quarta-feira, 29 de junho de 2016

RECÉM-CHEGADA

NOTA 6,0

Vendido como comédia romântica,
longa fica devendo em humor e
romance, mas é uma boa opção como
drama inspirador e para a família 
Renée Zellweger não é nenhuma adolescente, mas seu rosto angelical é perfeito para comédias românticas. Seu nome é quase como um sinônimo do gênero, assim como nos anos 90, guardada as devidas proporções, Julia Roberts ou Sandra Bullock eram suas representantes. Talvez por isso Recém-Chegada não tenha feito sucesso. Embora conte com romance e algumas situações de humor, seu foco se encontra em ambiente empresarial. Isso mesmo, o longa narra a história de uma mulher que chegou desacreditada em um lugar, passou por muitos problemas de ordem pessoal e profissional, mas acabou vencendo na vida. O tema é um dos maiores clichês do cinema, é verdade, é aquela velha fórmula que rege os filmes cujo enfoque é o mundo dos esportes ou o ambiente acadêmico. Treinador ou professor insistente resulta em time campeão ou grupo de estudantes disciplinados e com potencial despertado. A fórmula é essa, não tem erro. Ou melhor, quando há falhas é porque não souberam embalar o produto adequadamente, como é o caso da história de Lucy Hill (Renée), uma ambiciosa executiva da agitada e moderna Miami que aceita ser transferida para uma cidade completamente desconhecida por ela. Na gélida e melancólica região de Minnesota sua tarefa é das mais ingratas: reestruturar uma pequena fábrica local de alimentos, o que implicaria em uma grande quantidade de demissões. Sentiu o drama não? Pequena cidade praticamente depende da economia gerada pela tal empresa e muitos funcionários na rua é igual a revolta contra a responsável por suas demissões. Lucy não se deu conta que não estava lidando com as pessoas cínicas com quem estava acostumada e tampouco com listas onde os funcionários eram simplesmente números que dependendo das somatórias de horas trabalhadas, rendimentos e valores salariais poderiam ser limados da empresa sem pensar nas consequências negativas que isso traria às suas famílias e à economia local.  Agora ela está em um lugar tradicionalista onde a teoria de que o bater de asas diferenciado de uma borboleta pode ser comprometedor faz valer seu poder. Qualquer mudança traz efeitos e as notícias e fofocas se espalham rapidamente, assim como o troca-troca de alimentos entre os vizinhos, e os nomes dos envolvidos nos conflitos não são poupados. Assim, Lucy passa a ser vítima de uma revolta generalizada da diminuta população local, mas em número suficiente para afrontar o poder daqueles que ocuparam antes a vaga que hoje é da executiva.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

TEMPOS DE VIOLÊNCIA

NOTA 7,0

Com personagens difíceis de
despertarem simpatia, longa
é um tanto indigesto, mas ganha
o espectador com final clichê
Existem alguns filmes que só mesmo tendo muito boa vontade para conseguir acompanhá-los até o final, principalmente aqueles que se propõe a retratar a realidade sem maquiagem alguma. Produções do tipo não poupam o espectador e são digeridas com muita dificuldade, mas quem tiver a garra de quebrar seus próprios preconceitos ou receios e seguir até o último minuto pode acabar sendo razoavelmente recompensado como é o caso do drama Tempos de Violência que lá pelos seus quinze minutos de duração já está testando os limites da tolerância do público. Como diz a publicidade estampada no DVD, esta é “uma visão dura sobre amizade, lealdade e ambição nas violentas ruas de Los Angeles”. O longa marca a estreia como diretor de David Ayer, o roteirista do premiado Dia de Treinamento, que pouco tempo depois investiria novamente na temática violência no policial Os Reis da Rua. Abordar o mundo dos crimes é sem dúvida a praia deste profissional que conseguiu neste caso compilar em pouco menos de duas horas alguns dos principais problemas urbanos contemporâneos e de ordem social, com o agravante de que quem deveria zelar pela segurança e a moral de todos é justamente de caráter pra lá de duvidoso. A trama roteirizada pelo próprio diretor começa um tanto clichê. Em tons esverdeados, como se fosse a visão de uma câmera escondida, temos rapidamente uma noção do que o fuzileiro Jim Davis (Christian Bale) vivenciou enquanto combateu na guerra do Iraque. Dispensado pelo exército, o rapaz procurou refúgio em terras mexicanas e acabou se apaixonando por Marta (Tammy Trull), a quem jurou amor eterno quando decidiu voltar aos EUA para tentar a carreira na polícia. Ele promete voltar para casarem e assim ela poderia entrar legalmente em solo norte-americano. Até aí Jim parece um típico herói, mas não tarda para sua imagem de bom moço desmoronar. De volta a Los Angeles, ele vai procurar seu antigo amigo Mike (Freddy Rodriguez), mas é mal recebido pela esposa do mesmo, Sylvia (Eva Longoria), que está nervosa por conta do marido que está desempregado e passa o tempo todo em casa bebendo, fumando e assistindo TV. Se as coisas já estavam ruins para o casal agora vão piorar. Jim e Mike são violentos, mulherengos, usuários de drogas, alcoólatras, contrabandistas e corruptos. Quem teria estômago para assistir a um filme cujos protagonistas são da pior espécie? Ayer acredita que tem público para o vandalismo e investe pesado na temática e em pequenas cenas consegue nos passar a ideia de como o submundo funciona.

