segunda-feira, 6 de junho de 2016

PAPARAZZI

NOTA 6,5

A falta de escrúpulos dos
paparazzi é colocada em xeque,
mas longa de ação não se
aprofunda na discussão
Como diz o ditado, uma imagem vale mais que mil palavras. Desde o primeiro dia em que a fotografia passou a fazer parte dos jornais impressos, um elemento chamativo e que muitas vezes funciona melhor que um longo texto, certamente fotógrafos profissionais e amadores começaram a se espalhar por todos os cantos para conseguirem aquele flagra inesperado de um acidente, de uma situação bizarra ou de uma cena comprometedora de alguém público. A atividade passou a ganhar cada vez mais importância, principalmente após o surgimento da televisão e das revistas de fofoca, e hoje em dia vivemos o ápice do ataque dos fotógrafos de plantão já que vivemos tempos em que celebridades não preservam suas intimidades e subcelebridades chegam ao cúmulo de enviar comunicados aos membros da imprensa avisando sobre coisas prosaicas, como avisar que estarão em tal festa ou salão de cabeleireiros. Tudo vale para ter aquela foto que vai causar burburinho, mas nem sempre o resultado é positivo tanto para o famoso quanto para o anônimo que se encontra atrás dos flashes. É justamente essa relação conturbada que no fundo move o longa de ação Paparazzi, produção que infelizmente não fez muito sucesso, mas é divertida, levemente reflexiva e apesar de datada de 2004 continua super atual. Escrito por Forrest Smith, o filme conta a história de Bo Laramie (Cole Hauser), um ator que está em ascensão em Hollywood e virando um astro dos filmes de ação graças a um projeto que está para ser lançado e com possibilidades de se tornar uma rentável franquia cinematográfica. Logo na noite de pré-estreia de “Adrenaline Force”, seu mais novo trabalho, ele já sente o peso da fama e o incômodo dos flashs dos paparazzi, mas parece lidar bem com o assédio dos fãs e da imprensa. O problema é que por tabela sua mulher Abby (Robin Tunney) e seu filho pequeno Zach (Blake Bryan) também deverão aprender a ter jogo de cintura com toda fama repentina de Bo. As coisas complicam quando momentos íntimos e cotidianos do astro passam a estampar revistas e jornais com manchetes em tom de fofoca. Após ver publicadas fotos suas e da família nus em uma praia e a imagem de um abraço de uma fã descrita como uma possível amante de Bo, o bicho pega quando ele flagra Rex Harper (Tom Sizemore) fotografando seu filho durante um treino de futebol na escola. Sempre tentando contornar a situação da melhor maneira possível, ele tenta conversar amigavelmente com o fotógrafo, mas acaba perdendo a cabeça e lhe agredindo. Para sua surpresa, muitos outros paparazzi surgem inesperadamente de dentro de uma van e flagram mais essa situação. Do céu ao inferno, de uma hora para a outra Bo passa a ser acusado nas mídias como agressor e o caso vai parar nos tribunais, rendendo-lhe a sentença de uma grande quantia de indenização ao agredido e a obrigação do ator passar a frequentar a terapia.

