sábado, 25 de julho de 2020

CUT - CENAS DE HORROR


Nota 2 Bom argumento é desperdiçado em trama clichê com mutilação e sangue gratuitos


Dar continuidade a um filme que teve toda sua produção paralisada por causa de desastres e fatalidades não é ficção na indústria de cinema, principalmente quando envolve algum título do gênero de terror. Algumas histórias de arrepiar sobre os bastidores de filmagens tornaram-se verdadeiras lendas até mais interessantes que os próprios enredos de seus longas-metragens. São muitos os títulos que durante ou após as filmagens geraram diversos boatos estranhos a respeito de mortes, acidentes, situações bizarras ou estagnação da carreira dos atores, como o clássico caso da atriz Linda Blair de O Exorcista que ganhou fama repentinamente, mas a perdeu com a mesma rapidez. No mesmo filme um dos atores morreu poucos dias após concluir suas gravações e muitas pessoas da produção relataram ter vivenciado estranhos fenômenos em suas rotinas. Alguns filmes, em casos extremos, nunca chegaram a ser totalmente concluídos devido aos inúmeros contratempos, um tema fértil para mentes criativas, o que não é o caso do diretor Kimble Rendall que fez de Cut - Cenas de Horror um slasher movie convencional e pouco memorável. 

A história começa em 1988 quando Hilary Jacobs (Kylie Minogue) estava rodando um filme de terror sobre um psicopata mascarado que sempre usa lâminas para eliminar as vítimas. Ao rodar uma cena crucial, a diretora paralisa as filmagens para fazer críticas sobre o ator que vive o assassino e ele resolve se vingar executando-a à sangue frio. Nos dias seguintes, outras pessoas envolvidas na produção também vieram a falecer tragicamente, inclusive o próprio intérprete do assassino. Após alguns anos, a perturbadora história dos bastidores dá ao filme um irresistível apelo que o transforma em objeto de desejo entre estudantes de cinema, principalmente na turma de Lossman (Geoff Revell), um ex-assistente de direção de Hilary que atualmente dá aulas numa faculdade. Ele quer concluir o filme com Vanessa Turnbill (Molly Ringwald), a antiga protagonista que desde então vive no ostracismo, e assim organiza um grupo para voltar aos locais originais das filmagens. Contudo, a maldição dos bastidores ainda existe e está pronta para fazer novas vítimas seguindo o roteiro de limar os envolvidos de acordo com a importância de seus personagens na trama.


É comum ouvirmos histórias macabras sobre os bastidores de produções a respeito de casas assombradas ou possessões, a velha história de que mexer com o sobrenatural atrai coisas negativas, mas são desconhecidos tais boatos envolvendo produtos cujas estrelas são os seriais killers. Seria o assassino algum dos envolvidos no tal filme maldito ou a produção conseguiu despertar uma força sobrenatural capaz de trazer à vida o psicopata original? Trabalhar tal viés até poderia ser interessante e render bons sustos, mas Rendall preferiu recorrer ao estilo trash movie, a começar pelo visual como um todo. Se o aspecto envelhecido das imagens não é proposital, só podemos explicar isso como resultado de um trabalho amadorístico que abusa de cenas escuras que dispersam a atenção. Bem, não é de se estranhar que após este filme Rendall preferiu assumir o posto de assistente de direção e deixar a cadeira principal para quem entende do assunto. Curiosamente, entre seus projetos na nova função estão Matrix, Eu Robô e Casanova, exemplos de que ele fez a escolha certa. Todavia, voltou a tentar a vida como diretor anos mais tarde em produções obscuras como A Isca.

Apesar do modelo de filme protagonizado por assassinos mascarados ter evoluído nos anos 1990, o estilo de filmagem e as trucagens de Rendall parecem inspiradas em trabalhos datados de uma década antes. Isso fica muito claro quando entram em cena os efeitos especiais (ou seriam defeitos?) que denunciam que o diretor bebeu direto na fonte de longas de Freddie Krueger e companhia. Não é a toa que o personagem Lossman pretensiosamente diz a certa altura que o filme que planeja será melhor que Halloween - A Noite do Terror, mais assustador que Sexta-Feira 13 e mais sangrento que O Massacre da Serra Elétrica. O flerte com algumas referências cinematográficas da seara, que criam identificações com o público, poderia ser um trunfo da produção, mas  Cut - Cenas de Horror não trabalha tal elemento com eficiência restringindo-se a copiar clichês hollywoodianos. Sendo uma produção australiana, poderiam ter tentado dar alguma personalidade própria ao longa e quem sabe assim fomentar a produção local visando um público mais amplo. Mais ainda, poderia ser a chance de um novo renascimento para o subgênero lançando mão da metalinguagem, mas o longa acaba por representar um dos suspiros finais e agonizantes dos slashers movies.


Ainda bem que o filme é curto e as mortes, o grande chamariz da fita, ocorrem uma atrás da outra, não é preciso nem aguentar uma chata introdução para começar a se divertir com o banho de sangue corriqueiro graças ao roteiro capenga de Dave Warner. Não se pode falar o que ocorre para não estragar a surpresa de quem ainda não viu, mas certamente os fãs de terror das antigas devem se divertir com algumas cenas que transpiram naftalina, principalmente a conclusão. Como de praxe, há uma tentativa de abrir espaço para uma continuação, algo que ficou apenas na intenção visto que o longa não fez sucesso. Quem conseguir chegar até a última cena poderá concluir que este filme ficou em cima do muro entre a seriedade e a diversão descerebrada e que acabou por jogar na lata do lixo uma premissa muito interessante. Uma pena, mas na pior das hipóteses uma alternativa para quem já sabe de trás para frente o enredo de Pânico, Lenda Urbana, A Hora do Pesadelo...

Terror - 83 min - 1999 

Leia também a crítica de: 

A FACE DA MORTE

Um comentário:

Kelly Christi disse...

cara... eu sou apaixonadaaaa por cinema, adorei seu blog e suas criticas contundentes sobre filmes, abraço.

http://www.pequenosdeleites.blogspot.com/