Nota 6 Suspense francês tem bom argumento, mas seu ritmo lento e sustos suaves comprometem
Os elementos do cinema de horror são tão enraizados à cultura americana que fica difícil imaginar os mesmos em um filme italiano, argentino ou brasileiro, que dirá o nosso saudoso Zé do Caixão que, mesmo tendo sua filmografia valorizada tardiamente, não escapou da frustração de seu último projeto cinematográfico (lançado em meados da década de 2000) amargar o ostracismo. Por outro lado, China, Japão e outros países da cultura oriental e até a Espanha tem um histórico de sucesso na produção de terror e suspense. E o que dizer de um filme do tipo francês? Vila das Sombras reúne diversas características do gênero, mas esbarra no preconceito do público. Realmente, com uma narrativa mais lenta e imagens extremamente escuras, é natural que muitos desistam de acompanhar este trabalho em seus dez minutos iniciais, mas para quem der um voto de confiança não é que o longa surpreende razoavelmente no conjunto?
Eis uma prova de que todos os países podem e devem apostar nos mais variados gêneros cinematográficos, não apenas visando lucros, mas principalmente para vivenciar a experiência e aprimorá-la, caso contrário a produção local fica estagnada como no caso da França que para muitos ainda hoje apenas investe em filmes chatos e complexos. A trama começa mostrando dois soldados armados dentro de uma residência aparentemente abandonada, mas existe algo estranho lá dentro os perturbando. Tal história faz parte de um livro sobre lendas e crenças que Mathias (Jonathan Cohen) está lendo durante uma viagem de carro que está fazendo com um grupo de amigos. Como estão em nove pessoas, o grupo se dividiu em dois veículos, mas na escuridão da noite um dos carros simplesmente parou na estrada e seus integrantes sumiram. Coincidentemente, Lucas (Axel Kiener) diz que eles estão próximos ao vilarejo de Ruiflec onde seus pais possuem uma casa, mas no momento ela está vazia e poderiam passar a noite por lá.
O tal vilarejo é extremamente sinistro, vive sob uma escuridão absoluta e obviamente não demora muito para que fatos estranhos aconteçam. Lucas parece ter mudado de personalidade de uma hora para outra e agride Mathias; Lila (Barbara Goenaga) passa a ter estranhos delírios com eventos que se passaram no local há séculos atrás; e Marion (Ornella Boulé), que estava desaparecida, é encontrada, mas sua irmã Emma (Christa Theret) não gosta nada de seu comportamento em transe. As coisas pioram quando encontram um desenho como se fosse um retrato-falado de Hugo (Djedje Apali), o primeiro deles a desaparecer ainda na estrada, com expressão de susto. Como alguém poderia fazer isso se o rapaz sequer colocou os pés no local? Em seguida, o mesmo acontece com Mathias e assim pouco a pouco o grupo vai diminuindo. Quando restam apenas três, curiosamente só mulheres, o segredo do local começa a ser desvendado através de um livro onde estão anotados os nomes de vários grupos de pessoas, sempre oito nomes registrados de oito em oito anos e sempre na mesma data, dia 08 de agosto, obviamente o mesmo dia em que estes jovens infortunadamente foram parar lá.
Na página atual (datada de 08/08/2008) existem nove nomes e a ordem de listagem segue a mesma dos desaparecimentos. A última pessoa registrada seria aquela que conseguiria escapar com vida? Quem é escolado no gênero certamente não precisa nem dos diálogos travados quando o tal livro é encontrado para matar a charada, mas apesar de previsível existe algo peculiar nesta produção assinada pelo diretor Fouad Benhammou que a torna muito interessante de acompanhar. Aliás, existem vários aspectos que colaboram para esse apreço. A ambientação estranha a princípio, contando com uma movimentação dos cenários para complicar ainda mais a vida dos personagens, aos poucos magicamente vai clareando aos olhos do espectador que conseguir vencer as barreiras do preconceito e participar ativamente da trama roteirizada por Lionel Olenga, embora muitos apontem justamente o desenvolvimento irregular da narrativa como um dos principais problemas do longa.
Na realidade, seguindo a tradição francesa, a trama tem um ritmo mais lento e os sustos são apresentados de forma suave, sem os estrondosos efeitos sonoros e tampouco os cortes alucinantes de imagem que estamos acostumados. A ausência de muitos clichês hollywoodianos, como a trilha sonora que teima em antecipar o que está por vir, é o grande trunfo de Vila das Sombras, produção que infelizmente reúne todas as características possíveis para afugentar público (nacionalidade, elenco desconhecido, fotografia escura, ritmo lento, início pouco interessante, publicidade nula), mas como é gratificante chegar ao final de um filme que você não botava fé e poder ao menos dizer que, se ele não é ótimo, ao menos foge um pouco do convencional e só por isso já merece uma avaliação com um olhar menos crítico e mais generoso.
Suspense - 103 min - 2008
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