quarta-feira, 27 de setembro de 2017

HOMENS EM FÚRIA

NOTA 6,0

Procurando abordar questões
morais e religiosas através de dois
personagens fortes e controversos,
longa se perde e distancia o espectador
Existem filmes que são tão ruins que nem nos importamos em tecer comentários negativos, pelo contrário, é até uma satisfação, uma forma de extravasar a raiva de ter perdido seu precioso tempo com semelhante coisa. Pena que nem sempre é fácil apontar se um filme é bom ou ruim. São vários os exemplos de produções que podem deixar aquele gostinho amargo de insatisfação ao final, contudo, isoladamente possuem pontos positivos relevantes como é o caso de Homens em Fúria, reencontro de Robert De Niro e Edward Norton após quase uma década do lançamento de A Cartada Final. Sem dúvidas ambos são ícones de suas respectivas gerações de atores, mas o aguardado embate de talentos resulta em algo frio, distante do espectador, muito por conta do roteiro assinado por Angus MacLachlan, do mais acessível Retratos de Família. O problema deste distanciamento pode acontecer logo nos primeiros minutos devido a diálogos que soam um tanto artificiais, afinal o fio condutor da trama é um prisioneiro tentando conseguir sua liberdade condicional justificando sua boa conduta, o tempo considerável de sua sentença já cumprido e a saudades que tem de transar com a esposa, diga-se de passagem, algo mencionado com riqueza de detalhes. Quem não se importar com a conversa típica de filmes de malandros e confiar no talento dos protagonistas, a trama pode surpreender pelos rumos que toma. Jack (De Niro) trabalha em um presídio como avaliador de condicionais, ou seja, é ele quem tem a responsabilidade de esgotar as possibilidades de verificação para ter a certeza de que pode devolver um indivíduo ao convívio social antes mesmo dele cumprir totalmente a sua pena, mesmo que para tanto sejam necessários meses ou até anos de empenho. O policial está prestes a se aposentar e a essa altura encara um grande desafio: lidar com Stone (Norton), um presidiário acusado de matar os próprios avós em um incêndio, mas que já cumpriu oito anos de sua pena e não vê a hora de conseguir sua liberdade condicional. O problema é que Jack parece ter perdido sua razão de viver agora que caiu a ficha que vai ser desligado da polícia definitivamente e não está mais empenhado no trabalho, assim ele pouco dá atenção aos apelos do detento que então recorre a Lucetta (Milla Jovovich), sua esposa, para ajudá-lo a persuadir o velho. Com toda a propaganda que fez sobre sua vida sexual, é óbvio que Stone quer que ela seduza o agente e assim consiga persuadi-lo a lhe dar o alvará de soltura, mas Jack é durão e não cai na armadilha. Bem, pelo menos não nas primeiras tentativas da moça.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

POR AMOR (2007)

NOTA 7,0

A história de amor é o que
menos importa em drama que
traz vários pontos relevantes a
respeito de como superar uma perda
Há males que vem para o bem. Duas pessoas acabam unidas por conta de tragédias pessoais, ou melhor, três. Assim resumidamente se define Por Amor, drama eficiente e com bom argumento, mas prejudicado pelo genérico título nacional que vende uma produção romântica adocicada. O clima gélido da cidade em que a trama se passa, cujo nome não é especificado, a trilha sonora melancólica e a opção por cores frias nos cenários e figurinos revelam o tom sério da produção. O longa de estreia do diretor e roteirista David Hollander é muito mais profundo que seu título pode sugerir e trabalha com um dos maiores medos do ser humano: a morte. Na verdade não aborda o medo individual de simplesmente deixar de existir e tampouco dúvidas se há outra vida depois desta, mas sim como os parentes dos falecidos lidam com a dor da perda. Se já é difícil se acostumar com a ideia de que alguém pode morrer por causas naturais ou por conta de alguma doença, imagina o quanto é complexo compreender que uma vida foi interrompida por causa de um ato crimino. É essa situação que acaba aproximando os protagonistas desta obra que começa com uma narração em off de Clay (Spencer Hudson), um adolescente que nasceu surdo e mudo e é através de seu relato mental que a história toma corpo. Seu pai foi assassinado por Mark Jankowski (Brock Johnson), um grande amigo da família que por coincidência aparece na última foto que ele tem do falecido, uma ironia do destino. A dor desta perda acaba levando-o a se identificar com o drama vivido por Andrew Blount (Ashton Kutcher), um jovem esportista que abandona seus sonhos abalado pelo inesperado e brutal assassinato da irmã gêmea queimada e mutilada. Ambos não só perderam de forma cruel seus entes queridos, mas também possuem a sensação de terem herdado as coisas que os falecidos deixaram, mais especificamente suas famílias machucadas para sempre. Os dois, no entanto, se conhecem por um acaso. Andrew estava acompanhando Gloria (Kathy Bates), sua mãe divorciada, a um grupo de apoio aos familiares de vítimas de atos violentos quando conheceu Linda (Michelle Pfeiffer), a mãe de Clay. Ambas as mulheres dividiram suas histórias, angústias e sonhos desfeitos com o grupo, mas a relação destas famílias sói vai ganhar laços sólidos nos tribunais. O julgamento do acusado de matar o marido de Linda não é muito explorado pelo roteiro, acaba sendo solucionado de forma rápida, mas é a desculpa necessária para aproximar a viúva de Andrew, este que terá uma longa jornada em busca de justiça.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

