quinta-feira, 2 de junho de 2016

MATEMÁTICA DO AMOR

NOTA 3,5

Jovem que cresceu em meio a
números e problemas mal
resolvidos repentinamente
precisa se adaptar ao mundo real
O título é bem simpático, poderia ser uma alusão a algo do tipo quando um não quer dois não brigam, mas na realidade o filme em si é estranhíssimo. As operações matemáticas já estiveram presentes em alguns filmes como os premiados Gênio Indomável e Uma Mente Brilhante, mas a diretora Marilyn Agrelo se perdeu entre os números e a poesia em Matemática do Amor, sua estreia nos cinemas. Baseado no livro “An Invisible Signo f My Own” de Aimee Bender, o longa é mais um a explorar o filão dos filmes sobre professores que inspiram e transformam a vida de alunos, uma lista extensa que tem como principais expoentes Ao Mestre com Carinho e Sociedade dos Poetas Mortos, por exemplo. Todavia, este aqui está longe de ser comparado aos grandes trabalhos do gênero, interessando mesmo (com esforço) a apenas aficionados por draminhas românticos. O roteiro criado por Pam Falk e Mike Ellis apresenta uma inversão narrativa sendo a professora no caso quem precisa de ajuda. O filme narra a história de Mona Gray (Jessica Alba), uma jovem que desde a infância demonstrava uma grande capacidade para lidar com números, algo que aprendeu com seu pai (John Shea), a quem idolatrava e o seguia na paixão pela matemática e pelas corridas ao ar livre. Certo dia, durante uma das práticas do esporte, seu pai acabou sentindo-se mal e tal episódio transformou a vida da garota completamente. Debilitado por uma espécie de colapso nervoso e afetado por um distúrbio mental, o matemático fica submetido aos cuidados de sua esposa (Sonia Braga) e Mona acaba sentindo-se desmotivada e sem rumo a seguir na vida. Ela simplesmente abdica de tudo o que gostava de fazer, restando-lhe apenas os números como companhia e distração, como se fosse um pacto com o universo ou uma promessa a algum santo em troca da recuperação da saúde de seu pai, mas infelizmente tudo é em vão. Tal ideia estapafúrdia surgiu das memórias que ela tinha sobre um conto de fadas que seu pai costumava lhe contar. Aliás, a sequência que abre a obra é justamente uma animação que ilustra tal história, uma fábula sombria na qual um rei ordena que cada família tenha um de seus membros executados como forma de sacrifício para o bem de todo o reino que sofria com a falta de espaço e o excesso de habitantes, mas uma em especial consegue “abrandar” a exigência, assim cada pessoa do clã perdeu apenas uma parte do corpo. Bizarro demais? Ao menos a introdução já dá mais ou menos ideia do que vem por aí. Se assistir com mente aberta à fantasia dá para engolir aos trancos. Se levar a sério demais...

