para atrair público, ainda mais em tempos que os cinemas se renderam e se sustentam por conta de firulas tecnológicas, mas quando o orçamento é limitado o jeito é se virar como pode. Existe a opção pelo trash apelando para efeitos precários para ilustrar um provável fiapo de história ou o caminho mais inteligente de focar a atenção no enredo e se preocupar em mostrar como as pessoas reagem diante do desconhecido ou da iminência da morte. Ensaio Sobre a Cegueira e Contágio são bons exemplos desta segunda alternativa com o bônus de contar com um elenco de estrelas e cineastas renomados. O diretor e roteirista Chris Gorak não teve a mesma sorte com seu Toque de Recolher, mas nem por isso quis fazer um lixo qualquer, optando por uma abordagem mais intimista de uma temática tão grandiosa. A trama começa com o início de mais um dia aparentemente normal para a cidade de Los Angeles e para o casal Lexi (Mary McCormack) e Brad (Rory Cochrane). Eles estão vivendo uma fase difícil do relacionamento, mas a aproximação vem ironicamente de uma situação que também implica a separação. Logo após a moça ir para o trabalho, o marido escuta no rádio a notícia de que a cidade está sendo atacada por bombas químicas, verdadeiras armas de materiais radioativos cujos malefícios para os humanos não são totalmente conhecidos. Como prevenção, o governo implanta o toque de recolher, medida para que as ruas sejam evacuadas o mais rápido possível diminuindo ao máximo os riscos a saúde da população até que existam dados mais consistentes a respeito dos efeitos negativos do episódio. Todos devem permanecer trancados em casa e vedar todas as janelas e portas para evitar a inalação do ar contaminado. A deflagração deste conflito é feita de forma rápida e eficiente e o espectador participa do caos a medida que Brad vai colhendo novas informações através das mídias. Ao primeiro sinal de alerta ele tenta ir atrás da esposa, mas é impedido por policiais.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O FILHO DO MÁSKARA

NOTA 2,5

Tentando tirar leite de pedra,
longa tenta dar novos rumos à
história de máscara com poderes,
mas peca em diversos pontos
Quando um filme faz sucesso é quase certo que uma continuação já está sendo prevista enquanto os produtores somam os primeiros lucros, sendo que alguns gêneros são privilegiados nesse ponto como as comédias. Quase sempre protagonizadas por personagens carismáticos, suas tramas costumam sempre deixar um gancho para possíveis desdobramentos, alguns lançados em tempo recorde, mas outros demoram alguns anos para serem finalizados, principalmente por problemas envolvendo a contratação do elenco original e/ou a busca por um roteiro decente equiparável ao primeiro. Analisando estes pontos de vista chegamos a conclusão de que O Filho do Máskara jamais deveria ter saído do papel, mas diante da crise de criatividade que Hollywood parece sofrer constantemente encontramos respostas para tal deslize. É uma pena constatar que visando o público infantil e consequentemente atraindo seus familiares mais velhos, o diretor Lawrence Guterman, de Como Cães e Gatos, esperava repetir o sucesso de Chuck Russell com o seu O Máskara. Nada contra a estratégia, mas o problema é que o cineasta subestimou a inteligência de seus espectadores oferecendo um produto fraquíssimo em termos narrativos e nem mesmo tomou cuidado com o visual, afinal de contas para ter uma alternativa para entreter seus anjinhos por algumas horas os pais topam qualquer sacrifício, até mesmo perder dinheiro e tempo com algo que precisam fingir ser legal. Bom ou ruim não importa, com a ajuda do título o projeto já estaria praticamente com suas despesas pagas e esse pensamento medíocre certamente influenciou produtores a investirem nesta bobagem sem avaliar os riscos, a começar pela demora de mais de dez anos para lançar uma continuação e ausência do astro Jim Carrey, o que já não são bons sinais. Na realidade, e para não pegar tão pesado com Guterman e companhia, é preciso dar o braço a torcer e confirmar que pelo menos o enredo tem a decência de não manchar a boa memória que temos do original, esquivando-se de qualquer tipo de alusão direta ao seu predecessor. O tal filho do título não é uma referência ao herdeiro do personagem Stanley Ipkiss que Carrey eternizou, até porque ele termina o filme sem planos de formar uma família, mas sim faz uma ligação com o verdadeiro dono da máscara, o deus Loki.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O MÁSKARA

NOTA 9,0

Com narrativa ágil e divertida,
efeitos especiais caprichados e
protagonista cativante, longa é do
tipo atemporal, sempre vale a pena
Um astro de cinema famoso costuma atrair multidões aos cinemas, tal fato já nem nos surpreende mais, mas como explicar que um desconhecido tenha atraído milhares de pessoas em uma época em que a internet ainda era quase um embrião em gestação? Pois é, a repercussão de O Máskara é um caso a ser estudado. Primeiro trabalho de grande destaque de Jim Carrey, esta comédia surgiu de maneira despretensiosa, mas uma soma de fatores positivos colaborou para o seu sucesso instantâneo, como a aposta em piadas leves e efeitos especiais de ponta para contar a história do homem-borracha. Ele não é um super-herói, pelo menos não se assemelha nem um pouco com a figura clássica de protetor que conhecemos, aqueles com uniforme, capa e escudo de identificação no peito. Nosso amigo tem rosto verde, assim como sua cabeça desprovida de cabelos, e seu traje mais comum é um terno amarelo-ovo. Bem, esse é seu visual clássico, mas ele pode fazer uma infinidade de mudanças de figurinos e até alterar seu corpo e face em questão de segundos. O diretor Chuck Russell, cujos trabalhos de maior destaque até então eram A Hora do Pesadelo 3 e a refilmagem de A Bolha Assassina, foi incumbido de comandar a adaptação de uma HQ homônima dos anos 80 criada por John Arcudi e Doug Mahnke. Inicialmente planejado como uma fita de terror, respeitando a personalidade vingativa e cruel do personagem original, felizmente os produtores foram visionários e acharam melhor aproveitar o fato de que as histórias em quadrinhos que serviram de inspiração eram praticamente desconhecidas e mudar o caráter do protagonista, injetando humor e sarcasmo em sua personalidade. O roteirista Mike Werb baseou-se em diversas situações saída dos gibis, porém, atenuou a violência e deixou a criatividade falar mais alto como forma de agradar a um público mais amplo, desde crianças pequenas até idosos. A trama se passa em Edge City, região agitada dos EUA, onde vive Stanley Ipkiss (Carrey), um sujeito pacato que trabalha como bancário, mas um tanto tímido e atrapalhado, tendo como única companhia fiel seu cãozinho Milo. Ele está acostumado que seu cotidiano seja uma sucessão de equívocos, mas certo dia ele não devia nem ter se levantado da cama. Após muitos eventos que o deixaram triste, a noite ele encontra por acaso uma estranha máscara, mas nem desconfia de suas origens e histórico.