terça-feira, 7 de abril de 2015

DO QUE AS MULHERES GOSTAM

NOTA 7,0

Garanhão machista ganha o
dom de ouvir os pensamentos
das mulheres e assim rever
seus conceitos e condutas
Depois que se enveredou pelo caminho da direção em A Paixão de Cristo e Apocalypto, duas produções caras, complicadas e arriscadas, parece que os convites para Mel Gibson atuar começaram a ficar cada vez mais raros ou o próprio ator tornou-se mais seletivo. Seus trabalhos como diretor possivelmente criaram uma espécie de barreira para ambos os casos, afinal quem recriou as últimas horas de Jesus Cristo e se aventurou a explorar o cotidiano de uma extinta civilização certamente não poderia aceitar fazer qualquer papel, ele estaria em um patamar acima em sua carreira, isso sem falar no Oscar que já havia conquistado como diretor por Coração Valente. As constantes declarações polêmicas do ator a respeito de grupos sociais e religiões, por exemplo, também contribuíram para seu gradual afastamento do mundo do cinema, mas ainda assim o público não esquece seu rosto e os filmes dos quais participou e que marcaram época como a quadrilogia Máquina Mortífera. Símbolo de grandes bilheterias nos anos 80 e 90, praticamente na virada para o século 21 o ator ainda provava que podia transitar tranquilamente pelos mais variados gêneros e garantir bons lucros, como é o caso da comédia romântica Do que as Mulheres Gostam, longa que também marcou o retorno de Helen Hunt em um papel de destaque após os vários prêmios que recebeu cerca de dois anos antes por Melhor é Impossível. O casal tem química instantânea e contagiante. A história criada por Josh Goldsmith e Cathy Yuspa tem como pano de fundo o mundo da publicidade. Propagandas de cerveja, por exemplo, visam fisgar principalmente o público masculino com mulheres bonitas em trajes mínimos ou a boa e velha isca do jogo de futebol, aquela desculpa para se reunir com amigos. Antigas propagandas de cigarros vendiam uma falsa sensação de liberdade investindo pesado em viagens para captar imagens de belas paisagens, também visando a atenção dos homens. E as mulheres? Como elas eram retratadas nas propagandas? Os anos passaram e pouca coisa mudou. A maioria não se reconhece como as gostosonas da praia, as modelos que sorriem ao se besuntar de cremes hidratantes e também não querem ser retratadas como a dona de casa perfeita que sorri ao limpar um vaso sanitário. Justamente pelo fato da publicidade não compreender a alma feminina é que a empresa de marketing onde trabalha Nick Marshall (Gibson) está passando por maus momentos. Como chefe do departamento de criação ele acredita estar com seu emprego assegurado, mas quem cochila acaba sendo passado para trás.

Marshall tem a fama de ser um conquistador irresistível e a cada noite tem a companhia de uma mulher diferente, mas o que ele conhece sobre seus corpos fica a dever a respeito do conhecimento de suas almas e é justamente esta falha em seu currículo que faz com que ele seja rebaixado de cargo e tenha que aceitar as ordens de Darcy Maguire (Hunt), uma competente profissional contratada por Dan Wanamaker (Alan Alda) para adequar a empresa aos novos tempos e que já chega cheia de ideias, mas disposta a criar em conjunto. A primeira tarefa dessa nova fase é criar uma campanha que se comunique perfeitamente com a mulher moderna para oferecer a uma empresa esportiva. Para tanto, a executiva distribui um kit com vários artigos femininos para todos os membros de sua equipe a fim de estimular suas mentes a criarem anúncios para um ou mais produtos. Extremamente machista e acostumado a criar anúncios de carros, bebidas e cigarros com todos os clichês e fantasias que habitam o mundo masculino, Marshall não se conforma em ter como chefe uma mulher e decide provar que ele é quem deveria estar ocupando o cargo, assim ele resolve literalmente experimentar todos os materiais de trabalho a respeito do universo feminino para entregar uma campanha vencedora. Pintar as unhas, passar batom, depilar as pernas, usar meia calça... Aparentemente o machão não admira os esforços do sexo oposto para manter a aparência, mas um acidente com o secador de cabelos o fará rever seus conceitos na marra. Após receber um choque, Marshall começa a ouvir os pensamentos femininos e esse dom especial acaba desencadeando uma piada atrás da outra envolvendo os pensamentos, desejos e dúvidas das mulheres que cruzam seu caminho e pouco a pouco ele vai aprendendo a tirar vantagem disso, inclusive aproveitando para ler a mente de Darcy para proveitos pessoais e profissionais. Paralelo a isso, o publicitário ainda tem que aprender a lidar com a filha adolescente Alex (Ashley Johnson) que vai ficar com ele por alguns dias enquanto sua mãe viaja com seu novo marido. As voltas com um baile de formatura e o namoro com um rapaz pouco mais velho, a jovem estranha o comportamento mais amigável do pai, mas mostra-se pouco flexível para se aproximar mais dele. Ele, por sua vez, não gosta de saber que a garota se envergonha dele e tampouco que ela planeja perder a virgindade em breve. Felizmente são evitados alguns clichês típicos a proposta. Apesar do estranhamento inicial, Darcy não é uma carrasca feminista e não existe contato entre ela e Alex para aquele conselho maternal capaz de amolecer o coração de um pai. Todavia, o happy end dos executivos está garantido sem nem mesmo existir uma boa rusga entre eles.

