terça-feira, 24 de dezembro de 2019

UM NATAL MUITO, MUITO LOUCO

NOTA 7,0

Casal deseja fugir dos festejos
de Natal, mas na última hora
precisam organizar uma ceia e
recuperam o espírito de amizade
Hoje é véspera de Natal, dia de muita correria e compras de última hora. Em outras palavras, dia de muito estresse, mas a noite vem a calmaria e as alegrias e emoções devem predominar. No Brasil não temos o mesmo fanatismo que os americanos têm com esta festa cristã, mas ainda assim muitas pessoas vivem o clima natalino intensamente meses antes. Para elas todas aquelas enxurradas de reprises de comédias e dramas típicos de fim de ano na televisão são uma dádiva. Para quem ainda sente apreço pela comemoração, mas todo o ano promete que da próxima vez vai fazer algo diferente entre os dias 24 e 25 de dezembro, certamente se identificará com o casal protagonista de Um Natal Muito, Muito Louco, longa que já pode ser considerado um clássico natalino tal qual Férias Frustradas de Natal, figurinha carimbada na TV praticamente todos os anos há várias décadas. Ambos tratam do respeito e cultivo das tradições, do espírito de solidariedade e de família unida, mas claro que tudo temperado com muito humor. A receita é muito simples e agrada em cheio quem curte essa data festiva justamente por tirar um sarro daqueles que tentam manter o espírito de harmonia e solidariedade quando a reunião familiar se resume em uma sucessão de equívocos e bolas foras dos parentes queridos. Obviamente não é um tipo de produção que agrada a todos os tipos de plateia, pois investe em humor pastelão, mas convenhamos quem não tem pelo menos uma história engraçada ou tragicômica que ocorreu na ceia ou no almoço de Natal? É curioso, mas em meio ao corre-corre das compras de presentes e dos ingredientes dos pratos tradicionais, os filmes que acompanham esse clima não chamam muito a atenção aqui no Brasil, pelo menos quando exibidos nos cinemas. Pode ser o fato da ambientação contrária a nossa, branquinha e fria pela neve, a repetição de situações cômicas ou a mensagem clichê de esperança e amor que deixam no final, mas é certo que dá para contar com os dedos de uma mão só os títulos que trabalham o tema e que escapam do crivo do público e crítica sem serem extremamente chamuscados, como O Grinch e O Expresso Polar, ambos com características visuais evidentes para se sobressaírem no farto cardápio de filmes com histórias parecidas em cima da expectativa da chegada do Papai Noel. Para os produtores americanos os batidos filmes do tipo podem significar a salvação da lavoura quando o ano não rendeu boas bilheterias, por isso eles ainda continuam sendo feitos anualmente.

domingo, 22 de dezembro de 2019

TAL MÃE, TAL FILHA

Nota 7,0 Juliette Binoche se destaca em em comédia em que mãe e filha se descobrem grávidas

Uma cinquentona que leva a vida sem responsabilidades tal qual uma adolescente se vê inesperadamente grávida de seu ex-marido ao mesmo tempo que sua filha um tanto mais ajuizada também anuncia que está esperando um bebê. O argumento de Tal Mãe, Tal Filha é típico de historinhas água-com-açúcar americanas e até poderia cair como uma luva a uma comédia popular brasileira daquelas que levam multidões aos cinemas, no entanto, é o ponto de partida de uma simples e divertida produção francesa. Para dar visibilidade ao filme, não por acaso a versátil e mundialmente conhecida Juliette Binoche, prata da casa, assume o papel de Mado, uma mulher de meia-idade que não tem trabalho fixo, tampouco objetivos de vida, e que se comporta como uma jovem rebelde desde que foi abandonada pelo marido Marc (Lambert Wilson). Perambulando pelas ruas de Paris montada em uma chamativa moto cor-de-rosa, a espevitada senhora dificilmente perde o bom humor e suas atitudes infantis chegam a ser confundidas até com mal de Alzheimer, mas nada que a faça perder o rebolado. Já sua filha Avril (Camille Cottin) está na casa dos trinta anos, é bem-sucedida profissionalmente e apaixonada por Louis (Michaël Dichter), seu marido que não trabalha, apenas estuda. Pouco vaidosa, por vezes bronca e bastante metódica, a jovem vive trocando farpas com a mãe que vive de favor em seu apartamento. Cada um pode e deve viver como bem entender, isso desde que seja respeitada a individualidade e privacidade dos demais e é nesse ponto que a relação delas estremece. A princípio a diretora e roteirista Noémie Saglio parece se ater ao clichê do choque entre gerações reciclando piadas previsíveis e impregnadas de vícios ianques, contudo, quando mãe e filha se descobrem grávidas praticamente simultaneamente a trama ganha outros rumos. Abobalhada com a ideia de ser mãe e avó e coagida por Avril, Mado aceita a ideia de fazer um aborto, mas atrapalhada como sempre se esquece de tomar no tempo certo o medicamento (fique claro prescrito por um obstetra, diga-se de passagem, um tanto estranho) e decide levar a gravidez adiante em segredo até onde puder, ou seja, a omissão não vai muito longe.

