NOTA 7,0 Casal protagonista se une com o intuito de se dar bem na vida profissional, mas é o amor que fala mais alto |
No gênero das comédias românticas
é muito comum o tema dicas para se dar bem no amor. Os roteiros variam
colocando seus protagonistas a serviço de um manual ou livro de autoajuda, a
serviço dos conselhos de amigos ou até mesmo uma reflexão dos personagens
revendo suas vidas amorosas para não repetir os mesmo erros em uma próxima vez.
Você já viu algo do tipo inúmeras vezes em filmes da Jennifer Lopez, Drew
Barrymore, Jennifer Anniston e tantas outras atrizes que são sinônimos deste
gênero cinematográfico, mas e um longa criado justamente para ensinar as regras
básicas para destruir um relacionamento? Pois este é o mote principal de Como
Perder um Homem em 10 Dias, uma divertida comédia romântica na qual
tanto a mocinha quanto mocinho embarcam em uma relação amorosa não visando
melhorar suas vidas pessoais, mas sim as profissionais. Benjamin Barry (Matthew
McConaughey) é um publicitário que faz uma ariscada aposta com seu chefe.
Convencido de seu potencial para conquistar mulheres, ele terá apenas dez dias
para fazer uma dama cair aos seus pés de paixão, assim ele terá o direito de
gerenciar a conta e desenvolver uma importante campanha de vendas de diamantes
que foi entregue à empresa em que trabalha. Na mesma noite em que o pacto é
feito Barry encontra sua vítima. Ela é Andie Anderson (Kate Hudson) que em uma
primeira conversa com o rapaz já se mostra disposta a ser mais que uma amiga
para ele, porém, na realidade ela deseja o namoro tendo segundas intenções. Ela
é uma jornalista que está cansada de escrever matérias fúteis para uma revista
feminina e propõe à sua chefe que caso ela escreva um texto excepcional sobre
um tema mais original poderia então ser alçada a um patamar mais respeitável na
redação. Assim ela troca as triviais dicas para ter um relacionamento de
sucesso para mostrar às mulheres as coisas que elas fazem e que acabam por
espantar os homens. Andie não está atrás de teorias, mas sim de viver na
prática os erros propositalmente a cada novo encontro com Barry. Um amor
baseado na desonestidade tem futuro? Por se tratar de uma típica comédia
romântica americana você já sabe como tudo vai acabar e talvez seja no conforto
em saber que o final feliz está garantido que resida o segredo do sucesso de
produções do tipo. Repetem-se os atores, personagens e conflitos, uma ou outra
mudança aqui ou ali, mas sempre há uma ampla legião de espectadores a
disposição desses produtos.
O roteiro de Burr Steers, do
elogiado A Excêntrica Família de Igby,
acaba fazendo uma boa mistura de clichês com certa dose de ousadia. No início
somos apresentados aos protagonistas e aos seus universos. Ele é o típico
garanhão que conquista uma mulher por noite, parece ser bem de vida e adora uma
ostentação e elogios. Já a mocinha é aquela garota que não se conforma com a
posição medíocre que as mulheres ocupam em pleno século 21, inclusive pelos
olhares de pessoas do mesmo sexo que parecem satisfeitas com o rótulo de fúteis
ou com a situação rebaixada, por isso ela é cheia de planos para contradizer as
regras. Kate e McConaughey formam um casal com química e timing cômico
considerável. Na época o ator já era um galã do gênero enquanto a jovem atriz
ainda não acumulava muitos trabalhos de destaque no cinema, mas aqui o embate é
de igual para igual e eles dominam as atenções. Até os coadjuvantes que
geralmente salvam uma comédia romântica do desastre aqui ficam apagadinhos. A
tela é para o casal protagonista brilhar e se divertir. Se os primeiros e os
últimos minutos são totalmente previsíveis e até um pouco sem graça, o que
importa é o recheio, como vai se desenrolar a relação destes dois canastrões.