A partir desse episódio, Bo acabou ganhando um inimigo. Um não, vários. Os paparazzi se unem para se vingar do ator e certa noite plantam numa festa a notícia falsa de que ele foi flagrado em uma viagem traindo a esposa. Na volta para casa, o casal discute enquanto os fotógrafos os perseguem freneticamente levando o rapaz a perder a direção do carro o consequentemente a se chocar contra um outro veículo. Bo se salva, mas sua esposa e filho se machucam mais gravemente, o garoto inclusive fica em coma. Os paparazzi, com exceção de apenas um que pede socorro, quando veem a cena correm para fotografar o desastre, mas para a polícia todos alegam que só foram até o local quando souberam da colisão, omitindo o fato de que foram os responsáveis por tudo e não prestaram socorro imediato. A única testemunha que seria o dono do outro carro que se envolveu na batida acabou falecendo. Bo então decide deixar a carreira um pouco de lado e passa a se dedicar a um plano de vingança contra aqueles que colocaram sua família entre a vida e morte em troca de dinheiro. Daí por diante o longa dirigido por Paul Abascal investe em cenas de suspense e ação, um jogo de gato e rato, ou melhor, de um cavaleiro solitário contra uma multidão. Diante das reações violentas que o ator passa a esboçar, os fotógrafos procuram se defender continuando a criar situações que possam constrangê-lo, pois mais um ataque de fúria poderia ser extremamente prejudicial para sua carreira e complicá-lo ainda mais com a justiça. Todavia, pensar na profissão é a última coisa que Bo quer. É perceptível sua satisfação, por exemplo, ao negar ajuda a um fotógrafo que acaba caindo de um penhasco, mas por outro lado tal fato acaba colocando-o na mira do detetive Burton (Dennis Farina). Embora assuma a postura de anti-herói, o espectador torce para que os planos de Bo deem certo, pois suas ações são vistas pela ótica da justiça. Aí chegamos a um ponto polêmico do projeto. Ele é a favor ou contra o trabalho dos paparrazzi? Pois é, ao término de tudo ficamos com a sensação de que Abascal ficou em cima do muro nesta discussão levando ao público várias situações a serem questionadas a respeito desta atividade. É uma atividade ilegal? Configura invasão de privacidade? Os famosos é que são culpados por serem descuidados ou desejarem levar uma vida comum mesmo depois da fama? Não crie expectativas de conseguir tais respostas neste filme, mas algumas coisas citadas realmente nos fazem refletir. Em certo momento, Harper diz que apenas tiras as fotografias, não obriga ninguém a olhá-las, e aí entra a regra do mercado: se tem demanda, tem oferta. Enquanto houver gente interessada em ver seu ídolo sem roupas em uma praia ou dando um simples passeio no parque os paparazzi continuarão em ação e faturando alto em cima da ignorância dos outros e da falta de compostura dos famosos, estes que não raramente também lucram com a situação, desde um cachê presencial que pode surgir por conta de um flagra ou até mesmos às custas de um processo judicial.

A palavra paparazzi tornou-se popular mundialmente por conta do acidente fatal sofrido pela Princesa Diana em agosto de 1997. Perseguida por fotógrafos em um carro em que estava acompanhada de seu namorado (ela já estava separada do Príncipe Charles), o casal acabou sendo vítima da obsessão destes profissionais que desejavam a todo custo uma foto que abalaria os alicerces da tradicional família real britânica, mas no fim conseguiram imagens que provocaram um grandioso furacão, aliás, eles próprios se viram depois no meio da tempestade, pois a opinião pública passou a rotulá-los como vilões da história e por um bom tempo tal atividade foi vista com maus olhos. Claramente inspirado neste fato real, Paparazzi é um filme que perde muito por conta de sua curta duração e seus reais objetivos. Até pouco tempo depois do grave acidente que Bo e sua família sofre, o longa é extremamente envolvente ao abordar a obsessão destes profissionais que movidos pela ganância não percebem que todos seus esforços são em nome de um resultado final que no dia seguinte não terá mais valor algum, um trabalho totalmente descartável. Nesse primeiro ato, Abascal investe pesado em cenas que revelam a falta de limites dos fotógrafos e o exagero no número de situações perturbadoras é proposital para deixar o espectador inquieto e mais a frente a favor da vingança do ator. Todavia, quando o lema faça justiça com as próprias mãos entra em cena, o filme perde um pouco de seu brilho caindo em uma convencional narrativa de ação e só resta ao espectador aguardar pelo novo golpe, do lado do bem ou do mal não importa. Não seria errado dizer que esta produção, que leva o nome de Mel Gibson nos créditos como produtor, é tendenciosa ao passar a ideia de que os paparazzi são os vilões, profissionais inescrupulosos e egoístas que só pensam em seu próprio bem estar, mas como em todas as carreiras existem os bons e os maus elementos. O problema é que entre o pessoal que procura ganhar a vida às custas da intimidade e das escorregadelas dos famosos parece que os “vilões” existem em maior número e quanto mais a “vítima” reclama do assédio mais eles insistem em persegui-la, como no caso citado do filme em que Bo já saturado agride o fotógrafo e instantaneamente causa um rebuliço muito maior do que a foto de seu filho jogando bola poderia provocar. A coisa chegou a tal ponto que existem até advogados especializados nesses casos que são queridinhos dos paparazzi por conseguirem extorquir altas quantias de dinheiro dos fotografados para evitar que as imagens cheguem ao público, papel defendido rapidamente por Tom Hollander na pele de Leonard Clark. Embora com final previsível e sem se aprofundar em questões polêmicas, este longa de ação pode surpreender ligeiramente. Pelo menos foge do maçante esquema dos bandidos e heróis estereotipados que infestam o gênero com suas enfadonhas tramas acerca do submundo. 

Ação - 84 min - 2004 

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