sábado, 25 de junho de 2016

MISTÉRIO EM RIVER KING

Nota 7,0 Morte de um jovem levanta discussões sobre bullying, rejeição e relações de poder

As sinopses publicadas nos encartes dos DVDs deveriam vender corretamente as histórias dos filmes, mas muitas delas só se limitam a elogiar atores e realizadores ou sintetizar em pouquíssimas palavras o enredo. O pior é quando vendem a trama de forma errada como é o caso de Mistério em River King, cuja distribuidora vende como um suspense policial acerca do assassinato de um adolescente e seu próprio espírito ajudaria nas investigações. Bem, até existe um ensaio para seguir tal caminho, mas parece que quem redigiu o texto publicitário não assistiu o filme todo. A trama começa mostrando o detetive Abel Grey (Edward Burns) e seu companheiro de polícia Joey (John Kapelos) encontrando um jovem morto congelado dentro de um lago e com estranhas marcas vermelhas no corpo. Ele é Gus Pearce (Thomas Gibson), estudante de um tradicional colégio de uma região fria e afastada dos EUA que segundo seus colegas de turma não se sentia a vontade na instituição e andava tendo atitudes estranhas ultimamente. Uma das professoras do garoto, Betsy Chase (Jennifer Ehle), afirma que na noite anterior a descoberta do corpo viu Gus discutindo no bosque com a jovem Carlin Leander (Rachelle LeFevre), que apesar da aparente proximidade do falecido estava namorando Harry (Jamie King), um valentão da escola. Os policiais afirmam que o caso foi um suicídio, mas Abel desconfia de que existe algum mistério por trás de tudo, principalmente ao descobrir que Gus estava tentando fazer parte de um grupo, uma espécie de seita da qual só podiam fazer parte os membros que passassem por um trote impossível de se cumprir, ou melhor, quase. O detetive desconfia que Harry e Carlin são as chaves para desvendar o caso, mas parece que todos a sua volta estão preferindo abafar o episódio, inclusive seu o próprio Joey que deveria estar em busca da verdade. O diretor Nick Willing consegue construir uma interessante narrativa que cativa o espectador e o convida a fazer parte das investigações colecionando pistas, porém, peca ao criar certos ganchos que não levam a lugar algum como um suposto trauma do passado envolvendo a morte do irmão que alimentaria o desejo de Abel por justiça a qualquer custo no presente.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

O CORTE

NOTA 9,0

Drama sobre desempregado a
beira do desespero envolve o
espectador com toques de humor
e temática universal e atemporal
Uma das reclamações mais frequentes dos brasileiros é quanto ao desemprego, um problema que já dura várias décadas, e isso fez com que boa parte da população depositasse suas esperanças no tal sonho americano, a doce ilusão de que a vida nos EUA seria mais fácil e com emprego garantido. Boa parte dos sonhadores se decepcionou quando comprovou que o mercado de trabalho americano é tão acirrado quanto o brasileiro e então voltaram seus olhares para outros países, principalmente os europeus, mas a situação não difere muito como mostra o longa francês O Corte, drama com pitadas de humor negro dirigida pelo grego Costa-Gavras. O cultuado cineasta não tem medo de criar polêmicas e cutucar problemas de alcance universal, assim suas obras conseguem dialogar perfeitamente com os mais diferentes públicos, independente do país que escolha para ser o cenário de suas tramas. Entre tantos filmes que assinou, ela já tratou de política em Desaparecido, criticou o trabalho da imprensa manipuladora em O Quarto Poder, falou sobre a omissão da Igreja quanto ao Holocausto em Amém e no trabalho em questão escolheu falar sobre o mundo capitalista através da ótica de um desempregado. Bruno Davert (José Garcia) é um competente engenheiro da indústria de papéis que trabalhou em uma mesma empresa durante 15 anos, mas nem toda sua experiência e dedicação foram suficientes para livrá-lo da lista de cortes quando a fábrica precisou passar por uma reestruturação para manter-se em atividade. Com um currículo invejável ele leva numa boa a demissão, pois acredita que não terá problemas para conseguir um novo emprego, no entanto as coisas são muito difíceis e quando se dá conta já está a mais de dois anos em casa esperando algum telefonema, email ou correspondência a respeito de alguma entrevista de trabalho. Além da vergonha de não ter uma ocupação e se tornar extremamente anti-social, pesa o fato dele e dos filhos Maxime (Geordy Monfils) e Betty (Christa Theret) estarem sendo sustentados por sua esposa Marlène (Karin Viard) que se divide entre dois empregos. A situação chega a um nível desesperador quando ele assiste a um DVD promocional de uma empresa de papel concorrente a qual trabalhava e sente uma raiva incontrolável de Raymond Machefer (Olivier Gourmet), engenheiro porta-voz da companhia que faz exatamente o serviço que Davert era especialista, ou seja, em sua mente perturbada pelo ócio do desemprego esse homem estaria ocupando uma vaga que julgava ser por direito sua.

domingo, 19 de junho de 2016

RETRATOS DO AMOR

Nota 2,5 Falta romance em longa pouco envolvente que vale mais pela bela fotografia

