quinta-feira, 7 de maio de 2020

NUNCA FUI BEIJADA


Nota 7 A fim de crescer profissionalmente, jovem tem a chance de fazer as pazes com seu passado


Drew Barrymore chamou atenção pelo desempenho natural e sincero quando ainda muito pequena atuou no clássico E.T. - O Extraterrestre, mas assim como muitos atores mirins acabou vindo a se envolver com o mundo das drogas, mas felizmente sua história não terminou trágica ou melancólica como a de alguns deles. Ela conseguiu se livrar do vício e retomar sua carreira e encontrou nas comédias e romances seu porto seguro. Em 1999, já sendo proprietária de sua própria produtora de filmes, mas ciente que ainda era uma atriz de dotes limitados, não quis dar passos maiores que suas pernas e aceitou protagonizar Nunca Fui Beijada, uma produção sem grandes atrativos, mas com uma história divertida e atemporal que cativa adolescentes (e também aqueles que já foram) abordando traumas e expectativas comuns à faixa etária. Pode-se dizer que a fita tem o mérito de ser uma produção sobre as dificuldades da maturidade disfarçado de comédia adolescente e Barrymore deita e rola com as situações vivenciadas por sua personagem.

Josie Geller (Barrymore) é a jovem revisora de um periódico, trabalho que realiza com competência, contudo, ela anda insatisfeita com sua rotina e sonha com uma oportunidade para se tornar repórter. Entretanto, seus chefes não acreditam em seu potencial para a função e a rotulam como uma pessoa muito ingênua para apurar fatos e realizar investigações, mas quando Rigford (Garry Marshall) resolve lhe dar um voto de confiança também acaba lhe oferecendo uma tarefa bastante complicada: se infiltrar como aluna em um colégio para retratar da forma mais fiel possível a rotina de um estudante em tempos de grandes transformações sociais (era final da década de 1990, a internet era artigo de luxo e os celulares já começavam a ditar as regras das relações interpessoais, por exemplo). O que a deixa reticente em ter aceito a proposta é que ainda guarda péssimas recordações de sua adolescência, época em que era motivo de chacota dos colegas por ser uma aluna de comportamento exemplar e muito inteligente. 


Mesmo desestimulada por Gus Strauss (John C. Reilly), seu editor e melhor amigo, Josie encara o desafio como uma forma de ajudá-la a exorcizar os fantasmas do passado. Renegada pelas patricinhas e ridicularizada pelos caras mais desejados da escola, a repórter consegue fazer amizade apenas com Aldys (Leelee Sobieski), não por acaso outra garota com fama de nerd, e com Sam Coulson (Michael Vartan), seu professor de literatura por quem se apaixona perdidamente. As coisas só melhoram para o seu lado quando seu irmão Rob (David Arquette) decide lhe dar uma força e também se disfarça de colegial e, popular como em sua época de estudante, a ajuda a se enturmar e virar uma figura de destaque. O problema é que ao vivenciar tudo aquilo que deixou de experimentar na adolescência, como se apaixonar de verdade pela primeira vez, Josie acaba perdendo o foco do trabalho e se envolve demais com sua farsa juvenil colocando em risco o seu disfarce. 

O diretor Raja Gosnell não se preocupa em apresentar novidade alguma, segue a cartilha de clichês do gênero direitinho, mas nem por isso deixa de entregar um produto que cumpre com folga seu objetivo: simplesmente entreter. A prova que a obra seguiu o caminho certo é sua popularidade cultivada até hoje. Quem assistiu na época guarda com carinho esta lembrança nostálgica e novas gerações continuam a se divertir e a se identificar com os dilemas da protagonista tão comuns a qualquer jovem, seja do passado, do presente ou do futuro, afinal quem nunca se apaixonou por um professor, desejou fazer parte de um grupinho descolado ou teve receio de ficar sem companhia para o baile de formatura? Bem, esse último probleminha é mais típico da cultura norte-americana, mas mesmo assim o roteiro de Abby Kohn e Marc Silverstein dialoga com jovens em geral e apresenta bons momentos.


Algumas cenas são memoráveis como a chegada da protagonista ao colégio como se tivesse parado no tempo (ela resgata um look oitentista e a cena é embalada por um dos antigos hits de Madonna) e é claro que o clássico Carrie - A Estranha é evocado na reta final, afinal é um dos precursores da temática com adolescente deslocados. Ela é Demais, também evocando tal tema, só não é homenageado pelo simples fato de ter sido lançado depois de Nunca Fui Beijada, mas ambos se enquadram no seleto grupo de obras cults por apresentarem um retrato de uma geração que aprendeu a julgar por aparências e a fazer pré-julgamentos. Como curiosidade, ainda é possível ver James Franco e Jessica Alba em pequenas participações em início de carreira e a obra foi até lembrada na paródia Não é Mais Um Besteirol Americano rendendo uma das partes mais divertidas.

Comédia romântica - 107 min - 1999

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