quinta-feira, 30 de setembro de 2021

UMA COISA NOVA - AS SURPRESAS DO CORAÇÃO


Nota 4 Um tanto previsível, romance explora o preconceito às avessas, o negro versus o branco


Estamos no século 21 e ainda existem sim muitos brancos preconceituosos, mas os negros também não ficam atrás. Ao mesmo tempo em que buscam seu lugar e respeito entre os caucasianos, também parecem almejar se cercarem ao máximo de pessoas de sua raça. Bem, como a certa altura esbraveja a protagonista de Uma Coisa Nova – As Surpresas do Coração, só quem diariamente é lembrado que é negro sente na pele o constrangimento e a necessidade de se firmar como um igual. A trama de Kriss Turner gira em torno de Kenya McQueen (Sanaa Lathan), uma advogada que aparentemente tem tudo para ser feliz. Possui um trabalho de prestígio, é inteligente, sofisticada e muito bonita, um perfil que chamaria a atenção de qualquer homem, mas se casar é algo que ela não deseja a curto prazo. Contudo, ela se preocupa ao saber de uma pesquisa que aponta que boa parte das mulheres afro-americanas não consegue se casar.

Além da lista de pré-requisitos básicos (bonito, alto, com padrão mínimo de vida e por aí vai), o que já dificulta encontrar tantas qualidades em um mesmo homem, para a maioria das solteiras negras há outro empecilho: elas querem um companheiro da mesma raça. De acordo com a educação que tiveram, lutar pela igualdade em termos sociais é válido, mas unir o sangue negro ao de um branco não é uma boa escolha. Diante das estatísticas, impulsivamente Kenya marca um encontro às escuras e para sua surpresa ela conhece o branquelo e loirinho Brian Kelly (Simon Baker), este que não demonstra qualquer objeção quanto a diferença de cor de pele, mas ela limita-se a ser educada, já tinha convicção de que teria que partir para outra. Na contramão, o destino parecia querer uni-los. Por um acaso eles se reencontram em uma festa e ela comenta que precisa arrumar o jardim da casa que acabara de comprar. Qual a profissão do rapaz? Paisagista, é óbvio! Assim eles começam a se encontrar com frequência durante a reforma e ele logo trata de jogar todo o seu charme. 


Conversa vai, conversa vem, e eles estão apaixonados em um piscar de olhos. As amigas de Kenya, também negras, vibram com a notícia, mas a garota, que vestindo terninhos de cores sóbrias mostra-se tão confiante, na realidade é cheia de neuras quando o assunto é relacionamento amoroso e colocará tudo a perder. A primeira crise do casal, por incrível que pareça, acontece simplesmente por causa dos cabelos da jovem. Adepta de um aplique super liso, Brian a elogia ao ver suas madeixas mais naturais quando acorda, mas isso a irrita profundamente em um primeiro instante. Como o amor faz milagres, ela decide assumir seus cachos, mostra-se bem resolvida quanto aos preconceitos que tinha com ela mesma, mas basta uma reunião em família para todas as preocupações voltarem.  Entre tantas tolices que escuta, por exemplo, Joyce (Alfre Woodard), sua mãe, ridiculamente lamenta que a filha tenha tirado o aplique, pois acreditava que os fios super lisos eram o sinal definitivo de sucesso da moça.

Para completar o quadro de neuras da advogada, seu irmão, o irritante Nelson (Donald Faison), que a cada nova aparição surge com uma namorada diferente, sempre negras obviamente, não gosta do futuro cunhado pelo simples fato dele ser branco e força a barra para unir a irmã a Mark Hraper (Blair Underwood), um professor que teve na faculdade, um negro culto e bem vestido. Tentando se encaixar neste mundo onde os papeis se invertem e os brancos é que ficam no olho do furacão, Brian atura as piadinhas, as alfinetadas e até mesmo as ameaças, mas chega um momento que ele não suporta mais as lamentações da namorada quanto aos problemas com a família e no trabalho sempre envolvendo questões raciais. No dia em que perde uma promoção para um jovem caucasiano de posição inferior a sua, tudo que Kenya precisava era do apoio do namorado, mas ele também teve um dia de cão e acaba falando o que não devia, assim abrindo caminho para Mark tentar conquistá-la e assim realizar o sonho perfeito da família McQueen. 


O amor perdoa tudo? E aquela história de que é nos momentos de raiva que as verdade são ditas? Com argumento bastante comum, Uma Coisa Nova – As Surpresas do Coração garante um passatempo ligeiro e razoavelmente agradável, mas poderia ir mais a fundo a respeito do preconceito e sobre as razões dos negros aparentemente buscarem a própria segregação. No fim, a diretora Sanaa Hamri comete os mesmos erros de seu trabalho anterior, Jogada Certa, apoiando-se em uma narrativa esquemática e mais uma vez enraizada em um universo insosso onde os brancos não têm vez, salvo o protagonista, caso contrário não haveria filme.  

Comédia romântica - 100 min - 2006

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