Barry tem que tentar fingir que está realmente apaixonado e por isso suporta todas
as loucuras de Andie que desde o primeiro encontro começa a tocar o terror. Ela
esquece a bolsa no apartamento do rapaz já com um plano em mente, enche o saco
porque ele comprou refrigerante normal e não o diet fazendo-o perder a final da
partida de basquete de seu time favorito, o obriga a cuidar de um cachorrinho e
de uma samambaia como prova de que ele está pronto para cuidar de uma esposa e
filhos, estes que já tem seus rostos semi-definidos através de um moderno
programa de computador que tratou de imaginar como seriam os frutos da união
deste casal e por aí vai. Porém, a certa altura Barry já está tão envolvido com
a moça que aceita até levá-la para sua família conhecê-la, o que acaba
balançando também o coração dela que percebe que pela primeira o rapaz estava
sinceramente apaixonado. Sem saberem dos reais planos um do outro, chega o
momento em que eles questionam a si mesmos se está certo enganar a pessoa que
ama, contudo a vontade de se dar bem profissionalmente fala mais alto até que a
verdade vem a tona em uma festa de gala. Quando os protagonistas começam a
trocar farpas diante de todos os convidados é a parte que fica mais evidente
uma tremenda escorregadela do roteiro, uma sequência forçada e que não combina
muito bem com o caminho traçado até então, mas para quem já está envolvido pela
açucarada trama (os mais críticos já devem estar neste ponto com os nervos à
flor da pele) não tem problema algum, o importante é que eles se entendam no
final. Pelo tom anárquico de boa parte do filme, a conclusão acaba por se
tornar anti-climática, porém, agrada em cheio a seu público-alvo, mas os homens
não poderão dizer que estas quase duas horas de seu pretensioso tempo foram
desperdiçadas totalmente. Umas boas risadas são garantidas e certamente algumas
pessoas até se verão no filme reconhecendo situações constrangedoras pelas
quais já passaram.
O diretor Donald Petrie, que
anteriormente havia lucrado e colhido muito mais críticas positivas, pelo menos
do público, dirigindo Sandra Bullock em Miss
Simpatia, aqui consegue fazer uma comédia que divide opiniões,
principalmente porque muitos consideram que ele exagerou em alguns aspectos.
Além dos truques de Andie serem absurdos, a edição acabou imprimindo um ritmo
frenético à narrativa para conseguir condensar o máximo de acontecimentos do
período de dez dias da convivência dos protagonistas. Isso pode ser visto como
um defeito, mas evitar a enrolação foi benéfico à produção. Embora a duração
seja bem longa para os padrões do gênero, esta comédia passa rapidamente,
diverte mais que emociona e não causa danos ao cérebro de ninguém. Como
Perder um Homem em 10 Dias acaba sendo uma vítima das críticas
negativas. Hoje em dia a muito pouca inovação no cinema em termos narrativos, e
as que surgem as vezes são aplaudidas por pessoas que sequer entenderam o
filme. É bem mais satisfatório e honesto quando temos a coragem de dizer que
uma obra cinematográfica é realmente divertida mesmo recorrendo a clichês,
estereótipos e absurdos, desde que tudo isso seja apresentado de forma digna
como neste caso. O que um crítico irredutível espera de uma comédia romântica
para oferecer pelo menos um elogio? Não há o que inventar. A fórmula repetitiva
é o segredo do sucesso e o final feliz é a regra básica. O encontro inesperado,
a construção do amor a partir de eventos cotidianos e até a ruptura do casal em
tom dramático tem que fazer parte. Os protagonistas bonitos e simpáticos também
não podem faltar, além de um momento família inserido na trama mesmo que de
modo forçado. Nesta obra só faltou o melhor amigo gay da mocinha. São todos
estes ingredientes que transformam este trabalho em uma deliciosa e atemporal
sessão da tarde, com potencial para se tornar um clássico do gênero da mesma
forma que aquelas comédias bobinhas dos anos 80 continuam até hoje fazendo
muitos adultos e até as novas gerações se divertirem. Sugestão acima da média
para matar o tempo ocioso e de quebra ficamos conhecendo algumas situações de
como enlouquecer um crítico em dez minutos. Se você não é um “cri-cri” de
plantão divirta-se!
Comédia romântica - 116 min - 2003
Um comentário:
Diverte e agrada......ou seja, recomendado para quem quer algo light.
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