NOTA 10,0 Apesar dos fetiches da moda saltarem aos olhos, longa carrega uma importante lição sobre o desejo de vencer na vida |
No fundo, o roteiro criado por
Aline Brosh McKenna discute as maneiras com que o ser humano se adapta ao seu
meio, chegando ao ponto de se anular pessoalmente para assumir as
características que lhe exigem, algo muito comum principalmente no campo
profissional . A chefona linha-dura a certa altura revela seu lado humano que
esconde há muitos anos sob roupas e acessórios de grife enquanto a novata no
mundo fashion procura seguir os mesmos passos para se tornar a pessoa ideal
para trabalhar com moda, mudando desde seu guarda-roupas até seu comportamento
com os amigos de longa data. Como todo filme que é originado de um livro, há
quem condene esta produção de não ser fiel ao texto original e
transformar alguns aspectos interessantes da história em algo comum, como a
personalidade de Andy. Bem, mas como aqui o que importa é o que vemos na tela
tais julgamentos não cabem. O conjunto todo do longa é muito agradável, com
momentos inspirados e tudo funcionando muito bem. Pode ser que você nem venha a
gargalhar em uma cena sequer, mas certamente ficará com um sorriso constante no
rosto do início ao fim. Não poderia ser diferente quando temos uma protagonista
simpática atuando, mas apesar de todo carisma e esforço de Anne Hathaway o show
é mesmo da grande Meryl Streep que mais uma vez fisga a atenção do público a
cada nova aparição. Se naturalmente ela já tem uma força hipnótica, aqui ela
tem isso em dobro graças a sua composição de uma mulher forte, rígida e sem
papas na língua que aos poucos vai se despindo da armadura que criou para si
mesma conforme convive com sua nova assistente que inicialmente mais comete
furos que qualquer outra coisa. Absolutamente natural, parece mesmo que a
temida Miranda Priestly existe. Qualquer semelhança com a personagem da vida
real citada na introdução no texto talvez não seja mera coincidência mesmo.
Isso é fruto do talento inegável da atriz e de várias características de
personalidades reais do mundo fashion reunidas para gerar um indivíduo
fictício, mas perfeito. A “vilã” não demora a dar o ar da graça e, apesar de
pisotear a todos, é difícil sentir raiva dela, pois suas falas cheias de veneno
e sarcasmo conquistam o espectador.
Se Meryl está estupenda como sempre e Anne defende bem sua personagem
que de patinho feio se transforma em uma mulher desejável e descolada, entre os
coadjuvantes também temos talentos destacando-se Emily Blunt que deslanchou a
carreira após essa participação. Ela interpreta Emily (quanta imaginação para
um batismo) a primeira assistente de Miranda que toca o terror para cima de sua
nova colega de trabalho já que está acostumada ao jeito pouco sutil da chefe.
Inicialmente podemos desconfiar que ela quer defender seu espaço e não perder
seu emprego, mas na realidade ela tem bom coração, dá conselhos à novata e
sonha com uma viagem de trabalho a Paris, o que significaria um atrativo a mais
para seu currículo. Mais competente e solidário que ela só mesmo o personagem
de Stanley Tucci, ator acostumado a chamar a atenção com suas criações para
ocupar vagas secundárias nas histórias. Com suas falas cheias de ironia, Nigel
consegue divertir e criar afinidade com a plateia. Digamos que ele fala na tela
o que todos que estão assistindo gostariam de dizer. Para completar, a modelo
brasileira Gisele Bundchen faz uma pequena ponta com direito a duas ou três
frases e visual de intelectual, mas nada que arruíne o filme. Lidando com um
humor inteligente e crítico, o diretor David Frankel conseguiu realizar uma
obra que agrada a diversas classes e faixas etárias. Desde aqueles que não
entendem nada de moda até os mais entendidos que não saem de casa sem fazer uma
combinação perfeita de roupas e acessórios, qualquer um pode compreender o
conteúdo de O Diabo Veste Prada.
Do início quando Miranda lança seu olhar fulminante para Andy analisando suas
vestes de cima a baixo até a última cena na qual a poderosa editora de moda esboça
um sorriso malicioso, as quase duas horas deste filme são dedicadas a dissecar
os bastidores do chamativo mundo fashion e analisar os comportamentos dos
profissionais deste ramo, mas sem nunca cair nas armadilhas do didatismo ou
jogar um balde de água fria naqueles que fazem planos para trabalharem na área.
Para quem nunca se deu o presente de curtir esta produção pensando em se tratar
de uma baboseira referente a mulheres tresloucadas deslumbradas por roupas e
acessórios e em busca de um grande amor, bem ao estilo de Sex and the City (eita, o diretor do filme é o mesmo da série de
televisão protagonizada por Sarah Jessica Parker!), deixe o preconceito de lado
e divirta-se com um dos produtos mais cults da primeira década do século 21. Na
pior das hipóteses, a trilha sonora é bem bacana e com músicas famosas, o que
pode salvar o programa daqueles que realmente continuam com a idéia antiquada
de que moda é só para pessoas fúteis. Preste atenção nas falas de Miranda
Priestly e tenha certeza que irá pensar diferente sobre o assunto.
Comédia - 109 min - 2006
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