segunda-feira, 27 de junho de 2016

TEMPOS DE VIOLÊNCIA

NOTA 7,0

Com personagens difíceis de
despertarem simpatia, longa
é um tanto indigesto, mas ganha
o espectador com final clichê
Existem alguns filmes que só mesmo tendo muito boa vontade para conseguir acompanhá-los até o final, principalmente aqueles que se propõe a retratar a realidade sem maquiagem alguma. Produções do tipo não poupam o espectador e são digeridas com muita dificuldade, mas quem tiver a garra de quebrar seus próprios preconceitos ou receios e seguir até o último minuto pode acabar sendo razoavelmente recompensado como é o caso do drama Tempos de Violência que lá pelos seus quinze minutos de duração já está testando os limites da tolerância do público. Como diz a publicidade estampada no DVD, esta é “uma visão dura sobre amizade, lealdade e ambição nas violentas ruas de Los Angeles”. O longa marca a estreia como diretor de David Ayer, o roteirista do premiado Dia de Treinamento, que pouco tempo depois investiria novamente na temática violência no policial Os Reis da Rua. Abordar o mundo dos crimes é sem dúvida a praia deste profissional que conseguiu neste caso compilar em pouco menos de duas horas alguns dos principais problemas urbanos contemporâneos e de ordem social, com o agravante de que quem deveria zelar pela segurança e a moral de todos é justamente de caráter pra lá de duvidoso. A trama roteirizada pelo próprio diretor começa um tanto clichê. Em tons esverdeados, como se fosse a visão de uma câmera escondida, temos rapidamente uma noção do que o fuzileiro Jim Davis (Christian Bale) vivenciou enquanto combateu na guerra do Iraque. Dispensado pelo exército, o rapaz procurou refúgio em terras mexicanas e acabou se apaixonando por Marta (Tammy Trull), a quem jurou amor eterno quando decidiu voltar aos EUA para tentar a carreira na polícia. Ele promete voltar para casarem e assim ela poderia entrar legalmente em solo norte-americano. Até aí Jim parece um típico herói, mas não tarda para sua imagem de bom moço desmoronar. De volta a Los Angeles, ele vai procurar seu antigo amigo Mike (Freddy Rodriguez), mas é mal recebido pela esposa do mesmo, Sylvia (Eva Longoria), que está nervosa por conta do marido que está desempregado e passa o tempo todo em casa bebendo, fumando e assistindo TV. Se as coisas já estavam ruins para o casal agora vão piorar. Jim e Mike são violentos, mulherengos, usuários de drogas, alcoólatras, contrabandistas e corruptos. Quem teria estômago para assistir a um filme cujos protagonistas são da pior espécie? Ayer acredita que tem público para o vandalismo e investe pesado na temática e em pequenas cenas consegue nos passar a ideia de como o submundo funciona.

Mike começa a mentir para a esposa dizendo que está enviando currículos e até forja telefonemas de empresas interessadas em marcar algum tipo de teste. Enquanto isso, Jim está furioso porque foi desclassificado do teste da polícia civil. Os dois desiludidos com a vida acabam se afundando em vícios e usando a violência para conseguirem o que querem, e é assim que eles se envolvem em uma briga com uma violenta gangue, roubam um carro e dinheiro e até ficam com um revólver que poderia lhes render um bom dinheiro. Tentando vender a tal arma, eles se envolvem com pessoas perigosas, gente que não pensa duas vezes antes de atirar em alguém a queima-roupa, além de prostitutas, traficantes e chantagistas. Paralelo a essa peregrinação pelo submundo, Jim é chamado para testes na polícia federal, mas a própria organização é de caráter duvidoso. Embora tenha dado um jeito (mal explicado) para passar no teste de urina, já que havia consumido drogas um dia antes, Jim não passa no exame e tampouco no teste do polígrafo, uma espécie de máquina da verdade. Todavia, levando em consideração a experiência e o sangue frio do rapaz para atirar com o intuito de matar (o próprio diz que só matou árabes, terroristas, enfim gente do mal que merecia tal fim, revelando assim mais algumas de suas “qualidades”, preconceito e ignorância) ele é aprovado para entrar na corporação, porém, terá que atuar na Colômbia e é aconselhado a não ter amarras com família, o que o faz repensar a questão do casamento. Decidido a curtir o fim dos seus dias de ócio e para se divertir pela última vez com Marta, Jim decide ir ao México e leva junto Toussainte (Chaka Forman), outro que vive a beira da marginalidade, e convence Mike a desobedecer a esposa, logo agora que este havia conseguido um bom emprego e estava acertando sua vida conjugal. E é justamente na volta dessa viagem que está o tão aguardado destino de Jim para aqueles que aguentaram tanto tempo seu mau comportamento, diga-se de passagem, justificado como sequelas dos traumas que o jovem vivenciou em seus tempos de fuzileiro, ainda que também sejam dados indícios de que antes de atuar na guerra ele não era nenhum santo. Apesar de apostar numa fórmula maniqueísta, o castigo clichê vem bem a calhar e alivia a tensão ou decepção, depende do ponto de vista, que o espectador sentia até então, mas Ayer é sádico e só coloca um ponto final nessa saga revoltante quando faltam cerca de cinco minutos para os créditos finais surgirem, ainda que a redenção de um integrante da dupla de “porras loucas” não convença emocionalmente a ninguém. A estética suja adotada do início ao fim ajuda a nausear o espectador que tende a certa altura estar fatigado deste mergulho por um mundo onde as cores escuras e a baixa iluminação refletem o vazio existencial de seus personagens marginais, mas a ideia é justamente causar desconforto, assim como a trama.