Quando alguém decide assistir a um filme romântico no mínimo espera se emocionar, mas o mundo está cheio de produções que podem até prometer fortes emoções, porém, são insípidas. Geralmente tais obras fisgam o espectador com títulos rebuscados e materiais publicitários que chamam a atenção por transmitirem uma sensação de bem-estar e de leveza. É destes artifícios que se vale Retratos do Amor para chamar atenção, ainda tendo como um extra a ostentação dos nomes da oscarizada Julie Christie e do outrora famoso Burt Reynolds em seus créditos. O veterano ator interpreta Larry Brodsky, o proprietário de um sebo de livros que na juventude se apaixonou perdidamente por uma moça no Marrocos, mas teve que abrir mão de seu grande amor quando descobriu que ela já era casada. O tempo passou, mas ele jamais se recuperou totalmente desta decepção, assim fechando-se para novas emoções até que um dia conhece a jovem americana Aisha (Carmem Chaplin) e ambos se identificam imediatamente já que escolheram morar em Amsterdã, na Holanda, na esperança de mudanças positivas e uma vida com mais liberdade. Assim nasce uma amizade que trará a Larry muitas surpresas, entre elas Narma (Julie Christie), a sua suposta futura sogra, uma mulher que pode provocar novas e intensas emoções neste homem que perdeu e no fundo deseja recuperar a fé no amor. A premissa é até interessante, mas os roteiristas Michael O’Loughlin e Rudolph Van Den Berg, este que também assina a direção, cozinham a história em banho-maria e com duas vertentes que se ligam.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

KING KONG (2005)

NOTA 10,0

Após uma trilogia de sucesso,
Peter Jackson não decepciona ao
ousar trazer para as novas
gerações um ícone do cinema
Em 1933, ele surgiu em versão stop-motion e em preto e branco em um filme que é considerado o pai do estilo arrasa-quarteirão de fazer cinema. Em 1976, ganhou uma superprodução, desta vez em cores, o que realçou seu impacto em tela grande, mas não o livrou de ser surrado pela crítica. Além destes longas, ele surgiu em outras dezenas de pequenas e trashs produções que levavam seu nome, todas totalmente esquecíveis. Essa figura até já passou por um combate com o famoso monstro oriental Godzilla em mais uma das pérolas que tentaram obter fama às suas custas. Tantas aparições certamente desgastaram sua imagem, mas o diretor Peter Jackson acreditava que ele ainda poderia ser aceito no século 21.  Um gorila gigantesco com alma bondosa e considerável dose de inteligência é o chamariz de King Kong, um filme declaradamente feito para entretenimento, o que gerou muitas discussões. A recente reinvenção da história do primata de tamanho descomunal foi aguardada com muita expectativa, fez bastante dinheiro, colheu prêmios por sua parte técnica, mas não escapou de críticas negativas, principalmente dos especialistas na área que procuraram as mínimas falhas para destilar seus venenos em jornais, revistas e sites. O que eles esperavam? Um drama existencialista e cheio de mensagens subliminares em uma obra cujo protagonista é um grande animal selvagem? Para aqueles que na época concordaram com os críticos, vale a pena ver mais uma vez, mas com olhar de espectador de fim de semana. Assim é possível entender o sentido desta aventura milionária ter sido feita e encontrar alguns aspectos interessantes que soam como homenagens. Jackson entregou uma produção ágil, divertida, cheia de efeitos especiais e jogou o espectador em um mundo repleto de situações fantásticas. O melhor de tudo é que esta história pode ser apreciada por uma parcela bem maior de público já que não é preciso ter conhecimento prévio dos personagens e local onde a ação se passa, pois tudo está concentrado em um único longa, o grande pecado das chamadas obras-primas do cineasta (a trilogia O Senhor dos Anéis). A história roteirizada pelo próprio diretor em parceria com Fran Walsh e Philippa Boyens é basicamente a mesma do original. Passado na década de 1930, época em que os EUA viviam a Grande Depressão, período em que milhares de pessoas tentavam sobreviver como podiam em meio a uma violenta crise financeira, o longa começa nos apresentando a Ann Darrow (Naomi Watts), uma atriz que procura emprego em um cabaré. Por um acaso do destino, eis que ela conhece Carl Denham (Jack Black), um cineasta com uma excelente proposta de trabalho. Quando ela embarca em um navio rumo a uma misteriosa ilha onde serão feitas as filmagens, ela se encontra com o conceituado roteirista Jack Driscoll (Adrien Brody) e ambos se apaixonam imediatamente, mas viver esse amor durante a viagem será algo impossível. Mal sabem eles os perigos que a tal ilha esconde. Lá eles são atacados por um grupo de nativos que precisam sacrificar um humano para afastar uma criatura do mal. Não é preciso ser adivinho para saber que a tal ameaça é King Kong e os perigos que estão por vir. Será mesmo?

