segunda-feira, 2 de agosto de 2021

BULLYING - PROVOCAÇÕES SEM LIMITES


Nota 8 Longa espanhol trata com seriedade um problema crescente principalmente nas escolas


Cada vez mais tem se tornado frequentes tristes episódios que envolvem a falta de respeito ao próximo que parece imperar na era contemporânea pretensiosamente chamada de moderna, mas parece que muita gente ainda é dos tempos das cavernas tamanha a ignorância que demonstra rotineiramente. Desde um simples xingamento até agressões físicas nas ruas, ambiente escolar ou no trabalho podem ser considerados casos de bullying, palavra estrangeira que acabou sendo incorporada ao nosso vocabulário e que dá nome a algo que não é nenhuma novidade. Talvez no Brasil isso ocorra desde o primeiro dia em que a família real portuguesa colocou os pés em nossas terras. O histórico de sofrimento de índios, pardos e negros mostra que sempre existiram pessoas a fim de se colocar numa posição superior na comparação do nível intelectual, poder financeiro ou até mesmo de cor de pele. Quando conseguem exercer poder sobre alguém aproveitam para assediar, persuadir, humilhar e agredir, mas atos discriminatórios travestidos de brincadeirinhas aos poucos podem se tornar grandes problemas e virar casos de polícia.  Tais situações são corriqueiras em escolas e faculdades e até professores podem sofrer ou praticar tais atos por mais incrível que pareça. Bullying – Provocação Sem Limites é um registro cinematográfico digno do tema, uma produção da Espanha dirigida por Josecho San Mateo que demonstra coragem ao colocar o dedo em uma ferida social apresentando um retrato realista do drama vivido por aqueles que vivem e se acostumam a rotinas de humilhações e violência. 

Não seria exagero dizer que esta é uma obra que define bem uma geração, mas devido a sua baixa popularidade infelizmente isso não é possível. A repercussão razoável do título na internet se deve a palavra bullying que quando jogada em sites de busca remete a arquivos a respeito do filme, mas se o longa fosse made in Hollywood e com nomes famosos encabeçando o elenco poderia render cifras generosas e até suscitar discussões, embora talvez o resultado ficasse aquém do esperado. Com intérpretes desconhecidos do grande público, o roteiro de Ángel García Roldán ganha ares de seriedade, um aspecto documental que conquista o espectador com uma narrativa desenvolvida sem atropelos e que chega a mostrar até as últimas e tristes consequências que o bullying pode levar suas vítimas. Não adianta dizer que o problema está longe de seu mundinho. Você pode não ser um agressor, tampouco uma vítima, mas com certeza deve conhecer alguém que sofre com isso, mesmo que em segredo, e caso presencie ou tenha conhecimento da prática de tais atos e se cale acaba assumindo o papel de cúmplice da situação. O longa aponta um possível caminho para o surgimento deste problema e o encaminha ao menos para dois desfechos, porém, é certo que o tema é muito mais amplo e seria impossível trabalhar todas as possibilidade em um mesmo filme. Jordi (Albert Carró) é um adolescente que recentemente perdeu o pai e que está iniciando uma nova fase de sua vida, incluindo a adaptação a uma escola diferente. Por ser a novidade da turma e muito quieto, os valentões se aproveitam para agredir, humilhar e enganar o rapaz. 


Para a vítima é um alívio quando o sinal da saída soa. Poder finalmente voltar para a casa após horas de angústia e ficar sob a proteção de Julia (Laura Conejero), sua mãe, é um alento para Jordi, isso até que o líder da gangue do colégio, o mau caráter Nacho (Joan Carles Suau), passe a fingir ser amigo do garoto para ter passe livre em sua residência. Julia fica feliz ao ver que o filho introvertido estava se enturmando rápido, mas mal sabia ela que se tratava de um relacionamento abusivo e de puro interesse. Fazer as lições do colégio para o valentão, por exemplo, garantiam alguns momentos de paz para o novato que apenas mantém contato a revelia com um vizinho. Bruno (Carlos Fuentes), mesmo recebendo apenas desprezo por parte de Jordi, está sempre por perto nos momentos em que o jovem precisa de ajuda e parece compreendê-lo e se solidarizar com sua situação de vítima, mas o estudante apenas o vê como um saco de pancadas. Todas as mágoas que guarda de seus problemas acaba descarregando no vizinho, pois sabe que ele só quer ajudar e não vai revidar, pelo contrário, entenderá toda a sua fúria. Na vida real as coisas são muito próximas a esse quadro. Ser o novato da turma ou o fora dos padrões, como ter algum defeito físico ou ser o nerd da classe, por exemplo, pode ser um pesadelo para muitos estudantes que inclusive hesitam em ir a escola e podem até desenvolver depressão. Em casos extremos, transtornos psicológicos graves e até desejos suicidas podem vir a ocorrer. A culpa disso tudo não é exclusiva dos jovens que cada vez mais estão arredios e avessos ao diálogo, mas os educadores das escolas e também de dentro de casa se fazem de cegos e surdos e fingem na maioria das vezes que o problema não existe. 

