NOTA 8,0 Comédia começa as avessas e até de forma arriscada, mas trata de voltar atrás e honrar as leis do gênero |
Jamie (Mila) é uma especialista em encontrar talentos para atuarem em uma grande empresa de Nova York, mas no amor não tem sorte. Decidida a não se envolver mais emocionalmente, apenas fisicamente, não demora para que um rapaz com o mesmo objetivo surja em seu caminho e ainda podendo lhe render algum dinheiro. Dylan (Timberlake) é um excelente profissional das artes com computação e é o perfil adequado que a caça-talentos procura para apresentar aos seus superiores, mas acaba encontrando nele o amante ideal também. Reticente inicialmente com a proposta de se mudar de Los Angeles e aceitar o novo emprego, o rapaz toma essa decisão muito por conta da insistência de Jamie que apresenta em detalhes todos os atrativos que o agitado mundo nova-iorquino poderia lhe oferecer, inclusive o sexo casual. A grosso modo a proposta pode espantar. No mundo todo ainda predominam as tradições e regras básicas do envolvimento amoroso, embora a ida para cama que era o último estágio para um casal já esteja sendo aceita antes do casamento. Mas como se envolver com a história de duas pessoas que aceitam passar a noite juntas e no outro dia conversarem sobre a possibilidade de um novo parceiro para cada um ou resolvem passar o tempo assistindo um filme como amigos que jamais se tocaram? O roteiro ironiza os clichês dos relacionamentos (inclusive dos presentes no cinema) e nos mostra praticamente dois animais no cio que parecem insaciáveis, porém, Gluck se arma contra o apedrejamento. Ao mesmo tempo em que se mostram irracionais quanto ao sexo e blindados ao amor, os dois são pessoas com vazios a serem preenchidos emocionalmente por conta de problemas familiares, mas o roteiro não apela ao dramalhão. A mãe de Jamie, Lorna (Patricia Clarkson), é uma beberrona compulsiva sexual que tem uma relação franca com a filha. Aliás, a garota tem o exemplo em casa do sexo sem compromisso. Já Harper (Richard Jenkins), o pai de Dylan, sofre de Alzheimer, mas é o orgulho da família e também tem algumas cenas engraçadas, mas sem explorar de forma desrespeitosa os sintomas da doença. Assim, os protagonistas que pareciam vazios ganham certo sustento.
Esta comédia romântica é
dúbia. Começa as avessas para no seu segundo ato sucumbir ao politicamente
correto. Agrada alguns pela inovação inicial (apesar do tema já estar ficando
batido) e deixa muita gente boquiaberta com o excesso de cenas de sexo, ainda
que não sejam totalmente explícitas, mas faltou pouco. Embora Mila e Timberlake
causem empatia e tenham química, não sabemos se ficamos mais ruborizados com as
imagens ou com os diálogos e piadas de duplo sentido. Realmente o filme é um
pouco extenso e se beneficiaria com os cortes de alguns desses abusos, partindo
logo para o segundo ato que também não agrada unanimemente. Tem gente que
preferia que o comportamento devasso dos protagonistas fosse levado adiante, mas
qual seria o desfecho desta relação? Quem busca ver uma comédia romântica até
aceita um pouco mais de ousadia, mas há certas regras que o gênero deve
obedecer. Dessa forma, Gluck passa a trabalhar mais com o romantismo do que o
liberalismo da metade para o final. O ponto de virada é a visita de Jamie na
casa da família de Dylan. Antes um boneco sexual, o rapaz agora ganhava uma
história de vida que viria a mexer com a mocinha. A liberdade dá lugar ao
recato e ao previsível. O aconchego do lar que tanto segurou Dylan a tomar a
decisão de mudar de cidade acaba embriagando Jamie que não tinha lembranças tão
inocentes e felizes de sua família. O mundo nova-iorquino onde tudo é possível
é posto em xeque e a valorização do campo afetivo triunfa. É até uma crítica
implícita no roteiro. Todo jovem sonha em ser bem-sucedido, morar só, poder
passar cada noite com alguém diferente, enfim vivenciar um momento onde o tempo
parece voar e o descartável ser imprescindível.
Essa fase pode demorar a passar, mas uma hora acaba. É justamente isso
que faz de Amizade Colorida um projeto convencional e no conjunto bastante
agradável. O amor toma as rédeas da situação. Curiosidade: o ator Woody
Harrelson tem um papel pequeno, mas responsável por bons momentos cômicos
vivendo um gay nada estereotipado e, ironicamente, funcionário da editoria de
esportes de uma publicação conceituada. É de pitadas de ousadia que as receitas
básicas do cinema vão atravessando gerações, mas de preferência sem alterar o
sabor original.
Comédia romântica - 109 min - 2011
Um comentário:
Ainda não assisti o filme. Mas parece ser bem parecido com outro que o Ashton Kutcher fez: Sexo sem compromisso...
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