terça-feira, 14 de junho de 2016

VALE PROIBIDO

NOTA 6,5

Confusão de gêneros incomoda
um pouco, mas ideia principal é
envolvente e Edward Norton cativa
com personagem esquisitão
Qual o limite da loucura da mente humana? Bem, talvez nem mesmo a ciência tenha essa resposta, sendo o mais provável que a insanidade é infinita. Longe dos estudos gigantescos e cheios de palavras complicadas, o cinema sempre tenta dar uma mãozinha para esclarecer tal assunto e são inúmeras as produções que procuram desvendar os mistérios que cercam as mentes de pessoas com desvios de caráter, mas já diz o ditado que cada cabeça é uma sentença, logo cada personagem é um tipo específico a ser analisado.  Vale Proibido centra suas atenções no misterioso Harlan (Edward Norton) e seu repentino interesse por uma família. O longa escrito e dirigido por David Jacobson começa nos apresentando à Tobe Sommers (Evan Rachel Wood), uma adolescente rebelde e que gosta de se divertir às custas dos outros, porém, talvez nunca tenha imaginado que uma de suas traquinagens mudaria sua vida e de seus familiares para sempre. Certo dia ela combina com uns amigos de ir à praia, mas antes param em um posto de gasolina onde são atendidos por Harlan, figura que chama a atenção por seu visual de caubói em uma região onde as fazendas já começavam a ser raridades. Pelo perfil diferente, preferindo montar a cavalo a usar um carro, Tobe acredita que escolheu a vítima perfeita para uma brincadeira, começa a paquerá-lo e o convida para ir a praia, local onde ele nunca esteve, mas não hesita em aceitar o convite mesmo perdendo o emprego por abandono. Enquanto os amigos se divertem por levar um caipirão para passear, a adolescente parece olhá-lo de outra forma, ele teria a ingenuidade e a doçura que faltava a ela, e rapidamente eles começam a namorar. A relação vai se encaminhando bem, inclusive porque o irmão mais novo da jovem, Lonnie (Rory Culkin), logo faz amizade com o cunhado, este que usa seu estilo ingênuo, fala mansa e artimanhas para conquistá-lo. Harlan seria o amigo que o garoto sempre quis ter, ou melhor, o pai que desejava. Todavia, Wade (David Morse), o pai dos adolescentes, não cai na lábia do rapaz desde a primeira vez que o viu. Profissional da área policial, a certa altura ele afirma para o próprio caubói que ele lida diariamente com pessoas como ele, tipos que são um zero a esquerda e que fariam de tudo para conseguirem ser algo na vida ou suprirem suas necessidades. Viúvo, mas praticamente ausente na criação dos filhos, Wade consegue deixar a rebeldia da filha ainda mais latente proibindo o namoro, mas não esperava que até Lonnie estaria contra ele nessa parada.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

DOCES ENCONTROS

NOTA 3,0

Drama reúne bons ganchos
dramáticos, mas desperdiça
todos em trama superficial e
talhada para mocinha brilhar
Um ator depende de um bom filme para agregar algo a mais ao seu currículo ou é o longa em si que precisa de um nome de um artista de peso ou em evidência para tornar-se realidade? São inúmeros os exemplos de produtos que nasceram da junção destas duas necessidades e Doces Encontros é um deles. Com a Saga Crepúsculo ainda dando seus primeiros passos cinematográficos, mas já ostentando uma enorme legião de fãs, a atriz Kristen Stewart não dormiu no ponto e procurou participar paralelamente de projetos menores e independentes, assim não comprometeria sua imagem de ídolo dos teens e teria a chance de interpretar papéis mais densos que seriam importantes para sua experiência profissional, mesmo que fossem fracassos de bilheteria, seguindo assim os passos de atrizes consagradas como Nicole Kidman e Cate Blanchett, mas é óbvio que ainda tem chão para a jovem chegar aos pés delas. Todavia, ela se esforçou chegando ao ponto de cortar suas longas madeixas para dar mais veracidade ao sofrimento de Georgia Kaminski, uma adolescente de 15 anos que sofre de um tipo de atrofia neuromuscular que compromete sua locomoção, dicção e com o tempo pode causar sérios problemas cardíacos e até levar a morte. Ciente de seu estado de saúde delicado, ela leva uma vida melancólica ao lado dos pais. Sua mãe, Violet (Talia Balsam) é fotógrafa e adora que a filha pose para ela como modelo, assim documentando com imagens a progressão ou as vezes as leves regressões de sua doença sonhando que um dia esse trabalho seria reconhecido internacionalmente lhe trazendo fama travestida de serviço social. Enquanto esse dia não chega, Geórgia ajuda a avó Marg (Elizabeth Ashley) a vender fotos  e bugigangas em uma feirinha e é lá que ela conhece Beagle Kimbrough (Aaron Stanford), um jovem um pouco mais velho que ela que trabalha na mesma escola em que ela estuda, mas até então eles nunca haviam conversado. Afoita, a garota acaba pedindo ajuda do rapaz para fazer a lição de casa já que nem sempre consegue escrever, mas na realidade ela tem segundas intenções. Sabendo que sua vida é curta ela não vê a hora de saber como é se apaixonar. Beagle reage bem a investida da moça, mas seu momento de vida não parece oportuno para começar um relacionamento. Há pouco tempo sua mãe faleceu e parece haver um conflito velado entre os outros membros de seu clã.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