Na ânsia natural de conquistar independência e respeito dentro dos universos que trafegam, crianças e adolescentes podem associar erroneamente que a imposição do medo e da opressão são como armas de defesa. O grotesco dito popular do "manda quem pode, obedece quem tem juízo" passa a ser uma regra de sobrevivência e a violência não é necessariamente manifestada de forma física, mas principalmente através de agressões verbais e psicológicas sobre aqueles que se mostram mais fracos ou manipuláveis. Tais problemas podem ser solucionados de forma amigável, geralmente com a intervenção dos educadores ou responsáveis legais, ou persistirem até surgir algum fato grave que forçosamente leve os agressores a repensarem suas atitudes, mas a dominação parece algo inerente ao ser humano e quem não sabe domar seus instintos volta a cometer erros, afinal a maioria dos casos acabam com panos quentes e sem punições. Dessa forma, a prática do bullying acaba se tornando um problema cíclico enfrentado constantemente pelas escolas. Para quem já passou por tristes situações como as vividas pelo protagonista, o longa é de fácil identificação. É uma pena que o roteiro se prenda muito nas agressões que o rapaz sofre e passe rapidamente por cenas que evidenciam a mediocridade dos agressores, a falta de pulso da diretora do colégio e até mesmo pelo tão falado cyberbullying, o problema do cenário real se estendendo ao virtual. Fotos, vídeos, mensagens ou qualquer outra manifestação que seja publicada na internet com o objetivo de denegrir a imagem alheia podem e devem ser denunciados. O problema é justamente a vítima tomar consciência de que precisa procurar ajuda, mas o temor das represálias é maior.


A palestra dada por um especialista na primeira metade do filme é bem explicativa, mas muito rápida e sem que os alunos possam interagir para sanar suas dúvidas que poderiam ser as mesmas de quem assiste. Mateo perdeu a oportunidade de explorar a hipocrisia dos agressores durante um debate escolar no qual eles próprios estariam no olho do furacão assim como também preferiu omitir a punição dos mesmos. Os praticantes do bullying geralmente são pessoas que por trás de toda a valentia que demonstram no fundo são seres que buscam se impor na sociedade para encobrir fraquezas e mágoas. Os tipos mais comuns são crias de famílias mal estruturadas ou que não se empenharam na criação dos filhos, sentimentos ruins do passado transformados em violência. Contudo, é claro que também existem os que praticam as agressões simplesmente por puro prazer, são pessoas de má índole, o problema é que crianças e adolescentes que crescem sem que cortem esse mal pela raiz podem se tornar adultos problemáticos. O mesmo pode acontecer com os agredidos, pois tendem a manifestar no futuro o desejo de se vingar por tudo que passaram antes descontando em pessoas mais fracas, o já citado círculo vicioso. Bullying - Provocações Sem Limites dá um grande passo para a discussão da temática e deveria se tornar obrigatório para exibições em colégios e universidades para estender em sala de aula o debate com atividades que poderiam inclusive ajudar os educadores a identificarem os perfis de possíveis agressores e vítimas, assim dedicando atenção especial a eles para evitarem problemas futuros. 

Drama - 93 min - 2010 

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4 comentários:

renatocinema disse...

Gostei muito do filme. Belo retrato de um assunto complicado, tenso e pesado.

Amei o final, longe do padrão americano de contar histórias.

Wil disse...

Ainda não assisti ao filme. O assunto promete, porque é de fato uma situação constrangedora que acontecesse diariamente com muita gente.
Vou assistir ao filme.
Abraço

Marcos Rosa disse...

Olha! Não sabia deste filme, é de que ano?Deve ser bem interessante, vou providencia-lo rapidamente.
É, realmente estou sumido, deve-se a correria, até fins de semana tá difícil dar assistência ao blog. Mas tentarei aproveitar o feriadão próximo.

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http://algunsfilmes.blogspot.com/

PAPO RETO disse...

O filme em si é um pouco chatinho... pobre de produção e etc... Mas o assunto em que o filme aborda, é muito interessante. Gostei de ter visto!