Esta agradável comédia é conduzida pela diretora Nancy Meyers, que até então só tinha assinado a direção do clássico das sessões da tarde Operação Cupido, mas nem parece que ela era praticamente uma estreante no ramo. Apesar de ter seus momentos de piadas mais visuais, o roteiro é elegante e evita expor os atores e o próprio público a situações constrangedoras, uma característica dos trabalhos da cineasta como pode ser comprovado no posterior Alguém Tem Que Ceder. Talvez por essa conduta ela consiga sempre atrair um elenco de peso e aqui não foi diferente. Do Que as Mulheres Gostam provavelmente seja o último grande filme protagonizado por Mel Gibson antes de ele optar por investir em produções de alto risco (pelo olhar comercial) como diretor. Aliás, comédias praticamente são ausentes no currículo do ator, mas ele aceitou o desafio de trocar o espírito estrategista e justiceiro de seus tradicionais personagens para encarnar um sujeito de início arredio e exibido, mas que logo se torna sensível e romântico. O estilo machista de Marshall abre espaço para a sensibilidade e acaba surgindo um novo homem capaz de compreender a alma feminina como ninguém a tal ponto dele ser confundido com um homossexual como se desespera a vendedora Lola (Marisa Tomei), com quem após muito rodeio ele conseguiu transar, aliás, uma cena hilariante em que as emoções do protagonista se confundem ao ouvir os pensamentos dela, afinal qual homem nunca teve curiosidade de pensar o que a parceira pensa na hora H? As vezes é preferível não saber.  A narrativa leve e pontuada por ótimas cenas de humor se tornou um dos títulos de maior bilheteria do ano 2000, porém, o trabalho não é perfeito do início ao fim. Além do elenco secundário pouco aproveitado, que inclui uma apagada Bette Midler como uma psicóloga, justamente na conclusão Meyers escorrega oferecendo um final sem criatividade onde tudo é meio apressado para dar tempo de resolver tramas paralelas e explicar para demais personagens como o protagonista adquiriu o dom de ler os pensamentos das mulheres. E olha que a duração deste filme é bem acima da média para o gênero e ainda assim faltaram alguns minutos adicionais para um final redondinho, porém, não é nada que comprometa um produto feito para puro entretenimento que exala, em sentido figurado, um perfume adocicado, mas também consegue conquistar facilmente a atenção do público masculino. Os anos passam, mas o longa se mantém atual e dá até saudades de ver Gibson novamente estampando um cartaz, uma raridade hoje em dia. Em tempo: é curioso que um sucesso como este não tenha tido uma continuação, mas deve ter sido melhor assim. Nunca se sabe o que esperar de uma segunda parte.

Comédia - 125 min - 2000 

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2 comentários:

Rafael W. disse...

É o tipo de comédia romântica que os homens gostam. Muito divertido.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Thai e Tom disse...

Poxa, interessei-me bastante pelo filme agora. Ele não lançou por agora não, certo? Vou procurá-lo. =D

Thai