O REINO DOS GATOS

NOTA 8,0

Animação dirigida por pupilo
de Hayao Miyazaki preserva
características que consagraram
sua carreira e seu estilo de cinema
Desde que conquistou uma penca de prêmios por A Viagem de Chihiro, incluindo o Urso de Ouro no Festival de Berlim e o Oscar de Melhor Filme de Animação, o nome Hayao Miyazaki se transformou em uma grife, uma marca que inspira confiabilidade, criatividade e credibilidade e por tabela os mesmos predicados se estendem ao seu estúdio de cinema, o Ghibli. Desde então cinéfilos aguardam com ansiedade cada trabalho novo do animador, embora já esteja com bastante idade, e ficam na expectativa de que suas obras antigas venham ainda a ser relançadas para novas gerações apreciarem. Com a boa receptividade de O Castelo Animado, mais um de seus projetos que ganhou projeção em parte por conta de mais uma indicação da Academia de Cinema, chegou a ser lançado diretamente em DVD no Brasil o simpático e agradável O Reino dos Gatos que contou com a publicidade de ser uma realização dos mesmos criadores do citado vencedor do Oscar. Todavia, Miyazaki neste caso cedeu o cargo de direção para um de seus pupilos, Hiroyuki Morita, um dos animadores que há anos colaborava com seu estúdio. Realmente as características do mestre da animação oriental estão em cada cena deste desenho, guardadas as devidas proporções obviamente, provando que seu estilo foi perpetuado e continuará encantando novas gerações através do talento e criatividade de novos profissionais. O roteiro de Reiko Yoshida é bastante simples, mas agregado ao estilo visual tradicional, praticamente uma novidade em tempos da febre dos desenhos digitais, o resultado final é delicioso e com potencial para agradar a todas as idades. Haru é uma garota que leva uma vida normal como qualquer outra da sua idade, porém, considera sua rotina um tanto monótona e parece não gostar muito da escola. As coisas mudam completamente a partir do dia que ela encontra na rua um lindo gato carregando uma caixinha de presente na boca. Distraído, ele quase é atropelado, mas a jovem o salva e como agradecimento ele fica de pé sustentado por suas duas patas traseiras e desanda a falar. Assustada ela foge, mas na mesma noite fatos estranhos passam a ocorrer, por exemplo, quando está indo dormir Haru escuta barulhos do lado de fora de sua casa, sons provocados por um cortejo felino que parece querer chamar sua atenção.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

PEQUENOS MILAGRES (2010)

Nota 5,0 Apesar da boa premissa, drama é enfadonho e pontuado por problemas narrativos

A fórmula dos filmes que acompanham histórias paralelas que podem ou não se fundir na conclusão definitivamente se popularizaram. Antes relegada aos produtos mais cults, os conhecidos filmes-cabeça, hoje esse tipo de narrativa já é assimilada com mais facilidade por variados tipos de público. De forma não muito radical, o cineasta português Fernando Fragata adotou uma estrutura similar para o drama Pequenos Milagres. O cinema feito em Portugal é pouco divulgado, não tem tradição e talvez por isso o diretor ainda assumiu as rédeas das equipes de edição, fotografia e iluminação, além de roteirizar a história e ser o criador do argumento, tudo para conseguir finalizar seu trabalho. A razoável projeção que o longa tem entre alguns grupos específicos se deve ao título fácil e que automaticamente já remete o espectador a uma temática religiosa, que também pode ser encarada por alguns como de auto-ajuda ou no mínimo uma obra com mensagem bonita e reflexiva. Co-produzido entre Portugal e os EUA, o longa narra algumas histórias de pessoas que não se conheciam até certo dia em que seus destinos se cruzaram em uma região desértica. O problema é que no conjunto o longa parece um tanto irregular, tornado-se cansativo da metade para o final. Um pequeno penhasco que daria direto no mar é o ponto de encontro dos personagens ao sabor do destino. Na primeira parte ficamos conhecendo Jay (Joaquim de Almeida), um sujeito que perdeu a mulher há cerca de um ano e não conseguiu se recuperar do baque. Ele simplesmente parou no tempo, mas no dia de seu aniversário as coisas podem mudar. Um amigo deixou um recado em sua secretária eletrônica dizendo que comprou algumas coisas para ele e deixou na porta de sua casa. Entre elas havia uma tesoura, justamente um incentivo para ele abrir o presente que sua esposa lhe deu no seu último aniversário e que ele não teve tempo de desembrulhar antes dela partir. O pacote tinha um GPS (para quem não sabe, um guia eletrônico para auxiliar motoristas) que aparentemente não funcionava mais, porém, em um momento muito oportuno o aparelhou passou a repetir várias vezes uma mesma frase genérica, mas que para a ocasião caiu como uma luva para Jay evitar de fazer uma besteira. Curiosamente, tal cena acontece em um cenário desértico, sem referências e cuja probabilidade de alguém passar seria mínima, mas milagres existem e é isso que Fragata quis provar com este trabalho.

