sexta-feira, 20 de novembro de 2020

STIGMATA


Nota 4,0 Longa tenta se equilibrar entre discussões sobre fé e sustos fáceis para prender a atenção


Explorar questões sobrenaturais sempre rendeu muito dinheiro à indústria do cinema, principalmente para o norte-americano, mas quando se pretende lidar com o tema aliado aos mistérios que envolvem a religião católica a coisa complica. Tratar de assuntos bíblicos em filmes que na verdade pretendem provocar sustos é como mexer numa ferida e no caso de Stigmata literalmente é o que acontece. A trama escrita por Tom Lazarus e Rick Romage começa em uma cidade no sudoeste do Brasil chamada Belo Quinto (vilarejo fictício e que nos envergonha ao mostrar nosso país com ares de terras mexicanas ou de algum lugar parado no tempo), local que recebe a visita do padre Andrew Kiernan (Gabriel Byrne). Ele foi mandado pelo Vaticano para investigar o caso de uma igreja que abriga a estátua de uma santa que verte lágrimas em sangue. Curiosamente, o estranho fato começou a ocorrer no mesmo dia em que o padre responsável pela basílica faleceu. Enquanto Kiernan fotografava a escultura um garoto furtou um rosário que estava junto ao corpo do falecido e vendeu o artefato para uma desavisada turista que o envia de presente. Quem o recebe é Frankie Paige (Patricia Aquette),  uma jovem cabeleireira que levava uma vida pacata em Nova York, mas desde que recebeu o tal artefato passou a ser perturbada por uma série de estranhos acontecimentos. 

Em pouco tempo a jovem passa a ser vítima de estigmas, fenômeno que provoca feridas idênticas às que marcaram a crucificação de Jesus Cristo e que supostamente acometem algumas pessoas de uma hora para a outra. Seriam sinais de dádiva ou de algo demoníaco? Para Frankie tais chagas representam um terrível pesadelo que desvirtua seu cotidiano completamente. Além dos repentinos sangramentos na cabeça, nas mãos e pés, ela também passa a ter devaneios e a falar e agir estranhamente como se incorporasse espíritos satânicos. Desesperada, ela passa a procurar ajuda de médicos e terapeutas, mas não encontra respostas. É durante um ataque de possessão dentro do metrô, coincidentemente presenciado por um padre, que seu calvário passa a ser analisado por outro ângulo, o da religião. A notícia chega até o Vaticano e Kiernan é encarregado de investigar o fenômeno e descarta a possibilidade da reprodução das chagas de Cristo, pois até então todos os casos documentados do tipo envolviam católicos fervorosos e a jovem não acredita em Deus. Todavia, o religioso presencia diversos acontecimentos envolvendo a moça, o suficiente para quebrar os rígidos padrões estabelecidos por antigos membros da Igreja e fazê-lo acreditar que a sobrevivência dela está em suas mãos. 


Para complicar ainda mais as coisas, Kiernan pouco a pouco passa a suspeitar que seu superior, o cardeal Daniel Houseman (Jonathan Pryce), no fundo não deseja que toda a verdade venha à tona, algo a ver com uma conspiração envolvendo católicos influentes. Com esta trama de suspense sobrenatural o longa traz pontos de vistas distintos entre as crenças da religião e da ciência a respeito de temas polêmicos e misteriosos relacionados a fé e a sua abnegação, mas o resultado final é bastante irregular. Nenhum fiel vai se interessar em assistir algo que desconstrua tudo aquilo em que acredita, embora possa assustar pessoas sugestionáveis. Todavia, nem mesmo quem não liga para questões religiosas consegue se entreter totalmente, afinal a venda como um terror horripilante soa como enganosa. Com uma ou outra cena de leve impacto, o longa passa raspando pelo gênero de suspense, mas até pode ser encarado como um drama como toques psicológicos já que a própria protagonista chega a questionar sua sanidade.

Arquette por pouco não aceitou o trabalho por ter se assustado com o argumento. Acostumada a fazer papéis pequenos e esquecíveis, ela sabia que interpretar Frankie poderia ser um divisor de águas em sua carreira, por isso pesquisou por conta própria a questão sobrenatural do enredo, conversando com especialistas em exorcismos e afins. Aliás, para que o elenco ficasse mais íntimo da proposta, os atores foram questionados sobre como se comportariam a respeito de mudanças repentinas em seus corpos e mentes, mas certamente o que mais deve ter chamado a atenção dos envolvidos na produção é o fato de que o período do lançamento do filme conspirava a favor, no mínimo, de uma boa repercussão na mídia. O ano de 1999 foi marcado por filmes de suspense e terror que abordavam fé e o medo da chegada do anticristo. O mundo todo vivia dividido entre a euforia e as dúvidas quanto a aproximação do novo milênio e muitos acreditavam no extermínio da humanidade ou no regresso de Cristo à Terra para colocar ordem no caos. Havia até a crença de que o Diabo poderia surgir das profundezas do inferno para conseguir gerar um herdeiro. 


Todos esses folclores eram comuns na época e renderam muito dinheiro à Hollywood. Stigmata bebe nessa fonte e apresentava no lançamento um material publicitário chamativo e alguns até se atreviam a fazer comparações com o clássico O Exorcista, porém, o diretor Rupert Wainwright, que anos depois faria o insosso A Névoa, não chega nem próximo de criar um clima angustiante. O conjunto não cumpre expectativas, embora o argumento seja interessante, as cenas de ataque das estigmas bem executadas e a edição dite um bom ritmo para algumas sequências. De qualquer forma, não passa de uma produção que prometia deixar os católicos de cabelos em pé, mas que não provocou quase barulho e em nada agregou para justificar os vários casos de chagas ou de estátuas que sangram e que até hoje ainda desafiam religiosos e cientistas mundo afora. Em tempo: Byrne viveu intensamente o conflito entre o Bem e o Mal no ano deste trabalho já que também interpretou o demônio em pessoa em Fim dos Dias, mais um título da safra “o apocalipse está próximo”.

Terror - 103 min - 1999

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Um comentário:

Unknown disse...

STIGMATA é um filme tenso e dolorido, como eu sofri com essa personagem, Patricia Arquette está brilhante no papel...recomendo!!!!!!