Nota 1 Somente a sequência inicial é digna de elogios, o resto é enrolação sem sentido e enfadonha
Quem curte filmes de terror sabe que os enredos são repetitivos, um gênero que esporadicamente apresenta algum tipo de oxigenação de ideias, mas isso não importa. Os aficionados gostam dos clichês e, mesmo conseguindo prever o que vai acontecer a cada cena, não resistem a dar uma espiadinha em qualquer produção do tipo. Terra Rasa é apenas mais um produto de horror feito, em sua época, para aproveitar a onde da extrema violência gráfica que tem como expoentes Jogos Mortais e O Albergue, por exemplo. A narrativa começa apresentando um rapaz (Rocky Marquette) coberto de sangue da cabeça aos pés que está vagando pela mata e observando de longe a movimentação de algumas pessoas que estão na região desativando um posto policial. Ele vai até o local e surpreende os tiras que ainda se encontram naquela base. Eles tentam descobrir quem é esse garoto e se o sangue que encobre seu corpo é dele mesmo ou se seria de algum animal ou até mesmo de um humano, visto que alguns estranhos desaparecimentos de pessoas estão ocorrendo por lá há cerca de um ano.
O policial Jack Sheppard (Timothy V. Murphy) é uma das pessoas que ficam encarregadas de investigar este caso que une traços de realidade e de algo sobrenatural. Os exames de sangue feitos com o material colhido no corpo do estranho indicam células mortas de pessoas que estão desaparecidas há meses, mas ao mesmo tempo em que ele está detido outras mortes ocorrem nas redondezas. Haveria um serial killer por perto? Apesar de uma introdução empolgante, a obra no geral é confusa, desinteressante e com uma conclusão absurda e legítima de trashs movies. O diretor e roteirista Sheldon Wilson tem uma filmografia essencialmente calcada nos gêneros de suspense e terror, mas em geral títulos desprovidos de qualidades técnicas e com enredos de gosto duvidoso. Eis mais um exemplo do tipo em seu currículo. Parece que o cineasta delineou minuciosamente como abriria seu longa, mas se esqueceu de pensar em como preencheria o restante do tempo. Pelos minutos iniciais até parece que o filme vai render algo, mas quando o tal garoto ensanguentado entra na base policial as coisas declinam, principalmente pelo excesso de personagens e a falta de empatia que eles provocam.
A regra básica em produções que querem limar pouco a pouco o elenco é que rapidamente sejam criados laços entre os personagens e o público para que exista sofrimento quando ocorra alguma morte, mas neste terror ficamos indiferentes. Todos em cena são tipos vazios e alguns parecem surgir do nada, não conseguimos entender as ligações propostas entre eles tamanho o tédio que se instaura ao longo da narrativa. Puxar a tal história das pessoas desaparecidas também só ajudou a complicar as coisas, ainda que graças a essa opção uma única boa ideia de Wilson mereça um elogio, embora ela não seja nada original. Existe uma sequência na qual os investigadores descobrem através de fotos em um site de busca que o tal garoto tem o rosto constituído com partes semelhantes as feições das pessoas desaparecidas na região. Ele seria uma espécie de catalisador de espíritos que agora vaga pela mata em busca de justiça por aqueles que foram brutalmente assassinados sendo pendurados em árvores, tendo os corpos mutilados e obrigados a agonizarem por horas. Será isso mesmo?
Seria melhor que Wilson pensasse em alguma justificativa plausível para a presença do misterioso garoto no enredo, mesmo que fosse preciso apelar para os clichês do mundo do além, mas do jeito que está ele ficou um personagem perdido e sem função, a não ser pelo fato de jorrar sangue por tudo quanto é lado, afinal é isso que os fãs do gênero querem ver. Outra bola fora do cineasta foi estabelecer que o autor das mortes fosse alguém de carne e osso e acabou escolhendo a pessoa menos provável. A quem se aventurar a assistir este engodo, fica a dica que o tal personagem é terrivelmente construído não expondo visualmente e nem psicologicamente um comportamento de acordo com sua idade. Pode ficar um pouco difícil descobrir quem é o serial killer, afinal não tem um bom personagem neste filme fraco e desnecessário, muito graças ao elenco inexpressivo que precisa se sujeitar a interpretar cenas bobas e com diálogos ridículos.
Algumas situações também são inseridas apenas para encher linguiça. Nada a ver, por exemplo, justificar a morte de um policial que já não tinha função na narrativa com um flashback que mostrava sua ligação com os crimes de tráficos. O que isso tem a ver com o menino que se esvai em sangue e as mortes na mata? O final, para variar, deixa explícito que a onda de mortes continuará rondando aquela região. Em suma, Wilson atira para tudo quanto é lado e não atinge alvo algum. Filmes de terror dificilmente são totalmente perfeitos, mas é preciso ter alguns elementos mínimos para conseguir algum respeito do espectador, mas no caso não há muito que salvar das críticas negativas. Terra Rasa é um filme infinitamente inferior a outros de sua seara e nem mesmo poderia ser catalogado como um legítimo trash movie, afinal ele não presta nem para nos fazer rir. Já para dormir é um santo remédio.
Terror - 97 min - 2004
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