terça-feira, 7 de junho de 2016

SEU AMOR, MEU DESTINO

NOTA 3,0

Romance feito para adolescentes
é repleto de clichês, mas o que
incomoda é a apatia dos atores e
as relações pouco críveis
Quem disse que falar de amor para adolescentes só funciona atrelado ao gênero da comédia? Bem, se levarmos em consideração o exemplo de Seu Amor, Meu Destino realmente é melhor acreditarmos que a paixão só nasce mesmo após alguns micos ou umas intrigas, quando finalmente caem as fichas dos interessados que eles foram feitos um para o outro. Com uma passagem relâmpago pelos cinemas, o trabalho do diretor estreante Mark Piznarski realmente é esquecível porque no fundo parece uma colcha de retalhos mal feita. Excluindo cenas escatológicas, de humor pastelão e de apelo sexual tão comuns em produções destinadas aos jovens (ainda bem), o cineasta teve a boa vontade de fazer algo diferente para este público, mas infelizmente se perdeu pelo caminho deixando o amor em segundo plano e exaltando a redenção adicionando exemplos edificantes ao enredo. O roteiro de Michael Seitzman conta a história de três jovens que tiveram suas vidas mudadas por completo quando seus caminhos se cruzaram. Prestes a se formar no colégio, o arrogante Kelley Morse (Chris Klein) ganhou um carro caríssimo do pai e certa noite resolve sair às escondidas com os amigos para comemorar e, obviamente, se exibir passeando por uma cidade vizinha a sua escola. Ele acaba arranjando confusão com alguns moradores em uma lanchonete de beira de estrada e provoca a ira do humilde Jasper (Josh Hartnett) quando começa a paquerar sua namorada, a recatada Samantha (Leelee Sobieski). Os rapazes então começam a disputar uma corrida de carros em alta velocidade que termina com a explosão de uma bomba de gasolina e a destruição da tal lanchonete que pertence a família da moça que sem querer motivou tudo isso. A velha regrinha do quebrou pagou é então aplicada. Como castigo, os dois marrentos precisarão reconstruir o estabelecimento, o que significa que por um bom tempo eles terão que conviver juntos e deixar o orgulho de lado, mesmo se odiando e pertencentes a mundos completamente diferentes. Contudo, a convivência com os mais simples, principalmente com Samantha, faz com que Kelley aprenda que dinheiro não é tudo na vida e passe a ver as coisas com um olhar mais otimista, inclusive deixando aflorar seus sentimentos pela moça. Já para Jasper a situação só deve ter lhe trazido dores no corpo, pois seu relacionamento com a adolescente é um tanto frio.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

PAPARAZZI

NOTA 6,5

A falta de escrúpulos dos
paparazzi é colocada em xeque,
mas longa de ação não se
aprofunda na discussão
Como diz o ditado, uma imagem vale mais que mil palavras. Desde o primeiro dia em que a fotografia passou a fazer parte dos jornais impressos, um elemento chamativo e que muitas vezes funciona melhor que um longo texto, certamente fotógrafos profissionais e amadores começaram a se espalhar por todos os cantos para conseguirem aquele flagra inesperado de um acidente, de uma situação bizarra ou de uma cena comprometedora de alguém público. A atividade passou a ganhar cada vez mais importância, principalmente após o surgimento da televisão e das revistas de fofoca, e hoje em dia vivemos o ápice do ataque dos fotógrafos de plantão já que vivemos tempos em que celebridades não preservam suas intimidades e subcelebridades chegam ao cúmulo de enviar comunicados aos membros da imprensa avisando sobre coisas prosaicas, como avisar que estarão em tal festa ou salão de cabeleireiros. Tudo vale para ter aquela foto que vai causar burburinho, mas nem sempre o resultado é positivo tanto para o famoso quanto para o anônimo que se encontra atrás dos flashes. É justamente essa relação conturbada que no fundo move o longa de ação Paparazzi, produção que infelizmente não fez muito sucesso, mas é divertida, levemente reflexiva e apesar de datada de 2004 continua super atual. Escrito por Forrest Smith, o filme conta a história de Bo Laramie (Cole Hauser), um ator que está em ascensão em Hollywood e virando um astro dos filmes de ação graças a um projeto que está para ser lançado e com possibilidades de se tornar uma rentável franquia cinematográfica. Logo na noite de pré-estreia de “Adrenaline Force”, seu mais novo trabalho, ele já sente o peso da fama e o incômodo dos flashs dos paparazzi, mas parece lidar bem com o assédio dos fãs e da imprensa. O problema é que por tabela sua mulher Abby (Robin Tunney) e seu filho pequeno Zach (Blake Bryan) também deverão aprender a ter jogo de cintura com toda fama repentina de Bo. As coisas complicam quando momentos íntimos e cotidianos do astro passam a estampar revistas e jornais com manchetes em tom de fofoca. Após ver publicadas fotos suas e da família nus em uma praia e a imagem de um abraço de uma fã descrita como uma possível amante de Bo, o bicho pega quando ele flagra Rex Harper (Tom Sizemore) fotografando seu filho durante um treino de futebol na escola. Sempre tentando contornar a situação da melhor maneira possível, ele tenta conversar amigavelmente com o fotógrafo, mas acaba perdendo a cabeça e lhe agredindo. Para sua surpresa, muitos outros paparazzi surgem inesperadamente de dentro de uma van e flagram mais essa situação. Do céu ao inferno, de uma hora para a outra Bo passa a ser acusado nas mídias como agressor e o caso vai parar nos tribunais, rendendo-lhe a sentença de uma grande quantia de indenização ao agredido e a obrigação do ator passar a frequentar a terapia.

sábado, 4 de junho de 2016

BON COP BAD COP

Nota 6,0 Longa de ação canadense se beneficia de rixa entre cidades para explorar o humor

