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NOTA 7,5
Divertido e com alguns bons sustos, esta é uma legítima comédia para toda a família que agrada com seu visual de arrepiar |
É curioso como produções de horror e suspense ao mesmo tempo
em que assustam também fascinam as crianças e de olho nisso sempre os
produtores estão sempre atentos à caça de algum bom roteiro que possa unir
comédia, aventura e terror. Já tivemos grandes produções do tipo, como Convenção
das Bruxas e A Família Addams, por exemplo, mas é uma pena que a maioria dos
filmes que seguem esse caminho acabam subestimando a inteligência do espectador
ou até mesmo constrangendo com seus “defeitos” especiais, sendo apenas
passatempos para crianças bem pequenas. Mansão Mal-Assombrada não é
excepcional, mas no conjunto é uma opção que agrada a todas as idades, até
porque tem um irresistível clima de nostalgia, parecendo um trabalho pinçado
dos anos 80 ou 90 bem estilo sessão da tarde. No entanto, ele é um
representante legítimo do século 21, tanto é que sua realização só foi possível
por conta do sucesso de Piratas do Caribe – A Maldição do Pérola Negra. O que
há em comum entre estas duas obras? Além de serem produtos Disney, ambas
nasceram de forma inusitada inspiradas em brinquedos do parque de diversões da
empresa. Com uma crise de criatividade duradoura em Hollywood, exigências
visuais para os filmes conseguirem fazer carreira nos cinemas (justificar o
preço alto dos ingressos) e visando incentivar um maior número de visitantes
para seus parques temáticos, o estúdio do Mickey Mouse recebeu carta branca dos
chefões para criarem longas-metragens baseados nos conceitos de algumas
atrações que já haviam recebido milhares de visitantes. A primeira experiência,
Beary e os Ursos Caipiras, fracassou, algo já esperado pelo seu visual
simplório como se fosse uma produção de canal de TV educativo infantil, mas os
milhões arrecadados pela citada aventura em alto mar protagonizada por Johnny
Depp animou os executivos e assim que os primeiros resultados de faturamento
chegaram às suas mãos começou a entrar em produção a comédia que tem como
cenário principal um casarão habitado por fantasmas. O diretor Rob Minkoff,
experiente no conceito filmes-família tendo dirigido a animação O Rei Leão e as
aventuras O Pequeno Stuart Little e sua continuação, procurou se cercar de
elementos já aprovados em outros produtos do estilo, assim não é de se
estranhar a escalação de Eddie Murphy como protagonista, ainda mais que na
época ele havia recobrado seu prestígio com o sucesso de A Creche do Papai.

Na história roteirizada por David Berembaum, de
Um Duende em
Nova York, Murphy interpreta Jim Evers, um corretor de imóveis que vive para o
trabalho e não pensa duas vezes antes de furar com um programa familiar para
poder tentar vender uma casa. Tal situação cada vez mais tem se tornado
frequente, o que chateia sua esposa Sara (Marsha Thomason), cuja profissão é a
mesma do marido, mas ela sabe separar sua vida pessoal e profissional. Quando
finalmente decide passar um final de semana em uma casa de campo com a família,
Jim recebe uma ligação inesperada solicitando sua visita para avaliar um antigo
casarão que será colocado a venda. Já pensando na polpuda comissão que teria, o
corretor convence a esposa de antes da viagem darem uma passadinha pela mansão
levando junto os filhos pequenos Megan (Aree Davis) e Michael (Marc John
Jefferies). O proprietário, o estranho Edward Gracey (Nathaniel Parker), os
recebe cordialmente, mas deixa claro que não esperava que todo o clã Evers
estaria lá, aliás, fica evidente que ele já teria prévio conhecimento da
família, demonstrando muito interesse por Sara. Incomodados, o casal quer fazer
a avaliação do imóvel o mais rápido possível e partir, mas uma inesperada
tempestade alaga a estrada que dá acesso a mansão e obriga que eles passem uma
