sábado, 22 de agosto de 2020

101 DÁLMATAS - O FILME


Nota 8,0 Adaptação de clássico desenho mantém espírito divertido e tem sua vilã como maior trunfo


Muito antes da Disney adotar de vez a ideia de revisitar a magia de suas animações clássicas, como fez com Cinderela e Aladdin, ela já havia realizado um arriscado teste com um de seus mais charmosos trabalhos. 101 Dálmatas - O Filme é tão bom quanto sua versão animada dos anos 1960, caracterizada por traços extravagantes e paleta de cores fortes. Além de ter conseguido o feito de colocar em cena mais de uma centena de cãezinhos adoráveis, a produção também não decepcionou na concepção de sua tresloucada vilã.  Aliás, o elenco é um dos trunfos do longa. Na trama, o criador e animador de videogames Roger Dearly (Jeffe Daniels) vive uma rotina pacata em Londres, na Inglaterra, na companhia de Pongo, seu dálmata de estimação.  Certo dia, durante um passeio, o bichano se encanta por Prenda, uma linda fêmea de sua espécie que por coincidência também vive com uma moça solteira. A estilista Anita Radcliffe (Joely Richardson) não demora a também se encantar pelo dono do paquera de sua cachorrinha e logo dois casais estão formados e dividindo o mesmo lar, ainda com a companhia de Nanna (Joan Plowright), uma adorável senhora contratada para ajudar a tomar conta da família que não demoraria a crescer. E como cresceria. 

Prenda dá à luz a quinze filhotes e seus pelos branquinhos e com manchas negras bem distribuídas logo chamam a atenção de Malvina, mais conhecida como Cruela DeVil (Glenn Close), a chefe de Anita que é obcecada por roupas feitas com pele de animais. Sonhando com um belo casaco de dálmatas, ela não pensa duas vezes antes de oferecer uma polpuda quantia pelos recém-nascidos, mas Roger e a esposa recusam a oferta. Contudo, a megera não desiste e contrata Jasper (Hugh Laurie) e Horácio (Mark Williams), dois atrapalhados bandidos, para roubarem os filhotes. A dupla se aproveita da distração de Nanna para realizar a tarefa, mas não contavam com a astúcia dos cãezinhos que com a ajuda de outro animais espalhados pelas ruas conseguem bolar uma fuga e uma série de planos para tentarem voltar para casa, agora na companhia de mais algumas dezenas de dálmatas que já haviam sido capturados para o abate. Claro que Cruela não se dará por vencida e tentará ela própria reaver os bichanos, a chance para Close abusar da canastrice sem culpa alguma encarnando uma das vilãs mais caricatas já criadas pelos estúdios Disney. Exagerada, glamorosa e inescrupulosa, ela  é a grande estrela da produção que foi lançada mais de três décadas após a animação original que então continuava de certa forma fresca no imaginário coletivo. Mesmo quem nunca viu o desenho certamente sabe quem é ou ao menos já viu a imagem da excêntrica milionária cuja característica marcante é o cabelo repartido em duas cores, um lado preto e o outro completamente branco, visual que combinaria perfeitamente com seu tão sonhado casaco de pele de dálmatas. 


Não falta à Close experiência com mulheres cruéis. Ela já tinha em seu currículo, por exemplo, Atração Fatal, em que viveu uma amante ensandecida, e também Ligações Perigosas, em que deu vida a uma perversa nobre disposta a corromper a inocência de uma jovem. Ambos personagens vividos com requintes de crueldade, certa vez a própria atriz comentou que além destes papéis ela só via a mesma dimensão de vilania (entenda-se obsessão) em Cruela, ainda na época a vendo apenas como uma criação animada. Não se sabe se o diretor Stephen Herek chegou a saber desta declaração anterior, mas o fato é que não poderia ter feito outra escolha mais assertiva. Dona de uma empáfia ultrajante e de atitudes controversas, ainda assim a vilã é a melhor personagem do longa trazendo dinamismo e diversão. Merecidamente indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia, mas esnobada pelo Oscar, a atriz ainda ganhou o reforço dos figurinos suntuosos e carnavalescos, um trabalho caprichado para demarcar no próprio jeito de ser as características de uma mulher acostumada a mandar, ser obedecida e para quem o dinheiro parece ser uma fonte inesgotável. Luvas, chapéus e demais penduricalhos ainda trazem a ela uma aura de figura fora de seu tempo, alguém que parece pinçada de décadas em que mulheres não podiam sair de casa vestidas de qualquer maneira.

Curiosamente, Close não é uma mulher de luxos, alta e antipática como a personagem que ela literalmente vestiu. Dispensando efeitos digitais ou maquiagens pesadas, para personificar o exagero a atriz era obrigada a usar saltos enormes, casacos de pele pesadíssimos e ainda corpetes para afinar a silhueta e alongar seu corpo, além é claro da peruca que quase sempre ainda adornava um ostentoso chapéu.  O visual, em alinhamento as expressões faciais e timbre de voz anasalado, chegou a intimidar até mesmo os cachorrinhos durante as filmagens. E se engana quem pensa que alguns poucos deles foram replicados via computação gráfica para somar a enorme quantidade do título. A produção teve que lidar com mais de 200 dálmatas de verdade. O excesso foi para ter opções de substitutos quando alguns rebeldes não colaboravam com as filmagens. Foram vários os contratempos. Além do fato que quando um fazia uma gracinha os demais copiavam, e geralmente situações que não davam nem para serem reaproveitadas no filme, os filhotes eram muito pequenos, impossibilitados de total adestramento e desprovidos de vacinas, o que obrigava elenco e técnicos a passarem por constantes procedimentos de higienização. 


Também foram usados cavalos, ovelhas e vacas já que a certa altura a trama passa a se desenvolver em uma fazenda. Por esse motivo, abdicou-se da tradição Disney de animais falantes para não haver comparações com Babe - O Porquinho Atrapalhado, lançado um ano antes. Por outro lado, também foi descartada a fuga da matilha pela neve destacada no desenho optando pela odisseia marcada por situações de comédia pastelão no melhor estilo Esqueceram de Mim, cortesia do roteirista John Hughes que trocou Macaulay Culkin por bichos tão ou mais espertos que o garoto para dar uma lição também em uma dupla de bandidos mequetrefes e ainda na chefe. Baseado no romance de Dodie Smith, 101 Dálmatas - O Filme, tal qual sua versão animada, transformou-se também em um clássico, um dos mais lembrados filmes live-action Disney, sendo fiel ao desenho e conseguindo recriar com muita qualidade os cenários, personagens e o clima despretensioso, ainda com o bônus de adicionar um humor irresistível.

Aventura - 97 min - 1996

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