sexta-feira, 1 de abril de 2022

CRY-WOLF - O JOGO DA MENTIRA


Nota 3 Apesar do início diferenciado, longa recicla fórmula consagrada com um pretensioso final

 
Os sádicos assassinos de Halloween - A Noite do Terror, O Massacre da Serra Elétrica, A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13 deixaram muitos jovens sem dormir e roendo as unhas por muitas noites (e ainda deixam) e, de quebra, incentivaram outras produções que não conseguiram criar um vilão capaz de criar raízes no universo pop e cinematográfico. A reinvenção dos slasher movies veio com Pânico que, por sua vez, inspirou uma nova leva de filmes de assassinos mascarados, todavia, quantas destas produções estrearam em brancas nuvens e hoje em dia ninguém se lembra? A resposta são dezenas de títulos, então porque ainda produções do tipo são produzidas? Simplesmente porque elas têm seu público cativo e sempre estão criando novas plateias para curti-las. A qualidade destes trabalhos em geral é duvidosa, mas que atire a primeira pedra quem nunca curtiu com os amigos na adolescência uma sessão de terror regada a muita pipoca e refrigerante. Apesar de a grande maioria dos títulos ser totalmente previsível e esquecível é preciso dar um voto de confiança para os profissionais que ainda procuram dar um gás a esse combalido nicho cinematográfico, como é o caso do diretor Jeff Wadlow que procurou fazer de seu Cry-Wolf – O Jogo da Mentira um produto diferenciado. 

A trama começa com o assassinato de uma garota nos arredores de um prestigiado colégio. É nessa instituição que a partir de agora irá estudar Owen (Julian Morris), mais um a se juntar a um bando de filhinhos de papai que matam o tempo livre fazendo joguinhos para testar o poder de persuasão e ingenuidade de cada um. Quem lidera esse grupo é a impetuosa Dodger (Lindy Booth) que dá a ideia de aproveitarem a tal tragédia da introdução para pregarem uma peça e testarem as emoções e reações dos demais colegas de escola. Juntos eles criam uma identidade visual, psicológica e até um método de trabalho para o suposto assassino da garota e inventam um trajeto de crimes que o mesmo cometeu em outra cidade dando a entender que agora ele faria as mesmas atrocidades no novo endereço como se fosse um ritual. Tal história é enviada por email para os alunos e logo o tal serial killer está na boca do povo, mas obviamente o que era ficção acaba se tornando realidade e o assassino batizado de Lobo passará a perseguir Owen e seus amigos, mas ele tem certeza que por de trás do gorro que esconde a identidade do vilão está um de seus companheiros de grupo pregando-lhe uma peça na sugestiva época do Halloween.


Pelo enredo fica claro que o longa recicla situações de Lenda Urbana, Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, Uma chamada Perdida e tantos outros, entretanto, quem gosta do banho de sangue e muitos sustos propostos por tais títulos pode se decepcionar neste caso. Não há uma só morte interessante e até os momentos de tensão não exalam adrenalina. O início já não é muito animador. A apresentação dos personagens não é das mais interessantes e quando estão montando o perfil do assassino ideal já imaginamos o banho de sangue que vem por aí, mas podemos estar enganados. Por quase uma hora não parece que estamos vendo um filme de terror teen. Há muitos diálogos, especulações, mas não sentimos aquela tensão de que a qualquer momento algo de estarrecedor irá acontecer. E realmente não vai até que a ação é transportada para uma festa a fantasia onde várias pessoas escolheram se vestir com a mesma vestimenta do assassino misterioso e é lógico que o próprio estará infiltrado lá. Seria ele mesmo? O roteiro do próprio Wadlow em parceria com Beau Bauman joga várias pistas falsas para o espectador brincar de detetive e usa os modernos meios de comunicação para tocar o terror, como as mensagens de texto enviadas para celulares ou chats na internet. Com ares de produção inteligente, este filme na realidade é só uma variação dos filmes de horror teen, mas que tem como ponto positivo investir mais na história em si do que em chocar com sangue aos montes e corpos extirpados. 

Infelizmente, ao que tudo indica, é justamente a carnificina que o público-alvo quer, mas valeu a tentativa de mudar o jogo, ainda que o longa conte com certos elementos que nos remetem a trama de Intrigas, outra produção protagonizada por jovens que usa uma mentira como matéria-prima, mas com viés bem mais maduro, crível e interessante. O que também não colabora muito para prender a atenção nessa primeira parte, digamos mais racional que emocional, é por conta do elenco de novatos um tanto inexpressivo. Nem mesmo o clima de sedução que deveria existir entre os personagens Owen e Dodger chega a causar alguma sensação. O único nome famoso é o de Jon Bon Jovi interpretando um professor de jornalismo e que terá importância no desfecho, mas no fundo todos os personagens são rasos e desinteressantes. Com uma falsa aura de inovador, Cry Wolf – O Jogo da Mentira é uma reunião de clichês apresentada de forma enganosa ao espectador e com uma conclusão um tanto pretensiosa. Mais interessante é a história de bastidores. Em 2001, a montadora de veículos Chrysler criou em parceria com a Universal Pictures um concurso para premiar o melhor roteiro inscrito e bancar sua transformação em película. A sinopse de Wadlow foi a escolhida, mas fica a dúvida se o cineasta já era uma carta marcada no concurso ou se o nível da concorrência era muito baixo. 


Pode-se ficar boquiaberto com a conclusão da obra, mas passada a emoção e colocando a razão em primeiro lugar percebemos que essa reviravolta que deveria dar ao longa um grand finale é na realidade uma baboseira inverossímil, um elaborado plano de um dos personagens para justificar e culpar alguém pelo assassinato apresentado na introdução, algo tão bem planejado que tudo ocorreu como previsto nos mínimos detalhes. Wadlow, tal qual sua plateia, já viu a história que contou das mais variadas maneiras, mas arquitetou seu trabalho acreditando tanto na hipótese dele ser mais inteligente que os outros que acaba convencendo a alguns, afinal de contas seu público-alvo é um tanto sugestionável e pobre em repertório cinematográfico. Todavia, com alguns momentos inspirados e até abrindo mão da violência gráfica exagerada, o filme até serve para entreter aqueles que já são escolados no gênero e sabem de trás para frente as suas manhas e truques, mas bem que a suposta reviravolta aos 45 minutos do segundo tempo poderia ter sido cortada na edição final. Para alguns a cereja do bolo é tal conclusão, mas para outros uma verdadeira tortada na cara. Assista e tire suas conclusões.

Terror - 90 min - 2005 

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