terça-feira, 26 de setembro de 2017

POR AMOR (2007)

NOTA 7,0

A história de amor é o que
menos importa em drama que
traz vários pontos relevantes a
respeito de como superar uma perda
Há males que vem para o bem. Duas pessoas acabam unidas por conta de tragédias pessoais, ou melhor, três. Assim resumidamente se define Por Amor, drama eficiente e com bom argumento, mas prejudicado pelo genérico título nacional que vende uma produção romântica adocicada. O clima gélido da cidade em que a trama se passa, cujo nome não é especificado, a trilha sonora melancólica e a opção por cores frias nos cenários e figurinos revelam o tom sério da produção. O longa de estreia do diretor e roteirista David Hollander é muito mais profundo que seu título pode sugerir e trabalha com um dos maiores medos do ser humano: a morte. Na verdade não aborda o medo individual de simplesmente deixar de existir e tampouco dúvidas se há outra vida depois desta, mas sim como os parentes dos falecidos lidam com a dor da perda. Se já é difícil se acostumar com a ideia de que alguém pode morrer por causas naturais ou por conta de alguma doença, imagina o quanto é complexo compreender que uma vida foi interrompida por causa de um ato crimino. É essa situação que acaba aproximando os protagonistas desta obra que começa com uma narração em off de Clay (Spencer Hudson), um adolescente que nasceu surdo e mudo e é através de seu relato mental que a história toma corpo. Seu pai foi assassinado por Mark Jankowski (Brock Johnson), um grande amigo da família que por coincidência aparece na última foto que ele tem do falecido, uma ironia do destino. A dor desta perda acaba levando-o a se identificar com o drama vivido por Andrew Blount (Ashton Kutcher), um jovem esportista que abandona seus sonhos abalado pelo inesperado e brutal assassinato da irmã gêmea queimada e mutilada. Ambos não só perderam de forma cruel seus entes queridos, mas também possuem a sensação de terem herdado as coisas que os falecidos deixaram, mais especificamente suas famílias machucadas para sempre. Os dois, no entanto, se conhecem por um acaso. Andrew estava acompanhando Gloria (Kathy Bates), sua mãe divorciada, a um grupo de apoio aos familiares de vítimas de atos violentos quando conheceu Linda (Michelle Pfeiffer), a mãe de Clay. Ambas as mulheres dividiram suas histórias, angústias e sonhos desfeitos com o grupo, mas a relação destas famílias sói vai ganhar laços sólidos nos tribunais. O julgamento do acusado de matar o marido de Linda não é muito explorado pelo roteiro, acaba sendo solucionado de forma rápida, mas é a desculpa necessária para aproximar a viúva de Andrew, este que terá uma longa jornada em busca de justiça.

São várias cenas dispensadas para mostrar a angustiante rotina de Andrew que comparece incansavelmente a cada nova audiência sonhando com um resultado favorável ao seu clã. O acusado do crime, Tom Friedinger (Aleks Paunovic), é um homem que tem um histórico de problemas mentais, mas não existem provas suficientes para condená-lo, pior ainda, a vítima é que tem má fama e complica o julgamento com várias testemunhas e evidências que indicam que a irmã de Andrew se expunha a situações de risco aceitando encontros com vários homens desconhecidos. Embora em nenhum momento fosse acusada de ser prostituta, porém, ela também não sabia sequer quem era o pai da filha que ficou sob a guarda de Gloria. O irmão, no entanto, não quer acreditar que de certa forma sua irmã buscou a própria morte e praticamente paralisou sua vida enquanto o veredito não é dado. Nesse momento, ele continua com seus treinamentos físicos para se livrar do estresse, mas abdicou da luta profissional e agora trabalha ganhando uma miséria fantasiado de frango convidando as pessoas a entrarem em uma lanchonete. Sua frustrante ocupação revela seu estado de espírito. Em uma das várias audiências que comparece Andrew se aproxima de Linda, ambos simplesmente com o desejo de obterem justiça, mas aos poucos surge uma amizade que logo se transforma em amor, mesmo com a diferença de idade, sentimento apoiado na superação de suas dores. Bem, o envolvimento amoroso poderia ter sido mais bem desenvolvido. Linda trabalha na organização de festas de casamentos e inevitavelmente sempre se emociona ao ouvir as palavras dos padres. Ouvir “até que a morte os separe” para ela é muito doloroso e numa dessas ocasiões estava acompanhada de seu novo amigo e acabam se beijando impulsivamente. Não temos aquela sensação de uma paixão avassaladora porque de fato não é. A união dos protagonistas se dá como forma de apaziguarem seus problemas, uma relação de apoio mútuo, principalmente depois que Andrew assume o papel de uma espécie de mentor para Clay, este que se tornou ainda mais introspectivo após a tragédia. Com raiva do mundo e constantemente humilhado por colegas, o adolescente é incentivado a aprender luta como um hobby, uma forma de exteriorizar seus ressentimentos.