sábado, 21 de dezembro de 2019

JOSHUA - O FILHO DO MAL

Nota 1,0 Vendido com ares sobrenatural, suspense decepciona adotando drama familiar e polêmico

Crianças endemoniadas é um dos maiores clichês do universo do horror. Talvez por já termos vistas tantas e, diga-se de passagem, a maioria bem mais assustadoras, é que o longa Joshua - O Filho do Mal já foi lançado com lugar cativo no limbo. O personagem-título é vivido no piloto automático pelo então ator mirim Jacob Kogan que interpreta um garoto quieto, apático e que as poucas vezes que abre a boca é apenas para fazer alguma observação ou pergunta que acabam por deixar Abby (Vera Farmiga) e Brad (Sam Rockwell), seus pais, sem respostas e com dúvidas quanto ao comportamento do filho. Quando sua mãe dá a luz à pequena Lilly a vida da família muda completamente. E para pior! Ao perceber toda a atenção que é destinada à irmã, mesmo sem demonstrar sinais de raiva ou ciúmes, Joshua começa a ter ações, como jogos psicológicos e ameaças, que podem enlouquecer o casal que está com problemas. Enquanto o pai vive um período de crise profissional, a mãe, já detentora de um histórico de problemas psicológicos, agora também sofre com a depressão pós-parto. O garoto é obcecado pelo hobby de dissecar seus bichinhos de pelúcia e não demora a testar as técnicas em animais vivos. Por aí já se tem ideia do que ele pretende fazer com a bebezinha. O longa então se propõe a abordar um problema até que bastante corriqueiro: filhos com má índole nascidos em bons berços. Joshua tem pais amorosos, tem uma vida abastada, mas sabe-se lá porquê nasceu com a sementinha do mal caráter enraizada. Ele praticamente é um psicopata em início de carreira, muito inteligente, nem um pouco empático e com uma habilidade singular para mentir e manipular as pessoas. Crianças com este perfil, como os garotos sem semblante de filmes como A Profecia e Reencarnação, já tornou-se um protótipo bastante desgastado no cinema, mas no caso incomoda saber que Joshua é um ser malvado por natureza, o que invalida o péssimo subtítulo nacional.

domingo, 15 de dezembro de 2019

MEU MUNDO ENCANTADO

Nota 7,0 Com clima de filme antigo, drama leve resgata valores e inocência apostando no lúdico

Nostálgicos dos tempos das videolocadoras devem se lembrar que o grande barato desse tipo de negócio era dar a oportunidade dos clientes explorarem suas prateleiras e serem surpreendidos por filmes diferenciados e de pouca divulgação. Eram centenas de produções menores que aqui e acolá podiam se tornar sucessos particulares das lojas e o público infantil era bastante contemplado. Com as produções Disney na época sendo lançadas em ritmo de conta-gotas, muitas empresas aproveitavam a brecha para lançarem suas animações similares as do estúdio (mas de qualidade infinitamente inferior) e para ter opções ao público mirim também muitos filmes live-action, entre comédias, aventuras e dramas leves, serviam como opção para um fim de semana em casa. Quem viveu essas experiências certamente deve ter alguma fita que remeta a infância. Analisando tanto esteticamente quanto pelo estilo narrativo, Meu Mundo Encantado parece uma produção pinçada das prateleiras entre as décadas de 1980 e 1990. Deixando-se levar pela emoção, é quase possível ouvir o ruído dos cabeçotes do videocassete ao decorrer da narrativa. Entretanto, esta obra do diretor Micheal Landon Jr. foi filmada em 2008 e por opção artística adotou-se a fotografia envelhecida e o ritmo levemente pausado, detalhes que combinam perfeitamente com o clima bucólico e inocente desta história que se passa no início do século 20. Toby Morgan (Matthew Harbour) é um garoto cuja imaginação é muito fértil, ao contrário de seu pai, John (Kevin Jubinville), um bem-sucedido empresário que praticamente vive na inércia desde que sua esposa faleceu, assim ele vive com o filho uma relação fria e distante. Obrigado a passar as férias de Natal com Elle (Una Kay), sua severa avó que mora em um luxuoso casarão, porém, um lugar sem vida, o garoto descobre um sótão que servia de quarto de brinquedos quando seu pai era criança. Eis que ele encontra um antigo coelho de pelúcia, um presente deixado por sua mãe.