Nota 7 Divertido e com alguns bons sustos, mescla de aventura e comédia exala nostalgia
É curioso como produções de horror e suspense ao mesmo tempo em que assustam também fascinam as crianças e de olho nisso os produtores estão sempre atentos à caça de algum bom roteiro que possa unir comédia, aventura e terror. Já tivemos grandes produções do tipo, como Convenção das Bruxas e A Família Addams, por exemplo, mas é uma pena que a maioria dos filmes que seguem esse caminho acabam subestimando a inteligência do espectador, sendo apenas passatempos para crianças bem pequenas. Mansão Mal-Assombrada não é excepcional, mas no conjunto é uma opção que agrada a todas as idades, até porque tem um irresistível clima de nostalgia, e sua realização só foi possível por conta do sucesso da franquia Piratas do Caribe. O que há em comum entre estes filmes? Além de serem produtos Disney, ambos nasceram de forma inusitada inspirados em brinquedos do parque de diversões da empresa. Com uma crise de criatividade duradoura em Hollywood, exigências visuais para os filmes conseguirem fazer carreira nos cinemas (justificar o preço alto dos ingressos) e visando incentivar um maior número de visitantes para seus parques temáticos, o estúdio do Mickey Mouse recebeu carta branca dos chefões para criarem longas-metragens baseados nos conceitos de algumas atrações que já haviam recebido milhares de visitantes.
Na trama roteirizada por David Berembaum, Jim Evers (Eddie Murphie) é um corretor de imóveis que vive para o trabalho e não pensa duas vezes antes de furar com um programa familiar para poder tentar vender uma casa. Tal situação cada vez mais tem se tornado frequente, o que chateia sua esposa Sara (Marsha Thomason), cuja profissão é a mesma do marido, mas ela sabe separar sua vida pessoal e profissional. Quando finalmente decide passar um final de semana em uma casa de campo com a família, Evers recebe uma ligação inesperada solicitando sua visita para avaliar um antigo casarão que será colocado a venda. Já pensando na polpuda comissão que teria, o corretor convence a esposa de antes da viagem darem uma passadinha pela mansão levando junto os filhos pequenos Megan (Aree Davis) e Michael (Marc John Jefferies). O proprietário, o estranho Edward Gracey (Nathaniel Parker), os recebe cordialmente e fica evidente que ele já teria prévio conhecimento da família demonstrando muito interesse por Sara. Incomodados, o casal quer fazer a avaliação do imóvel o mais rápido possível e partir, mas uma inesperada tempestade alaga a estrada que dá acesso a mansão e obriga que eles passem uma noite naquele lugar arrepiante. Barulhos e eventos estranhos passam a acontecer e os Evers passarão por momentos de tensão, ainda que sejam auxiliados por Madame Leota (Jennifer Tilly), uma vidente que vive aprisionada dentro de uma bola de cristal, e pelos empregados da residência, Ezra (Wallace Shawn) e Emma (Dina Spybey).
Conforme se embrenham nos interiores da casa, a família passa a juntar evidências sobre uma sombria história do passado do casarão, algo que está ligado a Sara, um segredo que, para variar, é guardado pelo sinistro mordomo Ramsley (Terence Stamp). A trama obviamente não traz novidade alguma, pelo contrário, ao percebermos o interesse de Edward na esposa do corretor prevemos qual o segredo da história ou pelo menos deduzimos que a mulher foi atraída para a mansão em um plano que tirou proveito da ganância de seu marido. Para quem se estressa com o humor caricato e exagerado característico de Murphy pode ser um alívio saber que as atenções não recaem totalmente sobre seu personagem. Uma vez dentro da mansão, a narrativa é dividida equilibradamente de forma com que todos os personagens tenham chance de aparecer, alguns obviamente com participações mais ativas que outros, mas o conjunto torna-se harmonioso. É óbvio que os momentos cômicos e as piadinhas para quebrar o clima de tensão geralmente ficam a cargo do protagonista, como a inoportuna indagação ao mordomo sobre sua palidez e a oferta de um tratamento de bronzeamento artificial. Aliás, apesar de estar em cena muito sisudo, o veterano Stamp parece ter sido um dos que mais se divertiu com este trabalho encarnando com perfeição um papel típico daqueles suspeitos dos antigos desenhos do Scooby-Doo.
Apesar do tema da casa assombrada já ser um tanto batido, é possível se sentir atraído pelo enredo quando nos envolvemos com a atmosfera e nisso o diretor Rob Minkoff acertou em cheio. Os efeitos especiais são bem feitinhos e não destoam do conjunto, com fantasmas e zumbis que chamam a atenção além da já citada bola de cristal que abriga um personagem. O cenário gótico também merece destaque pela riqueza de detalhes, uma reunião de todos os elementos típicos de produções de horror como móveis antigos, aposentos enormes, quadros com pinturas de antigos moradores, ingredientes que tornam delicioso passear pelos corredores do casarão através dos passos dos personagens. Em cada canto uma nova surpresa, assim como cada porta que se abre ou se fecha nos leva a conhecer um novo cômodo que sempre deixa a sensação de que algo inesperado pode acontecer, sendo geralmente a visita surpresa de Ramsley o motivo de susto. Conforme vamos nos familiarizando com os mistérios que cercam a casa, algo envolvendo uma maldição que aprisiona centenas de fantasmas dentro dela, cresce a sensação de temor de que a qualquer momento algo assustador surgirá, embora a sequência em que Michael é atacado por várias aranhas seja a mais angustiante já que o garoto sofre de fobia e seu pavor é compartilhado por vários espectadores.
Vale lembrar que também há o capricho de levar a ação para fora do casarão, uma desculpa para colocar em cena o tradicional cemitério familiar envolto em neblina, afinal toda casa assombrada que se preze precisa desse elemento cênico macabro para reiterar seu funesto perfil. Minkoff, experiente no conceito filmes-família tendo dirigido a animação O Rei Leão e as aventuras O Pequeno Stuart Little e sua continuação, procurou se cercar de elementos já aprovados em outros produtos do estilo, assim não é de se estranhar a escalação de Murphy como protagonista, ainda mais que na época havia recobrado seu prestígio com o sucesso de A Creche do Papai. Apesar da curta duração, Mansão Mal-Assombrada cumpre sua função de entreter além de procurar na reta final deixar alguma lição de moral, uma mensagem sobre o amor. Embora muitos critiquem sua previsibilidade, é uma comédia que diverte as crianças e pode ser interessante aos adultos, principalmente aos mais saudosistas que na infância procuravam assistir filmes de fantasmas escondidos. Ver assombrações é só um detalhe. Deixar-se envolver-se pelo clima misterioso dos cenários é o grande barato desse tipo de programa. A quem interessar bom proveito.
Aventura - 88 min - 2003
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