noite naquele lugar arrepiante. Barulhos e eventos estranhos passam a acontecer
e os Evers passarão por momentos de tensão, ainda que sejam auxiliados por
Madame Leota (Jennifer Tilly), uma vidente que vive aprisionada dentro de uma
bola de cristal esverdeada, e pelos empregados da residência, Ezra (Wallace
Shawn) e Emma (Dina Spybey). Contudo, conforme se embrenham nos interiores da
casa, eles vão juntando evidências que os levam a conhecer uma sombria história
do passado da construção, algo que está ligado a Sara, um segredo que, para
variar, é guardado pelo sinistro mordomo Ramsley (Terence Stamp). Para quem se estressa
com o humor caricato e exagerado característico de Murphy, pode ser um alívio
saber que as atenções não recaem totalmente sobre seu personagem. Uma vez
dentro da mansão, a narrativa é dividida equilibradamente de forma com que
todos os personagens tenham chance de aparecer, alguns obviamente com
participações mais ativas que outros, mas o conjunto torna-se harmonioso. É
óbvio que os momentos cômicos e as piadinhas para quebrar o clima de tensão
geralmente ficam a cargo de Jim, como a inoportuna indagação ao mordomo sobre
sua palidez e a oferta de um tratamento de bronzeamento artificial. Aliás, apesar de estar em cena muito sisudo,
o veterano Stamp parece ter sido um dos que mais se divertiu com este trabalho
encarnando com perfeição um papel típico daqueles suspeitos dos antigos
desenhos do Scooby-Doo.

Bem, a trama obviamente não traz novidade alguma, pelo
contrário, ao percebermos o interesse de Edward em Sara logo prevemos qual o
segredo da história ou pelo menos deduzimos que ela foi atraída para a mansão
em um plano que se aproveitou da ganância de Jim. Apesar do tema da casa
assombrada já ser um tanto batido, é possível se sentir atraído pelo enredo
quando nos envolvemos com a atmosfera e nisso Minkoff acertou em cheio. Os
efeitos especiais são bem feitinhos e não destoam do conjunto, com fantasmas e
zumbis que chamam a atenção além da já citada bola de cristal que abriga um
personagem, e o cenário gótico chama a atenção pela riqueza de detalhes, uma
reunião de todos os elementos típicos de produções de horror, como móveis
antigos, aposentos enormes e quadros com pinturas e antigos moradores, o que
torna delicioso passear pelos corredores através dos passos dos personagens. Em
cada canto uma nova surpresa, assim como cada porta que se abre ou se fecha nos
leva a conhecer um novo cômodo que sempre deixa a sensação de que algo
inesperado pode acontecer, sendo geralmente a visita surpresa de Ramsley o
motivo de susto. Conforme vamos nos familiarizando com os mistérios que cercam
a casa, algo envolvendo uma maldição que aprisiona centenas de fantasmas dentro
dela, cresce a sensação de temor de que a qualquer momento algo assustador pode
acontecer, embora o momento de maior pavor possa ser considerada a sequência em
que Michael é atacado por várias aranhas, sua grande fobia e a mesma
compartilhada por vários espectadores. Vale lembrar que também há o capricho de
levar a ação para fora do casarão, uma desculpa para colocar em cena o
tradicional cemitério familiar envolto em neblina, afinal toda casa assombrada
que se preze precisa desse elemento cênico macabro para reiterar seu funesto
perfil.
Mansão Mal-Assombrada, apesar da curta duração, cumpre sua função de
entreter além de procurar na reta final deixar alguma lição de moral, uma
mensagem sobre o amor. Embora muitos critiquem sua previsibilidade, é uma
comédia do tipo rara hoje em dia, que diverte as crianças e pode ser
interessante aos adultos, principalmente aos mais saudosistas que na infância
procuravam assistir filmes de fantasmas escondidos. Ver assombrações é só um
detalhe. Deixar-se envolver-se pelo clima misterioso dos cenários é o grande
barato desse tipo de programa. A quem interessar bom proveito.
Comédia - 88 min - 2003
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