NOTA 7,0 Vendida com muita pompa e elogios, comédia romântica não é muito diferente de outras produções do gênero |
Embora muitos casais apenas se casem no civil ou simplesmente juntam
os trapinhos sem festejos, ainda há muitas pessoas que sonham com uma festa
deslumbrante, principalmente as mulheres, sejam elas brasileiras, americanas ou
de qualquer outra parte do mundo. A obsessão pelo casamento perfeito é um tema
constante para as comédias românticas hollywoodianas, assim muitas delas acabam
não passando de um filminho bacana para matar uma tarde livre, porém, Missão
Madrinha de Casamento é uma exceção à regra e foi além do trivial.
Sucesso indiscutível em terras ianques, conquistando inclusive duas indicações
ao Oscar, o longa na realidade é apenas mais uma comédia eficiente como
passatempo e só. Com estética e diálogos perfeitos para agradar fãs de Sex and the City e tantos outros filmes
em que as mulheres são o centro das atenções, a trama gira em torno dos
preparativos do casório de Lilian (Maya Rudoplh) que convida Annie (Kristen
Wiig), sua melhor amiga, para ser uma de suas madrinhas. O problema é que esta
convidada de honra está enfrentando problemas pessoais e profissionais que a
tiram do sério e a fazem se sentir inferior e infeliz, mas mesmo assim ela quer
se dedicar ao máximo para fazer o melhor casamento possível para sua amiga,
ainda que sentindo uma pontinha de inveja da felicidade da noiva. Muito
atrapalhada para organizar listas de presentes, escolher vestidos, fazer o chá
de cozinha entre outras obrigações de uma boa madrinha, uma tradição americana,
Annie ainda terá que enfrentar uma rival. Entre outras convidadas a ocupar a
função de estar ao lado da noiva até o último minuto da festa, Helen (Rose
Byrne) também está disposta a ser a melhor amiga de Lilian, assim como ocupar o
posto de exímia organizadora de eventos matrimoniais.
A rivalidade entre as duas começa instantaneamente na hora em que são apresentadas. Se no passado muitas comédias apostavam em escatologia, grosserias, piadas de duplo sentido, humilhações e afins para conquistar o público adolescente, hoje estes mesmos elementos estão a serviço do gênero, mas de olho no pessoal que já passou dos trinta anos. Talvez o burburinho que esta produção conseguiu gerar seja pelo fato das mulheres balzaquianas serem as estrelas desta fita cuja produção ficou a cargo de Judd Apatow, responsável pela direção e enredo de O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos. Desta vez ele apostou nos dilemas femininos em torno das perspectivas para o futuro ao invés dos dramas cômicos vividos por homens que se esqueceram de crescer e passam o tempo todo pensando em sexo, bebidas e drogas. Mudança de ares bem-vinda para o currículo de Apatow. Logo nos primeiros minutos do filme já sentimos que não estamos diante de uma comédia romântica tradicional. Seguindo as tendências que o próprio produtor criou, já na introdução somos apresentados ao cotidiano e perfil pouco convencional de Annie. Ela quebra os padrões tão comuns as mocinhas do gênero. Namoradeira, desbocada e briguenta, esta madrinha tem um perfil bem oposto ao da noiva a quem ela não desdenha, mas percebe-se que adoraria viver uma vida como a da amiga e ser o mínimo parecida com o jeito de ser dela. Não seria errado dizer que são nas demonstrações de invejas que encontramos o humor do longa. Se os homens resolvem seus problemas na base da porrada e xingos, as garotas no caso preferem usar sinais discretos e trabalhar com entonações dóceis de suas vozes para alfinetar umas as outras. Isso até que a paciência esgota e é inevitável colocar para fora em alto e bom som tudo aquilo que as aflige. Por exemplo, Annie explodindo de raiva durante o chá de panela de Lillian compõe uma das cenas mais divertidas.
Muitos não encontram razões para o tamanho do sucesso desta produção,
que no final das contas é uma comédia romântica acima da média, mas nada de
outro mundo. É provável que a palavra que explique tal êxito seja ousadia.
Kristen Wiig, além de roubar a cena atuando, é também a responsável pelo
elogiado roteiro escrito em parceria com Annie Mumolo. Ninguém melhor que duas
mulheres no comando da narrativa para revelar a perversidade feminina ao invés
da doçura e ingenuidade tão comuns às moças que sonham com o casamento. Até aí
tudo bem, mas a mão pesada de Apatow dando suporte à produção ajuda a exagerar
na desconstrução das donzelas apostando em algumas piadas de mau gosto, tendo
como principal expoente a atriz Melissa McCarthy com sua personagem Megan. Não
há como ver a roliça madrinha e não se lembrar dos prolixos personagens de Zach
Galifianakis, um dos pés de coelho do produtor. Megan protagoniza cenas e
piadas grosseiras, mas não chega a bater o número de sequências do tipo vividas
por Annie. Outra ressalva ao roteiro fica por conta da apática participação das
demais madrinhas na narrativa. Rita (Wendi McLendon Covey) e Becca (Ellie
Kemper) fazem figurações de luxo praticamente. Após as longas duas horas de duração
de Missão
Madrinha de Casamento (este exagero trabalha contra a obra por esticar
além da conta certas cenas), sabemos que tudo acabará bem e é até possível
pensar um pouco mais sobre os caminhos que traçamos para nossas vidas, mas nada
muito profundo. No fundo, o grande mérito deste trabalho dirigido por Paul
Feig, de Menores Desacompanhados, é
transpor as temáticas comuns às comédias masculinas para o universo feminino. É
curioso, porém, o tanto de críticas negativas que o longa recebeu e ainda recebe
no Brasil. O lado positivo disso é que parece que nós brasileiros aprendemos a
ter opinião própria. Quase unanimemente esta produção é classificada como um
passatempo dos bons, mas nada além disso, contrariando a imagem vendida pela
publicidade americana que tratou o filme com toda a pompa.
Comédia romântica - 124 min - 2011
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