quinta-feira, 18 de junho de 2015

OS GAROTOS ESTÃO DE VOLTA

NOTA 7,0

Drama mostra a adaptação
de um homem a uma nova
rotina que inclui resgatar
o contato com os filhos
Notadamente na maioria das famílias os filhos têm um envolvimento maior com as mães do que com os pais, talvez por elas serem mais carinhosas, compreensivas e abertas ao diálogo, embora esse paradigma esteja cada vez mais em decadência e muitos homens tem assumido seu lado mais emocional perante a família, seja em busca de uma convivência mais harmoniosa com a esposa ou até mesmo para suprir a falta dela dentro de seu clã. O diretor Scott Hicks, de Shine – Brilhante, aborda justamente esta última possibilidade no drama Os Garotos Estão de Volta. Depois da trágica morte de sua segunda esposa, Katy (Laura Fraser), devido a um agressivo câncer, o conhecido jornalista esportivo Joe Warr (Clive Owen) tem que tomar conta de seu filho Artie (Nicholas McAnulty) de apenas seis anos. O problema é que ele era tão dedicado ao trabalho que praticamente não conhece o próprio filho, não fazendo idéia das qualidades, defeitos, vontades, rotina, sonhos, enfim tudo o que possa envolver o universo deste garoto. As coisas ficam ainda mais complicadas para Warr quando o adolescente Harry (George MacKay), filho de seu primeiro casamento, se muda para a Austrália para viver com ele durante uma temporada. A partir desse momento, Warr terá que se virar para manter uma casa habitada só por rapazes, porém, as dificuldades em se lidar com uma criança e um adolescente ao mesmo tempo são muitas, ainda mais quando também estão em jogo as memórias, os ressentimentos do passado e as dúvidas sobre o futuro. Owen é um bom ator que abraça os mais variados tipos de papéis, mas não tem em seu currículo muitos dramas. Aqui ele encabeça o elenco e dá conta do recado direitinho representando o papel do homem contemporâneo, aquele que não pode se dar ao luxo de ter uma mulher em casa para cuidar das crianças e dos afazeres domésticos. Não por opção, mas sim por necessidade, o protagonista precisa lidar com as tarefas cotidianas da casa, cuidar das necessidades de seu trabalho e ainda dar atenção aos filhos, sendo que o mais velho vive em constante conflito com o pai.  Todas as representações destas situações são totalmente críveis. Hicks é um cineasta que sabe trabalhar com a sensibilidade de forma natural e sem ser apelativo, assim dando à obra um toque mais realista.

É certo que muitos podem se decepcionar ao perceber que o roteiro de Allan Cubitt não trata de maneira profunda a realidade do protagonista optando por suavizar as suas dificuldades, erros e anseios. Conforme a narrativa avança, pode parecer que Warr opta por oferecer uma educação desregradas aos filhos, mas na verdade este aparente despojamento faz parte dos ensinamentos pelos quais ele e seus filhos vão passar. Comumente colocamos a figura da mãe como o pilar de sustentação de uma família, mas quando ela não está presente parece que os alicerces se desfazem e ficamos sem a voz da autoridade para nos guiar. Procurar a leveza no trato com seus filhos em um primeiro momento mostra que Warr está tentando se aproximar deles de forma amigável, mas certamente chegará o momento em que terá que ser severo e impor limites, principalmente à Harry que o desafia sempre que tem oportunidade. Para variar, não adianta nada a experiência de vida e a racionalidade do pai para colocar ordem na família. É o pequeno Artie quem faz a ponte de ligação entre todos os membros de seu clã, incluindo a manutenção da relação de seus avós maternos com o pai, usando toda a sua ternura e olhar ingênuo a respeito da vida. O fio condutor da trama poderia render inúmeras possibilidades para um drama mais profundo, mas Hicks preferiu manter seus pés em terreno seguro e fazer uma obra mais simples para atingir um público maior, incluindo o infantil, embora o longa tenha sido recebido friamente por público e crítica. Lançado diretamente em DVD no Brasil, infelizmente esta obra já nasceu desacreditada e nem a Disney que tratou do lançamento do título em alguns países batalhou para exibi-lo nos cinemas optando pelo mercado de home vídeo.  Vale lembrar que grande parte da narrativa se passa na Austrália, mas o longa evita o clichê de parecer um vídeo institucional de agência de turismo. O país é citado e só, pois o enfoque do enredo é no sentimento de amor que rege a união entre os membros da família Warr.

Essa história de um homem que repentinamente precisa assumir responsabilidades com as quais não tinha intimidade e ainda acumular as tarefas de sua própria rotina é um tanto comum. Para desenvolver este enredo, Cubitt baseou-se no livro “The Boys Are Back in Town” escrito pelo próprio Joe Warr da vida real que resolveu publicar suas memórias sobre as dificuldades que teve para se adaptar a um novo cotidiano ou que na melhor das hipóteses ele o conhecia com certa distância. Publicado em 2000, o autor Simon Carr sentia que sua experiência precisava ser contada para ajudar a outros pais e filhos que por ventura poderiam estar vivendo ou viver futuramente tal situação. Tanto o filme quanto o livro também abordam levemente a questão de como falar sobre a morte com as crianças. Não adianta tapar o sol com a peneira e falar a verdade é sempre o melhor caminho. O triste fato do falecimento da segunda esposa de Carr é um daqueles casos em que o mal vem para promover o bem. O filho mais velho do jornalista acabou decidindo ir morar com o pai para ajudar a cuidar do irmão menor, mesmo não tendo intimidade com nenhum deles. A tragédia acabou por reunir a família. É óbvio que momentos de dificuldades existiram aos montes, mas foram compensados por outros tantos de felicidade, loucuras e brincadeiras. São justamente estas passagens de liberdade como se o pai voltasse no tempo e virasse criança de novo que dão o tom de humor para o filme, como corridas noturnas em companhia dos filhos e até momentos insanos como quando um dos garotos fica em cima do capô de um carro em movimento. Todavia, essa espécie de educação alternativa não arrasou o futuro dos filhos de Carr e os dois estão bem encaminhados na vida, mas sempre vale lembrar que o conceito de educação liberal não deve ser levado ao pé da letra e sempre algumas regrinhas são necessárias. Adotando a cartilha das produções independentes, Hicks transforma Os Garotos Estão de Volta em uma obra agradável e tocante bem estilo sessão da tarde. Podem achar previsível, mas renovar determinados ensinamentos básicos para se viver em sociedade nunca é demais.

Drama - 104 min - 2009 

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