Nota 7 Apesar do apuro na recriação da lendária criatura, público e crítica não compraram a ideia
O cinema japonês coleciona um ou outro sucesso fora de seu país natal, ainda que o visual de suas produções costumem chamar a atenção por sua excelência técnica, principalmente em obras épicas. Curiosamente, a grande marca do cinema feito na terra do sol nascente por um bom tempo era um tanto tosca: um homem vestido com uma fantasia de monstro aterrorizando cidades. Criado pela companhia Toho Studios em 1954 como uma metáfora dos horrores da era nuclear, o personagem Godzilla protagonizou exatos 22 longas-metragens ao longo dos anos até que às vésperas do século 21 foi prometida sua versão definitiva, mais aterrorizante e lucrativa de todos os tempos. Godzilla finalmente ganhava seu destaque em Hollywood e o enredo prometia uma aventura de tirar o fôlego. A trama não é revolucionária, mas ainda diverte e garante uma boa sessão da tarde. Na Polinésia, a radiação causada por testes nucleares bancados pela França provoca uma transformação na vida de todos os seres vivos daquela região e uma destas mutações é o surgimento de um réptil colossal que parece impossível de ser capturado, tanto que não conseguiram o manter nos limites do país.
Ao descobrir pegadas gigantescas no Panamá, o governo americano convoca o biólogo Nick Tatopoulos (Matthew Broderick), um perito em modificações do DNA, para analisar as transformações que um simples lagarto sofreu em virtude de radiação nuclear, porém, sua missão tende a ser mais difícil. O rapaz precisa então ajudar a descobrir como deter este imenso réptil que vai parar em Nova York. Nada consegue impedir a fúria desse monstro e a cidade que nunca dorme fica em pânico com essa aparição que destrói tudo o que vê no seu caminho. E a pior notícia ainda está por vir. O biólogo descobre que o imenso réptil se reproduz de forma assexuada e em pouco tempo seus ovos se quebrarão e darão origem à uma ninhada, sendo que cada cria poderá logo colocar seus ovos também. Assim, se o ninho não for logo descoberto, a cidade será completamente tomada por estas criaturas. No encalço do lagarto gigante ainda estão o agente secreto francês Philippe Roaché (Jean Reno), o cinegrafista Victor Palotti (Hank Azaria), que quer lucrar conseguindo uma imagem impactante do monstro, e ainda a repórter Audrey Timmonds (Maria Pitillo), ex-namorada de Nick que se reaproxima do rapaz para conseguir a matéria de sua vida, mas que acaba descobrindo que ainda não o esqueceu totalmente.
Uma historinha de amor em meio ao caos? Propor uma discussão a respeito dos efeitos nocivos das experiências científicas? Mostrar como a população e os governantes de uma cidade se comportam em momentos problemáticos? Não, o diretor e roteirista Roland Emmerich não estava afim de quebrar a cabeça e tampouco fazer com que o público se preocupasse com questões éticas, históricas, políticas, sociais e afins. O lance era diversão do início ao fim e por isso desde a exibição dos créditos iniciais não precisamos nos preocupar em pensar em nada. Em tom sépia, imagens de explosões nucleares e dos temidos dragões de komodo se alternam na tela e já indicam a origem do personagem-título. Os primeiros minutos do filme podem parecer eternos e com diálogos tolos para encher linguiça, mas servem para preparar o terreno para a aparição da estrela da festa, assim como Steven Spielberg fez anos antes com Jurassik Park. Aliás, tal produção e sua continuação, O Mundo Perdido - Jurassic Park, certamente pavimentaram o caminho para ressuscitarem o famoso monstro japonês. Emmerich trouxe o Godzilla de volta aos cinemas com força total e uma campanha de marketing agressiva que contou com dezenas de produtos licenciados, como brinquedos e camisetas, e que praticamente pagaram o longa antes mesmo de sua estreia que em solo americano.
Em versão de luxo, o Godzilla proposto por Emmerich é uma perfeita combinação de lagarto com dinossauro, uma criatura gigantesca que teve seu visual guardado a sete chaves até seu lançamento. Na época era fácil manter em sigilo as surpresas de um filme já que a internet ainda era restrita e consequentemente a pirataria era praticamente inexistente. Todavia, o emprego de efeitos especiais de ponta e o acréscimo de movimentos mais acelerados e rugidos de arrepiar não foram suficientes para transformar esta aventura em um grande sucesso. Como já dito, com as vendas de bugigangas com a logomarca do filme somadas às bilheterias fecharam as contas com folga, mas boa parte do público reagiu negativamente e a crítica especializada massacrou a obra, todavia, existiam à época coisas bem piores para serem malhadas. Mas o que as pessoas esperavam de um filme sobre um animal gigantesco transitando nas agitadas ruas de um centro urbano? Destruição, mortes e correria, não mais que isso a sinopse propunha e o próprio diretor confirmava seu intuito de apenas divertir e não de esclarecer questões científicas acerca do surgimento do monstro ou a respeito de transtornos psicológicos dos humanos diante das dificuldades. Assim, após a curiosidade sobre o visual atualizado da criatura chinfrim de outrora não há muito que se esperar da produção.
Emmerich tem no sangue o talento para o cinema-catástrofe e ganhou dos produtores carta branca para este trabalho graças aos excelentes resultados de Independency Day. Ao resgatar o clássico monstro oriental, o cineasta simplesmente viu o apocalipse de maneira mais comedida e através de uma alegoria, mas é certo que os personagens com suas armas de fogo causaram bem mais estragos que o lagartão. Destaque para a longa sequência envolvendo a primeira aparição e ataque do monstro à Nova York, cenas repletas de adrenalina e muito bem realizadas, e para o desempenho de Broderick que com sua cara de eterno adolescente sempre se sai bem em produções que evocam o espírito de sessão da tarde. O final deixa um gancho para uma continuação, mas após anos e anos colhendo críticas negativas parecia que o Godzilla ianque tratou de sepultar de vez a criatura, entretanto, para a fantasia sempre há uma luz no fim do túnel. O monstro então ganhou novas versões americanas e japonesas e inclusive ganhou um upgrade e aval da crítica em produções de embate com outro gigante do cinema, o King Kong. E assim a lendária criação nipônica vai perpetuando seu legado e sempre com novas possibilidades de sobreviver no imaginária do público.
Aventura - 139 min - 1998
Um comentário:
O pior filme de Roland Emmerich, que por incrivel que pareça, é um diretor que eu gosto.
http://cinelupinha.blogspot.com/
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