Mona então cresceu levando adiante a mensagem do conto, assim acabou se tornando uma mulher infeliz que se sente culpada toda vez que recobra a esperança ou o prazer da vida, afinal ela não deve ter se sacrificado o suficiente pelo seu pai. A situação chegou a um ponto insustentável que até sua mãe não aguentou e expulsou a filha de casa, mas tal ato não foi por maldade, apenas uma maneira forçada de fazê-la entender que ela não poderia parar sua vida em função de outra pessoa e que precisava se abrir para o mundo e novas oportunidades, um hábito comum entre os americanos para estimular a independência. Realmente o empurrãozinho foi benéfico. Aos poucos Mona mudou sua personalidade, passou a encarar o amadurecimento de frente e acabou se tornando uma professora de matemática para crianças mesmo não sendo graduada na área, apenas contando com o voto de confiança da diretora da escola que é muito amiga de sua mãe (ai se a moda pega). Contudo, a obsessão da moça por algarismos e contas não passou e ela usa seus conhecimentos do tipo para lidar com um mundo que para ela é imprevisível e no qual ela se sente um número estranho em meio a uma grande equação em que somatórias e subtrações acontecem a todo o momento. Quando se sente nervosa ela costuma bater na madeira compulsivamente e a imaginar numerais, praticamente um exercício alternativo de relaxamento. Apesar das dificuldades para se adaptar ao mundo real, é justamente dando aulas que a vida de Mona vai ganhar novas emoções. Vai descobrir, por exemplo, que lidar com o sofrimento de alguém não significa necessariamente precisar mergulhar em um estado emocional semelhante e curiosamente tal lição quem lhe dará é uma de suas alunas, a meiga Lisa (Sophie Nyweide), cuja mãe está prestes a falecer por conta de um câncer no olho e se apega a nova professora em busca de apoio, mas a situação acaba colocando as duas no mesmo barco tendo que ligar com suas fragilidades, consequentemente uma ajudando a outra nessa tarefa. Mona também experimentará emoções positivas como o carinho que passa nutrir por um colega de trabalho, o professor de ciências Ben Smith (Chris Messina) que corresponde às expectativas, mas obviamente ela também terá receios de levar essa relação adiante. Se cabem alguns elogios à produção eles devem ser feitos justamente por esse gancho de autoajuda, tramas paralelas que mostram que é necessário sair da clausura para as coisas mudarem, nada cai do céu. É preciso experimentar algo diferente antes de sentir repulsa. Muita gente deve se identificar com a protagonista, o que justifica a quantidade razoável de críticas amenas que o longa recebe, mas no conjunto ele decepciona em vários aspectos.

A premissa, embora estranha, poderia resultar em um bom produto, mas Marilyn acabou realizando uma obra por vezes confusa e enfadonha. A introdução atípica, os transtornos diferenciados da protagonista, uma relação amorosa meia boca e na reta final um gancho dramático forçado, tudo regado a diálogos que não raramente soam tolos ou mal encaixados. Ainda assim, a proposta de longa de autoajuda pesa na hora de muitos avaliarem a obra, embora existam muitas bem superiores para oferecer mensagens ao público, e também pode ser interessante para alguns, talvez pedagogos e afins, a forma como Mona encontra para se virar em sala de aula. Sem experiência e tampouco estudo específico, ela encontra técnicas alternativas para ensinar matemática aos pequenos, uma forma lúdica, criativa e divertida de ensinar como, por exemplo, enxergar os numerais em objetos, mas infelizmente tem a infeliz ideia de levar um machado para a turminha visualizar a forma do número 7. Objeto cortante mais crianças levadas resulta em... Pois é, a matemática racional da professora não carrega conceitos importantes da matemática da vida, mas sempre é tempo de aprender. Jessica Alba, muito marcada por personagens sensuais, aparece aqui despida de vaidades, mas se capricha no visual para tornar crível sua personagem introvertida, por vezes sua interpretação torna-se carregada demais de inocência o que compromete um pouco o desenvolvimento da trama que poderia ser um pouco mais curta. Para quem procura descobrir como Sonia Braga conseguiu se estabelecer em solo americano, mais uma vez a chance é perdida. Para variar ela tem pouco tempo de cena e não demonstra todo seu potencial, ainda que garanta um dos poucos momentos divertidos da fita na cena em que ela comemora o aniversário da filha em um local público e causa uma confusão previsível com a aparição repentina de Ben. Como de costume, quem rouba a cena é a pequena Sophie Nyweide com um personagem melhor construído e uma interpretação natural e espontânea. Difícil dizer se nos emocionamos ou nos divertimos na sequência em que ela revela à professora que a mãe está doente. Embora saiba da gravidade do problema, a garota ainda nutre certa inocência em relação a esse fato. Matemática do Amor poderia ser um projeto ambicioso e com material para tanto, mas acabou sendo uma obra superficial cujos resquícios de qualquer tipo de mensagem positiva ficaram perdidos em meio a melancolia que impregna a narrativa.

Drama - 95 min - 2010

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