Os EUA reconhecidamente é um país sinônimo de cinema comercial e o gênero de ação continua sendo um dos carros-chefes dessa indústria, mesmo com as críticas negativas que longas do tipo recebem, além do fato da maioria nem chegar a passar em cinema, sendo lançada diretamente em DVD. Contudo, ainda existe platéia cativa para esses produtos, pessoas que construíram seu gosto cinematográfico influenciados por trabalhos de Arnold Schawznegger, Silvester Stallone e companhia bela, principalmente as gerações que cresceram na época do boom das locadoras, estabelecimentos que acolheram os astros brucutus quando as salas de cinema passaram a fechar as portas para eles. Mas deixando de lado os detalhes dos bastidores, é curioso que os fãs de ação hollywoodiana se acostumaram tanto a um padrão engessado que sentem dificuldades em aceitar produtos do gênero oriundos de outros países. Eles não vão mudar a vida de ninguém certamente, mas com sorte podem oferecer um divertimento de melhor qualidade que o habitual como é o caso de Bon Cop Bad Cop, mescla de ação, policial e comédia produzida pelo Canadá. A premissa do roteiro de Leila Basen, Kevin Tierney, Alex Epstein e de Patrick Huard, um dos protagonistas, pode parecer esquisita, mas vale a pena insistir. O filme começa com uma tola discussão sobre a venda de um tradicional time de hóquei canadense para os EUA. Ao mesmo tempo um homem mascarado vai sendo revelado pouco a pouco e já tem uma vítima a postos para ser executada. O corpo deste homem é encontrado em cima de uma placa rodoviária que demarca os limites de duas cidades, pernas de um lado e cabeça e tronco de outro. Dois tiras, um representante de cada município que cativam há nos certa rivalidade, são selecionados para investigar o caso, mas eles não podiam ser mais diferentes. Martin Ward (Colm Feore) é de Toronto, fala inglês e é muito correto com suas obrigações, o policial exemplar. Já David Bouchard (Huard) é de Quebec, fala francês e prefere levar a profissão sem grandes preocupações. Em comum eles têm apenas o fato de que entendem razoavelmente bem o idioma um do outro (fato esquecido lá pelas tantas quando eles passam a se comunicar fluentemente) e ambos possuem problemas de relacionamento com os filhos e não são casados.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

CISNE NEGRO

NOTA 10,0

Obra alia drama, suspense,
psicologia, arte e
entretenimento para falar
sobre a busca da perfeição
Buscar a perfeição em tudo o que fazemos é um objetivo que provavelmente todos sempre querem alcançar, mas muitos passam dos limites e acabam enlouquecendo. A obsessão desloca a pessoa da realidade e a leva a um mundo onde o real e o fictício se misturam e não se sabe onde um termina e o outro começa. O cultuado cineasta Darren Aronofsky não deve ter enlouquecido, mas buscou e conseguiu a perfeição com Cisne Negro, um trabalho que reuniu drama e suspense nas doses certas e que é um ótimo exemplo de que arte e entretenimento podem caminhar juntos. O longa é praticamente um thriller psicológico que divide opiniões. Muitos o cobrem de elogios e outros o insultam sem piedade, inclusive apontando erros onde não tem, por exemplo, ao tocar no assunto homossexualismo, um preconceito um tanto ultrapassado. Quem recrimina esta produção precisa assisti-la com mais atenção e livre de pré-julgamentos. É bem diferente analisar um filme pelo que os outros dizem e quando podemos julgar por aquilo que nós mesmos constatamos. Declaradamente artística esta obra conta com um trabalho de iluminação e edição essenciais para dar o clima de tensão que combinado com a bela e relativamente escura fotografia levam o espectador a um passeio por um mundo perturbador e angustiante, principalmente nos minutos finais quando a trama ganha uma forte densidade dramática e uma dose extra de adrenalina. Poucos diretores conseguem envolver o espectador usando histórias relativamente simples, mas que se tornam complexas conforme o andamento da trama, um verdadeiro turbilhão de emoções. Aronofsky, acostumado a narrativas de conteúdo forte e reflexivo como Réquiem Para um Sonho, parece gostar de explorar o quanto elementos externos influenciam um indivíduo para chegar ao sucesso de forma sadia ou degradando-o física e mentalmente. Em O Lutador, por exemplo, ele mostra o resgate da carreira de um boxeador que há muitos anos sofria com a rejeição da filha e a incapacidade de manter relacionamentos estáveis. Ainda em busca de esmiuçar o ápice de um profissional, aqui o cineasta aponta sua câmera para o mundo do balé, mais precisamente para uma bailarina em específico que deixou que as cobranças para que ela atingisse resultados excepcionais em sua arte a levassem a adquirir um quadro de problemas psicológicos sérios.  

