NOTA 8,0 Diretor especialista em filmes-catástrofes recria monstro oriental com êxito, mas fracassa nas críticas |
O cinema japonês coleciona um ou
outro sucesso fora de seu país natal, ainda que o visual de suas produções
costumem chamar a atenção por sua excelência técnica, principalmente em obras
épicas. Curiosamente, a grande marca do cinema feito na terra do sol nascente por
um bom tempo era um tanto tosca: um homem vestido com uma fantasia de monstro
aterrorizando cidades. Criado na década de 1950, o personagem Godzilla
protagonizou exatos 22 longas-metragens ao longo dos anos até que em 1998 foi
prometida sua versão definitiva, mais aterrorizante e lucrativa de todos os tempos.
Godzilla
finalmente ganhava seu remake americano e o enredo prometia uma aventura de
tirar o fôlego. Na Polinésia, a radiação causada por testes nucleares bancados
pela França provoca uma transformação na vida de todos os seres vivos daquela
região e uma destas mutações é o surgimento de um réptil colossal impossível de
ser capturado e mantido em cativeiro em seu próprio território de origem. Ao
descobrir pegadas gigantescas no Panamá, o governo americano convoca o biólogo
Nick Tatopoulos (Matthew Broderick), um perito em modificações do DNA, para
analisar as transformações que um simples lagarto sofreu em virtude de radiação
nuclear, porém, sua missão tende a ser mais difícil. Ele precisa ajudar a
descobrir como deter este imenso réptil que vai parar em Nova York. Nada
consegue impedir a fúria desse monstro e a cidade que nunca dorme fica em
pânico com essa aparição que destrói tudo o que vê no seu caminho. E a pior
notícia ainda está por vir. O biólogo descobre que o imenso réptil está
"grávido", pois se reproduz de forma assexuada. Assim, em pouco tempo
seus ovos se quebrarão e darão origem à uma ninhada, sendo que cada cria poderá
logo colocar seus ovos também. Assim, se o ninho não for logo descoberto, a
cidade será completamente destruída. No encalço do lagarto gigante ainda estão
o agente secreto francês Philippe Roaché (Jean Reno), o cinegrafista Victor Palotti (Hank
Azaria), que quer lucrar conseguindo uma imagem impactante do monstro, e ainda
a repórter Audrey Timmonds (Maria Pitillo), ex-namorada de Nick que se reaproxima do rapaz para
conseguir a matéria de sua vida, mas que acaba descobrindo que ainda não o
esqueceu totalmente.
Uma historinha de amor em meio ao caos? Propor
uma discussão a respeito dos efeitos nocivos das experiências científicas?
Mostrar como a população e os governantes de uma cidade se comportam em
momentos problemáticos? Não, o diretor e roteirista Roland Emmerich não estava
afim de quebrar a cabeça e tampouco fazer com que o público se preocupasse com
questões éticas, históricas, políticas, sociais e afins. O lance era diversão
do início ao fim e por isso desde a exibição dos créditos iniciais não
precisamos nos preocupar em pensar em nada. Em tom sépia, imagens de explosões
nucleares e dos temidos dragões de komodo se alternam na tela e já indicam a
origem do personagem-título. Os primeiros minutos do filme podem parecer
eternos e com diálogos tolos para encher linguiça, mas servem para preparar o
terreno para a aparição da estrela da festa, assim como Steven Spielberg fez
nos filmes da série Parque dos Dinossauros,
com a diferença de que o mestre adicionou conteúdo a esses esquentas. Aliás,
tais produções certamente inspiraram os trabalhos para ressuscitar o famoso
monstro japonês, tanto que as cenas de ataque dos “babyzillas” são muito
semelhantes as sequências protagonizadas pelos velociraptors de Spielberg.
Emmerich trouxe o Godzilla de volta aos cinemas com força total, uma campanha
de marketing agressiva que contou com dezenas de produtos que iam desde
alimentos até vestimentas e que praticamente pagaram o longa antes mesmo de sua
estreia que em solo americano ultrapassou as expectativas até mesmo de Titanic, o maior êxito comercial
cinematográfico até então. Em versão de luxo, o Godzilla proposto pelo cineasta
alemão é uma perfeita combinação de lagarto com dinossauro, ambos super
desenvolvidos, uma criatura gigantesca que teve seu visual guardado a sete
chaves até seu lançamento. Na época era fácil manter em sigilo as surpresas de
um filme já que a internet era artigo de luxo em boa parte do mundo e
consequentemente a pirataria era praticamente inexistente. Todavia, o emprego
de efeitos especiais de ponta, o acréscimo de movimentos mais acelerados e
rugidos de arrepiar não foram suficientes para transformar esta aventura em um
grande sucesso. Como já dito, com as vendas de bugigangas com a logomarca do
filme somadas às bilheterias fecharam as contas com folga, mas boa parte do
público reagiu negativamente e a crítica especializada massacrou o arrasa-quarteirão.
Tremenda injustiça. Havia e ainda há coisas bem piores para serem malhadas.
O fato de ter sido lançado exatamente um ano
depois de O Mundo Perdido – Jurassic Park
certamente atrapalhou a carreira do monstro de origem oriental, pois ambas as
histórias possuem pontos semelhantes e o boca-a-boca tratou de espalhar tal
coincidência. Mas o que as pessoas esperavam de um filme sobre um animal
gigantesco transitando nas agitadas ruas de Nova York? Destruição, mortes e
correria, não mais que isso a sinopse propunha e o próprio diretor confirmava
seu intuito de apenas divertir e não de esclarecer questões científicas acerca
do surgimento do monstro ou a respeito de transtornos psicológicos dos humanos
diante das dificuldades. Assim, após a curiosidade sobre o visual moderno da
criatura chinfrim de outrora não há muito que se esperar da produção. A trama
não é revolucionária, mas ainda diverte e garante uma boa sessão da tarde. E
Emmerich tem no sangue o talento para o cinema catástrofe. Teve carta branca
para este trabalho graças aos excelentes resultados de Independency Day e futuramente ainda viria apostar na destruição do
mundo e o eminente fim da humanidade em O
Dia Depois de Amanhã e 2012. Em Godzilla
simplesmente ele viu o apocalipse de maneira mais comedida e através da
fantasia, mas cai entre nós é certo que os humanos com suas armas de fogo
causaram bem mais estragos que o largatão. Destaque
para a longa sequência envolvendo a primeira aparição e ataque do monstro à
cidade grande, cenas repletas de adrenalina e muito bem realizadas, e para o
desempenho de Matthew Broderick que com sua cara de eterno adolescente sempre
se sai bem em produções que são puro entretenimento. Também vale destacar a
ambientação claustrofóbica de boa parte do longa. A equipe só podia filmar na
parte da noite para não atrapalhar o cotidiano de Nova York e a chuva intensa
veio a calhar. O final deixa um gancho para uma continuação, mas após mais de
uma década parecia que esta aventura estava fadada a ser filha única mesma,
porém, em Hollywood sempre há uma luz no fim do túnel e vira e mexe voltam os
boatos de uma refilmagem do longa de 1998 ou um roteiro inédito. Enquanto tais
idéias não evoluem podemos nos divertir com este filme B luxuoso de Emmerich
que certamente marcou a infância de muita gente.
Aventura - 139 min - 1998
Um comentário:
O pior filme de Roland Emmerich, que por incrivel que pareça, é um diretor que eu gosto.
http://cinelupinha.blogspot.com/
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