Mesmo não sendo um trabalho excepcional e tampouco algo que anime a assistir mais de uma vez, merece elogios a coragem de Ayer em mexer com uma temática tão delicada. Mostrar jovens drogados, criminosos, mal educados, violentos e adeptos de tudo que há de má conduta já virou um clichê, mas inserir todos esses assuntos no campo das autoridades não é fácil. A polícia como instituição teoricamente deveria zelar não só pela segurança, mas também pela moral, bons costumes, educação e cidadania, mas o filme faz questão de levantar a sujeira que é varrida para debaixo do tapete. Como aceitar na corporação uma pessoa cujo cotidiano é um tanto marginal? Aliás, como alguém com um perfil desses tem a coragem de almejar tal carreira? Dinheiro e soberania regem tudo. Além de um bom salário, Jim poderia fazer uso do poder que o cargo lhe daria para a corrupção e outras tantas fraudes. É muito difícil comentar sobre um filme cujos alicerces são situações revoltantes. Além de inúmeras vezes serem feitas apologias ao consumo de drogas e álcool, as mulheres serem tratadas como objetos descartáveis e tudo se resolver na base dos socos e tiros, ainda nos deparamos com cenas que sabemos que escamoteadamente fazem parte do cotidiano, mas de qualquer forma chocam quando vistas explicitamente, como na sequência em que Mike está dirigindo sem carteira e é abordado por Leo (Blue Mesquita), um policial conhecido de Jim. Além da fraude de trânsito, a dupla ainda estava segurando latas de cerveja e tinha uma arma e drogas no carro, mas simplesmente tudo é resolvido na base da amizade, cabendo ainda um pedido do fardado para que Jim tente uma colocação para ele na polícia federal. E quantos casos semelhantes na realidade são resolvidos da mesma forma ou com um dinheirinho na mão? Apesar do título genérico, Tempos de Violência resume bem o tema do longa e a época que vivemos, ainda que a produção seja datada de 2005. De lá para cá as coisas no mínimo ficaram na mesma a nível mundial, melhorar nem em sonho. É engraçado como um filme que você assiste com raiva ou pessimismo consiga aos 45 minutos do segundo tempo mudar sua opinião, ainda que utilize a previsibilidade e a manipulação da emoção para tanto, mas de qualquer forma é uma pena que este trabalho não tenha tido repercussão, até porque os perfis de Jim e Mike são verdadeiras bombas polêmicas. Em tempos em que tantos pedem a legalização de alguns tipos de drogas, tais personagens são a prova de que uma coisa ruim puxa a outra. O cigarrinho que um adolescente fuma hoje pode trazer consequências gravíssimas no futuro, além é claro das más companhias também trazerem influências negativas, mas tais reflexões ficam a cargo do espectador. Ayer se esquiva de apresentar soluções reservando-se ao direito de simplesmente só comprovar as máximas de que o crime não compensa e do diga-me com quem andas que te direi quem és.

Drama - 112 min - 2005

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Um comentário:

renatocinema disse...

Passo por isso as vezes......dificuldade para chegar ao final de um filme.

Temas pesados e reais ao mesmo tempo eu preciso assistir quando estou bem.

Acho que esse não é meu momento para tal filme.

abs