UM SONHO DE PRIMAVERA

NOTA 8,5

Drama de época narra um
curto período na vida de
distintas senhoras, mas um
tempo de grandes transformações
Todos os anos é a mesma coisa. Quando começa a temporada de premiações todas as atenções são voltadas aos filmes que estão marcando presença nos principais festivais e festas, levando natural vantagem em termos de publicidade os títulos que mais recebem indicações para conquistar troféus. Curiosamente, não são raras as vezes que os títulos que concorrem a menos categorias ou até mesmo secundárias são bem mais interessantes e se tornam até mais marcantes que as produções mais bombadas da época. Esse é o caso de Um Sonho de Primavera, um belo filme de época que conquistou dois Globos de Ouro e foi indicado a três Oscars em 1993 (foi lançado cerca de um ano depois de concluídas as filmagens). Misturando drama e humor leve em meio a belíssimas paisagens e cenários, o longa também conta com um impecável elenco feminino, destacando-se Miranda Richardson, uma das atrizes mais requisitadas daquele período e dona de uma beleza exótica e traços fortes. A trama se passa na Inglaterra em meados da década de 1920 e narra as emoções vivenciadas por Lottie (Josie Lawrence), uma inquieta mulher que vive em Londres e se sente frustrada devido ao materialismo de seu marido, o advogado Mellersh Wilkins (Alfred Molina), que pouco dá atenção à esposa. Já Rose (Miranda Richardson) é a esposa do escritor de contos eróticos Frederick Arbuthnot (Jim Broadbent), mas também está insatisfeita com seu casamento. Vivendo situações semelhantes, as duas se conhecem em um clube frequentado apenas por mulheres e juntas decidem alugar um castelo de estilo medieval em uma remota ilha italiana para passarem alguns dias em um local que é um verdadeiro paraíso. As novas amigas também colocam um anúncio no jornal sobre a ideia e mais duas damas, a viúva Fisher (Joan Plowright) e a jovem Caroline (Polly Walker), resolvem fazer a viagem e ajudar na divisão das despesas.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O ATAQUE

