Nota 4 Com narrativa superficial, ritmo lento e falhas, é difícil ser cativado pelos personagens
Dramas acerca de famílias problemáticas são corriqueiros no cinema americano, embora a maioria não se torne sucesso devido a repetições de temas e até mesmo de papeis semelhantes. Produções do tipo tem o objetivo de contar histórias com as quais o espectador consiga se identificar facilmente, ou pelo menos se envolva com o dilema de um ou outro personagem, mas esse não é o caso de O Retorno de Bloodworth e o desinteresse começa já pelo título que pode erroneamente evocar um filme de terror ou algo assim. Bem, não chega a ser uma sensação de pavor a volta de E. F. Bloodworth (Kris Kristofferson), mas tal notícia mexe com os ânimos de seus familiares. Depois de 40 anos de ausência, ele escreve uma carta dizendo que está retornando, mas Julia (Frances Conroy), a esposa que abandonou com os três filhos pequenos, nem fica sabendo.
Brady (W. Earl Brown - também autor do roteiro) não revela a mãe, mas procura os irmãos Warren (Val Kilmer) e Boyd (Dwigh Yoakam) para saber suas opiniões, pois ele tem certeza de que o pai só está voltando porque já está velho e deseja esperar a morte apoiando-se naqueles que renegou. Contudo, cada um destes homens está as voltas com seus próprios problemas. Warren é um boa vida que só pensa em bebidas, diversão e mulheres, assim vira e mexe está metido em alguma confusão. Enquanto isso, Boyd se preocupa em perseguir a ex-mulher e quer afastá-la de um suposto novo namorado. Já Brady foi o único que não saiu da casa da mãe e guarda mágoas por ter acompanhado de perto o envelhecimento e a tristeza dela, o que pode ter influenciado seu desequilíbrio mental, sendo que é conhecido por lançar feitiços contra seus inimigos.
O único que parece se importar com o retorno de Bloodworth é o jovem Fleming (Reece Daniel Thompson), filho de Boyd e único neto do homem que partiu para a cidade grande em busca do sonho de viver de música. Por coincidência, é justamente com o rapaz que o velho pega carona assim que chega em sua cidade natal, um canto qualquer e esquecido do Tennessee. Ele nunca chegou a conhecer o neto, mas de certa forma desconfiava que poderia ser o rapaz gentil que o ajudou, este que não se mostra surpreso ou emocionado ao saber quem o caroneiro era. Pelo título, era de se esperar que Bloodworth seria o protagonista, mas na verdade é Fleming o personagem principal, inclusive quem abre o longa com uma narrativa em off que já deixa claro que a volta do avô só trouxe problemas ou simplesmente foi o estopim para o barril de pólvora que era sua família explodir. Entre tantos personagens, o rapaz é de o perfil mais bem desenvolvido do longa dirigido por Shane Dax Taylor. Ele é considerado a ovelha negra da família, o único homem entre eles que nasceu dotado de inteligência e sensibilidade, mas se não fosse seu juízo já estaria vivendo como um selvagem.
Incentivado por um professor, Fleming está estudando fora da escola, pois precisou abandonar os estudos regulares para ajudar o pai em sua oficina mecânica e também para realizar alguns serviços para vizinhos, ainda que receba geralmente como pagamento animais, como porcos ou galinhas. Estamos em meados da década de 1950, mas pensamentos machistas da época continuam vivos até hoje. Homem só é homem quando tem fama de pegador e assim Warren leva o sobrinho à casa de uma prostituta visando que ele vá para cama com a filha dela, a doce Raven (Hilary Duff). Enquanto o tio se diverte com a mãe da garota, a moça se derrete pelo jeito inocente de Fleming que prefere ficar de conversa. Ela mesma não quer seguir os caminhos da vida fácil e se identifica com o estilo do jovem que parece ser a salvação para o nome da família Bloodworth.
O roteiro apresenta um generoso leque de opções a serem trabalhadas, mas infelizmente Taylor não desenvolve nenhuma delas tirando o máximo de seu potencial. A trama de Boyd é fraca, a de Warren mediana, Julia só é lembrada nos minutos finais e Brown não puxa nem a sardinha para seu lado, tratando de forma fria o embate entre seu personagem e do veterano Kristofferson, algo que poderia ser explosivo já que seria o filho que mais alimenta ódio pelo pai. Só para constar, Bloodworth antes de conhecer Fleming se envolve em um imbróglio com um valentão que poderia resultar em um gancho previsível, mas que se perde ao longo da narrativa. Antes esse fosse o único equívoco. O Retorno de Bloodworth só se segura por conta do trabalho do esforçado Thompson que tenta dar alguma credibilidade a uma trama com muito potencial, mas que no final das contas deixa muitas pontas soltas e assuntos mal resolvidos.
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