Bates, acostumada a ter elogiadas personagens coadjuvantes, aqui não rouba a cena, embora emocione em sua primeira aparição em que mostra seu álbum de fotos da filha e também na sequência em que está realizando um bazar com os pertences da falecida. Em poucos minutos ela passa toda a dor de uma mãe tentando se convencer de que não adianta manter as coisas da garota por perto, ela não voltará. Contudo, o show é dos três outros personagens de destaque da trama. Pfeiffer dá vida a sua mãe sofredora sem exageros, optando por uma performance simples e cativante. Percebemos sua dor, porém, ela precisa manter-se em equilíbrio não só para dar continuidade a sua rotina, mas também para apoiar Clay que sofre em silêncio e em sua inocência acredita que somente a justiça com as próprias mãos pode apaziguar seu espírito. Kutcher, geralmente criticado por este trabalho, talvez sofra de preconceito. As pessoas estão acostumadas a vê-lo em papéis cômicos e de conquistadores e devem estranhar na posição de um rapaz sofredor. Todavia, ele supera expectativas retratando toda a dor de um jovem que viveu os últimos meses em razão de um objetivo, mas por fim encasqueta que a culpa da morte da irmã é sua por ter ido embora tentar a vida em outra cidade e a deixando sem a proteção de um homem em casa. Seu personagem acaba ganhando a simpatia do espectador por conta da relação que estabelece com Clay, uma espécie de compensação colocando-se como se fosse um irmão mais velho do garoto, o aconselhando e protegendo tentando redimir sua culpa já que deveria ter feito o mesmo pela irmã. Já Linda vê Andrew como um par romântico de verdade e porque não como um padrasto para o filho, sendo que a questão de preconceitos em relação a diferença de idade praticamente é omitida na trama para não desviar a atenção do foco principal: o renascimento através da dor. Todos os envolvidos terão que aprender a viver a nova realidade trazida pela tragédia. Linda tem maturidade suficiente e um trabalho que ocupa seu tempo e mente para não remoer problemas, mas Andrew não. Sua vida tornou-se um grande vazio que nem mesmo uma nova paixão, o carinho da sobrinha ou um novo amigo foi capaz de preencher. Obviamente haverá um momento de ruptura do casal protagonista e a partida do rapaz trará uma grande reviravolta que então remontará à introdução. Apesar de exceder em seu tempo de duração, Por Amor é uma bela obra que merece ter seu potencial reconhecido. Realista, intimista e reflexivo, é um trabalho cujo clima frio envolve como poucos, basta estar preparado para acompanhar uma história de amor entre pessoas comuns, não necessariamente de um casal, mas sim de uma família formada às custas do infortúnio.

Drama - 110 min - 2007 

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Um comentário:

Gilberto Carlos disse...

Gostei bastante do filme quando o vi há algum tempo. Além disso, sou grande fã de Michelle Pfeiffer.

Abraços.