NOTA 6,5

Mais uma vez a Casa Branca
é atacada e salva por uma dupla
de heróis improvável em ação
divertida e que cheira nostalgia
Coincidência, espionagem industrial ou simplesmente falta de criatividade? Como explicar que de tempos em tempos surjam filmes com temáticas muito semelhantes? Vulcões em erupção ameaçando uma cidade (O Inferno de Dante e Volcano - A Fúria), meteoros prestes a por um fim na humanidade (Impacto Profundo e Armageddon), a exploração da vida dos insetos (Formiguinhaz e Vida de Inseto) e dos animais marinhos (Procurando Nemo e O Espanta Tubarões) e mágicos em destaque (O Ilusionista e O Grande Truque). Isso sem falar sobre a representação de mesmos conflitos da época da Segunda Guerra Mundial, ainda que seja um período de farto material e vários caminhos a serem explorados. Para engrossar a lista, também temos as produções visando a destruição de um dos lugares mais seguros (e também mais visados) de todo o mundo. Após ser invadida por terroristas norte-coreanos em Invasão à Casa Branca, a sede do governo dos EUA mal teve tempo de ser reconstruída e já virou palco de outro show pirotécnico em O Ataque. Orquestrando a destruição ninguém menos que o diretor alemão Roland Emmerich, conhecido pelo seu apreço aos filmes-catástrofes. E as vezes de fato suas produções são verdadeiros desastres, como 10.000 A.C., ou prometem demais como 2012. Ele já destruiu uma vez a Casa Branca em Independence Day (inclusive faz questão de frisar isso em uma rápida fala logo nos primeiros minutos), mas queria explorar mais as ruínas do local narrando o drama vivido pelo jovem John Cale (Channing Tatum), um ex-militar que trabalha na equipe de segurança do congressista Eli Raphelson (Richard Jenkins), mas que sonha em integrar ao serviço secreto e ser um dos responsáveis pela segurança de James Sawyer (Jamie Foxx), ninguém menos que o presidente americano. Ele tem uma entrevista na sede do governo para realizar seu sonho e aproveita para levar a filha Emily (Joey King) para conhecer o local. Todavia, o passeio é interrompido por uma invasão terrorista e agora realmente terá a chance de salvar a vida do político, mas também terá que se preocupar em salvar a garota que está na mira dos criminosos após ser descoberta enviando filmagens do ataque via celular para a internet.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

PARANOIA AMERICANA

NOTA 6,5

Incentivado pelo ócio e pela mídia,
americano declara guerra a vizinho
árabe e sem perceber cai em uma
espiral de loucura que só o prejudica
Desde os ataques de 11 de setembro de 2001, os EUA entraram em uma nova era, um período marcado pela insegurança, suspeitas e aversão a estrangeiros, principalmente aqueles com traços de etnia árabe. O clima de tensão passava a ser observado diariamente em espaços públicos, como em aeroportos e shoppings centers que redobraram os cuidados com segurança, mas nestes casos ainda existe a justificativa de que isso é uma preocupação pelo bem social, regras básicas para uma sociedade se manter íntegra, ainda que em alguns casos as investigações sobre suspeitos foram absurdamente abusivas. E quando o pânico individual torna-se mais ameaçador que o medo coletivo, o que fazer? É sobre esse tema que se sustenta o suspense Paranoia Americana que procura retratar a situação psicológica dos norte-americanos diante do medo de novas ameaças. Se nem mesmo dois dos mais altos e pomposos edifícios do mundo escaparam de se tornar alvos fatais dos terroristas, episódio em que centenas de pessoas faleceram, o que impediria novos ataques a outros símbolos da soberania dos EUA ou até mesmo a violência em massa para atacar civis através de atos aparentemente inofensivos? Quem diria que uma simples carta poderia conter substâncias mortais? Não é coisa de cinema. O mundo todo já viveu esse período do pânico das correspondências adulteradas, assim o receio de que o perigo poderia estar em qualquer lugar realmente tornou-se algo perturbador e é por esse viés que segue a trama escrita por Andrew Joiner. O protagonista Terry Allen (Peter Krause) é o responsável por envolver o espectador em um crescente clima de tensão conforme ele abdica de seus interesses pessoais para tratar de uma especulação que se torna uma obsessão. Profissional da área de contabilidade, o rapaz acabou perdendo seu emprego por conta de um corte de gastos da empresa e isso dias antes de mais um aniversário da tragédia ocorrida com as Torres Gêmeas. Com a recessão do mercado ele não consegue emprego e com tempo livre de sobra acaba se entretendo com os inevitáveis noticiários a respeito de terrorismo afinal sempre existe o temor de que com a proximidade da fatídica data algo de ruim possa novamente acontecer. Morador de um condomínio de classe média, certo noite observando a vista lhe chama a atenção seu novo vizinho, Gabe Hassan (Khaled Abol Naga), um jovem cujos traços físicos não negam sua descendência árabe, o bastante para fazer o desempregado ficar com a pulga atrás da orelha.

domingo, 10 de setembro de 2017

A BOLA DA VEZ

Nota 8,0 Esta é mais uma história de uma criança amadurecendo diante dos percalços da vida