quinta-feira, 2 de junho de 2016

MATEMÁTICA DO AMOR

NOTA 3,5

Jovem que cresceu em meio a
números e problemas mal
resolvidos repentinamente
precisa se adaptar ao mundo real
O título é bem simpático, poderia ser uma alusão a algo do tipo quando um não quer dois não brigam, mas na realidade o filme em si é estranhíssimo. As operações matemáticas já estiveram presentes em alguns filmes como os premiados Gênio Indomável e Uma Mente Brilhante, mas a diretora Marilyn Agrelo se perdeu entre os números e a poesia em Matemática do Amor, sua estreia nos cinemas. Baseado no livro “An Invisible Signo f My Own” de Aimee Bender, o longa é mais um a explorar o filão dos filmes sobre professores que inspiram e transformam a vida de alunos, uma lista extensa que tem como principais expoentes Ao Mestre com Carinho e Sociedade dos Poetas Mortos, por exemplo. Todavia, este aqui está longe de ser comparado aos grandes trabalhos do gênero, interessando mesmo (com esforço) a apenas aficionados por draminhas românticos. O roteiro criado por Pam Falk e Mike Ellis apresenta uma inversão narrativa sendo a professora no caso quem precisa de ajuda. O filme narra a história de Mona Gray (Jessica Alba), uma jovem que desde a infância demonstrava uma grande capacidade para lidar com números, algo que aprendeu com seu pai (John Shea), a quem idolatrava e o seguia na paixão pela matemática e pelas corridas ao ar livre. Certo dia, durante uma das práticas do esporte, seu pai acabou sentindo-se mal e tal episódio transformou a vida da garota completamente. Debilitado por uma espécie de colapso nervoso e afetado por um distúrbio mental, o matemático fica submetido aos cuidados de sua esposa (Sonia Braga) e Mona acaba sentindo-se desmotivada e sem rumo a seguir na vida. Ela simplesmente abdica de tudo o que gostava de fazer, restando-lhe apenas os números como companhia e distração, como se fosse um pacto com o universo ou uma promessa a algum santo em troca da recuperação da saúde de seu pai, mas infelizmente tudo é em vão. Tal ideia estapafúrdia surgiu das memórias que ela tinha sobre um conto de fadas que seu pai costumava lhe contar. Aliás, a sequência que abre a obra é justamente uma animação que ilustra tal história, uma fábula sombria na qual um rei ordena que cada família tenha um de seus membros executados como forma de sacrifício para o bem de todo o reino que sofria com a falta de espaço e o excesso de habitantes, mas uma em especial consegue “abrandar” a exigência, assim cada pessoa do clã perdeu apenas uma parte do corpo. Bizarro demais? Ao menos a introdução já dá mais ou menos ideia do que vem por aí. Se assistir com mente aberta à fantasia dá para engolir aos trancos. Se levar a sério demais...

quarta-feira, 1 de junho de 2016

CINDERELA (1950)

NOTA 9,0

Clássico conto infantil salvou
as finanças da Disney em
tempos de crise e até hoje
emociona com sua delicadeza
Não tem mais jeito. A cada ano que passa menos espaço as animações tradicionais encontram no mercado de exibição, sendo assim tais produções sobrevivem através dos lucros com locadoras e varejos, mas acabaram se tornando obras restritas a plateias de crianças bem pequenas ou de adultos nostálgicos. Os desenhos mais moderninhos são bacanas, divertem a todas as idades e a maioria está repleta de críticas ou sarcasmos implícitos, mas já faz algum tempo que esses filmes estão se tornando repetitivos ou até mesmo com histórias fracas. Nestas horas dá até saudades da simplicidade dos traços e da ingenuidade das narrativas dos longas-metragens animados antigos, corrente em que obviamente o Sr. Walt Disney e sua equipe de desenhistas e roteiristas se destacavam. Cinderela é uma opção muito bem-vinda para sair da rotina e comprovar que a genialidade destes criadores é imortal. Embora o conto da gata borralheira seja super conhecido e demasiadamente açucarado, o estilo antigo de fazer animação é o grande chamariz no caso, mas não é só isso. Além dos traços suaves e os tons aquarelados, ainda temos uma trama envolvente e a convidativa trilha sonora, enfim tudo aqui vale a pena. A história original já sofreu inúmeras modificações com o passar dos anos em suas diversas adaptações para o cinema, teatro, televisão e até na própria literatura. Embora a versão dos famosos Irmãos Grimm seja levada em conta como o texto original, o visionário empresário Disney deu sinal verde para a produção deste longa animado baseando-se no livro homônimo de Charles Perrault. Escritor de origem francesa, ele também foi o autor das adaptações mais populares de “A Bela Adormecida” e “Chapeuzinho Vermelho”. Com a direção de Clyde Gernimi, Hamilton Luske e Wilfred Jackson, o longa narra a história da bela e gentil Cinderela, uma jovem que perdeu o pai muito cedo e foi criada por sua madrasta, Lady Tremaine, em companhia de suas duas meias-irmãs. Obrigada a fazer todos os serviços domésticos da casa, a moça nunca se sentiu parte desta família e seus únicos amigos são alguns animaizinhos que a rodeiam, como alguns ratinhos. São justamente eles que ajudarão Cinderela a realizar um grande sonho: ir ao baile promovido pelo príncipe que deseja encontrar sua futura esposa. A madrasta faz de tudo para evitar que a enteada compareça ao baile, pois quer que uma de suas filhas legítimas conquiste o rico anfitrião, mas quando menos espera a moça esnobada recebe a visita da bondosa Fada Madrinha que lhe arruma um belo vestido de festa, transforma os ratinhos em cavalos e cocheiros para conduzir a carruagem feita a partir de uma abóbora e, por fim, oferece a ela um par de sapatos de cristal. Porém, toda essa magia só dura até o relógio soar a meia-noite, o que obriga Cinderela a sair correndo no melhor da festa, quando finalmente conseguiu se aproximar do príncipe. O rapaz não sabe seu nome e nem onde ela mora, tendo como única pista o sapato que ela deixa cair na escadaria do palácio.