quinta-feira, 1 de outubro de 2020

NOIVAS EM GUERRA


Nota 4 Comédia reduz o casamento a um badalado evento para agraciar egos e exaltar vaidades

Se uma noiva à beira de um ataque de nervos com a proximidade do tão sonhado dia do casamento já é o bastante para preencher uma comédia, que dizer então de duas mulheres vivenciando a mesma situação? A resposta é uma só: clichês em dobro que resultam em saldo negativo. Noivas em Guerra é apenas uma colcha de retalhos de situações esdrúxulas e de riso fácil que passam longe de aprofundar questões pertinentes ao conflito de egos que é o cerne da trama. O argumento parte da ideia de duas amigas de longa data que por anos partilharam seus sonhos quanto aos seus casamentos cujas festas precisariam indiscutivelmente serem realizadas em um badalado hotel de Nova York. Praticamente sempre juntas, até o mesmo mês elas escolheram para subir ao altar, contudo, um erro administrativo acaba marcando a mesma data para ambas realizarem suas festas. Trocar o dia seria impossível pelo fato do local ser disputadíssimo. Já a opção de se casarem no mesmo dia em horários diferentes poderia ser uma simples solução ou até mesmo aceitarem fazer um casamento duplo já que ambas são como irmãs, mas para que facilitar se é possível complicar não é mesmo?

Sem nenhum motivo plausível Liv (Kate Hudson) e Emma (Anne Hathaway) de uma hora para outra se transformam em ferrenhas inimigas que aprontam todas para tentar sabotar o casamento uma da outra. Assim começa uma sequência de bizarras situações como trocar a tinta de cabelo da ex-amiga por uma cor extravagante, a outra revidar atrapalhando a sessão de bronzeamento artificial da rival, uma se aproveitar da compulsão por chocolates da outra para tentar engordá-la e o vestido não servir, entre outras bobagens. E tudo isso para que? Simplesmente para ver qual delas será o lado mais fraco dessa guerra e que acabará cedendo e aceitando adiar o sonho de se casar no luxuoso hotel para não ter que dividir atenções e a lista de convidados. Mesmo com um objetivo tão idiota e mesquinho a ser alcançado, não se pode negar que os focos de conflitos propostos funcionam para dar gargalhadas, talvez justamente pelo absurdo da situação como um todo.

As protagonistas mostram-se completamente à vontade em seus papeis e sem medo algum de pagarem micos. Hudson é a uma advogada que mostra-se durona e segura, mas que no fundo é medrosa e ainda não superou alguns complexos da juventude. Já Hathaway é uma professora dócil e compreensiva, isso até que lhe contrariem e abram caminho para que ela deixe seu lado mais perverso aflorar. Seus respectivos noivos são Daniel (Steve Howey) e Fletcher (Chris Pratt) que assistem passivamente as brigas das companheiras sem fazerem nada de concreto para ajudá-las a selarem as pazes. Pelo comportamento de ambos dá pra perceber quem irá dar as cartas nos relacionamentos após a troca de alianças. Todos os problemas que antecipam as cerimônias, inclusive nos situar sobre como era invejável a convivência das protagonistas até o fatídico dia que foram marcar a data do casório, são narrados por Marion St. Claire (Candice Bergen), a organizadora de eventos que também não se esforça para convencer suas clientes a usarem o bom senso e narra tudo com um irritante didatismo.

O roteiro é de autoria de Greg DePaul e Casey Wilson que não ousam e tratam a problemática de maneira superficial. Tudo se resume a evitar o ego ferido. As moças não aceitam se casar no mesmo dia porque querem reinar absolutas desfilando com seus belos e tão sonhados vestidos e usam como armas de guerra atingir a vaidade uma da outra. Fica a impressão que elas poderiam até mesmo descobrir às vésperas do casamento que seus companheiros a traíssem, mas as únicas coisas que poderiam fazê-las desistir da festa seria um cabelo desgrenhado ou alguma imperfeição física, afinal imagem é tudo. Sentimentos são o de menos, caso contrário elas não colocariam a amizade em jogo sem levar em consideração que mesmo que uma delas aceitasse a troca de data elas nunca mais voltariam a ter o mesmo tipo de relacionamento harmônico de antes. Contudo, trata-se de uma comédia romântica comercial, portanto, sabemos que apesar de tudo que aprontassem o final feliz estaria garantido.

O diretor Gary Winick, do divertido e saudosista De Repente 30, poderia ter conduzido a produção para um caminho mais reflexivo abordando o paradoxo que há entre o desejo das protagonistas em viver um matrimônio de sonhos e a realidade cujas estatísticas apontam cada vez mais o casamento como uma instituição falida, mas opta pelo caminho mais fácil. O excesso de clichês e o argumento frágil no fundo são os menores males de Noivas em Guerra. O grande problema é que suas protagonistas não conquistam a simpatia do público. Apesar de suas intérpretes serem graciosas e queridas, o roteiro não lhes dá brecha para mostrarem carisma. Mesquinhas e infantis, não torcemos para que elas entrem em um acordo, pelo contrário, nos soa mais apropriado que após tanta confusão por nada seus noivos caiam em si e procurem companheiras mais maduras e evoluídas. Contudo, se um simples capricho negado já gera tanto alvoroço que dirá tomar um fora a essa altura do campeonato? Assunto muito complexo para um filme destinado a entreter espectadores que se satisfazem em dar risadas no melhor estilo tropicões e tortadas na cara.

Comédia - 89 min - 2009

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