Como é agradável quando encontramos algum filme que estava encostado na locadora ou começamos a assistir na TV sem grandes pretensões e no final das contas temos uma boa surpresa. É curioso, mas muitas produções com elenco famoso e sucesso nos cinemas não chegam aos pés de outras que são lançadas diretamente em DVD. Esse é o caso de A Bola da Vez, uma deliciosa comédia com toques dramáticos pouco conhecida e cujo único nome relevante entre os atores é o de Helena Bonham Carter, que quando não atua em algum filme do marido Tim Burton dá a oportunidade do público conhecer suas verdadeiras feições, evitando o uso de maquiagens e figurinos espalhafatosos. Aqui todo o elenco manda muito bem, mas quem rouba a cena é o ator-mirim Gregg Sulkin com um personagem que sofre com problemas comuns aos garotos de sua faixa etária, mas digamos que ele tem um dilema um tanto particular a resolver. O roteiro de Bridget O’Connor e Peter Starughan, mesma dupla que anos mais tarde concorreria ao Oscar pelo texto de O Espião que Sabia Demais, procura retratar o clima de euforia que contagiava a Inglaterra em 1966, ano em que ela sediava os jogos da Copa do Mundo. No entanto, pelo menos um habitante do país não está ligando para o evento esportivo, pois está muito mais ocupado em pensar em algo que marcará sua vida. Bernie Reubens (Sulkin) é um garoto judeu que não é feliz totalmente. Ele não é popular na escola, é ofuscado pelo irmão mais velho, Alvie (Ben Newton), e seus pais, Manny (Eddie Marsan) e Esther (Carter) também parecem não ter muita consideração por ele. Todavia, ele acredita que tudo será diferente em pouco tempo, assim que ele comemorar o seu Bar Mitzvah, uma tradição judaica que marca a transição dos garotos para a vida adulta. O jovem estava animado com seu ritual de passagem acreditando que tendo o direito de assumir suas responsabilidades e atos finalmente receberia o respeito e notoriedade que merecia. Contudo, em meio a empolgação de organizar casa detalhe da festa, uma notícia lhe chega aos ouvidos como uma verdadeira bomba: a data da comemoração coincide com a final do campeonato de futebol.

sábado, 9 de setembro de 2017

CERCADOS PELO MEDO (2008)

Nota 6,0 Testemunha oculta verdade e coloca vida de inocentes em risco em suspense razoável

Adolescência e criminalidade. Esta é uma mistura perigosa que diariamente alimenta os noticiários, mas ainda há quem pense que tal realidade é quase uma exclusividade do Brasil. Quantas famílias já enviaram seus filhos para o exterior na inocência de que em outro país as coisas são diferentes? Produções como Cercados Pelo Medo servem para dar este alerta. Embora seja uma produção modesta oriunda da TV americana, o longa escrito por Rachel Stuhler é eficiente e cumpre seu objetivo de entreter e porque não levantar uma problemática social. A trama se passa nos arredores de um colégio cujo bairro não tem boa fama e os próprios professores sabem que os alunos consomem drogas livremente e até são seduzidos a fazerem parte do tráfico, mas nenhum teve a coragem de Gloria Abraham (Penelope Ann Miller), a mais nova integrante do grupo de docentes. Em um de seus primeiros dias a caminho do trabalho, ela resolveu pegar um atalho por uma rua quase deserta onde se deparou com um homem disparando uma arma, mas aparentemente sem um objetivo a acertar. Assustada ela acaba indo embora rapidamente, mas mesmo assim Oscar Reyes (Lobo Sebastian) conseguiu gravar bem o seu rosto. Ele é um bandidão conhecido na área por tráfico de drogas e suspeito de pelo menos seis assassinatos, mas mesmo quando capturado pela polícia acaba sendo liberado por falta de provas já que possíveis testemunhas sempre somem misteriosamente. A professora comenta a cena que viu com seu namorado, Daniel Rodriguez (Yancei Arias), também funcionário da escola, mas só alguns dias depois é que descobre que foi testemunha do assassinato de um dos alunos da instituição, Dwayne Evert (Peter Pasco). O garoto fazia algumas entregas de entorpecentes para Reyes e foi acusado de não lhe entregar todo o pagamento das mercadorias. Agora quem está na mira deste criminoso é Gabriel Lopez (Shahine Ezell), amigo do falecido que também entrou para este submundo e logo é ameaçado pelo chefe que tem uma empresa de entregas de fachada e não quer seu nome envolvido com assassinatos, mesmo que para isso seja necessário cometer outros para calar testemunhas.