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NOTA 6,5 Rápido, amedrontador, bizarro e claustrofóbico, longa aposta em situações clichês com eficiência, mas evita piadas e personagens tolos |
Dizem que para
fazer cinema basta ter uma ideia na cabeça e uma câmera na mão e tal máxima
acaba se confirmando quando analisamos o início das filmografias de alguns
cineastas, mais especificamente o período em que ainda não eram corrompidos
pela ganância dos grandes estúdios que tratam de recrutar as mentes brilhantes
o quanto antes. Esse contraponto entre o antes e o depois do sucesso fica ainda
mais evidente nos currículos de diretores apreciadores dos gêneros terror e suspense.
A maior parte dos filmes de sucesso e emblemáticos dessas categorias nasceu da
criatividade de profissionais desconhecidos e com poucos recursos financeiros,
mas infelizmente nem todos os trabalhos do tipo chegam em grande estilo ao
público em massa, ficando restritos aos aficionados por sangue e
mutilação. Esse é o caso de Plataforma
do Medo, escrito e dirigido por Christopher Smith, que acabou se tornando
apenas mais um título em uma extensa lista de produções que o tempo tratou de
jogar areia em cima. Não é uma obra-prima, mas cumpre bem sua tarefa de
amedrontar o espectador por cerca de uma hora e meia a começar pela premissa.
Estamos acostumados com o agitado cotidiano das estações do metrô, mas como
elas ficam altas horas da madrugada? Isso é o que vai descobrir Kate (Franka
Potente), uma jovem londrina que gosta de curtir a vida sem medo de ser feliz e
certa noite vai a uma festa onde bebe e se droga, sendo desafiada pelos amigos
se ela teria coragem de invadir o quarto de hotel onde estaria hospedado o
astro de Hollywood George Clooney (que lance forçado!). Quando vai pegar o
metrô para tentar cumprir o desafio, ela se atrapalha para conseguir o dinheiro
da passagem e acaba comprando o bilhete com atraso. Enquanto espera a próxima
condução, ela acaba adormecendo e quando desperta percebe que todas as estações
já foram fechadas e que ficou presa lá dentro tendo como única companhia alguns
mendigos. Mesmo assim ela consegue pegar um último trem, totalmente vazio, mas
que pára de repente e não no destino previsto. Para sua surpresa, ela encontra
no vagão um conhecido que a seguiu desde a festa, Guy (Jeremy Sheffield), rapaz
que nutria por ela uma paixão não correspondida. O encontro no início é um
alívio para a moça, mas não demora muito para que o cara tente agarrá-la à
força, mas eis que alguma coisa estranha surge e arrasta Guy para fora do
veículo.

A cena da
primeira grande aparição de Craig, justamente quando ataca o vigia, é muito bem
bolada e garante a atenção do espectador para o que vem a seguir. Se seu visual
é revelado por completo pouco depois da metade do filme, resta conhecer como vive
tal criatura e o que ela faz com suas vítimas. Smith propõe no fundo uma
variação dos batidos filmes de seriais killers. Sem falar uma palavra sequer, o
slasher da vez causa arrepios com seu aspecto grotesco e os gritos de raiva e
de dor que solta como se fossem urros de animais. Sua origem e razões para
matar não são esmiuçadas, mas fica subentendido que seus traumas do passado
estão ligados com a medicina e a estética, visto que ele tem uma espécie de
câmara de tortura com itens de consultório médico e ele próprio se comporta
como um cirurgião na hora de mutilar corpos ainda com vida. Essas cenas finais
garantem a satisfação do espectador pelo seu sadismo, mas o longa poderia ter
um resultado final melhor se fossem dadas mais explicações sobre Craig. Produzido
em parceria entre a Inglaterra e a Alemanha, Plataforma do Medo acaba
sendo uma surpresa agradável por vários motivos, apesar da premissa clichê. Os
adoradores de carnificina são premiados com cenas com requintes de crueldade em
abundância, mas apresentadas de forma diferenciada, principalmente as que
mostram as “operações” realizadas pelo assassino. Sem apelar para truques de
câmera nervosa e efeitos sonoros pesados, quem assiste é convidado a saciar-se
lentamente junto com Craig a cada novo ferimento que causa ou com os closes de
vísceras e fetos hermeticamente acondicionados em potes de vidros que ele
coleciona. Smith também nos poupa de personagens idiotas e piadinhas tolas
inseridas fora de hora, além de caprichar no clima de claustrofobia mesmo com
boa parte das cenas sendo iluminadas com fortes lâmpadas incandescentes, mas a
sensação de solidão acentua o temor. A curta duração também é benéfica. Ciente
de que sua história não poderia ir além do apresentado na versão final, o
diretor não caiu na tentação de espichar a trama a fim de aproveitar ao máximo
o valor do aluguel que foi pago para que uma estação abandonada do metrô de
Londres servisse como cenários, optando por algo mais enxuto e sem firulas. Até
as atuações que em produções do tipo costumam ser péssimas, neste caso está no
limite do razoável, sendo que Sean Harris é quem se sai melhor. Pudera, ele é a
estrela do show.
Terror - 85 min - 2004
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